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  • 28 de Setembro, 2013
  • Por David Ferreira
  • Ateísmo

A César o que é de César

Não sei o que mais me aborrece no abominável César das Neves. Se aquele ar insosso de cordeiro manso desmamado a hóstia e água benta, se o seu discurso bolorento impresso em pergaminhos que o progresso civilizacional se encarregou de apodrecer. Ambos me provocam uma náusea profunda e, a julgar pela avalanche de insultos com que as suas crónicas são mimadas, sou apenas um de muitos.

Em longa entrevista ao Jornal de Notícias de hoje, a personagem revela toda a sua ideologia reaccionária, que impressiona não tanto pela incapacidade de análise objetiva e lúcida sobre as realidades sociais, mas sobretudo pelos motivos que levam a que seja dado tanto relevo a esta caricatura antropóide nos meios de comunicação social.

Abstenho-me de comentar as suas análises académicas acerca de economia, as quais, não tendo formação ou conhecimentos que considere consistentes nesta área, e sendo mantido, como a maioria dos cidadãos, num permanente limbo inconclusivo pelo excesso de propaganda política e opinião ideológica facciosa que deliberadamente minam o juízo e confundem o espírito crítico, deixo à consideração de quem domina a matéria.

É em todo o esplendor que o pusilânime vaticinador se solta por momentos da cruz, oxigena as chagas e dá folga ao cilício, para se apresentar à nação como o profeta do retrocesso civilizacional, redimindo-se, como sói, em nome da salvação a que tanto aspira. Critica o que ele designa de certas elites que se manifestam nas ruas única exclusivamente por interesses partidários e institucionais, onde se incluem professores, funcionários públicos e, pasme-se, até médicos, esquecendo-se que faz parte de uma obscura elite fidalga que perdeu significância após abril e que tem vindo, aos poucos, a conquistar terreno, em estreito conluio com uma determinada hierarquia católica, alcançando um peso enorme durante a década de noventa do século passado e cuja ideologia é hoje em dia transversal a todas as mais importantes instituições nacionais, com tiques tirânicos mas sempre abençoados, das forças de segurança às faculdades, dos tribunais à comunicação social.

Revela ao mundo que nestas hipócritas manifestações de indignação social não estão presentes os verdadeiros pobres (e como gostam os senhores, ele e o seu dono, dos pobres!), seja qual for o critério que o Espírito Santo que lhe anima a caixa craniana utiliza para definir a pobreza, mas apenas os que ficaram com a barriga um pouco menos cheia, esses que, imbuídos do intrínseco espírito parolo nacional, aceitaram compulsivamente, salivando, a galinha mais gorda que a da vizinha, que lhes ofereceram com um verdadeiro e honesto sorriso capitalista.

Um bom reaccionário, saudosista do sal e do azar e da vergastada no lombo com verga de cerejeira, não dispensa a caridade com que alivia o peso da consciência, por isso gosta tanto de pobrezinhos, mas dos que não se manifestam nem se revoltam, por tal ser pecado aos olhos de quem faz criação de carneiros obedientes, alimentados a esperança e a “Sim, senhor! Ai, senhor!”. Por isso propõe, inteligentemente, mais um resgate, que é como quem diz, mais uma fornada de pobres para alimentar as pias almas caritativo dependentes, assim como as filas de bocas cariadas que se acotovelam, à míngua de sopa, em frente às igrejas, a ver a cruz ao fundo da fila.

Já em final de entrevista, a ressacar as dores da crucificação, prega-se de novo à cruz e sangra as chagas, preparando-se para traduzir a mensagem da pomba que, entretanto, lhe voltara a pousar no leigo frontispício por escanhoar.

Interrogado sobre as observações do novo Papa relativamente ao aborto e à homossexualidade, opina, como bom apologista cristão, que tem que se saber interpretar bem o sentido das coisas e que este Papa vem de paragens diferentes, de uma cultura diferente. Vê-se, e sabemo-lo, que não partilha da mesma opinião, mas um bom carneiro nunca critica o pastor. Então divaga. Aceita a descarga teológica, mas não engole. Cospe e deita fora, ficando apenas o sabor a incenso e mirra a escorrer-lhe dos beiços.

Continua para bingo e doutrina que matar uma criança no seio da mãe não é uma coisa que possa ser boa em qualquer circunstância. Como se as próprias mães não o soubessem ou o não sentissem. Como se as mulheres abortassem alegremente e por prazer. Como se o ato medicamente assistido fosse pior que o alguidar de uma qualquer vidente ou bruxa em part time de parteira. Remata forte, em jeito de remissão dos dislates, e marca golo na própria baliza: “Que essa desgraçada, depois de ter feito isto, tenha de ser acolhida e acarinhada, com toda a certeza.” Essa desgraçada!… Diz essa, a distanciar-se, logo a julgando como desgraçada, a substituir-se ao Mestre. Sabemos hoje que o excesso de benzeduras conduz à artrose cerebral…

Para finalizar, diz que a homossexualidade é um desvio sexual que está a tentar fingir que não é… E que fosse? Que tem esta gente contra quem nasce diferente? Ou contra quem escolhe ser diferente? Não são estas pessoas dignas do amor do seu Senhor que dizem ser o amor em estado puro, seja lá o que isso for? Ou do respeito dos seus concidadãos e semelhantes? Que medo reprimido afeta assim tanto esta gente ultraconservadora? E porque não os vejo serem tão diligentes na crítica aos pederastas que abundam na instituição que tanto defendem cegamente? Não considerarão eles a pederastia um desvio sexual? Ou será que somente dentro de uma sotaina se pode aceitar a lascívia, porque santificada?

Dizem que disseram, que disseram, que alguém disse, que Jesus disse: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Demos, pois, nós também, a César o que lhe pertence – um profundo e gigantesco desprezo.

11 thoughts on “A César o que é de César”
  • orenascido

    A MOURA O QUE É DE MOURA…

    Quando o João Pedro Moura, aqui:

    1- Mostrou a sua veia misógina,
    2- Evidenciou a sua reaccionária homofobia
    3- Propôs o genocídio de homens, mulheres e crianças muçulmanas

    Por que é que o David Ferreira silenciou qualquer crítica ?

    Para o David Ferreira, as questões éticas só lhe interessam quando tem algum teísta César para censurar ? Os Mouras já estão imunes a qualquer típo de resposta inddignada pelo mero facto de serem ateus ?

    É este o ateísmo panfletário em Portugal ? Um local de ateísta hipocrisia e de censuras éticas bem medidas ? Quem é que o Ferreira quer convencer com tanta conversa fiada ? Os acéfalos correligionários ateus ?

    • David Ferreira

      Como era óbvio, já tardava mais do mesmo.
      Acho que você deve perguntar primeiro ao JPM se, de facto, é essa a sua linha de pensamento, se não se fez compreender bem ou se foi você que interpretou mal as coisas, como é seu costume.
      Há uma enorme diferença entre criticar o JPM pelas suas posições ideológicas ou JCN. Um é um cidadão anónimo, tal como eu, sem relevância ou peso social, que utiliza este diário para desabafar o que lhe vai na mente. Outro é um indivíduo que é uma figura pública, que ocupa funções que lhe dão um alcance significativo, para além de ter atrás de si uma poderosa instituição que lhe financia o proselitismo.
      Como sabe, todas as opiniões aqui manifestas são da responsabilidade dos seus autores e, como tal, cada um tem que se preocupar, ou não, com aquilo que escreve. Por outro lado, não vou aqui servir de cobaia para que você arquive os meus comentários para mais tarde lançar a confusão entre comentadores fazendo uso do seu predileto copy paste, como já o fez no passado. Se você até fosse um “Homem Honesto”….
      Não conheço o JPM, mas gosto do que ele escreve relacionado com o assunto que este blog aborda. Se isso o aflige assim tanto, e pelo que tenho escrito aqui, poderá facilmente concluir que não me revejo nas tomadas de posição ideológicas que menciona. Já aqui vi manifestadas, de igual modo, posições políticas que eu também poderia ter criticado, mas não o fiz porque respeito quem as tenha e o assunto que me interessa aqui é o ateísmo e a religiosidade.
      Por isso, é como lhe digo, não se apresse a fazer juízos, até porque você não sabe o que se passa para lá da cortina. Você vive atormentado com o ateísmo. Mas ser ateu é algo independente de ideologias políticas ou de filosofias de vida. Aqui não há carneiros que se seguem uns aos outros. Cada um responde por si e acarta com as responsabilidades do que diz.

      • orenascido

        1-” Acho que você deve perguntar primeiro ao JPM se, de facto, é essa a sua linha de pensamento, se não se fez compreender bem ou se foi você que interpretou mal as coisas, como é seu costume.”

        David Ferreira

        Eu já estava à espera da sua resposta pusilânime. Mas vamos aos factos. Estes, suponho, não irão depender de qualquer interpretação simbólica ou metafórica:

        “Sim, defendo o EXTERMÍNIO da gentalha muçulmana,
        mormente da sua hedionda escumalha, o maior perigo mundial. De Lisboa a Paris, de San Francisco a Moscovo, de
        Porto Santo a Papeete, qualquer aeroporto internacional ou de voo doméstico está submetido a vigilância drástica e restritiva, tudo causado pela hedionda escumalha islâmica, QUE SÃO HOMENS, MULHERES E CRIANÇAS, futuras escumalhas duma gentalha geneticamente incapaz de progresso normal e respeitabilidade cívica e que conseguiram pôr todo o mundo em alerta e restrição circulatória.”

        João Pedro Moura

        Jesus Cristo o Exterminador Implacável DduA 6/9/2013

        “A hedionda ESCUMALHA ISLÂMICA é para ser combatida e
        exterminada mesmo, se for necessária…

        HOMENS, MULHERES E CRIANÇAS… porque tudo isso é islamismo boçal, já feito ou em crescimento, patriarcais, sexistas, misóginos, reacionários, totalitários, liberticidas, capazes das maiores repugnâncias políticas, sociais e
        pessoais…”

        João Pedro Moura

        “A política, a religião e o totalitarismo”

        DduA 25/8/2013

        2 – “A psicologia da pessoa homossexual, denotando um
        CARÁCTER MAIS DELICADO E BARALHADO DE ATRIBUTOS…”

        João Pedro Moura

        “Bardamerda Sr. Deputado”, DduA ,25/2/201

        3 – “Acrescidamente, em matéria política, desportiva, direção de empresa, força determinativa, génio inventivo e criativo, AS MULHERES SÃO SUBSTANCIALMETE INFERIORES AOS HOMENS e nunca se lhes equipararão.”

        João Pedro Moura,

        ” Bardamerda Sr. Deputado”, DduA, 25/2/2012

        4- Os factos anteriormente descritos demonstram à saciedade o carácter profundamente genocida, homofóbico e misógino dos respectivos comentários.

        Mas, como o seu autor é ateu, o David Ferreira, quanto a tais repulsivos comentários, do João Pedro Moura, silencia qualquer tomada de posição, ou porque concorda com eles, ou porque discorda, mas covardemente demite-se de qualquer curial censura ética.

        Pelo exposto, se pode avaliar a verdadeira estrutura de carácter destes indivíduos…

        • Zeus

          Tu és burro ou fazes-te de burro. Nem mesmo quando as pessoas te explicam as coisas tu queres perceber. És surdo, é o que é. Só ouves aquilo que te interessa. Deves fazer parte do gang do abominável. também usas cilício?

          • orenascido

            Zeusinho, nem por uma vez consegues tecer uma linha de fundamentada argumentação. No teu caso, a deficiência é genética ou meramente cultural ?

          • Zeus

            E os teus padres, ensinaram-te a argumentar? Ensinaram-te a criticar tudo o que a tua crença tem de criticável? Não me parece. E quem és tu para falar de insultos, tu que és o que mais tenho visto por aqui a insultar tudo e todos? E achas que as tuas linhas de pensamento são estruturadas? Nem são linhas nem são estruturadas. São desculpas e sofismos atrás de sofismos.
            Podias ter renascido com um pouco mais de esperteza, mas não tinhas que ressuscitar com falta de juízo.
            Vê lá se encontras o sentido do universo que eu estou à espera, vá, anda lá.

          • orenascido

            No fundo, tu és um atormentado existencial desde os tempos em que foste sacristão. Cá por mim, acho que teres feito o papel de serviçal te transformou num revoltado.

            E, sim, já encontrei o sentido do universo, mas é um segredo muito bem guardado. Quando o revelar, será só para pessoas muito inteligentes e não é propriamente o teu caso.

  • kavkaz

    Caro David Ferreira,

    Não li a entrevista no jornal, mas li um pequeno (penso eu) excerto do que ele afirmou no site do “Diário de Notícias”, na secção de Economia:

    http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=3446233&seccao=Dinheiro%20Vivo

    Sobre a religião já sabemos e estou de acordo que ele fantasia imenso, o que é também apanágio e escola da ICAR. No campo da Economia há muitas ideias dele que me parecem correctas, apesar de serem difíceis de compreensão e aceitação para quem está fora desta área. Ele também utiliza neste campo, geralmente, um estilo divertido e chocante, o que confunde as pessoas que esperam um explicação “politicamente correcta” e embelezadora da realidade.

    Se não entender bem o sentido do que eu escrevi poderemos dialogar sobre as afirmações de JCN que li no site de economia indicado ou agora ou mais tarde. Acho que poderei contribuir para uma extensão da compreensão do que ele afirmou e que me pareceu ser correcto em traços gerais.

    • David Ferreira

      Caro Kavkaz a entrevista que foi publicada no JN pode ser lida na sua íntegra aqui:

      http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO280204.html?page=0

      Pessoalmente não me interessa discutir economia porque é um assunto demasiado complexo e para o qual teria que ter uma base de conhecimentos mais aprofundada, o que não é o caso, podendo incorrer no risco de estar a dizer asneira. Por outro lado, tanto em economia, como em política, as opiniões divergem e as abordagens poderão ser tantas que facilmente nos podemos perder do que realmente interessa. Eu analiso as coisas com base nos resultados e nos efeitos que provocam, pelo que apenas posso fazer uma análise generalista.

      Obviamente que a pessoa em questão, sendo professor de economia, e tendo já sido ministro das finanças, saberá do que está a falar. No entanto, muita do seu discurso vem carregado de prosápia ideológica que está completamente desfasado da realidade que se vive e sente no mundo real. Veja-se este comentário, por exemplo:

      “Não se veem manifestações de pobres e desempregados em Portugal, não se veem manifestações de emigrantes. Os verdadeiros oprimidos, os verdadeiros proletários, desses, ninguém fala. Infelizmente, em Portugal, não temos nenhum partido a defender os pobres.”
      Quem afirma uma coisa destas só pode viver noutro planeta, ou num mundo metafísico, o que é o caso.
      Poderá o senhor ter razão em algumas das críticas a vários pequenos poderes que se foram cimentando aos poucos e que são estado-dependentes. Todos os conhecemos, convivemos com eles todos os dias. E, de facto, têm que ser combatidos e metidos na linha. Mas quando nos referimos a esses pequenos poderes, não nos podemos esquecer que são constituídos por uma pequena, essa sim elite, de indivíduos que se encontram em posições de poder e que não abdicam das suas regalias de modo algum, sempre com prejuízo para o resto da massa. Contudo, é sempre tão engraçado ouvir estes tipos criticarem esses poderes mas quando estiveram em posição privilegiada para os combater nada terem feito. Eu sei bem do que falo e poderia dar-lhe exemplos na minha área profissional, que não é aqui chamada para o caso, mas onde quem se encontra no topo assume uma posição servil e moralmente cobarde, cegos por um carreirismo quase infantil, acumulando regalias das quais nunca abdicam, prejudicando constantemente quem chefiam ao ponto de alguns já meterem do seu próprio bolso dinheiro para o bom funcionamento da instituição. Nunca criticam, assumem uma posição deplorável de lambe-botice e só quando saem é que se manifestam, para espanto e nojo de quem por eles foi chefiado.
      Aos poucos, tudo o que se conquistou e conseguiu após a entrada para a união europeia se vai perdendo. E quem sabe e conhece os responsáveis por todo este desbaste ao país anda por aí a debitar conselhos e a criticar quem no fundo é mais penalizado sem ter a coragem moral de chamar os verdadeiros bois pelos seus nomes.

  • Molochbaal

    “Abstenho-me de comentar as suas análises académicas acerca de economia, .”
    É uma pena.
    Pois o senhor Neves é um dos maiores expoentes do neoliberalismo que nos está a enterrar a todos.
    Não é preciso ser um génio da economia para perceber, por exemplo, que as contas de outro neoliberalzinho de merda, o ministro Gaspar, davam sempre erradas, ou que os conselhos de outro neoliberalzinho, o até que enfim falecido Borges, de cortar os ordenados, nos iam tramar a todos.
    As pessoas abstém-se de comentar, porque eles são umas vacas sagradas, mas toda a gente pode ver que não acertam uma e que todos os seus “preciosos” conselhos, vão no sentido de medidas que lixam os pobres e beneficiam os ricos.
    Esses animais são o máximo expoente do conservadorismo social, que querem preservar através da manutenção do controlo da economia nas mãos dos privilegiados.
    As “poupanças” deles são SEMPRE em cortes em ordenados da classe média ou baixa e em programas sociais, NUNCA em por os grandes interesses económicos a pagar a crise que provocaram.
    E ainda há gente que respeita merdosos destes.
    Parecem aqueles camponeses esfomeados do Séc. XVIII, que tinham um respeito quase religioso pelos latifundiários que os exploravam até á morte.

    • David Ferreira

      Molochbaal, eu acho que deixei bem explicito o porque de não comentar as observações do economista nesta entrevista em particular. Sobretudo nos pormenores mais técnicos.
      Eu sei que não é preciso ser nenhum génio porque sinto na pele o resultado destas politicas. E sei o que vejo nas ruas, nas famílias e muito do que não se vê porque as pessoas o escondem, envergonhadamente. Todos sabemos ou conhecemos os grupos que dominam e controlam isto tudo, para os quais a crise passa sempre ao lado. O que não impede que algumas observações que ele faz não possam até estar corretas. Eu poderia dar-te milhentos exemplos de “arraia miúda” que sempre que pode mamou o que podia da vaca sagrada do estado como se fosse a coisa mais normal do mundo. Conheço muito agricultor e pequeno empresário que conscientemente roubaram ao estado tudo o que puderam sem nunca lhes ter pesado a consciência e que hoje se manifestam nas ruas, esquecendo tudo o que contribuíram para o desfalque dos cofres. Enfim. Temos o povo com muita falta de noção cívica, já para não falar em outros aspetos. Obviamente que o que mais me custa nisto tudo, é a insistência num discurso que parece culpar uma certa classe média pelo facto de estarmos como estamos quando sabemos que os que deveriam ser responsabilizados pelos erros graves de governação que nos trouxeram até aqui, sacodem a caspa do capote como se não fosse nada com eles. Todos esses indivíduos que se alimentam e sugam o estado se encontram nos dois maiores partidos do país. Mas outros também serão responsáveis por não fazerem mais do que poderiam e por aceitarem de bom grado certas regalias que são obscenas à luz dos sacrifícios que se pedem às pessoas, como é o caso das subvenções vitalícias e do tempo de trabalho necessário para passagem à reforma dos deputados e afins. Porque isso, da esquerda à direita, não vejo nenhum contestar.

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