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Categoria: Laicidade

22 de Janeiro, 2010 Ricardo Alves

«As Tardes da Júlia», 10/11/2009

Eis aqui, a pedido de vários comentadores e de várias famílias (umas muito católicas, outras nem tanto), a minha prestação no programa da TVI «As Tardes da Júlia», no dia 10/11/2009, em debate sobre laicidade e crucifixos com o sacerdote católico Jacinto Farias e com Hermínio Corrêa, representante da CONFAP (Confederação Nacional das Associações de Pais). Em representação da Associação República e Laicidade.

Crucifixos nas escolas – Tardes da Júlia from Republica Laicidade on Vimeo.

11 de Janeiro, 2010 Carlos Esperança

A vinda do Papa a Fátima

É grande o alvoroço da Pátria pela visita ,em Maio, de Bento XVI, autocrata que dirige um bairro de Roma, com 44 hectares, a que os acordos de Latrão deram autonomia.

Admira que Benito Mussolini não tenha sido canonizado, depois de ter tornado o ensino da religião católica obrigatório nas escolas italianas, subscrito uma Concordata e sido considerado pela hierarquia religiosa como enviado da Providência.

É um dos casos em que a opinião pública condiciona os milagres que não deixariam de lhe ser adjudicados e que o impede de frequentar as peanhas das igrejas romanas. Mas deixemos a história do fascismo para nos debruçarmos sobre a vinda do Papa Ratzinger a Fátima e sobre o desassossego em que entraram os devotos.

O Papa, que tem a santidade por profissão e estado civil, vem promover a fé, como é seu direito, e apelar à divulgação das suas crenças, como é legítimo em países democráticos, e em que a Igreja está, ou devia estar, separada do Estado.

Que os hotéis se encham de devotos, ansioso por ver o papa, convencidos de que ficam com o Paraíso mais próximo, é óptimo para o País e excelente para a fé romana.

O pior é se os mais altos dignitários do País se genuflectem, se lhe prestam vassalagem e envergonham o País com manifestações pias que não respeitem o carácter laico do Estado que representam.

Uma coisa é a urbanidade com que deve ser recebido, outra é a forma como se devem comportar as autoridades de um país que há muito deixou de ser um protectorado do Vaticano. Veremos se as primeiras figuras do Estado se comportam de acordo com a ética republicana.

9 de Janeiro, 2010 Carlos Esperança

Casamento gay

Um espinho na garganta da ICAR

Um espinho na garganta da ICAR

A aprovação da proposta de lei do Governo que torna legal o casamento entre homossexuais não teve destaque apenas em Portugal, fez manchetes em jornais de vários países e foi notícia em todo o mundo.

O respeito pela orientação sexual das minorias e o fim da discriminação de uma minoria tradicionalmente perseguida e humilhada é um salto civilizacional que honra Portugal e dignifica a Assembleia da República.

O que não tem sido referido é a humilhação da ICAR. Esta empenhou o seu clero e os crentes numa cruzada homofóbica que começou nas homilias durante a campanha das legislativas, aconselhando a que não votassem nos partidos que eram contra a família – eufemismo com que designam as concepções diferentes – e que acabou num irritado abaixo-assinado a pedir um referendo.

O Antigo Testamento e os três monoteísmos, que dele se reclamam, consideram a homossexualidade uma abominação punível com a morte. Vários estados criminalizam  ainda a sodomia praticada entre adultos e não podemos esquecer o que sofreram gerações de homossexuais com a homofobia pia e com a repressão social dominada pelos valores da Igreja.

Os tempos mudam e os que se julgam intérpretes da vontade de um deus que os homens criaram para seu benefício, mantêm-se inflexíveis na luta contra os direitos individuais, no horror ao prazer e no desprezo pela liberdade.

Por isso, para além da vitória histórica pelos direitos individuais, é consolador verificar a humilhante derrota da Igreja e da legião de beatos que não poupou ave-marias e salve-rainhas com a utilidade que se viu.

7 de Janeiro, 2010 Carlos Esperança

Câmara de Coimbra de joelhos

O Diário de Coimbra informou os seus leitores de que a edição “fac-similada” da bula “Manifestis Probatum” será entregue ao Papa, no próximo mês de Maio, quando Sua Santidade visitar Portugal.

Os munícipes acreditam que o pio presidente da Câmara e os vereadores em exercício estejam carregados de pecados, sobretudo Carlos Encarnação que já vai no terceiro mandato, mas percebem mal que os queiram redimir à custa de indulgências pagas com as verbas municipais.

O Papa dará o anelão a beijar quando lhes notar a fragilidade da coluna e a destreza com que se ajoelham, mas a tesouraria não recomenda tais desperdícios com a bula e a ética republicana reprova semelhantes actos de subserviência.

Admito que Bento XVI, ex-prefeito da Sagrada Congregação da Fé (ex-santo Ofício), traga santinhos com a efígie do antecessor e dele próprio para compensar os membros do executivo camarário e para que o possam oscular quando virar costas.

Ainda vem longe o 13 de Maio e o impulso que Bento 16 vem dar à promoção da fé e à campanha presidencial, mas já se perfilam os beatos em doses maciças de genuflexões pias, virados para Roma. Acabam de rastos, cobertos de ridículo e de dívidas, ansiosos por darem a bula “fac-similada” a quem tem um alvará para produzir originais, aflitos pelo beija-mão, alvoroçados com a foto que aguardam para o álbum das figuras tristes e para emoldurarem o jazigo.

A vereadora da Cultura, em tempo parcial, que a cultura em Coimbra não merece mais dedicação, já se predispôs a pedir esmola, a fim de «angariar um bom patrocínio para a edição da bula». A paróquia entrou em desassossego e já se vêem os vereadores aos saltinhos para lamberem os dedos ao papa Ratzinger.

Se pudessem, à semelhança de D. João V, ofereceriam um  elefante a Roma mas, como não têm um proboscídeo, talvez se arrisquem a prescindir de um solípede para que o papa possa, na Praça de S. Pedro, dar a bênção na garupa de um asno de Coimbra.

21 de Dezembro, 2009 Carlos Esperança

Ameaças da ICAR contra o “democratismo”

Por

A H P

Na sua habitual homilia dominical no Diário de Coimbra, hoje Sua Excelência Reverendíssima o Senhor Bispo Emérito de Coimbra Dom João Alves publicou um texto com o título aparentemente inócuo “Natal sem Cristo não é Natal”.

1.Começa por lamentar, entre outros males, “a falta de emprego, sempre a crescer,[que]amargura a vida de tantos sem esperança de melhores dias no futuro e quantos outros problemas a entristecer o Natal Festa da alegria e da paz.”. No entanto Deus, embora omnipotente e infinitamente misericordioso, nada pode fazer para resolver estes males.

Para o Senhor Bispo Emérito, “Deus, no respeito da liberdade de cada ser humano e no respeito das leis que regem a realidade que Ele criou, tem maneiras de inspirar os seres humanos para que se vão abrindo à sabedoria e corrigindo o que se degradou e sigam o caminho da justiça e da solidariedade.”

Isto é, se bem consigo compreender: Deus “criou a realidade” mas dotou-a de “leis que a regem” e que nem ele, embora omnipotente, pode alterar. Os homens é que têm a culpa de todos os males do mundo; Deus apenas pode “inspirá-los” a corrigir-se. No entanto essa divina “inspiração” poucos resultados tem dado…

2. Descendo depois a realidades menos metafísicas, Sua Eminência insurge-se contra uma “minoria, pequeníssima minoria, [que] tem tido, entre nós, atitudes agressivas como o banir do crucifixo”, que “são agressões à quase universal atitude cristã do povo português”, pois Portugal é “um pais com maioria esmagadora de cristãos católicos”.

Ora acontece que as estatísticas, feitas cientificamente e não inspiradas pelo Espírito Santo, demonstram o contrário. Admito que a maior parte dos portugueses sejam baptizados, mas são-no numa idade em que não têm capacidade de escolher. Quando já têm essa capacidade, por exemplo quando se casam, sabe-se por exemplo que, no ano passado, de todos os casamentos celebrados apenas 44% foram católicos, sendo que os restantes 56% foram civis.

Se àqueles já de si minoritários 44% descontarmos aqueles que se casam pela Igreja apenas porque a cerimónia é “mais bonita” ou por não quererem desagradar à parentela, e as estes 56% acrescentarmos os que vivem maritalmente sem sequer se casarem,facilmente concluiremos que a grande maioria dos portugueses não é católica.

Falece poi razão a Sua Eminência quando pergunta: “Não haverá aqui um democratismo ofensivo da fé do povo português? Não estaremos perante um democratismo ideológico e pouco esclarecido?”, e quando afirma que “é uma minoria de activistas que toma essa atitude ‘estranha'”. Mas o pior é quando o Senhor Bispo Emérito passa à ameaça, dizendo: “A paciência tem limites. Convém não brincar com o fogo”. Esta ameaça, sobretudo vinda de um prelado português, é de muito mau gosto. A que “fogo” se refere? Às fogueiras da Inquisição ou aos mais recentes casos em que uns energúmenos, açulados pela padralhada reaccionária, incendiaram sedes de partidos políticos?

Convém por isso lembrar-lhe que aqueles a que chama “minoria de activistas” já conseguiram, há mais de dois séculos, acabar com as fogueiras do Santo Ofício, e, há mais de três décadas, acabar com esses actos criminosos. E mais recentemente o povo português aprovou em referendo uma regulamentação da interrupção voluntária da gravidez apesar de a Igreja ter assestado contra ela todas as suas baterias.

Não, Senhor Bispo Emérito, não se trata de uma “minoria de activistas”; trata-se de uma clara maioria de democratas defensores da laicidade, que já não têm medo do fogo do inferno nem do fogo da Inqisição!

10 de Dezembro, 2009 Carlos Esperança

A Suíça e os minaretes

minaretes

O resultado do referendo suíço, proibindo minaretes nas mesquitas, constitui uma tripla decepção. Em primeiro lugar, não se referendam direitos individuais, protegem-se. Depois, os suíços votaram contra os minaretes. Finalmente, converteram em lei uma violação grosseira dos direitos humanos. A liberdade religiosa é um direito que implica a liberdade de cada cidadão ter a crença, descrença ou anti-crença que quiser, cabendo ao Estado democrático o dever de neutralidade.

Em suma, na Suíça os direitos humanos foram violados com a democracia a aderir ao paradigma das teocracias.

O voto contra os minaretes foi um sinal de que a intolerância já contagiou a Europa e de que o respeito pelos direitos, liberdades e garantias vai cedendo ao medo. Em vez de se vigiarem os templos onde se prega o ódio e de se punirem os pregadores, impedem-se os minaretes às mesquitas.

Há quem pense que a democracia é a aplicação da vontade das maiorias. É muito mais do que isso, inclui o respeito pelos direitos das minorias.

O referendo suíço pôs em causa a democracia e a decência. O precedente de sufragar o direito de voto das mulheres, em cantões que não o concediam, foi a confirmação da democracia coxa e de uma cidadania frouxa.

Não basta usar métodos democráticos, urge impedir que os direitos individuais sejam postos em causa. A democracia não se referenda, tal como a fé não pode atentar contra os direitos humanos nem ser vivida à margem da lei dos Estados democráticos.