mitologia
Através do globo e através do tempo, os humanos amaram e adoraram milhares de deuses. Mas, se um deus fosse real e todos os restantes falsos, saberíamos. Considera três possíveis benefícios de acreditar em um deus:
1) ORAÇÃO
Os crentes em deuses falsos estariam constantemente reclamando que as suas orações nunca são respondidas, ao passo que os crentes em um deus real estariam exultantes com sua incrível taxa de sucesso.
2) COMUNHÃO
Os crentes de um deus falso lamentariam o fato de nunca sentirem a presença de seu deus, ao passo que os crentes de um deus real falariam com seu deus diariamente e teriam certeza disso.
3) ORIENTAÇÃO
Os crentes em um deus falso pediriam conselhos a deus, mas ainda tomariam muitas decisões ruins, enquanto os crentes de um deus real encontrariam seu deus habilmente orientando-os através dos obstáculos da vida.
Seria óbvio que os deuses eram reais e óbvios que os outros não eram. Mas, aqui está o interessante – não é óbvio. Todas as pessoas religiosas relatam esses benefícios, qualquer que seja o deus que eles adoram. Parece que todos os deuses funcionam igualmente bem!
Nós temos que concluir que, ou há milhares de deuses reais, ou não há nenhum. Mas como os deuses são tão diferentes e contraditórios em muitos aspectos, é impossível que todos os deuses sejam reais. Assim, podemos descartar a opção de que todos os deuses são reais e ficamos com apenas uma opção – nenhum é real.
O fato de que todos os deuses funcionam igualmente bem é uma clara evidência de que todos são igualmente imaginários. Os benefícios relatados de orações respondidas, comunhão e orientação podem ser nada mais do que imaginação com uma grande dose de viés de confirmação.
Existe alguma outra conclusão razoável?
Fonte: Bill Flavell
É inato ao homem o querer saber: a poucos é dado o saber querer; a menos ainda o saber. Para mim não abriu a fortuna excepção. Desde o começo da minha vida que eu, dado à contemplação da natureza, tudo perscrutava sem descanso. A princípio o meu espírito, ávido de saber, contentava-se com qualquer alimento que se lhe oferecia; a breve trecho, porém, se lhe tornou impossível digerir e começou a vomitar tudo o que ingerira. Tratava eu já então de ver com todo o cuidado o que havia de dar-lhe que ele digerisse e assimilasse bem: nada havia que satisfizesse os meus desejos. Passava em revista as afirmações dos passados, sondava o sentir dos vivos: respondiam o mesmo; nada, porém, que me satisfizesse. Algumas sombras de verdade, confesso, me entremostravam alguns; mas não encontrei um só que com sinceridade e duma maneira absoluta dissesse o que das coisas devíamos julgar. Voltei-me então para mim próprio; e pondo tudo em dúvida como se até então nada se tivesse dito, comecei a examinar as próprias coisas: é esse o verdadeiro meio de saber.
Levava as minhas investigações até aos primeiros princípios. Iniciando aí as minhas reflexões, quando mais penso, mais duvido: nada posso compreender bem. Desespero. No entanto persisto. Mais. Consulto os Doutores buscando neles avidamente a verdade. Que respondem? Foi-se cada um deles construindo a ciência com alheias ou próprias fantasias: destas inferiram outras, e destas outras ainda; e assim, nada ponderando bem e afastando-se da realidade, arranjaram um labirinto de palavras sem algum fundamento de verdade. Aí não obterás a compreensão das coisas naturais, mas aprenderás a textura de novas coisas e ficções, de cuja inteligência nenhum espírito é capaz. Efectivamente, quem será capaz de compreender o que não existe?
Francisco Sanches (1550-1623), Quod Nihil Scitur (Que nada se sabe), trad. Basílio de Vasconcelos, Lisboa, Vega, 1991 (1.ª ed. Lyon, Ant. Gryphium, 1581) .
Quando conseguires convencer um grupo de pessoas a acreditarem nas tuas
próprias convicções, por muito absurdas que elas sejam; quando conseguires
moldar esse grupo de pessoas na forja da veracidade soberana e necessária das
tuas próprias ilusões, escudando-as à curiosidade investigativa do espírito
crítico congénito; quando conseguires que essas pessoas interiorizem
maquinalmente a tua visão da realidade a tal ponto que a encarnem compulsivamente
no cárcere que se vão fazendo aos poucos; quando sequestrares o
pensamento individual dos elementos desse grupo de uma forma tão eficaz que os
leve a entoar e a disseminar em uníssono os teus desejos, o teu querer e a tua
verdade mais apaixonadamente que tu próprio; e, sobretudo, quando conseguires
persuadir essa massa de gente informe de que apenas com os olhos fechados e os
sentidos adormecidos poderão ver melhor e sentir mais- terás então concebido não
só a mais perfeita das mentiras, mas também o mais perfeito sistema de controlo
e manipulação do teu semelhante.
Somos. E questionamo-nos o porquê de sermos e o que somos apenas porque somos.
Houve um tempo em que não eramos o que somos e como tal não questionávamos. Mas já havia. O Universo já era muito antes de nós sermos o que somos, muito antes de o sabermos. Como tal, também já eramos. Porque somos parte dele. Somos uma parte do Universo. Só não o sabíamos porque não eramos como somos.
Quando não sabíamos que eramos também o Universo, uma ínfima parte da sua vastidão, inventámos explicações para o que eramos porque nos tornámos acidentalmente como somos e não o compreendemos. E fomos evoluindo. Porque, tendo reconhecido que eramos, sonhámos e inventámos. E porque para inventar tivemos necessidade de questionar. De questionar o Universo e de nos questionarmos. Só não sabíamos que eramos o Universo. Por isso imaginámos outros Universos, extrínsecos ao Universo e a nós, para explicar o que eramos, incapazes de saber o que eramos quando não eramos o que somos e como somos.
Surgimos apenas, por acaso. E julgámos que para surgir tínhamos de ser criados. Porque a ilusão de tudo o que observamos surge de algo. Só não sabíamos que eramos uma parte do Universo a questionar-se sobre si próprio e que não fomos criados, porque já eramos sem o conhecer, apenas não como somos. E agora que o sabemos, porque continuamos a não aceitar o que somos?
Somos insignificantes perante a grandeza do Universo que somos também. A única subtileza do acaso que nos torna especiais é a capacidade que temos para o reconhecer. Nós, o Universo que somos.
Já aqui partilhei uma excelente série de vídeos sobre uma experiência de desconversão. Pela forma séria, sofisticada e apelativa como está construída e pela clareza e pertinência dos argumentos apresentados, sugeri vivamente o seu visionamento completo.
Recentemente descobri que essa série foi legendada em português. Agradecendo a quem fez a tradução, aproveito para divulgar a série de novo neste espaço.
Aqui está um dos melhores vídeos da série, o momento da desconversão, desta feita legendado em português:
PS- Não esquecer de activar as legendas, para quem não tem essa opção por omissão.
Uma excelente série de vídeos no youtube partilha a experiência de desconversão do seu autor. A série de vídeos começa por uma introdução, pela explicação de como era a vida de cristão no início, para então explicar detalhadamente porque é que é tão difícil abandonar a crença em Deus apesar de tantos indícios fortes («evidences», daí o pseudónimo do autor) que apontam para a sua existência. A série não termina com a desconversão do autor: a partir daí continua a seguir diferentes descobertas e elaborações até uma sistematização final e epistemologicamente coerente de como apreender a realidade.
Nota-se um enorme esforço na elaboração dos vídeos, que estão muito bem conseguidos, e conseguem transmitir ideias bem articuladas e razoáveis de forma profunda, mas fácil.
Muito apropriadamente, parece-me que o melhor vídeo da série é precisamente aquele que relata o momento da desconversão. Este vídeo é melhor compreendido se for visto depois de todos os que o precedem na lista, mas também pode ser visto isoladamente, e continua a ser muito bom. Aconselho-o vivamente a crentes e descrentes, e a qualquer pessoa interessada por estes assuntos:
Por serem divagações divertidas, mas também interessantes e profundas, partilho com os leitores estas palavras de Ricardo Araújo Pereira sobre religião, morte e humor:
Não concordo com tudo, mas aconselho sem reservas.
Na sequência deste texto, quero aqui partilhar o vídeo que constitui a continuação daquele que é lá apresentado:
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.