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Categoria: Política

23 de Março, 2016 Carlos Esperança

O beijo na mão e o beija-mão

Não, não sou contra o beijo, essa revelação de afeto que pode começar na mão e acabar onde a geografia do corpo e o entusiasmo dos sentidos possa levar, num percurso a que as hormonas e o consentimento mútuo marcam a duração, intensidade e reciprocidade, numa explosão de alegria e satisfação.

Desprezo o beija-mão, uma tradição de reverência que na minha juventude se praticava em relação aos pais, padrinhos e párocos, de que os hábitos familiares me exoneraram. As origens medievais, na cultura lusófona, fizeram dele o costume monárquico, herdado depois pela corte imperial brasileira, em que o vassalo mostrava reverência ao monarca, em cerimónia pública ou, antes de solicitar alguma mercê, em privado.

Há sociedades onde o beija-mão permanece, não como mera tradição, mas com carácter imperioso, nas religiões e na máfia, duas instituições onde os graus hierárquicos são de respeito obrigatório e, na última, condição de sobrevivência.

Permanece em algumas religiões o hábito do beijo recíproco, entre iguais, (são sempre homens os clérigos) e o beija-mão do inferior ao superior e do crente ao clérigo.

Em sociedades democráticas, laicas e secularizadas, subsiste nas cerimónias privadas, pias e discretas, sem que os chefes de Estado humilhem os países que representam em atos públicos de obsoleta reverência.

É inaceitável que, sendo católicos, o presidente da Junta de Freguesia, oscule a mão do pároco, o presidente da Câmara a do arcipreste ou a do bispo, quando autarca na sede de distrito, o edil de Lisboa a do cardeal-patriarca e o PR a do Papa de Roma.

O poder civil, democraticamente sufragado, não pode, por respeito ao carácter laico da Constituição, e por decência, dobrar-se servilmente, genufletir-se ou atirar-se ao anelão de um bispo com o denodo com que S. Tiago se atirava aos mouros.

18 de Março, 2016 Carlos Esperança

Marcelo R. Sousa e o papa

O católico Marcelo pode oscular o anelão de um bispo, ajeitar-lhe a sotaina, polir-lhe o báculo ou ajoelhar-se-lhe aos pés. O devoto, para salvar a alma, pode dobrar a espinha dorsal, salivar de volúpia nos pés de um ícone do seu deus, empanturrar-se em hóstias e demorar-se a rezar o terço enquanto nada no mar ou aguarda o sono.

O que o Presidente da República não pode fazer é lamber a mão de um clérigo, inclinar-se subservientemente, deixar-se fotografar num ato humilhante para a República laica que representa e portar-se como se a CRP, que jurou, permitisse o aviltamento do seu guardião.

Portugal não é protetorado do Vaticano e o PR sacristão. Ao bajular o Papa não cumpriu uma visita de Estado, levou a cabo uma promessa pia, denegriu a imagem do País e comprometeu a laicidade.

Este não foi o mau começo da primeira saída do país, foi o fim do respeito que merecia a todos, passou a ser o presidente dos católicos portugueses.

Marcelo e o Papa

15 de Março, 2016 Carlos Esperança

Um pedido que é uma obrigação cívica

Olá, ajudem-nos a partilhar este negócio muito católico entre a Câmara de Braga e a Arquidiocese de Braga. São 768.000€ por 10 anos de renda quando o Estado tem um edifício muito melhor ao lado à venda por 900.000€… http://rum.pt/news/oposicao-contesta-renda-que-autarquia-vai-pagar-a-diocese
Oposição contesta renda que autarquia vai pagar à Diocese
Vereadores da oposição criticaram ontem o contrato da autarquia com a Diocese para a ocupação do Pé a Lado, futura sede da União de Freguesias de S. Lázaro e S. João de Souto.
13 de Março, 2016 Carlos Esperança

A Babilónia do Médio-Oriente….

Por
e-pá

Ultimamente tem sido intensas as conversações entre a UE e a Turquia em grande parte por 3 motivos: o sanguinário conflito sírio; a vaga de refugiados e a adesão deste País à UE. Vamos ficar pelo primeiro.
Sobre o conflito sírio a atitude turca é por sistema dúplice (quando não tríplice). Sendo o Governo de Erdogan um histórico aliado da Irmandade Muçulmana, logo integrando a facção sunita, a sua postura nesta contenda nunca foi neutra. “A Primavera síria” cavalgou a ‘onda das primaveras árabes’ e pretendia substituir o regime de alauita de Al Assad (que segue a prática xiita) transformando-o num Estado Islâmico (sunita) dentro da órbita hegemónica regional da Arábia Saudita. Nunca esteve aqui em causa qualquer tipo de transformismo do tipo democrático.
Tudo correu mal por variadas razões: primeiro os combatentes sunitas ‘transformaram-se’ jihadista cruéis e fanáticos interessados num ‘Estado Islâmico’, com pretensões de construção de um novo califado, e em certa medida (e só parcialmente) fugiram do controlo saudita.
Depois, verificou-se o ‘arrefecimento ‘do ímpeto primaveril árabe e o Ocidente aliado das pretensões sauditas esqueceu-se do Irão xiita, e pior, ignorou os interesses geo-estratégiccos da Rússia.
A dita ‘solução ocidental’ foi correndo até ao momento que o Daesh tendo-se apoderado dos campos de petróleo da região arranjou capacidade financeira e de aquisição de equipamento militar para progredir da Síria até às portas de Bagdad. Paralelamente, o Daesh desenvolveu uma intensa actividade de captação de combatentes que usando as mais sofisticadas armas de propaganda desenvolveram atitudes de força brutal e métodos bárbaros de intimidação e destruição a par de genocídios (de base religiosa) intimidou todo o Médio Oriente e o Mundo.
O Ocidente traumatizado pela guerra do Iraque nega-se a colocar as botas no terreno. Resolve atacar o Daesh com a aviação e só os curdos dão o corpo ao manifesto combatendo o Daesh no território capturado.
A situação entra num equilíbrio cada vez mais frágil e instável. Os curdos que encetaram um mecanismo de auto-defesa étnica mas também no reavivar de um sentimento de nacionalidade que tem por origem uma mescla que povos que se entroncam em vários países do chamado ‘Curdistão’, isto é, no Irão, Iraque, Síria, Turquia, Arménia, Geórgia, etc. Metade deles vivem na Turquia e esta é uma questão adicional no presente conflito já que é um problema que se arrasta desde a guerra da independência turca e esta é a oportunidade soberana de reunir os curdos numa nação.
Ao fim e ao cabo a Arábia Saudita pretendendo recolocar a sua hegemonia do Médio Oriente, de conluio com os EUA, veio (re)colocar na agenda política a partilha de mundo desde o fim do império otomano.
Esperemos que esta nova divisão do Médio Oriente (o rearranjo já em curso) não passe por uma nova guerra de dimensões catastróficas e alargadas mas hoje parece inevitável que a situação no Médio Oriente, deverá desenhar um novo mapa para essa área.
Daí o interesse das múltiplas nações envolvidas que somam às questões políticas e geo-estratégicas condições energéticas fundamentais (petróleo).
Daí também a razão do crescente envolvimento da Rússia neste conflito de tal maneira profundo que hoje é visível que qualquer ‘solução’ necessite de merecer o beneplácito de Moscovo.
7 de Março, 2016 Carlos Esperança

Doutrinar, alienar e aliciar…

Por
e - pá

 

Segundo a edição on line do The Guardian o Estado Islâmico aposta na doutrinação de crianças que vivem sob a sua alçada… link.
A Fundação Quilliam vem denunciando a participação de crianças e adolescentes nos habituais massacres do Daesh. Entre eles uma execução colectiva de duas dezenas de soldados sírios ocorrida na cidade histórica de Palmira link.
A brutalidade destes procedimentos não é desconhecida do Mundo. Em Março de 1922 com os mesmos princípios foram criadas asJungmannschaften que incorporaram rapazes dos 14 aos 18 anos.  Em 1928 foi criada uma outra organização que integrava jovens de grupos etários mais baixos (10 aos 14 anos) sob a designação de Deutsche Knabenschaft.
Quando Adolf Hitler conquistou o poder as múltiplas organizações entretanto surgidas foram fundidas nas Juventudes Hitlerianas (JH). De notar que essas ‘juventudes’ não albergavam exclusivamente jovens identificados partidariamente com o partido nazi.
Não devemos esquecer as motivações de índole religiosa, como por exemplo, a Evangelische Jugend inegavelmente conotada com o luteranismo e que em 1931 agrupou largas centenas de milhares de aderentes às JH. Portanto, as derivas fundamentalistas religiosas não estão fora deste tenebroso processo.
O que se passa nos territórios dominados pelo Daesh não foge a este senda histórica. Outros exemplos poderiam ser citados – embora comportando gradientes e circinstâncias diferentes – por apresentarem similitudes mobilizadoras. São os casos da Mocidade Portuguesa (Portugal), Movimento Nacionalista (Espanha), Opera Nationale Ballili e os Arditi (Itália), EON (Grécia), Belli Orlovi /Águias Croatas (Croácia), etc.
Politicamente, existe um conceito que sempre interessou aos partidos políticos e à sociedade: o problema do ‘homem novo’.
O problema da doutrinação da juventude sempre foi um assunto muito delicado. Os jovens por circunstâncias ditas fisiológicas, psicológicas e estruturais reúnem algumas condições aliciadoras: são inocentes, incautos, crédulos e não têm experiência de vida (imaturos). Existe concomitantemente alguns fascínios peculiares: pelos uniformes, pelo exercício físico (disciplinador e subordinante), pela vida ao ar livre (campismo), pela ‘ordem unida’, etc.
São esses os passos que o Daesh está a dar com grande determinação e pensamento estratégico. Eles poderão ser mais duradouros e profícuo do que as posições militares e territoriais que agora ocupam.
O recrutamento de mais de 1 milhar de jihadistas por mês, muito deles jovens, é um tremendo desafio ao futuro da Humanidade. Infelizmente para combater esta hecatombe em acelerada marcha pouco mais vemos do que hesitações.
A História para além dos exemplos anunciados também nos ensina que contemporizar é imolar vidas (muitas delas pertencentes a jovens) e contribuir para um desastroso retrocesso civilizacional.
6 de Março, 2016 Carlos Esperança

ZAMAN (Tempo em turco…) – Política e religião

Por
e - pá
Enquanto a Europa continua a afundar-se perante a crise dos refugiados construindo aqui e acolá ‘mini-trincheiras’ que se dispõe a pagar a preço de ouro, a Turquia o seu mais abonado parceiro desta estratégia vai consolidando um regime islamita cada vez mais fechado e autoritário.
Nos últimos dias foi o caso do jornal “Zaman” voz da oposição ao governo de Erdogan.
Zaman é um jornal turco de grande expansão com ligações ao ‘pregador’  Fethullah Gullen antigo aliado de Erdogan mas actualmente um seu inimigo figadal.
Sendo as questões muito antigas e as divergências profundas o imã vive exilado nos EUA porque receia pela vida em Istambul e há cerca de 2 anos lançou nos media que controla um violento ataque onde incrimina o Governo turco e a família Erdogan de atos de corrupção. Os meios de comunicação sociais que deram guarida a estas acusações tornaram-se imediatamente proscritos.
A recente intervenção (encerramento) no jornal Zaman é por si só intolerável mas infelizmente é complementar de vasto plano outras acções (contra a liberdade de Imprensa e de Expressão) que têm sido silenciadas no Ocidente como: os canais de televisão privados Kanalturk e Bugün TV (encerrados na 3º. Feira), bem como os diários Bugün Gazetesi, Millet Gazetesi e a emissora Kanalturk Radyo.
A aproximação com a Turquia tem sido uma das pedras de toque da política da UE para tentar resolver ou pelo menos suster a questão dos refugiados. A visita de Merkel a Erdogan largamente noticiada na imprensa europeia link é uma dessas démarches. A solução da criação de Estados-tampão não é uma solução é um remendo. Pode rapidamente transformar o Médio Oriente num imenso campo de concentração.
Mas a questão dos refugiados é indissociável do Daesh e desde há muito que existem  dúvidas – nunca cabalmente esclarecidas – sobre o papel da família Erdogan e de outros oligarcas turcos no negócio de comercialização do petróleo  oriundo das regiões ocupadas pelo Estado Islâmico situação denunciada por Putin link  após o derrube de um caça russo junto à fronteira sírio-turca e imediatamente esquecida. Saber por onde passam os canais de financisamento do Daesh é fundamental na luta anti-terrorista. Mas essas evidencias estão (en)cobertas pelo opaco manto dos negócios.
Embora complexa toda esta situação no Médio Oriente fica a sensação de que a União Europeia decidiu seguir o aforismo popular de ‘vender a alma ao diabo’. O diabo é uma criação das religiões monoteístas mas será por assim dizer um ‘falso-deus’. Na mesma medida que Erdogan é um muçulmano onde colocaram a vinheta de ‘falso moderado’.
Por este caminho a democracia na Europa não só é espezinhada como durará pouco. Os políticos europeus mostraram uma tremenda incompetência em lidar com a última crise financeira. Agora revelam-se além de incompetentes, desastrados, a tratar do problema dos refugiados sequela das inauditas ‘Primaveras árabes’, que tanto aplaudiram em nome da Democracia.
29 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

Onde está a blasfémia

Antes de publicar a minha opinião sobre o cartaz do Bloco de Esquerda, deixo hoje aqui a de Alfredo Barroso, político, jornalista e jurista:

«Sinceramente, não vejo onde está a «blasfémia» neste cartaz do Bloco de Esquerda. Tanto quanto se sabe, e está escrito na Bíblia, o carpinteiro José, marido de Maria, era pai de Jesus Cristo (o menino exposto nas palhinhas do Presépio, em Belém) embora seja dito que Maria, mulher de José, tenha concebido sem pecado (ou seja, sem que José a tenha fecundado num acto sexual).

Por outro lado, a Santíssima Trindade é constituída pelo Pai (sem dúvida Deus), o Filho (que só pode ser Jesus Cristo, que morreu pregado na cruz, isto é, crucificado) e o misterioso Espírito Santo (a quem muitos atribuem a responsabilidade pelo facto de Maria ter sido concebida sem pecado).

Assim sendo, Jesus poderá ter tido, não apenas dois mas três Pais: S. José, o Pai e o divino Espírito Santo. E venha agora alguém explicar-me onde é que está a «blasfémia» em toda esta encenação em torno da paternidade de Jesus…».

28 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

O cartaz que fere o bom senso político (e só isso…)

Por

e-pá

O cartaz publicado pelo Bloco de Esquerda relativo à discriminação da adopção é lamentavelmente infeliz. Não está em causa a liberdade de expressão e de pensamento. Existe, de facto, liberdade para o BE fazer o que fez.

O que foi deturpada foi a capacidade política de comunicar com a população. E a falta de argúcia para fundamentar a comunicação por imagens no contexto real. Não vale a pena discutir nem conduz a bons resultados misturar pressupostos contextos biológicos e fisiológicos e convicções sobrenaturais.
É uma argolada confundir – ou meter no mesmo saco – questões sociais reais e prementes, envolvidas em especulações biológicas e reprodutivas com mitologias divinas, apostólicas e/ou esotéricas.

A adopção da personagem Jesus, que é um dos pilares religiosos para os católicos embora não tenha um percurso histórico claro e credível, não informa qualquer conteúdo legislativo e não consegue influenciar os fundamentos da sociedade moderna (malgré os esforços do papa Francisco).
A crença no livro (Bíblia) é baseada em ‘verdades de fé’ e diz respeito a questões místicas e sobrenaturais.
Nada tem a ver com problemas reais que fustigam a sociedade como são os problemas de direitos e deveres de parentalidade, de discriminação e de adopção.

Não se percebe, portanto, a correlação que o despropositado cartaz pretendeu fazer. Na verdade, tem de existir num País laico um amplo campo de liberdade religiosa onde todos têm lugar desde os praticantes religiosos, aos agnósticos terminando nos ateus. Quando se decide imiscuir símbolos religiosos na comunicação política é necessário ser prudente, revelar bom senso e razoável. Se assim não for poderemos estar a fazer um péssimo uso da liberdade religiosa, um inestimável bem que deve ser preservado a todo o custo.

Muitos dos problemas que fustigam hoje o Mundo passam pela marginalização ou derrogação dessa liberdade. Mais uma razão para que o BE tivesse adoptado uma atitude comunicativa mais pensada, estratégica e esclarecida (diferente de censura).

O bom senso é um bem escasso que temos muitas vezes necessidade mas que não se vende na Farmácia, nem se consegue incutir nas Escolas, Institutos ou Faculdades ou em mesas redondas, convénios, simpósios, etc.

Jesus

24 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

A visão de Eduardo Lourenço

Actualidade
lusa.sapo.ptLusa
20:52
O mundo islâmico adquiriu a consciência do declínio do Ocidente, representado pela Europa, e como sempre sucedeu na história da Humanidade está a tentar impor a sua lei, considerou hoje o ensaísta Eduardo Lourenço num debate sobre o projeto europeu.

Mundo islâmico está consciente do declínio do Ocidente – Eduardo Lourenço

“Existe um problema interno ao mundo islâmico, por razões de ordem religiosa, guerras terríveis entre xiitas e sunitas”, assinalou durante a sua intervenção na Gulbenkian, em Lisboa, numa conferência organizada pelo Centro de Investigação em Direito Europeu, Económico, Financeiro e Fiscal da Faculdade de Direito de Lisboa (CIDEEFF) e o Instituto Europeu.

“E ao mesmo tempo uma consciência muito aguda de que o Ocidente representado pela Europa está em declínio, sentem a nossa fraqueza enquanto potência mundial e jogam o jogo que sempre se jogou na Humanidade, os mais poderosos, ricos, os mais empreendedores, os mais guerreiros, os mais violentos, têm tendência a impor a sua lei”, referiu no seu improviso que se prolongou por quase 40 minutos.

Na mesa, presentes ainda Paulo de Pitta e Cunha, fundador do Instituto Europeu, e presidente do Conselho diretivo da Associação interuniversitária para o estudo da integração europeia — AREP, e o advogado Eduardo Paz Ferreira, dirigente do Instituto de Estudos Europeus da Universidade de Lisboa — particularmente crítico na sua intervenção sobre o recente acordo entre Bruxelas e o Reino Unido, definido como “uma decisão desastrosa que descaracteriza por completo a UE”.

Os três especialistas integraram o primeiro painel da sessão dos colóquios “Olhares sobre a União Europeia nos 30 anos de adesão à UE”, que assinala a adesão de Portugal à então CEE e que se vão prolongar, com periodicidade mensal, até aos finais de 2016.

“Estamos confrontados com um grande desafio”, assinalou, ao referir-se à ideologia hoje dominante nesta “nova fase” do mundo islâmico, e após ter percorrido as principais etapas de construção da Europa, esse “pequeno cabo da Ásia”, desde a Grécia antiga até às duas guerras mundiais do século XX e cujas consequências acabaram por justificar um projeto comum europeu, hoje em crise, em recuo.

“E[ste desafio] sugere que querem recuperar um estatuto histórico, mesmo recuperar todo o espaço que foi o das primeiras conquistas do mundo islâmico na Europa, quando nasceu”, afirmou, numa referência ao mundo islâmico.

“Para eles somos os cruzados, mas vendo bem e de uma maneira objetiva, como diz o outro ‘quem começou primeiro foram eles'”, afirmou.

Perante estes novos fenómenos, o ensaísta não deixou de definir como “extraordinário um certo fascínio que uma parte da juventude da Europa manifesta em relação a essa reivindicação violenta, que seja justa ou injusta não importa”.

Um fenómeno em que “gente portuguesa, espanhola, francesa vai participar nesse combate, algo de estranho para a nossa mitologia própria de europeus”, arriscando uma comparação com 80 anos e que decorreu em solo europeu: “Como se nos anos (19)30, quando uma parte dos intelectuais se mobilizaram para a guerra [civil] de Espanha”.

Perante este novo mundo, “algo de estranho para nós” e cujo desfecho está reservado para o futuro, Eduardo Lourenço mantém a esperança “que se encontre uma solução o mais pacífica possível, mas para isso temos de fazer uma dupla conversão, tornarmo-nos mais europeus, particularmente os franceses”.

E é em França que o pensador centra o atual embate, decerto recuperando as consequências dos atentados que abalaram Paris em janeiro e novembro de 2015.

“Em França, em ensaios, artigos, etc., já não há assunto nenhum que não passe pelo Islão… A minha cara França é hoje provavelmente a nação mais problemática da Europa”, considerou.

No seu improviso, entendeu no entanto alterar para um “género de juízos jornalísticos, mediáticos, em relação a uma parte da humanidade que é extremamente forte, aguerrida, numerosa, que se estende praticamente aqui desde Marrocos até à Indonésia”.

Numa referência específica a Portugal, definiu a comunidade islâmica, proveniente de Goa, de Moçambique, de outras ex-colónias, como “muito portuguesa, muito nossa, até hoje pelo menos”, numa clara distinção face aos dilemas que se colocam, de imediato, para além das fronteiras do país.

“Necessitamos da consciência de que estamos todos no mesmo barco, na nau Europa, que continue a navegar, como na pátria de Ulisses que é a nossa pátria de europeus”, pugnou na conclusão da sua intervenção.

PCR // EL

21 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

O estertor de um presidente pio

Na última quinta-feira, dia 18 de fevereiro do Ano da Graça de 2016, estava o pio Aníbal Cavaco Silva, bem confessado, comungado e penitenciado dos seus pecados quando lhe surgiu o mimoso cachaço de Sousa Lara, convocado para a venera que purgava as mãos de quem a concedia e o passado de quem a recebeu.

O Infante D. Henrique só deu o nome à medalha para cuja imposição o homenageante tinha o alvará a 19 dias do trespasse. Foi assim que do professor catedrático António Costa de Albuquerque de Sousa Lara, um sólido pilar da civilização cristã e ocidental e especialista em árvores genealógicas, que os menos eruditos hão de julgar um ramo da Botânica, fez Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Decerto, amigos do peito e da hóstia, Cavaco Silva e Sousa Lara, têm em comum o ódio de estimação por José Saramago, o Nobel do nosso contentamento, que os precedeu na defunção. O primeiro não tinha ainda, publicamente, agradecido ao segundo o pio ato de censura a “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, e minguava-lhe o tempo para o fazer.

Estando praticamente todos os agentes da Pide em adiantado estado de defunção, para poder ainda distinguir mais alguns “por serviços excecionais e relevantes”, restava-lhe o bem-aventurado ex-docente da extinta Universidade Moderna, para a honraria que o ex-presidente da Comissão de Honra para a Canonização de Nun´Álvares Pereira devia ao beato censor de Saramago.

No dia seguinte, cabia ao devoto Aníbal, maldita seja a Constituição, que foi obrigado a jurar para ter direito ao alvará das condecorações, a promulgação das leis da adoção gay e do aborto, no último dia do prazo constitucional.
O Deus do Professor Aníbal, na sua infinita misericórdia, há de absolvê-lo do pecado da promulgação de tão desvairadas leis e premiá-lo com a bem-aventurança eterna. Há de ter em conta o martírio do devoto até ao próximo dia 9 de março, a partir do qual poderá entrar em perpétuo retiro espiritual antes de o chamar à sua divina presença.

Como foi breve o Carnaval e é tão longa a Quaresma! Não merecia tão rude provação o temente a Deus.