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Categoria: Política

23 de Novembro, 2008 Carlos Esperança

Papa enrola crentes na crise financeira mundial

Por

Kavkaz

O Ministro italiano das Finanças, Giuli Tremonti, fez um serviço ao Papa ao elogiar-lhe uma suposta previsão “correcta” de 1985 sobre o “colapso” da economia “devido às suas próprias regras” e que “o declínio observado ao nível da ética poderia “levar a um colapso das leis do mercado”. Será que o Papa acertou? A minha resposta é NÃO!

A actual “crise financeira mundial” tem o seu ponto de partida nos EUA. Entendo haver dois nomes claramente responsáveis pela “crise”: George W. Bush e Alain Greespan.

O primeiro, mais conhecido de todos, ainda Presidente dos EUA, é o responsável político pelo envolvimento dos EUA em duas guerras internacionais, a do Afeganistão (iniciada a seguir aos ataques ao WTC de 11/09/2001) e a do Iraque (iniciada em Abril de 2003). Estas duas guerras consumiram muitas centenas de milhões de USD e fizeram disparar as dívidas do Estado americano.

Alain Greespan, foi Presidente da Reserva Federal dos EUA, de Agosto de 1987 a Janeiro de 2006. Foi durante o seu mandato que as taxas de juro subiram e desceram de forma acentuada. Em Dez./2000 Greenspan estabelecia a taxa de juro de referência em 6,5%, mas em Dez./2007 era de 1,5% (desceu mais de 4 vezes). E continuou a descer até Maio de 2004 atingindo 1% (6,5 vezes menos 4 anos depois). Isto deu uma confiança extraordinária aos americanos que pensaram que o dinheiro seria sempre barato e poderiam comprar vivendas, automóveis, tudo, a crédito com baixo custo de juros. Os bancos locais convenciam os clientes a comprarem imobiliário sem entrada. E vendiam as dívidas destes clientes, em pacotes de investimento imobiliário, aos grandes bancos de investimento de Nova Iorque.

Com o esforço da condução das duas guerras pelos EUA e as dívidas enormes do Orçamento estatal a taxa de juro americana começou a subir. Atingiu os 5,25% em Junho de 2006. Subiu 5,25 vezes em 13 meses. Milhares de pessoas que tinham dívidas aos bancos, por terem comprado recentemente a sua vivenda ou carro (o preço da gasolina em USD também subia), deixaram de cumprir o pagamento das suas prestações por estas se terem tornado incomportáveis com a multiplicação do nível dos juros a pagar. Os grandes bancos de investimento entraram em crise por não receberem os pagamentos dos endividados. Alguns faliram, outros foram vendidos. A taxa de juro só começou a descer em Set./2007 e está agora em 1% de novo, desde Out./2008.

São os erros fundamentais destes dois homens, um pelas guerras lançadas e o outro pela loucura das disparidades impostas na taxa de juro americana que provocaram consequências e levaram à actual crise económica nos EUA, que se estendeu a outras regiões do globo, com a perda de confiança dos investidores e a retirada dos capitais das bolsas mundiais.

O Papa não entra em pormenores, como sempre, e fala de “colapso das leis de mercado”. A oferta e a procura existiram e vão continuar a existir. O mercado não termina porque alguém o decide. Os preços sobem e descem pela oferta e procura. O Papa está errado na previsão de 1985 do “colapso das leis do mercado”. Estas continuarão a actuar como dantes.

A crise actual tem dois nomes concretos como principais responsáveis, mas o Papa não soube ou não lhe convém dizê-lo!

17 de Novembro, 2008 Carlos Esperança

Diário Ateísta

À espera dos colaboradores regulares que já manifestaram a sua disponibilidade para a reactivação do blogue, que já foi dos mais lidos e comentados da blogosfera, o DA vai manter-se vigilante contra os piratas informáticos que o desactivaram durante quase três meses e contra o clericalismo que corrói o Estado laico que a democracia criou.

Como repetidas vezes se tem afirmado, o DA não é um órgão da Associação Ateísta Portuguesa (AAP) e os artigos apenas comprometem quem os subscreve ou publica, mas será sempre um veículo do ateísmo, na diversidade e, até, nas divergências dos seus colaboradores.

Os ateus são livres-pensadores a quem a dúvida estimula e não os detentores de certezas com que os crentes se anestesiam. Por isso são um estorvo às crenças e à superstição.

Perante o proselitismo clerical e agressividade da Conferência Episcopal Portuguesa, que procura manter os privilégios herdados da ditadura de que foi cúmplice, é preciso defender a laicidade do Estado e o direito das famílias a que não lhes fanatizem os filhos.

O DA é um lugar de encontro dos que não precisam de deus para serem felizes, dos que recusam um ente cruel, misógino, homofóbico, vingativo e violento que os homens da Idade do Bronze criaram à sua imagem e semelhança.

Sem deuses nem diabos, sem anjos nem milagres, sem livros sacros nem excomunhões, o Diário Ateísta continuará a defender a liberdade, a paz e o livre-pensamento.

Perante os que matam em nome de deus, o Diário Ateísta exaltará a vida, única e irrepetível, e uma ética descomprometida com as fantasias do sobrenatural.

13 de Novembro, 2008 Carlos Esperança

Eleições municipais em Jerusalém

Por

Kavkaz

Em Israel realizaram-se as eleições municipais. O principal tema dos órgãos de informação de ontem, em Israel, era a vitória do candidato secular Nir Barkat na cidade de Jerusalém. Barkat obteve 52 % dos votos contra os 43% do candidato dos partidos religiosos, Meir Porush, rabino ultra-ortodoxo e parlamentar. Barkat apresentou-se como candidato independente.

O novo Presidente da Câmara de Jerusalém, com cerca de 700 mil pessoas, no seu discurso de vitória prometeu ser o “Presidente de todos os habitantes de Jerusalém”, trabalhar para o bem de todas as organizações laicas e religiosas, de todos os habitantes judeus e árabes.

 Ele é contra a divisão de Jerusalém com os palestinianos, pretendentes aos bairros da parte ocidental da cidade, ocupados por Israel durante a guerra de 1967 e pretende transformar Jerusalém na capital cultural de Israel e em centro de turismo internacional.

5 de Novembro, 2008 Carlos Esperança

Barack Obama – 44.º Presidente dos EUA

Há oito anos, após a vitória eleitoral de Al Gore, a decisão judicial da Florida declarou o republicano George W. Bush, presidente dos EUA. A direita religiosa anteviu na dupla Bush/Cheney a oportunidade de realizar o sonho do protestantismo evangélico – proselitismo religioso, puritanismo, domínio político e económico e reforma moral do mundo.

Bush chegou a falar com Deus e a anunciar as insólitas audiências ao povo americano que rejubilou com a inspiração divina da invasão do Iraque, a proibição da investigação com células estaminais, a luta contra o aborto legal e a divulgação do criacionismo nas escolas. Foi o triunfo apoteótico da América rústica, inculta e beata.

Herdeiro do presidente que humilhou a América e envergonhou a Europa, McCain não pôde competir com o académico sofisticado, culto e genuinamente civilizado. Num gesto insensato ainda convidou para sua vice uma intragável Sarah Palin que reúne os maiores defeitos americanos sem qualquer das virtudes que fizeram grande o País.

Barack Obama não vai trazer rios de mel ao mundo que vive um caos financeiro de que são responsáveis os ultraliberais e cuja crise económica precede a política e social, com a miséria a aumentar no planeta e as desigualdades a acentuarem-se.

Bush fez demasiado mal para ser esquecido mas, pelo menos, sabemos que não volta a rezar com a senhora Condoleezza Rice na Sala Oval. Quando muito podem embebedar-se juntos no Texas onde serão inofensivos.

Barack Obama representa o melhor que a América tem para dar ao mundo: a tolerância, o espírito de diálogo, a generosidade e o respeito pela diferença. A Europa sente que pode – e deve – ser aliada dos EUA, sem a vassalagem que figuras menores e cobardes lhe prestaram durante a administração Bush e que não têm condições para continuarem a exercer cargos relevantes.

Obama não vai abolir ainda a vergonhosa pena de morte mas, pelo menos, vai proibir a tortura; não acaba com a poluição, mas dará um contributo para o avanço de soluções para a sustentabilidade do Planeta; não inventa a felicidade, mas fará avançar o respeito pelos direitos humanos.

Com a eleição de Obama a América não mudou muito, mas mudou imenso o mundo, na forma de olhar a América. Isso é um valor precioso para a civilização que partilhamos, a democracia em que nos revemos e os desafios comuns que nos esperam.

Obrigado, Barack Obama.

26 de Outubro, 2008 Carlos Esperança

Inaceitável (2)

Por

E – Pá*

NOVAS TENÇAS?

Essa história das peregrinações oficiais de militares a Lourdes em representação de um Estado laico (que contra-senso!) terem começado em 1977, não serve nem como justificação, nem como desculpa ou remissão da grave violação dos deveres de Estado.

O PS governa com maioria absoluta, há pelo menos 3 anos.

O PS, segundo me parece continua a reger-se pela ética republicana. Teve tempo de sobra de acabar com estas excrescências, cuja origem e motivação seria interessante averiguar.

As tenças acabaram há séculos…O Estado – não pode fazer-se representar em qualquer cerimónia religiosa – seja em Lourdes, em Fátima, Jerusalém, Istambul, Lhassa, Medina ou Meca…É representado pelo português, maior de 35 anos, eleito por votação directa e com residência oficial em Belém ( não na Palestina, mas junto ao Tejo e ao Centro Cultural), nas cerimónias previstas pela Lei e pelo protocolo de Estado.Esse português pode delegar a representação de acordo com a Constituição.Mais nada.

O Prof. Nuno Severiano Teixeira tem a soberana oportunidade e o estrito DEVER de acabar com estas derivas religiosas, ofensivas à laicidade do Estado. Tanto mais fácil é a tarefa quanto parece ser verdade que a ideia original não lhe pertence, a Lei serve-lhe de suporte e a Ética republicana de escudo (já que estamos a falar de questões militares).

Surpreendeu-me a arrogância e tom assertivo do gabinete do ministro ao afirmar que a peregrinação é legal, sem direito a qualquer outra explicação. É legal e ponto final.

Saiba V. Senhoria – chefe de gabinete, consultor, assessor, ou o que seja – que para os cidadãos que vivem neste Estado laico é procedimento indecente, indecoroso, obsceno, inoportuno e de uma total irreverência em relação aos ateus, aos agnósticos e aos praticantes de outras religiões que não a católica. E mais não digo por me parecer redundante.

Já acabamos com tradições mais antigas e a honra não nos caiu na lama.