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3 de Março, 2020 Carlos Esperança

Tão simples quanto isto

Por

ONOFRE VARELA

A maioria dos deputados da Assembleia da República aprovou todas as propostas apresentadas por diferentes partidos com o fim de se abrir a porta a uma lei que despenalize a prática da eutanásia (ou morte medicamente assistida) para quem a deseje reiteradamente. 

A lei que vier a ser discutida no sentido da sua aprovação, terá que definir muito bem as condições em que a eutanásia possa ocorrer.

Nesta primeira fase venceu a Razão e a Tolerância sobre a Crença Religiosa e a Intolerância. Votaram contra, os partidos de Direita aliados à Igreja e o Partido Comunista (PC). 

A Igreja é, como se sabe, uma instituição que vive da crença e da fé num deus de existência real impossível, valorizando o mito em desfavor da realidade dos factos que fazem a vivência de todos nós, com a agravante de querer impor as suas vontades medievais a toda uma sociedade, esquecendo que a Revolução Francesa (que a nós [re]chegou com o 25 de Abril de 1974) nos libertou dela.

O PC alinha com a Igreja na mesma negação do direito que cada um tem à sua própria vida e a pensar pela sua própria cabeça. O PC é defensor do colectivo… entenderá, por isso, que a vida dos seus militantes (e de todos os portugueses) também é colectiva, incluindo o pensamento de cada um, que também quererá “colectivizar”, negando o direito que temos ao nosso “pensamento privado” e à nossa própria vontade?

A Igreja também imagina dominar o pensamento da maioria dos portugueses e quer que pensemos de acordo com a sua vontade, para que, num referendo, saia vencedora impondo-se a todos nós!

Para que conste, sou filiado no PC e penso pela minha cabeça. Dispenso leis divinas ou ordens partidárias. Não obedeço a nenhum deus nem a nenhum partido. Obedeço ao meu raciocínio que foi construído por uma educação de qualidade, pela liberdade individual, pelo respeito devido aos outros e à Natureza, que os meus pais me deram. 

Por isso sou a favor de uma lei que despenalize a eutanásia. A razão que a tal me leva é tão simples quanto isto (que retirei do site Diário de uns Ateus):

A EUTANÁSIA não te obriga a morrer.

O ABORTO não te obriga a abortar.

O DIVÓRCIO não te obriga a divorciar.

O CASAMENTO HOMOSSEXUAL

não te obriga a casar com alguém do mesmo sexo.

OS DIREITOS NÃO TE OBRIGAM A NADA!

PORQUE ME QUERES IMPOR A TUA VONTADE, SE EU NÃO TE IMPONHO A MINHA?

Quem não percebeu, que ponha um dedo no ar…

Onofre Varela

2 de Março, 2020 Carlos Esperança

A islamofobia e o medo do Islão

A islamofobia, à semelhança de qualquer outra fobia, é doença psiquiátrica que exige terapia adequada. O medo do Islão é um reflexo legítimo de conservação, face ao perigo da religião política e do proselitismo demencial da jihad estimulado pelo Corão. Urge compreender a diferença e tomar precauções.

A UE tem matriz judaico-cristã, mas foram a luta contra o poder clerical e a progressiva secularização que fizeram a síntese entre os direitos individuais e a solidariedade social, através de Estados democráticos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos não nasceu nas sacristias, e o respeito pelos seus trinta artigos deve ser imposto a todos os que vivem dentro das fronteiras dos Estados democráticos, crentes e não crentes.

A aceitação de muçulmanos, como, aliás, de praticantes de qualquer outra religião, culto ou filosofia não exige a aprovação das crenças. O respeito aos crentes não se estende às suas crenças. O combate ideológico ao Islão é tão essencial como o foi, no passado, ao catolicismo, ao calvinismo e a todas as crenças que não desistiam da conversão dos que as recusavam. E como pode voltar a ser!

A Alemanha, o único país europeu com um memorial às vítimas do nazismo, expiou a crença na raça superior e na bondade da eugenia e do antissemitismo. Nos últimos anos, foi paladina da integração dos refugiados. Sob pena de renegarmos a civilização, temos o dever de os aceitar dentro das capacidades económicas e sociais da Europa para os integrar.

Há 3 anos, as autoridades alemãs encerraram a mesquita salafista “Fussilet 33”, em Berlim, uma escola de terrorismo que produziu quadros para o Estado Islâmico e cuja interdição pecou por tardia. Aliás, não há qualquer justificação para que as religiões sejam tratadas de forma diferente de quaisquer outras associações. A monitorização policial e a repressão devem ser proporcionais à perigosidade, dentro dos limites do Estado de Direito.

Afirmar que todas as religiões são pacíficas é uma mentira hipócrita e cínica. Insistir na mentira e na hipocrisia é comprometer o futuro da civilização e desistir da democracia.

1 de Março, 2020 Carlos Esperança

Maria de Magdala (História adaptada)

Naquele tempo, em Magdala, na antiga Palestina, uma multidão preparava-se para apedrejar Maria sobre quem recaía a acusação de pecadora. Fora um boato posto a correr, talvez por um corcunda da tribo de Manassé, ressentido por se ter visto recusado, que a sujeitara ao veredicto de que não cabia recurso.

O princípio do contraditório ainda não tinha sido criado, nem era hábito ouvir o acusado, jamais sendo mulher, nem a absolvição era previsível nos hábitos locais. A lapidação de Maria tinha transitado em julgado.

A lapidação era, aliás, um divertimento em voga, que deixava excitados os autóctones das margens do rio Jordão que atravessava o Lago Tiberíade a caminho do mar Morto. Diga-se, de passagem, que esse desporto ainda hoje é muito popular nos países islâmicos, para imenso gáudio das multidões e satisfação de Maomé.

Aconteceu que andando o Senhor Jesus a predicar por aquelas bandas, depois de indagar o que se passava, aproveitou a multidão para se lhe dirigir, e disse:

– Aquele de vós que nunca errou que atire a primeira pedra.

Todos pareceram hesitar. Muitos deixaram cair as pedras com que chegaram municiados. Havia crispação nos que vieram de longe, com sacrifício, e um certo desapontamento de todos os que esperavam divertir-se. Só o Senhor Jesus continuava sereno, a medir o alcance das suas palavras. Mas, eis que da multidão se ergueu um braço e Maria de Magdala caiu derrubada por uma pedra certeira.

Enquanto algumas pessoas a reanimavam, na esperança de repor o espetáculo que tão breve se esgotara, o Senhor Jesus foi junto do atirador e disse-lhe:

– Então tu, meu filho, nunca erraste?

– Senhor, a esta distância, nunca.

29 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

O Islão e a teologia do cabotinismo – Escrito há 5 anos

Pegue-se numa cópia grosseira do cristianismo, com laivos de judaísmo, e faça-se um manual terrorista ao gosto de um beduíno boçal de há 14 séculos. Intoxiquem-se nele os povos e constranjam-se, torturem-se os réprobos e aliciem-se os devotos com rios de mel e virgens ansiosas. Produzem-se dementes fanáticos, embrutecidos pela fé.

Algures, no que resta do Iraque, entre os rios Tigre e Eufrates, onde nasceu a escrita e a civilização teve berço, despertaram selvagens em estado místico, primatas adestrados no uso de utensílios e armas sofisticadas, aptos a recriarem o habitat da Idade do Bronze.

Um dia servem-nos decapitações; no outro, assassínios; depois, homens enjaulados a arder lentamente ao som de gritos selvagens: “Deus é grande e Maomé o seu Profeta”.

É fácil identificá-los pelo aspeto simiesco, desprezo das fêmeas, comprimento dos pelos nas trombas e, sobretudo, pelo desprezo da vida e ódio à modernidade.

Bandos ensandecidos, suspeitando da inspiração do demo na arte assíria, destroem, com marretas e martelos pneumáticos, obras únicas, três milénios de arte preservados no Museu de Mossul, com a sanha com que queimaram milhares de manuscritos e de livros raros na Biblioteca Municipal. Viram infiéis nos sumérios e assírios e quebraram tábuas de gesso com escrita cuneiforme, com mais de cinco mil anos; na cabeça esculpida, da época suméria, imaginaram o busto de Maomé com um turbante carregado de bombas e partiram-na; e, no boi alado com três mil anos, divindade assíria, adivinharam escárnio ao arcanjo Gabriel fabricado na rotativa do Charlie Hebdo, e reduziram-no a cacos.

Há, nesta tragédia cultural, na metáfora do mais perverso monoteísmo, um apelo à raiva, à revolta e ao repúdio civilizacional contra a barbárie.

28 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Vaticano – O Papa, a teocracia e a liturgia 28-2-2013

B16 atirou com o chapéu de Papa

Há 7 anos, o Vaticano, bairro de 44 hectares, abriu vaga para Papa. Bento 16 deliberou manter-se vivo. Nos últimos dias procedera como os líderes profanos: continuou a fazer exonerações e nomeações. Substituiu-se a si próprio, dispensou o gerente do IOR, aceitou a resignação de cardeais pouco estimáveis, nomeou o novo bispo de Lisboa, futuro cardeal, e antecipou o consistório. O bispo de Lisboa, notoriamente reacionário, teve com Bento XVI uma oportunidade que dificilmente se repetiria.

Sendo o primeiro Papa a sair vivo do cargo, em quase 600 anos, criou alguns problemas à monarquia eletiva cujo sucessor, perdida a tradição dos Bórgias, deixou de ser filho ou familiar. A eleição do sucessor viria a ser feita pelos cardeais maioritariamente criados (termo canónico) pelo “Papa emérito”, título que demorou vários dias a encontrar, e foi igual ao dos bispos que terminam o prazo de validade.

Perdeu mordomias. Deixou o anel, que foi destruído, poupando o dedo; ficou impedido de usar a batina de peregrino; suspendeu o alvará da infalibilidade e criação de cardeais cujo trespasse passou para o novo pontífice; a interdição absoluta atingiu os sapatinhos vermelhos e o camauro. Manteve o direito a vestir-se de branco, ao uso do pseudónimo de Bento XVI e a tratamento de luxo com mordomos paramentados e freiras dedicadas.

Antes das 20H00 (19H00, em Lisboa) foi para Castel Gandolfo onde ficaria dois meses, até à conclusão das obras do convento, no Vaticano, onde estava previsto ficar até que o ciclo de vida se cumprisse. Admitiu-se que a euforia provocada pela eleição de um novo Papa rapidamente o fizesse esquecer, mas a sua sombra continuou a pairar através de sequazes que a correlação de forças não permitiu enxotar, como se viu com a publicação de um livro que impediu o sucessor de ordenar homens casados e, eventualmente, mulheres

Manteve o título de Santidade, título que designa a profissão e o estado civil, apesar da jubilação. E, como o cavalo de Jacques Prévert, pode gritar:

Eu estou vivo

É o principal

Bom apetite

Meu general!

(Tradução minha de um poema memorizado)

27 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Contrastes

21 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Bem-aventurada Conferência Episcopal Portuguesa

Quando a morte era assistida, os moribundos saudáveis e era o clero a tratar da saúde, já havia a estranha devoção de negar a morte sem sofrimento.

A morte não era a pedido, o sofrimento era obrigatório, e já eram ruidosas e participadas as manifestações de júbilo do clero, nobreza e povo, unidos no delírio da combustão de judeus, bruxas, hereges, apóstatas e blasfemos.

Mais contido o êxtase, mantém-se a coerência.

19 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Eutanásia – Paradoxos

 

Há argumentos respeitáveis de um lado e de outro, razões para reflexão e dilemas éticos, e todos conhecemos situações de indescritível sofrimento, dor lancinante e incapacidade física para lhes pôr termo e exercer o direito de decidir, situações que ninguém descreve melhor do que os crentes, “era uma esmola que Nosso Senhor o/a levasse”.

O que surpreende é a aceitação do direito individual de quem não tem condições físicas de o exercer, por quem pensa que a morte é o fim inexorável da vida, única e irrepetível, e a resistência dos que têm a certeza de que há outra vida e acreditam na ressurreição.

Vá lá alguém entender estes paradoxos!

18 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Saudades para Vanessa

Há quinze anos, num dia de fevereiro de 2005, lia e não acreditava. Voltava a ler. Julgava estar a perceber mal, e relia. Pensava que havia gralha, que o jornalista tivesse cometido um lapso e dissesse o contrário do que queria. Li uma última vez.

Senti comoção e a raiva. Sabia das baixezas de que os homens são capazes. Estive 26 meses na guerra colonial. Mas, talvez, a estupidez não seja o pior dos males. Pior só a estupidez e a crença reunidas.

Paulo, drogado, saído da prisão de Custóias há quatro meses, desempregado, fazia filhos em várias mães no Bairro do Aleixo, bairro de problemas e miséria da cidade do Porto. Uma das filhas chamava-se Vanessa. Tinha cinco anos e a vida para viver. Paulo matou-a à pancada.

A mãe de Vanessa mandou rezar-lhe missa do 7.º dia na igreja de Lordelo do Ouro, no Porto. Foi o mimo que lhe faltou em vida.

Copiei devagar o que li e reli na pg. 90 da “Visão”, desse dia. Domingos Oliveira, padre que celebrou a missa, por Vanessa, criança de cinco anos, morta à pancada pelo pai, disse na homilia: “matar uma criança no seio materno ainda é mais violento do que matar uma menina de 5 anos” e invetivou a sociedade “que favorece o uso de preservativos”.

Havia na demência mística do padre Domingos Oliveira uma tal insensibilidade, um tão grave insulto à memória de uma criança mártir, um desrespeito tão grande pela mãe que encomendou a missa e um tamanho ultraje à vida, que estupefazia e arrepiava.

Esse almocreve de Deus, apóstolo da fé, santa besta fiel ao Papa, padre católico, achava preferível matar uma criança de cinco anos à pancada do que interromper a gravidez de um embrião de cinco semanas.

Queriam que eu esquecesse esse facto cuja data exata não registei? Que esquecesse as Vanessas mortas aos cinco anos por pais violentos e drogados? Que ocultasse o nome dos padres que perpetuam a violência e os preconceitos?

17 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Giordano Bruno – Há 420 anos (17 de fevereiro de 1600)

Enquanto os padres se afadigam em missas de ação de graças para que Deus impeça os deputados de matarem velhinhos, celebra-se hoje, em pio silêncio, o 420.º aniversário da cremação em vida de Giordano Bruno. Ao contrário da eutanásia, a morte pelo fogo não era pedida por quem a sofria, e era obrigatória para quem a não pedia.

Era o tempo do 8.º Clemente do Vaticano, homólogo do antipapa com o mesmo número e nome, quando a Santíssima Inquisição, alarmada com a teimosia do herege em renegar a teoria heliocêntrica, a existência de outros mundos e a dúvida sobre a natureza divina de Jesus Cristo, decidiu a sua morte na fogueira purificadora.

Filósofo, matemático e teólogo, defendeu com exemplar coragem e convicção as ideias que tornava absurdos os dogmas, néscios os padres e ignorante a sua Igreja. Que podia esperar um filósofo que considerava infinito e inacabado o Universo cuja perfeição era a maravilha do Deus dos senhores padres inquisidores?

Era ousado, Giordano Bruno, um exemplo de amor à ciência e um caso raro de coragem perante o sadismo da Inquisição. Ao filósofo italiano, escritor e religioso, excomungado por protestantes e católicos, foi-lhe imposto ouvir de joelhos a sentença que o condenou à fogueira na presença de uma multidão ululante. Há algo mais estimulante para a fé do que queimar vivo um livre-pensador? E mais angustiante para os inquisidores do que o atrevimento do réprobo a afirmar perante os santos algozes, “Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la”.?

O cosmólogo considerava o Universo infinito e inacabado, como se Deus tivesse criado uma porcaria à espera de remendo, e contrariava os mestres escolásticos, que ensinavam que, se a Terra se movesse, as nuvens ficariam para trás, as folhas mortas voariam sempre para o mesmo lado e a pedra caída do alto de uma torre afastar-se-ia sempre da sua base. Haveria maior herege e heresia maior do que tais afirmações?

O cardeal Belarmino seguiu o processo onde a heresia e a blasfémia eram tão evidentes que a queima do herege foi saudada pelas almas dos bem-aventurados para quem a ignorância e a fé eram condição essencial para a salvação da alma. Acabou canonizado. Só o sofrimento é purificador.

Hoje, 420 anos após o auto-de-fé, permanece de pé a estátua em sua honra, num desafio ao Vaticano de onde numerosos papas, com incontida azia, quiseram derrubá-la.

Na praça onde foi imolado, onde peregrinam devotos da ciência e do livre-pensamento, ergue-se uma estátua em sua honra, na única praça de Roma sem igreja, onde a ciência é venerada em pedra e bronze, materiais mais perenes do que a metafísica.

Ir a Roma sem procurar a estátua de Giordano Bruno, é como ir a Paris e ignorar a Torre Eiffel.