Loading

Categoria: Superstição

13 de Outubro, 2015 Carlos Esperança

No rescaldo das aparições em Fátima

Por

Leopoldo Pereira

Desde que no dia 13 de Maio de 1917 a Senhora do Rosário se apresentou a três crianças, a mais velha com 9 anos (Lúcia), empoleirada numa pequena azinheira, no lugar da Cova da Iria, dizendo-lhes mais ou menos isto: “Não tenham medo, eu sou a Nossa Senhora do Rosário”, não mais cessaram as aparições dos dias 13 (seis ao todo) e as continuadas idas ao local “Sagrado” nos dias 13 que se seguiram. Para lá destas aparições, a Lúcia (só ela) teve muitas mais. Visualizou o Inferno, viu S. José com o menino Jesus, etc., etc.

De salientar que o Francisco tinha oito anos e a Jacinta sete! Todos analfabetos.

Hoje mesmo, dia 13 de outubro de 2015, assisti pela TV ao discurso que o Cardeal convidado dirigiu aos peregrinos lá em Fátima. Entre outras coisas, afirmou que a tal Senhora do Rosário, posteriormente batizada de “Nossa Senhora de Fátima” receava os ateus e disse-lhes mesmo que a Rússia comunista era um perigo, aquele país tinha de se converter! Para tanto as crianças deviam rezar o terço e fazer penitência. Também lhes prometeu que a 2.ª Guerra Mundial acabaria no dia seguinte ou, mais concretamente, quando a Senhora chegasse ao Céu. Aparte estas conversas, que deram e dão pano para mangas, tinha de haver um qualquer milagre, caso contrário as pessoas não iam acreditar, até porque não ouviam nem viam nada!

Foi então que a Senhora do Rosário pôs o Sol a bailar e, atenção, houve gente que diz ter visto, embora não existam quaisquer registos científicos do fenómeno, em Portugal ou na vizinha Espanha (por exemplo). A somar ao milagre… os “segredos”, contendo um deles a previsão do atentado ao Papa João Paulo II, que só foi tornado público depois da ocorrência… Hoje relembrado pelo citado Cardeal, a título de milagre, claro!

Meus comentários:
As crianças costumam ser apresentadas, pelos promotores daquele evento, com as idades: 10 anos, 9 anos e 7 anos. A diferença não é significativa.
Por que “cargas de água” terá vindo do Céu a tal Senhora (ao que dizem, Mãe de Deus), revelar aos três pastorinhos questões tão delicadas, que dificilmente entenderiam, embora a esses níveis nada seja impossível; relembro o caso do Grande Profeta Maomé que, igualmente analfabeto, conseguiu ler o vasto texto que o Anjo lhe botou na frente ou, mais recentemente, o presidente da Venezuela que recebeu a visita do anterior presidente (falecido) na forma de passarinho.

A Rússia pode converter-se, mas hão de concordar que leva tempo… E no fim ainda ficam alguns ateus, se calhar! Caso aconteça, ficar-se-á a dever à reza do terço? A eficácia é, no mínimo, discutível…

A Guerra terminou um ano após. “Não há mal que sempre dure nem bem que não acabe”. Ora a Senhora não demorou um ano a regressar ao Céu e recordo o facto de Ela ter voltado no mês seguinte! Possivelmente terá ficado numa qualquer nave espacial, a somente um mês de viagem! Mesmo assim…

O atentado ao Papa é assunto que muito crente confunde; tentarei explicar: O Papa foi baleado na Praça de S. Pedro, no Vaticano. Fez o jeito aos portugueses dizendo que se safou porque a “Nossa Senhora de Fátima desviou a trajetória da bala”. Veem? Mais um milagre, demais vindo de quem veio: O Papa é infalível, tudo o que diz é como se fosse Deus a dizer!
O que ele não disse é que foram os médicos a safá-lo.

Pergunto: A intervenção da tal Senhora não podia começar por evitar o disparo? Mais difícil foi desviar a bala no seu percurso…
Esse Papa também foi agredido em Fátima, no ano seguinte, com uma faca; não ficou claro que o tenha sido, mas o padre espanhol (detido na altura) pelo menos tinha a intenção. Às tantas foi milagre a faca não ter cumprido os fins a que estaria devotada…

Termino anotando que, quer a Jacinta quer o Francisco, faleceram pouco depois, ambos com pneumonia. O pai da Lúcia idem. A “pneumónica” foi epidemia que na época vitimou imensa gente e os três que citei fizeram parte do elevado número de mortos. Aqui o milagre não funcionou, nem da parte dos médicos!

A fé vence barreiras, até os mitos e estórias mal contadas…

17 de Agosto, 2015 Carlos Esperança

Fátima – a feira dos embustes

No dia 13 de agosto repetiu-se a feira anual da fé, dedicada aos emigrantes. O santuário ficou juncado de lágrimas, preces e velas a arder. Só os óbolos foram recolhidos.

Na caixa das esmolas caíram cordões de oiro que estiveram durante várias gerações na família, as arrecadas que a avó usou para pagar a cura do filho que a penicilina ajudou. Ficou o anel do defunto marido, para que seja mais célere a passagem pelo Purgatório e euros destinados a pagar o peixe ou a trocar o vestido que o tempo e o uso deliram.

Iam pelas estradas, bandos de peregrinos carregados de fé e cansaço, roucos de cânticos e de rosários gritados para que Deus, na sua infinita surdez, pudesse ouvir os mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos dirigidos à defunta mãezinha de Jesus.

Creem os devotos que a maratona pia é um complemento das orações, que Deus aprecia exercício físico e bolhas nos pés e que as chagas o comovem. Sofreram para chegar ao lugar onde bailou o Sol e a Virgem poisou nas azinheiras sem encontrar um pastor faminto de amor que a demovesse da obsessão do terço e da conversão da Rússia.

Pelas estradas e caminhos poeirentos viram-se peregrinos que a fé empurrou. Não se viu um bispo a fazer a profilaxia do enfarte ou um simples cónego a acompanhar a clientela e a partilhar o sacrifício. Para tão grandes canseiras é preciso acreditar na existência de Deus, hipótese que os prelados moderadamente admitem.

O ritual foi copiado dos anos anteriores, a liturgia repetida e o espetáculo, com entradas gratuitas, foi preparado para as televisões ampliarem o efeito das emoções coletivas.

Fátima é o altar da fé e o palco da pantomina. No dia 13, bispos, monsenhores e párocos lá estavam a gozar o espetáculo confrangedor de peregrinos a viajar de joelhos à volta da capela, em périplos de sofrimento e oração.

Deus ficou muito feliz com as esmolas, as orações, o ror de pedidos e as cinco toneladas de velas queimadas. O Deus dos senhores padres pela-se pelo cheiro de velas ardidas.

Não houve milagres. A comunicação social estava lá e cobriu as cerimónias.

8 de Agosto, 2015 Carlos Esperança

Aparições

Por

Frei Bento

Caríssimos irmãos em Cristo, de vez em quando, neste portal, vem à baila o assunto “aparições”. É um tema controverso, que desencadeia os mais díspares comentários, já que uns acreditam, outros assim-assim, e outros dizem que não acreditam, mas acabam por perguntar aos incrédulos “vossemecê é capaz de garantir que Nossa Senhora não apareceu?” para, logo a seguir, afirmarem que “a mãe de Cristo não anda por aí…” etc.

Posso garantir que, sim senhores, anda por aí. Mortos os apóstolos, Nossa Senhora, Mãe de Deus e Virgem Parideira, como boa mãe que é, decidiu carregar sobre os ombros a ingente tarefa de espalhar a Boa Nova, cujo farol fica ali em Matosinhos, e onde há um restaurante de se lhe tirar o chapéu, enquanto o Filho está a preparar a próxima vinda, prometida há uns tempos, já que, como todos não devemos ignorar, o fim está próximo.

Mas não era sobre estas aparições que eu queria falar, e sim das que ocorrem no nosso Convento, de há uns tempos a esta parte. A única e grande diferença entre as NOSSAS aparições e as que aparecem aqui em discussão, é que as nossas são verdadeiras, testemunhadas, provadas e comprovadas. Outra grande diferença, é que não ocorrem sempre ao mesmo dia, nem o vidente é sempre o mesmo. Com efeito, e numa deriva democrática que me surpreende positivamente, as aparições têm como “alvo”, chamemos-lhe assim, o irmão que estiver de serviço à portaria e que, como é bom de ver, não é sempre o mesmo, antes correndo todos os irmãos, numa rigorosa escala de serviço. O único que não faz serviço é o cabr… o nosso santo Abade, por razões compreensíveis, mas mesmo ele já teve uma visão que o deixou algo alucinado.

Ora, curiosamente, estas aparições começaram a ocorrer quando o irmão Luís Albuquerque, que tomou o nome de Frei Mário, começou a tratar das finanças conventuais, devido à desistência do Frei Vítor. Pois bem, pouco tempo depois, começaram as aparições: primeiro, apareceu o dono do armazém de farinha, a reclamar o pagamento de não sei quantos sacos; depois, apareceu um mestre-de-obras, a reclamar o pagamento de um restauro feito no tecto da capela-mor. E por aí fora, muitas mais aparições tiveram lugar.

Quanto à visão que o Abade teve, foi de uma astronómica factura da EDP, que ia dando o badagaio ao homem.
O Abade já berrou que quer as contas resolvidas até Outubro, o mais tardar, mas tenho dúvidas. Cá para mim, quem vier a seguir é que se vai f… quer dizer, é que vai ter de fechar a porta.

Saúde e merda, irmãos, que Deus não pode dar tudo.

Diário de uns Ateus – Frei Bento, recolhido no Convento, não tomou ainda conhecimento do novo AO mas, como é imaculada a sua escrita, tem direito a usar a mais próxima do Antigo Testamento.

17 de Junho, 2015 Carlos Esperança

As superstições digladiam-se

A Fé e a ciência perante as superstições religiosas

A Fé e a ciência perante as superstições religiosas – REUTERS

As crenças supersticiosas podem ir para além do campo intelectual sobretudo quando se trata de julgar os actos de feitiçaria e mágico-religiosos. Dessa experiencia não escapam intelectuais mesmo os do campo jurídico. Geralmente constata-se nos juristas africanos atitudes de fuga do julgamento dos ditos actos de feitiçaria e mágico-religiosos por motivos supersticiosos. O problema parte da falta de dados e de instrumentos legais e adequados para incriminar ou para incriminar os acusados.

31 de Maio, 2015 Carlos Esperança

As religiões e a lei de Murphy

Por

Paulo Franco

As leis de Murphy talvez não sejam para levar demasiado a sério mas são, sem dúvida, uma advertência séria para o que realmente pode correr mal.

As leis de Murphy são o paradigma da apologia do pessimismo, a hipérbole do derrotismo e do desalento face ao que pode vir a acontecer.

Se (de forma algo forçada, é certo) adaptarmos o “espírito” das leis de Murphy ao que de negativo as religiões têm dado à humanidade, poderíamos elaborar as seguintes premissas:

– Se alguém te mente uma vez, pode mentir-te muitas vezes.

– Se alguém te mente muitas vezes, pode mentir-te sempre.

As religiões já nos mentiram sobre a existência de infernos e purgatórios; será que não nos estão a mentir sobre a existência do Céu?

As religiões já nos mentiram sobre a existência de demónios e diabos: será que não estão a mentir sobre a existência de deuses?

As religiões já nos mentiram sobre a existência de anjos, bruxas e feiticeiras: será que não estão a mentir sobre a existência de pessoas ressuscitadas?

Mas, se com toda a força de vontade da resiliência humana, nos submetermos ao poder da Fé e acreditarmos que Céu, Deuses e Pessoas que ressuscitam realmente existem, podemos sempre admitir a hipótese de, afinal, inferno, purgatório, demónios, diabo, anjos, bruxas e feiticeiras serem também uma realidade no nosso mundo, mas aí teremos seriamente de nos interrogar:

Estaremos afinal de regresso à Idade Média?

Ou será que quem mente muitas vezes pode mentir sempre?

26 de Maio, 2015 Carlos Esperança

A cerimónia da bênção das pastas

Não há evidência estatística que prove que a bênção das pastas beneficie os benditos ou seja uma carta de recomendação para o primeiro emprego.

Não há ensaios duplo-cegos que provem a correlação positiva entre a fé e a preparação académica, entre a hóstia e o conhecimento científico, entre as orações e o domínio das sebentas.

Tirando o colorido fotográfico de um bispo paramentado a rigor e estudantes vestidos a imitar padres, não há nos borrifos de água benzida, arremessados a golpes de hissope, a mais leve suspeita de que a benta humidade conserve o coiro da pasta ou do próprio.

Há, todavia, no circo da fé, genuína alegria, uma absoluta demissão do sentido crítico, a força poderosa do «porque sim», que impele os estudantes para a missa a pedir a bênção da pasta e a prometer que vão espalhar a felicidade.

Vão ao confessionário falar dos «pecados» em que reincidirão, começam na eucaristia e continuam na cerveja, despacham umas ave-marias e mergulham na estúrdia de oito dias de todos os excessos.

Deus é um aperitivo amargo que a tradição manda, a festa é o ritual que o corpo e os sentidos exigem. O bispo leva Deus para o Paço episcopal enquanto os estudantes vão fazer a digestão da hóstia em hectolitros de cerveja ou acabar no banco do Hospital em coma – uma espécie de êxtase místico induzido por excesso alcoólico.

Até à data não há registo de qualquer lavagem gástrica por excesso de hóstias. Talvez a eucaristia tenha lugar no início dos festejos porque, no fim, não há estômago que ainda aguente.

No fim do curso, os alunos começam a festeja-lo, de joelhos e, com a falta de emprego, acabam de rastos.

4 de Maio, 2015 Carlos Esperança

O sufixo «logos»

Logos, “razão”/”pensamento”, é o sufixo que designa cientistas enquanto logia significa “amor ao estudo, à instrução”, designando as respetivas ciências: fisiologia, cosmologia, biologia, etc., caracterizadas pelo método e objeto. Excetuam-se a astrologia e a teologia,  apropriadas por charlatães.

Os cientistas que estudam os astros tiveram de criar a «astronomia», apropriada que estava por pantomineiros a “astrologia”.

Quanto à teologia, “ciência” que estuda os seres imaginários que povoam a fantasia dos clérigos e o medo dos crentes, não se lhe conhece método ou objeto, sem prejuízo de os reivindicarem os que fazem do exoterismo uma profissão e da sua divulgação a fonte de proventos.

Os astrólogos, clérigos, quiromantes, bruxos, cartomantes e oficiais de outros ofícios correlativos conhecem sucesso em épocas de crise.

Vêm aí tempos em que o livre-pensamento dará lugar a fenómenos exacerbados de fé.

13 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

A Irmã Lúcia e o Quincas – no 10.º aniversário do passamento da primeira

A Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, Lúcia para os amigos, íntima da Senhora de Fátima, morreu carregada de anos e de visões a 13 de fevereiro de 2005.

Em 19 de fevereiro de 2006 foi trasladada para a Basílica de Fátima onde foi sepultada junto dos primos, Francisco e Jacinta, adiantados no processo de santidade devido à precocidade na defunção. Chovia. As bátegas não pararam de fustigar os peregrinos. As novenas dos padres não conseguiram que S. Pedro contrariasse a meteorologia.

Não foi a inutilidade das rezas ou a ausência de Deus que dissuadiu os crentes, alagados de fé e chuva até aos ossos, de estarem presentes na segunda edição do funeral de Lúcia.
Não houve na repetição das exéquias fúnebres a saudade genuína das prostitutas de S. Salvador da Baía a passearem o cadáver do Quincas Berro D’Água, nas ruas em cujos botequins devorou cachaça com a mesma sofreguidão com que as beatas chupavam hóstias.

A freira, a quem o terrorismo religioso do catecismo induziu alucinações, nunca terá um Jorge Amado que a celebre em «A morte e a morte da Irmã Lúcia, vidente».

O Quincas, quando devorou, de um só trago, água em vez de cachaça, deu tal berro que passou a ser carinhosamente tratado por «Berrinho» e fez-se personagem de romance. Lúcia comungava por hábito e obrigação pia, mantinha olhos vagos e a postura de quem vive morta por dentro envergando como mortalha o hábito.

Quincas é o delicioso personagem que diverte e comove o leitor de «A morte e a morte de Quincas Berro D’Água», marginal que viveu a vida, pecador que amou e foi amado.
Lúcia é o exemplo trágico de criança pobre, fanatizada com orações e amedrontada pelo Inferno, que sonhou virgens nas azinheiras, cambalhotas do Sol no caminho das cabras, profecias de conversão da Rússia e churrascos de almas para absentistas da missa.

A criança amestrada com pios embustes sobre o divino tornou-se cadáver de estimação, acolitada pela força pública, a viajar com padres, bispos, freiras e romeiros, num cenário com quatro missas, orações pias e um futuro promissor de oferendas de gente aflita.

Não foi o final da história de uma encarcerada de Deus, foi o início da caminhada para a santidade, à espera de milagres e oferendas que hão de alimentar funcionários de Deus e manter Fátima como uma das mais lucrativas sucursais do Vaticano.

A fraude não acabou, começou um novo ciclo. Faz hoje 10 anos que iniciou a etapa da santidade.