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3 de Agosto, 2020 João Monteiro

A ira divina contra as redes sociais

Sou da opinião que a ciência e religião são dois magistérios que não se devem sobrepor pois tratam de assuntos diferentes. Enquanto o primeiro se dedica aos factos e ao mundo natural, o segundo dedica-se à crença e ao mundo espiritual. Contudo, Stella Immanuel, uma pediatra e ministra religiosa norte-americana, parece ter uma opinião diferente. O problema não está na opinião em si, mas nas consequências para a saúde da população que advêm das suas opiniões.

Stella Immanuel tem promovido um vídeo, em que aparece, onde partilha desinformação e teorias da conspiração relacionadas com a COVID-19. Nesse vídeo defendia o recurso à hidroxicloroquina para o combate à doença e desincentivava o uso de máscara (apesar da evidência científica apontar em sentido contrário). O mesmo vídeo foi partilhado por meios conservadores e pelo próprio presidente dos EUA.

A disseminação de desinformação levou a que as redes sociais Facebook e Twitter atuassem, eliminando os vídeos. Isto levou a que Stella ameaçasse as redes sociais com a ira divina, e cito: “Olá Facebook coloquem novamente disponíveis a minha página de perfil e vídeos ou os vossos computadores irão crashar até o fazerem. Vocês não são maiores do que Deus. Eu prometo-vos. Se a minha página não ficar ativa o facebook ficará em baixo em nome de Jesus”.

Mas se o leitor acha piada a isto, fique a saber que as alegações anti-científicas que não ficam por aqui. No passado, Stella Immanuel já alegara que problemas ginecológicos como cistos ou endometriose são causados por relações sexuais durante o sono com bruxas e demónios; que o ADN extraterrestre é usado em tratamentos médicos; que se está a preparar uma vacina que faça com que as pessoas deixem de ser religiosas; que o governo é gerido por reptilianos; ou que a homossexualidade conduz ao inferno.

Esta situação deixa de ter piada quando nos consciencializamos que esta senhora tem milhares de seguidores, presenciais e digitais, que acreditam nas suas afirmações. Pessoas que apesar do absurdo das alegações ainda a defendem e apoiam.

Por isso defendo que a ciência e a religião devem estar separadas.

Fontes: Daily Mail e Friendly Atheist

3 de Agosto, 2020 Carlos Esperança

Barrigas de aluguer (2)

Por

ONOFRE VARELA

Vimos no último artigo que Agar, criada egípcia de Abraão e Sara, aceitou servir de barriga de aluguer para gerar um filho de Abraão. O que as estórias bíblicas nos dizem é que, a partir daí, Agar passou a olhar desdenhosamente para a patroa, dando-lhe a perceber a sua inutilidade como mulher. Sara não gostou daquele olhar e pediu ao marido que expulsasse a criada. Esta, apercebendo-se do perigo que corria mantendo-se naquela casa, esperou o nascimento do filho, Ismael, e fugiu durante a noite levando a criança, com a intenção de abandonar o filho à morte.

Mais uma vez Deus actuou durante o sono, incentivando Agar a salvar o bebé, pois ele, Deus, tinha projectos destinados ao rapaz. E assim se fez. Entretanto, Sara conseguiu engravidar de Abraão, cumprindo-se a vontade de Deus, e nasceu Isaac. Na Mitologia grega também há uma estória de barriga de aluguer. Zeus, lá do seu trono celeste, deixou cair o seu divino olhar sobre Alcmena, enamorando-se dela. Os deuses gregos eram guerreiros e sexualmente activos… as paixões platónicas ainda as não havia inventado Platão (reeditadas pelo filósofo florentino Mirsílio Ficino no Séc XV), e só viriam a servir para serem usadas pelo Cristianismo sofredor! Por isso Zeus passou a alimentar a ideia de uma relação carnal com aquela bela mulher, a ter lugar rapidamente.

Porém, Alcmena era mulher de Anfitrião, general dos tebanos, e o militar vigiava-a não a deixando sozinha um minuto sequer… o que era um empecilho para os intentos do deus dos deuses. Mas um deus que se preza, nunca se atrapalha… e Zeus traçou um plano. Encarregou o seu filho Hermes – Deus do comércio, dos ladrões e mensageiro dos deuses – de pôr em prática o plano que arquitectara para conseguir encontrar-se com a mulher dos seus divinos sonhos.

Aproveitando a saída de Anfitrião para a guerra de Tebas, Hermes tomou a forma de Sósia, escudeiro de Anfitrião e amante de Calipsandra, que era criada de Alcmena, para guardar os aposentos desta, não fosse o general chegar antes do tempo. Zeus tomou a forma de Anfitrião e entrou no quarto de Alcmena. Não desconfiando que aquele homem não era o seu marido, a mulher entregou-se a ele naquela noite em que o achou especialmente fogoso. Dessa relação nasceu Hércules, o homem-deus… e deste mito da segunda barriga de aluguer das estórias religiosas, sobram-nos termos como sósia, para referir pessoa muito parecida com outra, e anfitrião, aquele que recebe em sua casa (mas que no mito grego e na exacerbada expressão latina se coaduna mais com “corno-manso”).

A Mitologia Cristã dá-nos a terceira barriga de aluguer das estórias mitológicas: Maria, que engravidou por obra e graça do Espírito Santo que tomou a forma de uma pomba, e fez com Maria, de um modo casto e sem cenas erótico-pornográficas, exactamente o que Zeus fizera com Alcmena de um modo muito mais próximo à realidade dos homens, numa relação infiel e criminosa.

Com Maria aquilo esteve mais próximo de uma inseminação artificial em laboratório, com o bico de uma casta pomba a servir de agulha hipodérmica.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

1 de Agosto, 2020 João Monteiro

Os indivíduos rebeldes e tortos

Texto da autoria de Vítor Oliveira.

“A pergunta que hoje tenho para vos fazer, para começar, hum, é a seguinte… vocês conhecem alguém, muito chato, que se porte assim muito mal, rebelde e que não queira saber nada nada nada de Deus? Há pessoas assim, meias tortas, não é?”

Assim abria o programa “A fé dos Homens”, num segmento de responsabilidade por parte da Aliança Evangélica Portuguesa, passado dia 31 de julho.

Sendo a RTP2 um espaço de informação e entretenimento do Estado, entendo a necessidade da existência de espaços informativos na transmissão que sirvam parte da população que possui fé religiosa, seja ela qual for. É serviço público, a população tem o direito de ver representada a sua fé neste programa a si dedicado. No entanto o direito à liberdade religiosa, afirmado tanto na Declaração Universal dos Direitos Humanos (artigo 18), assim como na Constituição da República Portuguesa (Artigo 41.º), traz consigo também deveres que considero terem sido violados no infeliz conteúdo produzido.

Quem viu o programa e não tomou ofensa no que foi dito, possivelmente não está a entender a profundidade do problema que aqui se criou. O programa é direcionado a um público infantil e as crianças são suscetíveis a repetir, através do exemplo, aquilo que aprendem com os adultos. Neste caso, que outra coisa estarão elas a aprender se não a intolerância face aos outros que não seguem a mesma religião? As palavras estão lá, são claras. Quem não quer saber do deus (cristão) é apontado como sendo um indivíduo chato, que se porta mal, rebelde e “torto”. Inclui ateus, judeus, muçulmanos, seguidores de religiões de matriz africana, hindus, budistas… e sendo que quem criou o conteúdo pertence a uma vertente religiosa protestante, até os católicos são incluídos no pacote. Essa ideia é uma semente, lançada na cabeça da criança, que pode germinar, crescer e ganhar raízes que podem afetar a mesma na idade adulta, e tornar a mesma intolerante face a outros que não possuam a mesma fé que a sua. Compreendo que estou a dramatizar, mas o potencial existe. Se é isto que nos chega através do canal televisivo, imagine-se o que se poderá passar dentro de portas no culto, assim como em casa.

O que foi ensinado às crianças, neste programa, foi que quem não é protestante é, potencialmente, um mau exemplo para a sociedade. Um preconceito fundamentado por ideologia religiosa foi disseminado, usando para isso um serviço do Estado, pago por todos nós. Que isto não seja precedente para muitos outros maus exemplos no futuro. O Estado é laico e assim deve permanecer, pela liberdade de expressão e liberdade religiosa, razão pela qual não pode deixar de intervir quando as liberdades ignoram os deveres e atropelam, assim, os direitos de outros.

Aguardamos, atentos, para ver se este erro não se repete.

30 de Julho, 2020 Carlos Esperança

Naquele tempo… (crónica ímpia)

Naquele tempo, Deus não era ainda o mito. Era apenas mitómano, a gabar-se de ter feito o Mundo em 6 dias, quatro mil e quatro anos antes da era vulgar, nem mais, nem menos, e descansado ao sétimo.

Era um celibatário inveterado que inadvertidamente criara Adão e Eva no Paraíso, onde matava o ócio na olaria. Fez o homem à sua imagem e semelhança e a mulher a partir de uma costela do homem.

Mandou que se afastassem da árvore do conhecimento, ordem que Eva logo desprezou, tentada por um demónio que por lá andava. O senhor Deus logo os expulsou do Paraíso, recriminando a malvada e condoído do tonto que se deixou tentar, enquanto o Demónio, igualmente expulso, foi viver num condomínio privativo – o Inferno.

Entretanto, na Terra, local de exílio, o primeiro e único casal logo descobriu um novo e divertido método de reprodução que amofinou o Senhor e multiplicou a espécie.Deus era bastante sedentário, mas as queixas que lhe chegaram pelos anjos, um exército de alcoviteiros hierarquizados, decidiram-no a deslocar-se ao Monte Sinai onde ditou a Moisés as suas vontades. Ensandecido pelo isolamento e pela castidade veio ameaçar os homens e exigir-lhes obediência e submissão.

Algum tempo depois, vieram profetas – vagabundos que prediziam o futuro –, lançando o boato de que o velho, tolhido do reumático, enviaria o filho para salvar o Mundo. Foi tal a ansiedade nas tribos de Israel que alguns logo vislumbraram, no filho da mulher de um carpinteiro de Nazaré, o Messias anunciado.Com falta de empregos, algum pó e líquidos capitosos à mistura, criaram a inverosímil história do nascimento do pregador com jeito para milagres e parábolas. Puseram a correr que Maria fora avisada pelo Arcanjo Gabriel – o alcoviteiro de Deus –, de que, na permanente castidade, ficara prenhe de uma pomba chamada Espírito Santo.

Nascido o menino que nunca mijou, usou fraldas, fez birras ou fornicou, foi discreto na adolescência e dedicou-se cedo aos milagres e à pregação. Falava no pai e na obrigação espalharem todos as coisas que dizia. Acabou crucificado e culparam os judeus, desde então os suspeitos do costume. Claro que JC era judeu, mas isso foi e é irrelevante.Admite-se que foi circuncidado e era exímio em aramaico, língua em que discutiu com Pôncio Pilatos, que apenas sabia latim, sem necessidade de intérprete.

Depois de crucificado, demorou-se três dias, provisoriamente morto, antes de ascender ao Céu com o prepúcio recuperado, o que desencadearia muitas discussões teológicas.

Os judeus ainda hoje são odiados porque o mataram, mas há exegetas que admitem que foi calúnia dos que criaram a nova religião e quiseram eliminar a antiga. Ódio de trânsfugas!

29 de Julho, 2020 Carlos Esperança

Há 7 anos

O papa Francisco defendeu a “laicidade do Estado”. O papa Francisco surpreendeu claramente ao defender o Estado secular: “a coexistência pacífica entre as diferentes religiões fica beneficiada pelo estado secular, que, sem assumir como própria, nenhuma posição confessional, respeita e valoriza a presença do fator religioso na sociedade “.Como se conciliam tais palavras, que admito sinceras, com o que se passa em Portugal:

– Isenções de impostos de que beneficia a Igreja católica Apostólica Romana (ICAR);

– Pagamento pelo Estado dos capelães militares, hospitalares e prisionais;- Existência de uma disciplina de EMRC;

– Contratação de professores da EMRC, livremente nomeados e exonerados por bispos;- Presença de cavalos, músicos e militares nas procissões e em outros espetáculos pios;

– Profusão da iconografia católica nas paredes dos edifícios públicos;- Presença de sotainas em cerimónias do Estado;

– Designação pia de hospitais quando não há uma só Igreja com nome de políticos;

– Com dificuldades orçamentais, uma embaixada exclusiva para o bairro do Vaticano, havendo outra em Roma;

– Etc., etc., etc..

25 de Julho, 2020 Carlos Esperança

Já faltou mais…

Um membro do Comité para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício (CPVPV), antigo Comité para a Propagação da Virtude e Eliminação do Pecado, (CPVEP) a orientar um pintor.

24 de Julho, 2020 João Monteiro

Madre Teresa: o anjo do inferno

Uma vez que chegámos ao final da semana e preparamo-nos para descontrair, partilhamos hoje o documentário Hell’s Angel, que retrata a vida de Madre Teresa de Calcutá, narrado pelo ateu Christopher Hitchens (1949-2011).

Este documentário, que é um clássico do movimento ateísta, pretendeu apresentar uma outra perspetiva, mais negra, mas também mais real e menos romanceada, da Madre Teresa, apresentando-a como uma mulher que incitava os pobres a aceitarem a sua condição social e negando-lhes cuidados de saúde essenciais, ao mesmo tempo que angariava quantias avultadas de dinheiro, por vezes junto de pessoas com percursos menos éticos. Este documentário antecedeu o livro “The missionary position: Mother Theresa in theory and practice” (1995).

Boa sessão!

https://www.youtube.com/watch?v=76_qL6fiyDw