Loading

Categoria: Não categorizado

23 de Fevereiro, 2004 Mariana de Oliveira

Igreja Católica e os meios de comunicação estaduais

Andava eu muito bem a surfar na web quando dou por mim a olhar para a programação religiosa de Fevereiro nos média (como estão sempre a pensar em contas – do rosário, de dinheiro caído nos cofres de Fátima – deve ter havido confusão) . O espanto! O horror! Todos os domingos, às dez horas da manhã, há transmissão da missa dos estúdios de Lisboa… pela RTP1, a nossa televisão pública, e – para não perder embalagem ou para manter uns laivos saudosistas dos tempos missionários dos Descobrimentos – a RTP Internacional trata de enviar a (uma) mensagem para todo o mundo. Aos dias da semana, na 2:, há o programa Ecclesia e, no dia santo, 70×7.

Como se isto não bastasse, o serviço de radiodifusão estadual também embarca nesta onda de evangelização: Eucaristia aos Domingos e dias Santos, pelas 8:00h, na Igreja de S. João de Brito – Lisboa, na Antena 1, e, na RDP Internacional, Eucaristia também todos os Domingos e dias Santos – 11:30h, Igreja paroquial S. Estevão, Alfama – Lisboa.

Não me choca que existam programas religiosos nos meios de comunicação privados. A iniciativa privada é isso mesmo: privada e, desde que não se vá contra a lei, há liberdade de expressão. O problema é quando o serviço público de informação se presta a estas manobras propagandísticas gratuitas (sim, porque é uma prestação gratuita a favor da boa ICAR). O Estado e os seus organismos, incluindo a sua televisão e rádio, estão sujeitos à Constituição da República Portuguesa e, assim, ao princípio da laicidade. Ora, tal princípio diz que o Estado não deve favorecer nenhuma confissão religiosa. Ao permitir que se transmitam eucaristias (friso novamente: sem custos para a ICAR), há uma clamorosa violação de tal princípio.

22 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Um cronista do EXPRESSO disserta sobre Deus e o repolho

No Expresso de 22 de Fevereiro de 2004 o pio colunista João Pereira Coutinho insurge-se contra o projecto educacional inglês e faz alguns saborosos comentários.

Vale a pena transcrever (site inacessível) o que diz o devoto plumitivo, sob o título “Deus e o repolho”:

«A ideia (…) é mostrar aos petizes britânicos que, para lá das religiões “tradicionais” (leia-se “cristã”, “judaica” e “islâmica”) existe todo um mundo de crenças e não crenças que merece igual estatuto e igual reverência», para concluir que «se a escola elege como educação religiosa formas de descrença na divindade, seria de incluir outros tipos de adoração pessoal… como o masoquismo, o bestialismo e mesmo o filistinismo». E continua dizendo que «para sermos realmente tolerantes… o aluno deveria ser convidado a adorar um texugo – ou um repolho – com igual respeito e devoção», para terminar, profetizando, que «No espaço de algumas gerações, teríamos um sistema politeísta que, abrangendo Deus e o repolho, produziria uma sociedade mais humana, mais culta e incomparavelmente mais tolerante».

Sem me deter na falta de consideração para com o repolho (escreve Deus com letra maiúscula) merece alguns comentários o devoto:

1 – Não é função da escola transmitir um sistema de crenças, até porque teria de optar por um entre muitos, e o laicismo é uma condição para a democracia;

2 – Comparar Deus a um texugo ainda se aceita (embora não haja provas de que o primeiro existe), pertencem ambos ao reino Animal; mas comparar Deus a um repolho é fazê-lo migrar para o reino da Botânica (inaceitável num devoto);

3 – Na ironia em relação ao politeísmo (se acaso sabe o que seja) parece transparecer muita fé na humanidade, cultura e tolerância que exorna as religiões «tradicionais», que tem por boas.

Todos sabemos como as 3 religiões do livro praticam a humanidade, defendem a cultura e garantem a tolerância. Os bispos católicos e os ayatollahs são o paradigma. As teocracias são um modelo a que devemos regressar.

O piedoso plumitivo parece uma besta perfeita, mas não o designarei assim, por três razões: em primeiro lugar porque sou educado, depois porque não o conheço e, finalmente, ninguém é perfeito.

22 de Fevereiro, 2004 jvasco

Crença, Racionalidade e Fé

Devo dizer que me irrita um pouco esta mania dos crentes de considerarem que os Ateus “têm a certeza” de que Deus não existe. Alguns tê-la-ão (existem até “12 provas da inexistência de Deus”, que é uma obra interessante), mas ser Ateu é NÃO ACREDITAR em Deus. E eu não acredito, tal como não acredito no Pai Natal. MAS não tenho a certeza que nenhum dos dois não exista, tal como não tenho a certeza que f=ma, tal como não tenho a certeza que as formigas não são na verdade um civilização avançada, ou que as bactérias tenham uma inteligência inferior à dos seres humanos. Se formos ao limite, eu não tenho a certeza de NADA.

Por isso eu acredito em coisas. Acredito que estou no Universo, acredito que f=ma, acredito que o Pai Natal não existe, etc… Qual é o critério? É a plausibilidade. Até agora todos os corpos cairam. O que é que é mais provável?

a)Existe uma lei que faz com que os corpos caiam

b)foi tudo uma gigantesca coincidência.

Eu acredito em a), sem ter (no limite) a certeza.

É possível que todas as leis físicas, todos os computadores, máquinas, técnicas agrícolas, etc… tenham funcionado por uma gigantesca coincidência. Posso imaginar que na verdade todos os corpos andam aleatoriamente, e a força da gravidade que nós pensávamos ver (bem como a electromagnética, a nuclear forte e fraca) foi tudo uma coincidência. Uma coincidência que fez com que eu (e toda a vida como a conhecemos) existisse. Isso é possível. Porque é que eu não acredito nisto?

PORQUE escolho acreditar na hipótese mais plausível. É só isso.

Tento descobrir a hipótese mais plausível a partir dos dados que tenho ao meu dispor, pensar sobre eles, e acreditar naquilo que é mais plausível.

A FÉ é o oposto: é acreditar em algo INDEPENDENTEMENTE do seu grau de plausibilidade.

Quando Jesus (alegadamente…) diz a Tomé que a crença deste não vale tanto como a dos outros que não necessitaram de o ver, ele está a defender a FÉ: as pessoas não deviam escolher aquilo em que acreditam com base nos indícios. Acreditar em Cristo depois de o ter visto é “fácil”, não é preciso “FÉ”.

Mas a racionalidade está contra isso. Nós devemos precisamente acreditar mais ou menos em algo EM FUNÇÃO do grau de plausibilidade.

E é isto que distingue os Ateus dos crentes. É este o cerne da diferença.

22 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Ecossistema religioso ameaçado – frades e freiras em vias de extinção

O Expresso de ontem, sob o título «Religiosos à procura da vocação» traz um artigo de Mário Robalo com excelentes notícias.

Ficamos a saber que «As congregações religiosas portuguesas estão a perder membros (padres, freiras e monges) a um ritmo vertiginoso». O rejuvenescimento das 146 instituições de “vida consagrada” é desanimador – segundo palavras do jornalista –, porque mais de metade não tem nenhum candidato em formação.

Nos últimos 5 anos o número de «consagrados» passou de 10.000 para 8.600, tendo 50% mais de 60 anos.

Actualmente 6660 mulheres e 1953 homens encontram-se enclausurados nas 146 congregações. Esta foi a libertação a que a ICAR os condenou.

Congregação religiosa é uma associação de mulheres ou homens que, depois de fazerem votos de pobreza, castidade e obediência, vive em comunidade – diz o jornalista.

Todos sabemos que é feroz a obediência, moderada a pobreza e relativa a castidade mas o perigo reside nos 114 estabelecimentos de ensino que possuem e nos 39.169 alunos que os frequentam.

Os religiosos gostam de se flagelar e de orar mas dessas actividades lúdicas não vem qualquer mal ao mundo.

22 de Fevereiro, 2004 Mariana de Oliveira

Ópio do Povo

A religião é o suspiro da criança acabrunhada, o coração de um mundo sem coração, assim como também o espírito de uma época sem espírito. Ela é o ópio do povo.

Karl Marx

21 de Fevereiro, 2004 Mariana de Oliveira

Pensamentos de um ateu moribundo

No último álbum dos Muse (grande grupo britânico), Absolution, está esta música. Partilho a letra convosco para que a comentem, interpretem e digam se concordam ou não com o que se diz…

Thoughts Of A Dying Atheist

Eerie whispers trapped beneath my pillow

Won’t let me sleep, your memories

I know you’re in this room, I’m sure I heard you sigh

Floating in-between where our worlds collide

It scares the hell out of me

And the end is all I can see

And it scares the hell out of me

And the end is all I can see

I know the moments near

And there’s nothing we can do

Look through a faithless eye

Are you afraid to die

It scares the hell out of me

And the end is all I can see

And it scares the hell out of me

And the end is all I can see

It scares the hell out of me

And the end is all I can see

And it scares the hell out of me

And the end is all I can see

21 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Os treinos da selecção nacional para o Euro 2004

Vem hoje no Expresso (pg. 25) que o treinador Scolari deu um importante passo na preparação dos jogadores: pô-los a «rezar em conjunto». O pai-nosso foi a arma escolhida para subornar o Altíssimo e, assim, alterar a verdade do jogo.

Sabe-se que o pai-nosso é uma droga que as análises não acusam, mas não há a mais leve suspeita sobre a sua eficácia.

O prestigiado treinador sabe que um placebo pode ser útil e, por isso, recorre ao pai-nosso. Não é justo, contudo, que deixe mal colocado o deus em que os jogadores acreditam ou, em caso de improvável vitória, com o ónus vergonhoso de se ter deixado subornar por umas orações colectivas.

20 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Resposta a um artigo da Visão, de 19 de Fevereiro

No artigo «Ateus graças a Deus» (n.º 572) Pedro Norton (PN) zurze a “lei dos véus” de forma sectária e pouco esclarecedora.

Considerá-la «na linha do jacobinismo e do anticlericalismo mais primário», «a mais estúpida da V República» e «um privilégio das ideias verdadeiramente cabotinas», é não compreender as razões que levaram ao amplo consenso entre deputados e na sociedade francesa.

O véu é um símbolo da opressão da mulher cujo uso os fundamentalistas islâmicos impõem e com o qual afrontam e provocam o carácter laico da escola francesa.

O que está em causa é o combate contra o fascismo islâmico que não abdica de um regime teocrático e que não tolera a modernidade. Hoje impõe o véu, amanhã reivindica a excisão, depois a poligamia e, finalmente, a charia.

O perigo para as democracias, ao contrário do que pensa PN, reside no clericalismo e no proselitismo que desenvolve nas mesquitas, igrejas e sinagogas, com uma agressividade que urge conter.

20 de Fevereiro, 2004 Mariana de Oliveira

O que é um padre?

Padre: um homem que se encarrega de tratar dos nossos negócios celestiais como maneira de melhorar os seus negócios na Terra.

Ambrose Bierce