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  • 9 de Abril, 2009
  • Por Carlos Esperança
  • Laicidade

O peregrino D. Aníbal I e a laicidade traída

coche_joao_v1No próximo dia 26, parte para Roma um luzidio séquito chefiado por Sua Sereníssima Majestade D. Aníbal I, acolitado pelo presidente das cortes, D. Jaime Gama, o ministro dos Negócios Exteriores da Propagação da Fé, D. Luís Amado, o Condestável D. Valença Pinto, o cardeal do reino D. José Policarpo, o Superior da CEP e portador do hissope, D. Jorge Ortiga, o Superior da Ordem do Carmo em Portugal, padre Agostinho Marques de Castro, e o estribeiro-mor, Sr. Duarte Pio, especialista em solípedes que se ajoelham – autor, aliás, de um opúsculo de referência sobre a devoção dos cavalos de D. Nuno –, de quem se reclama familiar. De D. Nuno, claro.

O cortejo é composto por devotos que exaltam D. Nuno e exultaram quando ele, na paz da longa defunção, acudiu ao olho esquerdo de D. Guilhermina, atingido por salpicos ferventes de óleo de fritar peixe. Era o prodígio que faltava para a canonização de quem foi mais destro a matar castelhanos do que a pôr pensos. Após o milagre, por prudência e pela idade, D. Guilhermina trocou os fritos pelos cozidos.

A embaixada é inferior à que D. João V enviou a Clemente XI mas D. Aníbal I não é esbanjador nem procura de Bento XVI o título de «Senhor Fidelíssimo», ainda que o mereça no que se refere à fé e à constância matrimonial.

O reino anda aturdido com a honra da canonização do taumaturgo com provas dadas na especialidade de oftalmologia. É pena continuar morto, mas sendo uma ofensa para a razão é um orgulho para a fé que continue a pelejar, agora no ramo dos milagres.

Falta D. Guilhermina na peregrinação, para contar aos fidalgos como, perante a dor da queimadura, não se lembrou de Gil Vicente com palavras que, não sendo adequadas à salvação da alma, aliviam a dor, e se lembrou de evocar o bem-aventurado Condestável que o clero autóctone ansiava canonizar desde os tempos da Cruzada Nun’ Álvares.

Os ilustres peregrinos não vão a Roma bajular o Papa, vão agradecer a deus a cura do olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus.

Quando a luzidia embaixada regressar à Pátria, com os joelhos doridos das genuflexões, a pituitária irritada do incenso e os corpos enegrecidos pelo fumo das velas, espera-se que o país rasteje de júbilo por mais uma farsa pífia e tantas genuflexões pias.

8 thoughts on “O peregrino D. Aníbal I e a laicidade traída”
  • Elmano

    Neste país do faz de conta, deve ser rapidamente canonizada a PORRA.
    Em situações semelhantes à que aconteceu à Dª Guilhermina, é este grito que largo e que tão bons resultados tem dado.
    Por vezes os milagres são um pouco demorados e dolorosos, mas enfim, ainda não chegámos à era dos milagres instantâneos!
    Obrigado CE pela “crónica”. Farpa certeira e oportuna.

  • MF1

    Ao que este país chegou…
    Eu quero ir para a ilha!!

  • AlbaR

    Houve tempos em que esta gente tinha nomes adequados à subserviência que praticam .Existiu um beato “manholas” neste pais durante muitos anos dormiu e comeu com o clero , isto è fruto ainda desses “tempos”.

  • jv

    É a continuação do ridículo.
    Não percebo como a banalização de actos como estes possam ser benéficos para a igreja, num tempo em que as pessoas se estão a tornar mais críticas e se questionam cada vez mais.
    É uma fuga desesperada para a fente…

  • JoaoMeloDeSousa

    A minha grande dúvida é se o azeite culpado da queimadura era azeite Condestável.

    Boa Páscoa, para todos, e cuidado com as goludices que tão mal fazem à linha…

    Ahhh!

    Alguem sabe de algum santo especialista em problemas com as finanças ?
    Antecipadamente agradeço

  • Amadeu Moura

    Historia de um outro português que também foi a Roma…

    Um português abriu uma filial de sua empresa de pregos em Roma.
    >
    > Como propaganda, fez um outdoor com a figura de Cristo pregado à Cruz
    > e embaixo estava escrito:
    >
    > 'PREGOS GARCIA – 2000 ANOS DE GARANTIA'
    >
    > Foi aquele reboliço, o Bispo de Roma foi pessoalmente conversar com o
    > português, explicar que não poderia fazer isso. Então o português
    > resolveu fazer um novo outdoor.
    >
    > Colocou Cristo com uma das mãos pregadas na Cruz e a outra solta, dando tchau.
    >
    > Embaixo estava escrito:
    >
    > 'ADIVINHE EM QUAL MÃO FOI USADO O PREGO GARCIA?'
    >
    > Meu Deus do Céu!!! Até o papa foi conversar com o português.
    >
    > – Assim não dá! Não pode usar Jesus Cristo como garoto propaganda.
    >
    > Invente outra coisa.
    >
    > – Então vou fazer outro outdoor, falou o português.
    >
    > Colocou a foto DA Cruz vazia e embaixo estava escrito:
    >
    > 'SE O PREGO FOSSE GARCIA O CARA NÃO FUGIA!

  • 1atento

    Temos um presidente que deve ser um cavaco da cruz do cristo, uma relíquia!

  • 1atento

    Temos um presidente que deve ser um cavaco da cruz do cristo, uma relíquia!

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