Cardeal de Edimburgo confessa assédio sexual e vai para reclusão
O cardeal Keith O’Brien, que na segunda-feira renunciou ao cargo de bispo após acusações de assédio sexual, dá o dito por não dito. No texto da renúncia ao mais alto cargo da igreja católica no Reino Unido, negou as acusações. Mas este domingo admitiu em comunicado que a sua «conduta sexual ficou muito aquém do que era esperado».
Algures, em Castel Gandolfo, já sem os sapatinhos vermelhos, sem tiara nem camauro, mantem ainda a vida e o pseudónimo de Bento XVI, Joseph Ratzinger, um celibatário a quem alguém se encarregará de fechar hoje a conta do twitter.
Dentro de uma hora perde a infalibilidade e o alvará para criar santos e cardeais e no dedo nu vai sentir a falta do anel que estendia aos ósculos dos beatos e dos que agora se guerreiam pela sua sucessão.
O papamóvel e a guarda suíça deixaram de pertencer-lhe e quando regressar à boleia ao Vaticano vai para a clausura do convento sem crentes a quem dar a bênção nem poderes para confirmar milagres. É a vida. Preferiu ser papa emérito vivo do que defunto santo.
A esta hora andam os teólogos – cientistas de uma ciência sem método nem objeto –, a tentar justificar como se perde a infalibilidade e o alvará perpétuo de Papa porque, de ciência certa, se sabe que, depois de Avinhão, nunca mais houve papas excomungados nem clonados. Deus não se deixa representar por mais de um figurante.
Entre lágrimas dos que foram habituados a acreditar desde o berço e a estupefação dos incréus, na sombra manobram a Opus Dei, os Legionários de Cristo, a Fraternidade de Comunhão e Libertação e a Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), esta ainda na clandestinidade. A extrema-direita não dorme. Isso é para Deus que, depois de ter feito o Mundo – como acreditam os devotos –, nunca mais deu sinal de vida.
A Quaresma é longa e Cristo – estrela da Companhia –, pode esquecer-se de ressuscitar.
Há quase 600 anos que nenhum papa via o entusiasmo com que lhe disputam a sucessão.
A partir de amanhã, o Papa mantém a Santidade, o pseudónimo de Bento XVI e o direito a qualquer tipo de calçado, exceto os sapatos vermelhos. A infalibilidade termina à entrada do helicóptero que o levará a um estágio de ex-papa, em Castel Gandolfo.
No bairro de 44 hectares – o Vaticano – abre, dentro de 48 horas, uma vaga para Papa. O atual, apesar de se encontrar em Governo de gestão, portou-se como soe acontecer com líderes profanos: continuou a proceder a exonerações e nomeações. Substituiu o titular do cargo mais importante – o gerente do IOR, aceitou a resignação de cardeais pouco recomendáveis, nomeou o novo bispo de Lisboa, futuro cardeal, e antecipou o consistório.
Sendo o primeiro Papa a sair vivo do cargo, em quase 600 anos, criou alguns problemas à monarquia cujo sucessor, perdida a tradição dos Bórgias, deixou de ser filho. Serão os cardeais a eleger o sucessor, tendo sido a maioria criados (este é o termo canónico) pelo “Papa emérito”, título em linha com o dos bispos que terminam o prazo de validade mas que demorou vários dias a encontrar.
Há mordomias que liminarmente perde. Fica sem o anel, que será destruído, poupando o dedo; fica proibido de usar a batina de peregrino mas deixam-no continuar a vestir-se de branco; a interdição absoluta atinge também os sapatinhos vermelhos e o camauro.
Antes das 20H00 (19H00, em Lisboa) vai para Castel Gandolfo onde ficará dois meses, até à conclusão das obras do convento, no Vaticano, onde ficará até que o ciclo de vida se cumpra. A euforia provocada pela eleição do novo Papa rapidamente o fará esquecer.
Manterá, contudo, o título de Santidade, título que designa a profissão e o estado civil e o pseudónimo de Bento XVI.
Considero improváveis estas acusações.
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