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Categoria: História

7 de Julho, 2021 João Monteiro

Padre Eugénio Jalhay (3)

Texto de Onofre Varela, publicado na Gazeta Paços de Ferreira.

O difícil caminho da vida de Eugénio Jalhay começou a desenhar-se em 1910 com o advento da República que muitos políticos portugueses reclamavam. A agitação do fim da Monarquia e a ascenção dos sanhosos republicanos, fez soprar maus ventos para o clero. A legislação do novo regime recuperou uma lei de 28 de Agosto de 1767 (entre outras do tempo do Marquês de Pombal) determinando que os Jesuítas fossem obrigados a sair imediatamente do país e dos seus domínios. Assim se iniciou um itinerário de fugas para o sacerdote-arqueólogo Eugénio Jalhay. O advento da República com forte carga anti-clerical, obrigou muitos religiosos, mormente Jesuítas, a saírem do país.

Eugénio Jalhay iniciou, então, um itinerário de fugas, quando completou 20 anos de idade. Partiu para Tortosa (Espanha) e aí estudou Filosofia. Foi depois para Lovaina (Bélgica) onde completou os estudos e chegou a ser professor num colégio em Jette-Saint-Pierre – fundado por padres jesuítas expulsos da novel República Portuguesa, perto de Bruxelas, fundado por padres jesuítas expulsos da novel República Portuguesa – que recebia estudantes fugidos de Portugal.

Os ventos da História continuavam a soprar mal, não só para os clérigos portugueses, mas para toda a Europa. Nos Balcãs, em 1913, terminara uma guerra que durou um ano e criara um caldo conflituoso de interesses vários englobando dois grupos em constante estado de tensão: a Tríplice Aliança, contemplando Alemanha, Austria-Hungria e Itália, e o bloco composto por França, Grã-Bretanha e Rússia. Os jogos de interesses políticos acabaram por conduzir ao assassinato do arquiduque herdeiro Francisco Fernando da Áustria, em Sarajevo, no dia 28 de Junho de 1914, o que ditou a causa imediata da Primeira Guerra Mundial, com a declaração das hostilidades da Alemanha à Rússia e à França, em Agosto. Logo a seguir a Inglaterra e o Japão declararam guerra à Alemanha. Estavam lançadas as cartas para o jogo que os homens mais adoram: a guerra!… E os alemães invadiram a Bélgica e o norte da França.

Eugénio Jalhay parecia ter sido talhado para estar nos locais errados na hora certa, e o seu sotaque de estrangeiro despertou curiosidade e desconfiança aos alemães invasores. Foi confundido com um espião, prenderam-no e quiseram fuzilá-lo. Com a preciosa e vital ajuda de alguém que o sabia inocente daquela acusação, conseguiu fugir para Inglaterra e daí partir para Espanha, fixando-se num colégio Jesuíta em Los Placeres (Pontevedra, Galiza). Em 1916 Jalhay estava em La Guardia (A Guarda, Galiza) participando em escavações arqueológicas na povoação castreja do monte de Santa Tecla (Teca ou Tegra) na margem direita da foz do rio Minho. Em 1919 foi ordenado sacerdote em Burgos (Castela e Leão, Espanha). Voltou à Bélgica em 1920 e quatro anos depois regressou a La Guardia iniciando colaboração na revista jesuíta Brotéria (excelente revista! Quero registá-lo aqui). Em Portugal as convulsões republicanas de década e meia direccionaram a política para outras saídas, e a 28 de Maio de 1926 foi imposta uma ditadura militar que deixou a República e a Democracia à espera, dormitando à porta do Parlamento (sendo acordada com ramos de cravos vermelhos 48 anos depois, numa madrugada libertadora e sem tiros, em Abril de 1974). O católico António de Oliveira Salazar iniciava a sua ascenção em cargos políticos pela porta do Ministério das Finanças, e em 1928 os Jesuítas foram convidados a regressar a Portugal, estabelecendo-se, então, a Redacção da revista Brotéria, em Lisboa.

Foi assim que Eugénio Jalhay voltou à sua terra natal depois de 18 anos de fugas. Assumiu a direcção da Brotéria, e a sua costela de investigador da História dos povos de antanho levou-o a frequentar reuniões na Associação dos Arqueólogos.

(Continua)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) OV

6 de Julho, 2021 João Monteiro

Padre Eugénio Jalhay (2)

Texto de Onofre Varela, publicado no jornal Gazeta Paços de Ferreira. Segunda parte do texto.

Finda a Primeira Grande Guerra, Afonso do Paço regressa a Portugal no final do ano de 1918, ou princípio de 1919 e, em 1929, dedica-se à Arqueologia, actividade que o apaixonava paralelamente à vida de militar, e que exerceu até ao fim da sua vida (1968).

Já quanto ao padre Jalhay, ele começou por frustrar todas as minhas tentativas de conhecimento da sua vida, pois nenhum dos documentos adquiridos no Museu me falava dele! Recorri às bibliotecas municipais de Paços de Ferreira e do Porto, mas nos livros consultados não encontrei referências biográficas da misteriosa figura do padre Eugénio Jalhay, que se apresentava, cada vez mais, como enigma difícil de desvendar, começando pelo seu próprio nome: Jalhay, que sabia ser apelido belga (mo dissera a minha mulher, que o conheceu quando ela era uma miúda que distribuía água aos sedentos estudantes de arqueologia em tempo de campanhas de escavação na Citânia). Por isso me interrogava: o que levou um padre belga a deslocar-se para o Sul da Europa e fazer Arqueologia em Sanfins de Ferreira na década de 1940?!…

Numa segunda visita ao Museu, e em conversa com o seu guarda e guia (um membro da família Brandão) comentei a dificuldade em conseguir a informação que procurava. Fiquei a saber, então, que, para além das publicações adquiridas na minha primeira visita, o Museu nada mais tinha sobre a Citânia e os seus arqueólogos. Porém, havia uma pequena brochura editada em 1962 (presumo que se tratava de uma separata da Revista de Arqueologia) que prestava homenagem à memória do padre Jalhay, com texto de Mário Cardoso, e desde há muito tempo esgotada. Talvez nela encontrasse respostas para as minhas questões… e ele tinha um exemplar na sua biblioteca particular. Emprestou-mo… e dissipou-se o mistério. Ali mesmo, num canto do museu, li aquele texto de um só fôlego, e tomei notas.

Eugénio Jalhay, padre jesuíta de descendência belga… nasceu em Lisboa em 1891!… Ora bolas!… Lá se foi o devaneio do enigma por água abaixo!…

O percurso de vida deste sacerdote-cientista foi um rosário de incidentes ditados pelas convulsões da História, o que o obrigou a constantes deslocações.

Eugénio Jalhay foi um dos 14 filhos de Adelaide de Ascenção Rogeiro Montez e de Emile Auguste Jalhay (belga), industrial de fiação estabelecido na Covilhã. Entrou no Noviciado de Barro da Companhia de Jesus, perto de Torres Vedras, quando contava 14 anos. É desse tempo o seu encontro com o apelo da Arqueologia.

Certo dia acompanhou o padre Paulo Bovier Lapierre na descoberta de elementos paleolíticos em Monsanto, Lisboa. Nessa primeira deslocação a um campo arqueológico teve a dita de conhecer o arqueólogo José Leite de Vasconcelos que o animou a dedicar-se à Arqueologia. Foi essa a semente que germinou, deu fruto e condicionou toda a sua vida paralela à de sacerdote, levando-o à tarefa de fazer ressuscitar povoados castrejos, mostrando a História que a erosão dos séculos e o verde da Natureza ciosamente encobriam. (Continua)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) OV

Citânia de Sanfins – Paços de Ferreira. Foto de Henrique Matos. Fonte: Wikipedia
5 de Julho, 2021 João Monteiro

Padre Eugénio Jalhay (1)

Texto de Onofre Varela publicado na Gazeta de Paços de Ferreira. Primeira parte.

No último número da Gazeta deliciei-me com o artigo “Conhecer o nosso Património” da professora Rosário Rocha, do Agrupamento de Escolas de Frazão. Conta-nos um passeio cultural que fez com os seus alunos da Turma F do Centro Escolar da Arreigada, visitando, com guias qualificados, o Mosteiro de Ferreira, o Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins e as ruínas da própria Citânia que justifica a existência do Museu. 

Termina o seu artigo dizendo que “deveria ser ‘obrigatório’ que todas as turmas fizessem o roteiro cultural do nosso concelho”. Aplaudo a ideia!… O conhecimento de História deve começar por sabermos a nossa própria história, estudando a nossa família e o lugar onde moramos. Os primeiros passos a dar no sentido de sabermos História, podem (e devem) ser dados na nossa terra, à nossa porta e na nossa casa. Todos nós temos a nossa própria História que, obrigatoriamente, devemos conhecer. É a partir dela que ficamos a saber quem, e como, somos nós… e que podemos (sobretudo, devemos) respeitar gentes e lugares.

O artigo da Professora Rosário Rocha lembrou-me o interesse que alimentei pela Citânia de Sanfins de Ferreira há mais de 50 anos, e espevitou-me no sentido de contar aqui a minha experiência. Por isso vou-me distanciar do tema que habitualmente abordo nestas páginas (a defesa do Ateísmo) para me dedicar, por quatro edições, à Citânia de Sanfins e a um dos seus importantes arqueólogos, o padre Eugénio Jalhay.

Desde 1969 que, pelo casamento, estou ligado à família Brandão de Sanfins de Ferreira, detentora de brasão que pode ser visto, talhado em pedra, a encimar o portão da Casa da Igreja, ou Solar dos Brandões, edifício do século XVIII que foi residência da família. Em 1947 foi cedida uma sala do Solar para a instalação do Museu Arqueológico da Citânia, e depois a autarquia comprou a casa e a quinta.

Na década de 1960 tive o meu primeiro contacto com a Citânia, que visitei demoradamente, e com o Museu Arqueológico onde adquiri brochuras que me informaram sobre a história daquele lugar arqueológico datado do I milénio AC. Desde logo a minha atenção recaiu sobre dois nomes ligados às escavações da Citânia: o Tenente-coronel Afonso do Paço e o Padre Eugénio Jalhay, os grandes impulsionadores da investigação arqueológica, responsáveis pelo retomar das escavações nas campanhas de 1944/45 (e nos anos 50) naquele lugar histórico situado no planalto da freguesia de Sanfins, na Cumieira (ou Cumeeira, de cume), que já tinha sido escavado pelos arqueólogos Francisco Martins Sarmento, José Leite de Vasconcelos e Félix Alves Pereira, em 1895.

Naturalmente interessei-me por saber mais sobre aqueles dois arqueólogos que redescobriram a Citânia e a mostraram ao mundo. O militar nasceu em Viana do Castelo em 1895, fez os seus estudos em Viana, em Braga e na Faculdade de Letras em Lisboa. Em 1917 foi incorporado no Exército e, um ano depois, em plena Primeira Guerra Mundial (que já estava perto do fim [1914-1918] mas ainda ninguém o sabia), tomou parte na célebre e trágica batalha de La Lys, travada a norte da fronteira Franco-Belga (onde se destacou o nosso soldado-herói Milhões [Aníbal Augusto Milhais], natural de Murça) no dia 9 de Abril de 1918, sob o comando do general Gomes da Costa. Com os soldados exaustos e em vésperas de serem rendidos por tropas inglesas, o Exército Português sofreu grande número de baixas, e Afonso do Paço foi aprisionado pelos alemães, tendo sido libertado em Dezembro de 1918. Só muitos anos depois desta libertação é que entra em cena a personalidade que nos interessa para estas crónicas: o padre Eugénio Jalhay.

(Continua)

 (O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) OV

Citânia de Sanfins, Paços de Ferreira. Foto de Henrique Matos. Fonte: Wikipedia.
29 de Abril, 2021 João Monteiro

Feliz 25 de Abril!

Texto publicado no Facebook, no dia 25 de Abril

A data que hoje se comemora é importante para todos os cidadãos democratas, inclusive para os ateus, agnósticos, livres-pensadores e humanistas.

Representa o fim de um regime ditatorial e a passagem para um regime democrático; o fim do lema “Deus, Pátria, Família”; o fim do autoritarismo; o fim de uma polícia política e da tortura de inocentes; o fim de uma guerra colonial que praticamente ninguém queria; o início de uma época de esperança, acrescida de uma vontade de reconstruir a sociedade; a promoção de uma cada vez maior capacitação individual; passou a dar-se prioridade ao investimento na educação, na saúde (com a criação do SNS) e na ciência; a conquista de diversos direitos, incluindo o da livre-expressão, e muito, muito mais. E ainda mais o que falta fazer.

Hoje é dia de celebrar: Viva a Democracia e viva a Liberdade!

21 de Abril, 2021 João Monteiro

Lei da separação do Estado das Igrejas

Assinala-se hoje, dia 20 de Abril, os 110 anos em que foi aprovada, por decreto, a Lei da separação do Estado das Igrejas. Entre os seus princípios destacam-se: a liberdade de consciência; a religião católica deixar de ser a religião do Estado; ninguém poder ser perseguido por motivos de religião; a república não reconhecer, não sustentar, nem subsidiar culto algum; ou ainda a proibição de realização de reuniões políticas nos lugares habitualmente destinados ao culto de qualquer religião.

A lei original estava organizada em torno dos seguintes sete capítulos:

I – Da Liberdade de consciência e de culto;
II – Das corporações e entidades encarregadas do culto;
III – Da fiscalização do culto público;
IV – Da propriedade e encargos dos edifícios;
V – Do destino dos edifícios e bens;
VI – Das pensões aos ministros da religião católicos;
VII – Disposições gerais e transitórias

E a mesma lei pode ser consultada aqui, no site da Associação República e Laicidade.

Apesar destas conquistas sociais, elas não permaneceram no tempo, tendo sido alvo de sucessivas reformas. Como sabemos, a história é feita de avanços e recuos. Hoje, a Igreja Católica tem privilégios (originados pela Concordata e outra legislação); o Estado paga a capelães dos hospitais, das forças armadas e das prisões; e as escolas públicas e universidades promovem comunhões pascais e cerimónias (como temos denunciado). Há pois muito por reivindicar, como temos vindo a fazer junto das entidades competentes, e como continuaremos a fazer.

Afonso Costa assina a Lei da separação do Estado das Igrejas.
Foto do Arquivo Municipal de Lisboa.
23 de Abril, 2016 Carlos Esperança

O Batizado do Menino Dinis

Injustamente ignorado pelas primeiras páginas dos jornais, afastado da abertura dos noticiários televisivos, teve lugar no dia 19 de fevereiro de 2000 o batizado do menino Dinis de Santa Maria Miguel Gabriel Rafael Francisco João de Bragança*.

A princípio julguei tratar-se de uma lista donde os padrinhos escolhessem o nome mais bonito. Só quando percebi que todos os nomes passavam a designar o novo cristão me dei conta da relevância do evento, abrilhantado pelo Senhor Bispo do Porto, numerosos membros do cabido, proeminentes plebeus e piedosas senhoras da melhor sociedade.

Foi com alguma emoção que soube libertado dos riscos do limbo o pequeno Dinis através da água do rio Jordão, embora fosse preferível, por razões bacteriológicas, a dos Serviços Municipalizados do Porto depois de convenientemente benzida.

Escreveu Augusto Abelaira que o homem é o único animal que distingue a água benta da outra, mas nada referiu sobre a diferença da água captada no rio Jordão ou na bacia hidrográfica do Douro.

Certo, certo, é que o menino ficou mais puro, liberto que foi do pecado original que penosamente carregava desde o dia 25 de novembro do ano que findou.

Felicito os patrocinadores e as piedosas pessoas que contribuíram com mais de seis mil contos para tão auspiciosa festa. Apenas temo, por se tratar de uma virtude, que o preço elevado a que ascendeu o primeiro sacramento possa tornar incomportáveis os primeiros vícios.

No entanto, estou certo de que as excelsas senhoras, que ora acompanharam piedosamente o neófito no caminho da virtude, o não abandonarão com a sua solicitude no primeiro pecado.

* Filho do Sr. Duarte Pio, alegado duque de Bragança
Fevereiro de 2000

In Pedras Soltas (2006) – Ortografia atualizada

22 de Fevereiro, 2016 Raul Pereira

Relíquias em catálogo

Um cativante texto de José Carlos Fernandes no “Observador” sobre o mar de relíquias em que se encontra afundada a ICAR desde o seu início:

Relíquias religiosas. Histórias de santos, rosas e caudas de jumento.

Lamento desapontar quem estiver à espera de partes do meu corpo para guardar em cofre de ouro com pedrarias; mas, se tudo correr como espero, pretendo ser cremado e lançado num sítio que ainda não escolhi.

27 de Agosto, 2014 Carlos Esperança

O que o país deve a Paulo Portas

Há dez anos, Portas trocou as galochas de agricultor e o boné das feiras pelas estrelas de almirante e mobilizou a Marinha de Guerra contra o barco Born Diep, da organização Women on Waves, defensora da descriminalização da prática do aborto, que, fortemente municiado de pílulas, se preparava para invadir as águas nacionais.

O arrojo do ministro da Defesa e do Mar venceu a batalha moral sem disparar um tiro e evitou que uma pílula atingisse um só útero. Portugal tornou-se uma potência marítima respeitada antes de adquirir os submarinos topo de gama. Faz hoje 10 anos e esquecer a efeméride é desprezar uma página gloriosa da História e o seu herói de serviço.

Paulo Portas lamentou, na altura certa, que o Governo não se tivesse congratulado com a canonização de Nuno Álvares Pereira. A comunicação social referiu a queixa mas foi indiferente à patriótica proclamação do antigo ministro da Defesa e do Mar e insensível à omissão do Governo.

Que Governo esse, que não acompanhou o ex-ministro que, graças à Senhora de Fátima, conseguiu que a poluição do navio Prestige poupasse as costas do Minho e fustigasse as da Galiza? Que jornalismo podia esquecer o único ministro que se deslocou a Coimbra para assistir à missa pela Irmã Lúcia quando a vidente se finou?

Um país que não exulta com o milagre da cura do olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus, queimado com óleo de fritar peixe, não é digno de um santo com a dimensão de D. Nuno. Uma comunicação social que não exalta o heroico taumaturgo que, depois de exterminar castelhanos nas batalhas dos Atoleiros, Aljubarrota e Valverde, se recolheu a um convento e, após 577 anos de defunção, se estreou no ramo dos milagres, não vale o país que somos.

Paulo Portas, antigo Condestável de Durão Barroso e de Santana Lopes, não esqueceu o antecessor, no heroísmo e na piedade. E tê-lo-á recordado nas paradas militares quando, entre mancebos fardados, deslocava o fato às riscas com o ministro dentro.

Mas que ingratidão é esta que já esqueceu a coragem de Paulo Portas perante a invasão do barco do aborto quando, com risco de vida, fez deslocar para a Figueira da Foz um vaso de guerra para defender a Pátria da invasão iminente… de pílulas do dia seguinte?

Um país que esquece os pios lamentos de Paulo Portas não é digno da D. Guilhermina, não merece a intercessão celeste de D. Nuno nas sequelas do óleo fervente do peixe que fritava, nem a glória do taumaturgo que foi em vida carrasco de castelhanos e, depois de morto, colírio para queimadelas de óleo de fritar.

Vale à Pátria este modesto cronista atento às efemérides, embora, às vezes, se engane na data.