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Categoria: Vaticano

17 de Fevereiro, 2013 Carlos Esperança

A última bênção de B16 no Vaticano

A nomeação do barão Ernst Von Freyberg, cavaleiro da poderosa Ordem de Malta e construtor de tanques de guerra, como novo presidente do Banco do Vaticano, revela que a maior preocupação de B16 não era a teologia, era a tesouraria.

Que o burro ou a vaca fossem afastados do presépio é um mero detalhe da mitologia católica, mas que o cardeal Bertone se mantivesse à frente do IOR, era um perigo para as finanças do obscuro Estado.

Foi coerente com a tradição católica a última atitude relevante do papa demissionário. Ninguém se interessa pelo passado da Igreja mas todos os cardiais e bispos se torturam com as finanças do Vaticano e temem as consequências da lavagem de dinheiro e das eventuais conexões com a máfia.

Não foram os casos de pedofilia que abalaram o Estado criado por Mussolini, foram as contas opacas do IOR e a luta do Opus Dei pelo seu controlo. Este Papa era agente da prelatura que protegeu JP2 e o arcebispo Marcinkus. Tarcisio Bertone tinha mais poder. Deus nunca foi visto no Vaticano mas o único deus de que há provas, o dinheiro,  anda alheio à teologia mas atento ao poder das sotainas.

B16 pode dar-se por feliz por poder prescindir da tiara e do camauro, vivo. Valeu-lhe ter anunciado em direto a sua decisão. Doutro modo teria morte natural. Sem autópsia.

 

16 de Fevereiro, 2013 Carlos Esperança

Carta aberta a Galileu Galilei (n. 15-02-1564)

“Eppur si muove!”

Galileu, ontem foi o teu dia de anos. Na sabedoria dos teus 449 anos deves agradecer ao Papa a missa com que celebrou o teu 445.º aniversário. Não sejas ingrato, repara que foi a primeira em séculos de defunção, foi de borla, e talvez em latim, para não atrapalhar o teu entendimento com o italiano moderno. Foi missa solene, daquelas que só se rezam por mortos poderosos. Quem sabe se essa missa não lhe custou a tiara, 4 anos depois.

Foste um felizardo, Galileu Galilei, não foste queimado vivo como Giordano Bruno que também escreveu heresias e a quem ainda querem derrubar a estátua. Não, eu não falei da estátua, daquela horrível tortura a que o Santo Ofício, a PIDE e outras polícias recorriam, referia-me à figura inteira, em pleno relevo, que representa um homem, pode ser em bronze, granito, terracota ou mármore, sim, ou dessas que o Santo Ofício usava para queimar quando lhe fugia o herege.

Eu sei que não sabes, como pode um cadáver saber, mas 350 anos depois da morte, o teu processo foi reaberto e bastaram sete anos para te reabilitarem. Hoje a Terra já é redonda, até para o Vaticano, e gira, mesmo com este Papa, e passas a ter uma estátua nos jardins do Vaticano. Não digas que não é grande a misericórdia dos ungidos do Senhor!

Já te absolveram há mais de uma década e tu, ingrato, não curas um cancro a uma freira nem a moléstia da pele a um médico do Opus Dei, és mal-agradecido, podias chegar aos altares, não faltaria quem te rubricasse um prodígio nem padre postulador para te elevar à santidade, podias até virar colega de S. José Maria Escrivà.

Não rias, é vulgar importar do Inferno um excomungado e exportá-lo para o Paraíso. A agência de viagens celeste faz mudanças, não calculas como evoluíram os transportes, o ex-prefeito da Sagrada Congregação da Fé, como agora se designa o santo Ofício, será o Papa até ao fim do mês e já nomeou uma escolta para transferir Monsenhor Lefebvre.

Hoje, Galileu Galilei, já não há incompatibilidade entre a ciência e a fé, esta é que ainda abomina a primeira, mas já se sabe que deus, na sua infinita sabedoria, no desenho inteligente que concebeu no estirador celeste, andou a espalhar fósseis para pôr à prova os que duvidam que, há exatamente 6017 anos, criou do barro Adão e Eva e do nada fez todas as coisas.

Galileu Galilei, larga o túmulo e, da tua Florença, corre a Roma e agradece ao papa a missa solene e a estátua e diz-lhe que há séculos que deixaste de incomodar a fé com as tuas heresias e que nunca mais farás uma descoberta que prejudique o brilho da tiara e o conforto do camauro. Mas apressa-te, tens 12 dias.

 

16 de Fevereiro, 2013 Carlos Esperança

Papa B16 – A segurança do Vaticano

A decisão do papa Bento 16 de viver no Vaticano depois de se aposentar lhe permitirá ter segurança, privacidade e proteção jurídica contra eventuais processos que o relacionem a casos de abuso sexual cometidos pelo clero, segundo fontes eclesiásticas e juristas.

“Sua continuada presença no Vaticano é necessária, do contrário ele poderia ficar indefeso. Ele não teria sua imunidade, suas prerrogativas, sua segurança, se estivesse em outro lugar”, disse um funcionário do Vaticano, pedindo anonimato.

Diário de uns Ateus – Só lhe falta o seguro de vida.

15 de Fevereiro, 2013 Carlos Esperança

O silêncio de quem silenciou

No dia 28 de fevereiro, às 20H00, o atual papa decidiu para si próprio o que em 1985 impôs ao teólogo Leonardo Boff: o silêncio.

Quem sabe se o anúncio público da sua decisão não foi a forma encontrada para o seu silêncio, escapando a ser silenciado?!

15 de Fevereiro, 2013 Carlos Esperança

Vaticano: Reflexões soltas…

Por

E – Pá

O clérigo Joseph Ratzinger, a caminho do estatuto de resignatário, dá mostras de ter perdido a guerra pelo poder temporal (para usar uma expressão da teocracia) nos labirínticos meandros do enclave do Vaticano.

Ontem, nas cerimónias religiosas do início da celebração da ‘Quaresma’ – um período de quarentena e de reflexão para aPáscoa – a que ainda presidiu, na qualidade de ‘chefe’ hierárquico da ICAR, afirmou: “O rosto da Igreja é por vezes marcado pelos pecados contra a unidade da Igreja e divisões no clero“. link.

Duas reflexões:

1. – A simbólica época escolhida para resignar parece obedecer a um desígnio (e cansaço) pessoal – que tem sido humanamente exaltado à exaustão – mas, antes disso, terá a ver com a tradicional representatividade alegórica que o cristianismo tanto utiliza. Fazendo-a coincidir com a Páscoa, ela (a resignação) evoca um percurso de ‘libertação’ tanto como é – historicamente – possível entroncar esta época celebrativa religiosa com um Êxodo (o que simbolicamente representa a ‘travessia do deserto’).

2. – O arrazoado de insinuações veladamente utilizadas pelo demissionário nesta sua homilia pós-renúncia como ‘divisões do clero’, ‘unidade da Igreja’, ‘fim da hipocrisia’, ‘rivalidades’ não é inocente, fazendo parte da esotérica linguagem ‘encriptada‘ da ICAR. Mostra como os recentes problemas que fustigaram o Vaticano, no centro dos quais poderão estar venais lutas pelo controlo do IOR bem como a descentralização do ‘poder apostólico’ (retirando perrogativas à Cúria) poderão ter-se encaminhado para um beco sem saída. Ou melhor, cuja saída passará por um novo conclave onde, a nível global, i.e., para além do restrito círculo da cúria romana acantonada no Vaticano, onde as ‘divisões’, as ‘intrigas‘  e as ‘rivalidades‘ são mais do que evidentes, se procederá ao necessário e inadiável ‘ajuste de contas’.

Significativo terá sido a circunstância de no último consistório, após o anúncio da renúncia, ter imediatamente usado da palavra o cardeal Angelo Sodano (ex-secretário de Estado e decano do colégio cardinalício) que a classificou como “um trovão em céu sereno”… link. Expressão vinda de uma eminência da Cúria, referenciada como um dos eventuais ‘corvos’ link, o mesmo que na Páscoa de 2010 (sempre na Páscoa!) sentiu necessidade de quebrar o rígido protocolo e anunciar frente a Ratzinger, em plena praça de S. Pedro, que …”A Igreja está com você!” link.

Entretanto, já longe das sonantes declarações de fidelidade e fugindo à tempestade que se avizinha, Joseph Ratzinger, prepara-se para uma perpétua e serena (?) clausura (a que terá sido ‘condenado’…)

14 de Fevereiro, 2013 Carlos Esperança

Vaticano e Portugal. IOR e BPN.

Cada vez noto mais semelhanças entre Portugal e o Vaticano. O IOR e o BPN são dois bancos cujo rigor e honestidade causam calafrios nos meios financeiros internacionais e amplas vergonhas nos Estados em que operam.

O BPN levou à demissão de Oliveira e Costa. O IOR levou à demissão do mordomo do Papa e, por fim, do próprio B16.

Em ambos os casos são consideradas positivas as demissões o que significa que eram perniciosas as funções. Oliveira e Costa ganhou uma pulseira, B16 perde o direito ao anel.

A diferença relevante reside em quem paga as fraudes. Em Portugal são os contribuintes e no Vaticano são os crentes espalhados pelo mundo, através das ordens religiosas e dos centros onde se recolhem os óbolos e se distribuem bênçãos.

O Céu está cada vez mais caro.

14 de Fevereiro, 2013 Carlos Esperança

O Vaticano e o IOR

Felizes os Papas que, depois do que se passou no banco do Vaticano (IOR), podem dormir sem pulseira.