Loading

Categoria: Política

3 de Fevereiro, 2008 Ricardo Alves

Liberdade para todos

O Tempo das Cerejas, Vítor Dias escandaliza-se com o reconhecimento estatal da Igreja da Cientologia.
Não percebo porquê. Tudo aquilo que descreve (aliciamento insistente, corte com os laços familiares, controlo da correspondência privada, redes de influência mundial, crenças extravagantes) é comum a outras organizações religiosas mais respeitadas, como o Islão, os mórmones ou a ICAR. É evidente que haverá diferenças de grau, entre todas estas seitas, quanto aos aspectos referidos, mas não há diferença de natureza. Os numerários do Opus Dei também têm a sua correspondência controlada. Jesus Cristo defendeu a ruptura dos laços familiares. E a crença de que Maomé falou com um «anjo» não é melhor do que a de que a ideia cientologista de que houve uma guerra galáctica há milhões de anos.
Ao contrário de Vítor Dias, não me preocupa particularmente que a Comissão de Liberdade Religiosa tenha dado parecer positivo ao reconhecimento da Igreja da Cientologia (se o deu). O problema é o Estado poder conferir esse reconhecimento, distinguindo as comunidades religiosas umas das outras, hierarquizando-as, e que o faça através de uma Comissão onde se sentam representantes de outras comunidades religiosas.
No meu entender, o melhor seria que o Estado não reconhecesse comunidade religiosa alguma. Existe o direito de associação e o direito de manifestação. Quem quer partilhar a sua «vida espiritual» com outros, pode portanto fazê-lo, dentro do quadro legal, sem necessidade de «reconhecimento» estatal da «especificidade» religiosa. E o Estado não pode negar aos cidadãos a liberdade de seguirem uma dada religião, nem pronunciar-se sobre a validade das crenças religiosas.
Ou será que a liberdade é só para os católicos e islâmicos, mas não para os cientologistas?

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

2 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

Espanha – Bispos vão a votos

 Espanha: Documento pede vitória do PP

+

Igreja apela a voto contra Zapatero

Os bispos espanhóis estão em guerra aberta com o governo de José Rodríguez Zapatero e começaram a fazer campanha declarada pela derrota dos socialistas nas eleições de 9 Março. Há muito que a Conferência Episcopal Espanhola critica as políticas implementas pelo executivo, mas até agora nunca tinha feito um claro apelo ao voto no Partido Popular.

Comentário: Igreja arrisca o futuro nas próximas eleições.

1 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

Manuel Buíça e Alfredo Costa – Mártires da liberdade

A Guerra dos Trinta Anos, uma das guerras religiosas mais prolongadas e devastadoras da Europa (1618/1648), quando os príncipes tinham o direito de impor as suas crenças aos habitantes dos seus domínios, custou milhões de mortos. Só a Alemanha perdeu metade da população, reduzida de 16 para 8 milhões de habitantes.

Foi longo o sofrimento que conduziu à Paz da Vestfália, em 24 de Outubro de 1648, em que pela primeira vez é reconhecida a liberdade religiosa a protestantes e católicos sem que a conversão dos príncipes obrigasse à dos súbditos. Foi sangrenta a conquista da liberdade religiosa pelos luteranos e calvinistas mas o totalitarismo católico foi vencido, as fronteiras foram redefinidas e a secularização avançou. Ninguém se alegra hoje com a carnificina mas todos beneficiamos da liberdade então dolorosamente alcançada.

A Revolução Francesa pôs termo a um regime de mais de quinhentos anos e extirpou as raízes que eram obra da Igreja católica com mais de mil e duzentos anos. Em 1789 começou uma década em que o Iluminismo destruiu a autoridade do clero e da nobreza, aboliu o absolutismo monárquico e abriu as portas aos modernos Estados democráticos.

Ninguém exulta com o terror então vivido, com o sangue, a violência, as retaliações e, muito menos, com a decapitação de Luís XVI e de Maria Antonieta, mas aboliram-se o feudalismo, a monarquia, o absolutismo, o poder do clero e da nobreza e começou a Idade Contemporânea que os historiadores datam em 1789. A Revolução produziu as mais profundas transformações políticas, económicas e sociais de sempre, além de ter estado na génese da independência dos países da América Latina.

O dia 14 de Julho – tomada da Bastilha –, é justamente o dia nacional da França.

Em 1 de Fevereiro de 1908, a degradação ética, o caos económico e a bancarrota, eram em Portugal o saldo da ditadura de João Franco, em clima de vindicta política – prisões arbitrárias, fecho do Parlamento, encerramento de jornais, julgamentos sumários e anunciadas deportações em massa de adversários políticos, monárquicos e republicanos.

Instalou-se o terror após a suspensão da Carta Constitucional que o rei assinou com a frieza com que premia o gatilho na caça às perdizes e o entusiasmo com que apoiava a ditadura de João Franco desde 1906.

Manuel Buíça e Alfredo Costa evitaram o desterro e a morte de numerosos portugueses, pondo fim à ditadura opressora, e abriram o caminho para a implantação da República, desgraçadamente à custa das vidas de D. Carlos, do príncipe herdeiro e deles próprios, sonhando com a República sob os escombros da monarquia que agonizava e a que vibraram um golpe fatal.

O assassínio é inaceitável, como insuportável era a repressão do ditador João Franco e a cumplicidade real. Por isso se lamentam as trágica mortes reais e a brutalidade exercida contra os regicidas mas, tal como o Mestre de Avis, os conjurados de 1640 e Machado Santos, Manuel Buíça e Alfredo Costa merecem um lugar no altar da Pátria que amaram e no coração da República por cujos ideais se imolaram. 

31 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

O 31 de Janeiro de 1891

Em Portugal, nos finais do século XIX, na ausência de qualquer solução para a crise económica, social e política, a monarquia agonizava. Depois da conferência de Berlim, em 1885, o projecto português de ligar Angola a Moçambique colidiu com o plano inglês de ligar o Cairo ao Cabo (África do Sul).

A disputa do território africano que ficaria conhecido por mapa cor-de-rosa culminou com o Ultimatum, imposição do império inglês a Portugal, tão humilhante que inflamou o fervor republicano e o ódio ao trono e à Inglaterra.

Os ideais republicanos continuaram a seduzir os portugueses e a ganhar força à medida que a monarquia se esgotava, a pobreza aumentava e o sentimento colectivo, de vergonha e ressentimento, se acentuava.

«A Portuguesa» foi o hino que surgiu do ódio generalizado que cada vez mais se identificou com as aspirações republicanas que germinam nos quartéis, na maçonaria e nos meios académicos. O Partido Republicano, até aí pouco expressivo, ganhou adesões e consistência.

Entre os militares destacavam-se os sargentos no fervor republicano donde viria a surgir a primeira tentativa para implantar a República. Coube ao Porto a honra dessa tentativa falhada que contou com alguns oficiais em que se distinguiu o alferes Malheiro e, ainda, o capitão Leitão e o tenente Coelho.

Com a banda da Guarda-Fiscal à frente, os militares republicanos avançaram ao som de «A Portuguesa» e assaltaram o antigo edifício da Câmara do Porto de cuja varanda, perante o entusiasmo da população que se juntou ao movimento, se ouviu o discurso de um dos lideres civis da revolta, Alves da Veiga, que proclamou a República.

Falhado o objectivo de ocupar o Quartel-General e o edifício do telégrafo, donde se anunciaria a todo o País a proclamação da República e a deposição da Monarquia, o movimento soçobrou perante a Guarda Municipal.

O exemplo dos revoltosos de 31 de Janeiro de 1891 frutificaria, menos de duas décadas depois, em 5 de Outubro de 1910. Eles foram os protagonistas de uma derrota que foi a semente da vitória que tardaria quase duas décadas.

Foi há 117 anos mas a memória histórica dos protagonistas do 31 de Janeiro está viva e é dever honrá-la.

 O trono e o altar iriam cair abraçados.

31 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

A Turquia e o véu islâmico

Todos conhecemos a obsessão divina pela roupa feminina e a preferência pelo homem, a ponto de ter feito este, primeiro, e dele, depois, uma espécie de subproduto, a mulher.

Claro que um santo doutor, Paulo de Tarso, certamente pela convivência com o criador, pôde desenvolver um fanatismo misógino que agradava a Deus e fazia as delícias dos homens a quem sempre o poder agradou. Não se pense que a mulher, cuja igualdade foi reclamada por homens corrompidos pelo Iluminismo e pela Revolução francesa e por mulheres que renegam os bíblicos ensinamentos da criação, não é também ambiciosa. Mas o que está em causa é o respeito pela vontade divina interpretada pela legião de profissionais que a estudam e promovem.

Foi a cópia grosseira e ampliada da misoginia judaico-cristã que levou os estudantes de teologia do Afeganistão à criação do ministério da Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício.

À semelhança do que já se passa em terras cristãs, na Europa que julgávamos imune à tentação da convivência promíscua entre o Estado e as Religiões, na própria França onde Sarkozi pretende abolir a centenária lei da Separação, a Turquia ataca o laicismo.

O uso do véu não é apenas um desejo que as mulheres querem ver satisfeito quando os espíritos laicos não vêem que é a liberdade individual que está em causa, liberdade que qualquer bom muçulmano quer obrigatória.

Paulo de Tarso considerava o cabelo e a voz das mulheres coisas obscenas. Maomé, mais ousado, considera o corpo todo. É por isso que, num país que impôs o laicismo à força, se exige agora, para começar, a autorização do véu e, depois, a imposição da burka.

O véu islâmico não é um mero símbolo religioso, uma tradição que possa ser subvertida por um estilista, é o símbolo da humilhação da mulher, a condição imposta pelo Corão. A mulher é, como se sabe, propriedade do homem e um direito irrenunciável que agrada ao Profeta e dá imenso jeito aos homens que dele não abdicam.

Surpreende a cumplicidade dos países democráticos no regresso ao obscurantismo.

30 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

Reflexões sobre a fé

«É conhecido o ódio implacável que todos os sectários têm por todos aqueles que abandonam a sua seita». – Voltaire, in Tratado sobre a tolerância – pg. 60.

À semelhança das fadas e duendes deus podia ter sido uma ideia interessante mas tornou-se um pesadelo insuportável. As religiões encarregaram-se de tornar deus cada vez mais intolerante, cruel, vingativo e totalitário, um demente com horror ao sexo e obcecado por roupa feminina.

A fé seria suportável se as pessoas infectadas se limitassem a vivê-la sem tentarem contaminar os outros e deixassem de perseguir os que se curam ou trocam de enfermidade. É verdade que muitas religiões abandonaram os métodos expeditos de evangelização e os castigos que infligiam aos apóstatas mas não foi por benevolência da religião ou dos seus padres, foi porque o poder secular lhes pôr um freio.

A globalização em curso foi a campainha de alarme para o negócio da fé. Os mais devotos lançaram-se numa campanha de proselitismo onde todos os meios são válidos para manterem os feudos tradicionais e tentarem conquistar novas fatias no difícil mercado das almas. A ameaçadora inércia da tradição paira sobre as conquistas civilizacionais com a raiva beata em busca do retrocesso.

As perseguições religiosas e as guerras da fé, esquecida a crueldade de séculos de devoção e massacres, voltaram em força com legiões de fanáticos embrutecidos nos antros das confissões religiosas e, quanto maiores forem a violência e o medo, maiores se tornam a devoção e a raiva.

Em todos os tempos houve pessoas que fizeram o bem, não por serem crentes mas por serem boas; e muitas outras que fizeram o mal, não por serem más mas por serem crentes.

A luta entre a fé e a liberdade está aí, com boçais capazes de matarem e morrerem por um mito perigoso, com as religiões a semearem o medo e a guerra. Quanto mais santa for a guerra mais cruel será nos métodos e feroz na punição dos vencidos.

30 de Janeiro, 2008 Ricardo Alves

Horrorosa perseguição laicista à ICAR

«No passado dia 18 de Dezembro teve lugar a assinatura da Escritura de Doação de terreno urbano para construção de uma Capela e Centro Comunitário na Rua Palmira Sales, no Cintrão. (…) O Município doou o terreno, avaliado em €26.000, conforme tinha sido deliberado em reunião do Executivo Camarário, com a finalidade de ali ser construída uma Capela e um Centro Comunitário.» (Município do Bombarral)

26 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

Paulo Teixeira Pinto, Opus Dei e Causa Monárquica

Paulo Teixeira Pinto, atormentado com o peso de dez milhões de euros de indemnização pela saída do BCP e com a vergonha de, aos 47 anos, ficar obrigado a receber até ao fim da vida 500 mil euros anuais, enquanto o Banco a que presidia ficou sob investigação policial, vai dirigir a Causa Real.

As dores do cilício com que se mortifica e os actos pios com que pretende contornar as dificuldades bíblicas de «um rico entrar no reino do Céu», não o impedem de presidir à Causa Monárquica, uma instituição que em tempos era simpática por contrariar as leis da física – a única causa que não produzia efeitos.

O pio presidente, além das missas que vai dinamizar pela família de Bragança, que bem precisa, para sufragar as almas de quem tanto pecou e tão mal fez ao País, vai iniciar as funções de presidente da Causa Real… encontrando-se com o presidente da Assembleia da República, para lhe entregar uma petição com quatro mil assinaturas (certamente em número superior ao dos monárquicos) para que o centenário do regicídio seja declarado luto nacional.

O país já esqueceu que, na sequência da tentativa revolucionária de 28-01-1908, o rei D. Carlos assinou em 31-01-1908, em Vila Viçosa, o decreto que legitimava a ditadura de João Franco, o encerramento dos jornais, o fecho do Parlamento, permitindo o desterro para Timor de grande parte da oposição republicana e até monárquica, mas a História é impiedosa a recordar o que deu origem ao regicídio e não esquece que os vilipendiados Manuel Buíça e Alfredo Costa foram os mártires que deram a vida para vingar a afronta desse decreto, por mais que se lastime – e eu lastimo – a morte do rei e a do príncipe herdeiro.

A haver um dia de luto nacional era na véspera, pela suspensão das liberdades e pela afronta criminosa do degredo a que foram condenados os adversários políticos.

Mas a liberdade é um mero detalhe para o Opus Dei, uma instituição que apoiou a mais cruel ditadura do século passado na península Ibérica, a de Francisco Franco, e muitas outras na América do Sul, enquanto o mentor, monsenhor Escrivá, fazia uma carreira de tanta santidade que lhe bastou morrer para ser elevado aos altares. 

26 de Janeiro, 2008 Ricardo Alves

«Do 28 de Janeiro ao 5 de Outubro»

Terça-feira 29 de Janeiro, às 18h30m na Biblioteca Museu República e Resistência, terá lugar a conferência «Do 28 de Janeiro ao 5 de Outubro», por Francisco Carromeu (organização da Associação República e Laicidade).

Refira-se que, há apenas 100 anos, existiam em Portugal organizações como a Associação do Registo Civil (mais tarde, Associação do Livre Pensamento), capazes de reunir 20 000 pessoas em manifestações anticlericais. É uma época difícil de imaginar hoje, e na qual se registaram enormes avanços para a causa da laicidade. A conferência ajudará certamente a desfazer alguns mitos que a propaganda monárquica e católica tem propagado.