18 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança
Quando a ICAR nega o antissemitismo
Peço desculpa aos leitores pelo lapso de um quadro completamente alheio ao título e ao D1A, agora substituído pelo correto (16H00).
Peço desculpa aos leitores pelo lapso de um quadro completamente alheio ao título e ao D1A, agora substituído pelo correto (16H00).
A Universidade de Coimbra é capaz do melhor e do pior, de gerar cientistas de elevado mérito e beatos capazes de conduzir a caldeirinha, com o hissope, atrás das saias de um capelão. Tem investigadores notáveis e beatos de rara sofreguidão teófaga, deliciando-se com a missa e hóstia diárias, às vezes os mesmos, assunto que devia ser de natureza particular, e seria de intolerância e mau gosto comentar.
Acontece, porém, que o Magnífico Reitor entende que na Universidade, onde a tradição e os dinheiros públicos mantêm um capelão, deve ser ele e o capelão a convidarem os professores, alunos e funcionários, para a missa de homenagem à padroeira da Universidade – a Imaculada Conceição –, que terá lugar a 8 de dezembro, pelas 12H00, na capela de S. Miguel.
Que o capelão, no exercício das funções, convide os créus a assistir a uma cerimónia da sua religião, compreende-se. Permite, aliás, ver a magnífica capela, uma relíquia da arte sacra, e, no caso dos devotos, venerarem um dos numerosos avatares da mãe de Jesus que o Papa Pio IX, em 8 de dezembro de 1854, tornou obrigatoriamente virgem, como é hábito milenar para as mães de diversos deuses.
O que não é aceitável é que a mais alta entidade académica, de uma Universidade laica, se comporte como o diretor de uma escola confessional ou o mullah de uma madrassa. Quem preside ao areópago da Ciência e das Humanidades não pode dedicar-se às coisas pias, sobretudo num país laico onde a separação das Igrejas e do Estado é obrigatória.
São exemplos destes que levaram uma ilustre e beata professora, quando vice-reitora, a propor a recriação da Faculdade de Teologia, o que não conseguiu porque o bom senso e a formação cívica do corpo docente a inviabilizaram.
Uma faculdade de teologia teria certamente licenciaturas em islamismo, cristianismo e judaísmo, bacharelatos em hinduísmo, xintoísmo e budismo, graduações em lançamento de búzios, mestrados em tarô e bruxaria, e doutoramentos em exoterismo.
Não falei dos méritos – são muitos –, que exornam a Universidade de Coimbra, lamento as atitudes que a desprestigiam. A Universidade devia ser o último reduto na defesa da laicidade e não a vanguarda do convite à genuflexão pia, à prática litúrgica e à devoção.
O atual bispo de Lisboa, Manuel Clemente, licenciado em História, cardeal por herança do direito adquirido por bula de 1737, que não ficou barata ao reino, parece ter obtido a mitra, o báculo e o anelão, mais por razões pias do que por inteligência ou bom senso.
Não tendo um bispo titular qualquer ascendência sobre outro de diocese diferente, foi na qualidade de presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) que o dr. Clemente se pronunciou sobre o sacerdote da diocese do Funchal, que assumiu a paternidade cujo mérito lhe coube.
Diz o cardeal que o padre pode exercer o múnus, desde que renuncie a viver com a mãe da criança, de onde se conclui que o desempenho sexual não elimina o direito ao alvará canónico, apenas a coabitação com a mãe ou o conhecimento público. Como hipocrisia, não foi mera declaração pia, foi a exegese da doutrina católica.
O homem a quem o PR, fiel à fé e alheio à laicidade, beija a mão, afirmou ainda “ser completamente desaconselhável a entrada de jovens homossexuais nos seminários.” A discriminação, por motivos sexuais, de jovens ou idosos, é inadmissível num emprego profano, e torna-se ridícul e inútil o requisito heterossexual com interdição do exercício. É como sujeitar um animal carnívoro a uma dieta vegetariana.
Só faltou pronunciar-se sobre a sexualidade das freiras onde a jurisprudência canónica é parca. Apenas recordo uma decisão que forçou freiras de uma abadia, onde as gestações surgiram de violações, a optarem entre a entrega das crianças e a saída do convento.
Ao ouvir o Sr. «D. Manuel José Macário do Nascimento Cardeal Clemente», nome que o direito canónico lhe confere, para gáudio profano, quem pode resistir à recordação da paródia à «Ceia dos Cardeais»?
– …, Cardeal!
«Seis dias se trabalhará, mas o sétimo dia vos será santo, o sábado do repouso ao Senhor; todo aquele que nele fizer qualquer trabalho morrerá» (Êxodo 35:2).
João César das Neves, pávido com as labaredas do Inferno, esquece a Bíblia e o sábado para divulgar a vontade do seu Deus, decifrada nas mais arcaicas sacristias.
Neste último sábado, 4 de novembro do ano da graça do calendário gregoriano, regressa à homilia contra a IVG, exaltando as ‘Caminhadas pela Vida’, desse dia, equiparando a IVG a “barbaridades extremas: guilhotina jacobina, holocausto nazi, ataque atómico ao Japão, massacres arménio e tutsi, entre tantos outros [sic]”.
O devoto misógino nunca se conformou com o fim da pena de prisão para mulheres que abortam por malformações fetais, violação ou risco de vida. Como poderá resignar-se à liberalização do aborto quem é capaz de ver na ejaculação um genocídio?
Talvez escreva estes textos pios depois da missa das sextas-feiras em que a ‘Comunhão e Libertação’ o expõe a longas inalações do turíbulo onde, por lapso, ardam outros pós, em vez de incenso.
Na pungência de tais odores, JCN vocifera contra “as crueldades cometidas no aborto, na eutanásia, na procriação assistida e em tantos outros atentados à vida e à família”, sem jamais perceber que o planeamento familiar, os contracetivos e a despenalização contribuíram para a drástica redução do aborto, em Portugal.
Para JCN, “um aborto é sempre um acto objectivamente abominável, arrancando à força um feto do seio da mãe grávida”, ainda que salve a vida materna ou condene à gestação de um anencéfalo. Com a sanha de Maomé ao toucinho, JCN afirma que esta “sociedade está apática, senão abertamente cúmplice, perante as crueldades cometidas no aborto, na eutanásia, na procriação assistida e em tantos outros atentados à vida e à família”.
“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.” (Mt 5.3.)
Correio da Manhã de 3/11/2017
Papa Francisco em Fátima custou 560 mil euros
Santuário apresentou ontem as contas do Centenário das Aparições. Em sete anos (2010-2017), foram gastos 2,1 milhões
E pergunta o ateu Túlio:
Estão ai contabilizadas as horas que custaram aos portugueses a PSP, GNR, FORÇA AÉREA, horas extras, alimentação, deslocação – de e para Fátima – embora deva ser reconhecido que uma multidão de “fiéis” deixou algum dinheiro em sandes e bugigangas nas lojas?
Sempre foi assim!…
O recente Acórdão da Relação do Porto é uma pequena viagem da jurisprudência entre o tribunal de Felgueiras e o da Relação, com inquietante unanimidade, num país onde a norma do Código Penal de 1886, que prescrevia a saída da comarca por seis meses para o homem que matasse a mulher “em flagrante de adultério”, só foi revogada em 1975.
Há quem veja na indignação face à jurássica mentalidade de vários juízes um exagero, quando uma mulher foi injuriada, assediada, metida à força num veículo e agredida com “um pau comprido com a ponta arredondada, onde se encontravam colocados pregos”, por dois indivíduos primitivos, o marido e aquele com quem manteve, durante meses, um relacionamento amoroso.
Parece uma viagem de regresso, de ‘maio de 68’ a ‘28 de maio’ (1926), conduzida por beneditinos a caminho do Santo Ofício, certos de que existirá em qualquer época um Torquemada na defesa da moral e dos bons costumes.
Omite-se que a vítima não recorreu do vexame a que foi sujeita, da injustiça que sofreu, da dor que suportou, com feridas profundas, a sangrar por dentro, enquanto os algozes ficaram em liberdade porque a alegada opinião pública ou os códigos de um “manual de maus costumes” da Idade do Bronze tornam socialmente compreensível e tolerável o que rejeita a Constituição de um país laico e civilizado. Foi uma Procuradora que, sem êxito, recorreu da iniquidade com que não podemos conformar-nos.
Esperava não voltar a este revoltante assunto, mas o respeito pela igualdade de género e a decisão da PGR (talvez juridicamente inatacável) de impedir o recurso para o Tribunal Constitucional de uma decisão em que o julgador se permitiu humilhar a vítima por um ato que não é crime e, por isso, foi benevolente para os algozes pelo crime que o é.
Os discursos do Presidente do STJ e do Presidente da Relação são ininteligíveis para um leigo. Palavras da 4.ª figura do Estado, Ataíde das Neves, são o chumbo derretido numa ferida: «A intensidade e violência das críticas não será [sic] um serviço prestado às vítimas, mas a todos aqueles que, sentados nas bancadas ou chorando lágrimas de crocodilo, fazem o jogo da discriminação e da perda de confiança na justiça».
Eu estou sentado, e aquela mulher? Ah! Sempre foi assim…
É a vontade de Deus.
A notícia – critica e alarmista – avisa os incautos que o homem que vai liderar a prevenção aos incêndios tem ligações à indústria do papel. Se fosse à dos fósforos era pior.
O divertido da notícia, é que ela é da Rádio Renascença, a emissora da Igreja Católica.
O que diríamos de um título do género: O homem que lidera a Rádio Renascença tem ligações a uma organização que se corresponde com o além, que fala com espíritos, que acredita que o mundo foi criado em 7 dias… Está ligado a uma organização que acredita na reencarnação e na ressurreição, que acredita que uma virgem deu à luz um deus! O homem que lidera a Rádio Renascença está ligado a uma organização fundada por uma seita de judeus que se reuniu à volta de um jovem fazedor de milagres.. que nunca teve emprego nem profissão!
Ironically in the month of the “me too” campaign, a judge in Portugal, 2017, has mitigated the guilt of two men who kidnapped and brutally attacked a woman due to her poor conduct as a “dishonest” woman. Briefly summarising the facts, a married woman had an affair – when she decided to end it, the former lover kidnapped her and called the husband to beat her up. Casual, right? The judge decided to almost exonerate both men, seeing that they had been “humiliated” by the actions of this dishonest woman. Amongst other things, the judge quoted the bible (where it is stated that adulterous women should be killed), outdated criminal law and referred to countries in which adulterous women are stoned to death. This decision is not just shocking, it’s terrifying.
Ironicamente, no mês da campanha “Eu também um juiz em Portugal, 2017, tem a culpa de dois homens que raptaram e atacaram brutalmente uma mulher devido à sua má conduta como uma mulher” desonesta Resumindo os factos, uma mulher casada teve um caso – quando decidiu acabar com ele, o ex-AMANTE RAPTOU-a e chamou o marido para lhe bater. Casual, não é? O Juiz decidiu quase exonerar ambos os homens, vendo que tinham sido “humilhados” pelas ações desta mulher desonesta. Entre outras coisas, o juiz citou a Bíblia (onde se afirma que as mulheres adúltera devem ser mortas), o direito penal ultrapassada e se refere a países em que as mulheres adúltera são pedrado até à morte. Esta decisão não é apenas chocante, é aterrorizante.
O Paraíso não é um bar de alterne, nem um lugar particularmente bem frequentado. A avaliar pelos santos que o defunto JP2 tirou das profundezas do Inferno ou do estágio no Purgatório, há hoje uma multidão de patifes a jogar as cartas com o divino mestre e a servir bebidas ao Padre Eterno.
Não sei se é Torquemada que toma conta do armazém das almas de crianças por nascer ou de adultos por batizar, pois sabe-se de ciência certa, com aquela honestidade que se reconhece ao clero, que os não batizados têm como destino o Limbo, um sítio insípido, sem divertimentos nem crueldades como os que o Deus de Abraão criou como destino dos bem-aventurados ou das almas penadas.
No armazém das almas o negócio anda próspero com a explosão demográfica a que se assiste. Mas Deus é um comerciante insatisfeito que quer despachar mais mercadoria.
É por isso que a ICAR é contra o planeamento familiar, a contraceção, o preservativo, a IVG, o DIU e a pílula. No Céu há uma alma para cada espermatozoide e é por isso que tanto o pecado solitário como a ejaculação noturna são uma catástrofe para o negócio.
Os clérigos, encarregados de tratar das almas e olhar pelo negócio, andam estarrecidos com a possibilidade do fim da perseguição criminal ás mulheres que interrompam a gravidez.
Aliás, para as religiões do livro, a mulher é um ser inferior que deve obediência ao marido e serve apenas para a reprodução e os louvores ao Deus da zona de residência.
Apostila – Escrevi este texto em 17-10-2005 22:49:44. E não é que Bento 16 extinguiu o Limbo à sorrelfa, só para me desatualizar a prosa?
Vigário Regional do Opus Dei: após a calamidade deste fim de semana
Desde o passado domingo dia 15 todos seguimos com dor e perplexidade o rasto de destruição que os incêndios deixaram em todo o país.
Agradeço a Deus a chuva desta noite que tanto precisávamos para o duro combate contra as chamas. A chuva veio misturar-se às muitas lágrimas dos que choram os que eram seus e agora partiram.
D1A – E a quem responsabiliza pelas altas temperaturas, os incêndios e as mortes?
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.