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  • 26 de Setembro, 2013
  • Por David Ferreira
  • Ateísmo

Deus num tubo de ensaio

Deparo-me amiúde com a afirmação falaciosa de que os sentimentos não são susceptíveis de demonstração ou de aferição, tal como Deus. Não creio que a afirmação seja deliberadamente falaciosa com o intuito de justificar um conceito improcedente, mas apenas o resultado de uma análise superficial e dedutiva, um mero erro de perspectiva.

De facto sabemos hoje que os sentimentos são o produto das reacções químicas que ocorrem no sistema límbico, região do cérebro responsável pelas emoções e pelos comportamentos sociais, e que não são exclusivos à nossa espécie. Sabemos, de igual modo, que toda esta maravilhosa obra da engenharia do acaso não é, nem nunca foi, uma construção definitiva, mas sim a consequência de um longo processo de evolução biológica que nos foi apurando até ao estado em que nos encontramos. Toda a intrincada panóplia de componentes químicos que compõem o nosso sistema nervoso não é mais que um complexo mecanismo organizado de modo a permitir-nos a ilusão de um formato de realidade ao qual nos adaptámos e nunca o contrário, evoluindo para sobreviver. O que nos permite concluir, com toda a certeza, que o conceito de Deus apenas surgiu com o advento do aparecimento dos seres que agora designamos como espécie humana, tendo essa conceção sofrido, de igual modo, um processo evolutivo intrinsecamente relacionado com a evolução sociocultural da humanidade desde o seu estado mais primitivo, iniciado em África há aproximadamente 200 mil anos.

Habitamos um insignificante planeta que se formou há 4,54 biliões de anos perdido num Universo que surgiu há mais de uma dezena de biliões de anos. Existimos num Universo inefavelmente gigantesco, quiçá apenas um de uma infinidade de outros universos paralelos. Não obstante estas medidas astronómicas de tempo e espaço, somos menos que um grão de areia nesta imensidão de matéria e energia e um evento demasiado recente para que possamos concluir de ânimo leve que fomos criados por uma entidade infinitamente grandiosa e absoluta com algum hipotético objetivo. Quem aceitar o conceito de um criador omnipotente, e se for intelectualmente honesto e saudavelmente lúcido (excluo, à partida, todos os criacionistas), não pode fugir ao quesito pertinente que surge, inevitavelmente, após uma simples reflexão: que andou essa inexprimível entidade a fazer durante tanto tempo? Ou, para ser mais categórico, porque demorou essa entidade tanto tempo para se decidir a criar vida, ou seja, matéria consciente de si própria, e com que propósito? Obviamente não existem respostas válidas, teológicas ou filosóficas (a distinção é propositada), que satisfaçam a pertinência destas questões. E eu também não tenho respostas para propor. Só que o motivo por que não tenho respostas para elas é o mesmo que me faz ser ateu e não agnóstico. Pura e simplesmente não coloco essas perguntas. Não porque não tenham valor intelectual, mas por não serem conformes à própria realidade, uma vez que partem de conjeturas que considero surreais e não de premissas conformes à natureza dessa realidade que conseguimos apreender, seja pela razão, pela observação ou pela possibilidade de experimentação. Se divagássemos constantemente por todas as possibilidades que conseguimos imaginar de modo a responder a todos os porquês que pretendemos alcançar, desperdiçaríamos uma vida inteira sem esgotar uma ínfima parte dessas possibilidades e sem obter resultados satisfatórios.

Dirão os crentes numa realidade metafísica, imaterial, que sou eu que estou errado, que sou eu que cometo um elementar erro de análise. Mas a pergunta que lhes coloco é com que autoridade, base ou princípio me podem eles apresentar uma justificação que eu possa aceitar como credível para a existência desse mundo paralelo e inexplicável que eu afirmo apenas existir na sua imaginação? Seja qual for a resposta, ela residirá nesse incompreendido órgão que é responsável pela consciência que designamos por espírito ou alma, o nosso cérebro evoluído. É nele que todos os deuses se inventam, sempre por necessidade e sempre como solução para as questões que não sabemos responder, sobretudo porque as colocamos de uma forma errada. É nesse órgão, que existe por si próprio, que se manifestam todas as emoções e sentimentos de que necessitamos para sobreviver como espécie social, interagindo produtiva e eficazmente. E no entanto…

No entanto o conhecimento que colecionámos ao longo da nossa curta existência já nos permite responder a muitas das questões que assolam as nossas mentes constantemente em busca de se compreender, quase sempre com resultados desastrosos ou enganadores. O que me leva a não perceber o porquê de continuarmos a colocar tais interrogações, sobretudo quando muitas delas já o deixaram de ser.

Enchamos um tubo de ensaio com uma dose excessiva de dopamina e teremos um cálice de esquizofrenia; retiremos uma grande quantidade dessa dopamina e tomaremos um shot de ansiedade; enchamo-lo de novo com uma boa dose de serotonina e brindemos, inebriados de felicidade; com pouca quantidade de serotonina e dopamina sofreremos uma ressaca de depressão; façamos então um explosivo cocktail com grandes quantidades de serotonina, dopamina e oxitocina e embebedemo-nos de amor; soframos um acidente que danifique alguma área desse magnífico órgão e não seremos mais os mesmos, mudaremos existencialmente; nasçamos com algum defeito congénito cerebral e a realidade terá outro sentido; soframos agressividade externa e extrema na infância e todo o potencial que teríamos como adultos se distorcerá; tomemos qualquer tipo de droga química que não a produzida naturalmente pelo corpo e a realidade apresentar-se-á completamente distinta à nossa percepção, enquanto se mantem, no mesmo período espácio-temporal, igual ao que sempre foi para quem não a tomou; encerremo-nos numa gruta de um qualquer deserto, em pura meditação, abstendo-nos de qualquer estímulo sensorial ou da satisfação de necessidades básicas, e veremos deuses, anjos imateriais que necessitam de asas para voar no mundo material, demónios hediondos a espicaçar pecadores que se contorcem num fogo eterno, exibindo expressões de dor só possíveis na física da carne – um mundo material a materializar-se num mundo metafísico porque a entidade responsável por o elaborar evoluiu nesse sentido.

Sobre Deus nada se sabe pois nunca se apresentou à humanidade, apesar de insistentemente ouvirmos quem afirme saber o que ele pretende. E esqueçamos todas as visões transcendentais, as experiências místicas, os milagres que curam doenças curáveis ou rearranjam desordens mentais. Todos não passam de grandes embustes, de erros de interpretação, de alucinações, de acidentes químicos. Já quanto aos sentimentos, não só sabemos como e onde se originam, como sabemos o porquê de existirem. E podem perfeitamente demonstrar-se ou aferir-se. Uma vez que eles existem como reguladores de interacção social, podemos observar o resultado que as acções que eles produzem provocam nos outros, assim como podemos senti-los e geri-los a nosso bel-prazer, da forma que nos for mais conveniente. Quando não o conseguimos fazer, isso significa que ainda não atingimos a maturidade ou que algo interferiu com o normal funcionamento da máquina biológica, transtornando a experiência existencial. É nessa altura que quem se sente incompleto ou deslocado procura ajuda ou salvação, porque não compreende ou não se compreende.

Podemos não ter todas as respostas, mas as que temos são suficientes para solucionar muitos dos problemas que apenas existem porque insistimos em colocar questões que há muito estão respondidas, tendo por isso deixado de o ser. E é uma pena que nem toda a gente tenha acesso a elas ou que não as saiba compreender e, muitas vezes, aceitar.

Quer queiramos quer não, não passamos do resultado da interação de complexos processos químicos que ocorrem dentro do tubo de ensaio craniano e que nos dão a noção de ser. Deus, como qualquer sentimento, sonho, ilusão ou suposição, apenas se manifesta nesse espaço restrito e confinado. Mas se o sentimento tem um resultado prático, já Deus é apenas uma questão que se vai sumindo aos poucos à medida que a respondemos, tornando-se desnecessária tanto para explicar como para compreender.

24 thoughts on “Deus num tubo de ensaio”
  • João Pedro Moura

    Magistral, David Ferreira!!!
    Parabens!

  • orenascido

    Muita letra, muita letra, mas fundamentar como é que humanamente sabemos, para além do que resulta de meros processos de crença, se os sentimentos alheios correspondem à declaração das suas genuínas intenções dos seus autores é que ficou ao articulista por explicar.

    Porém, não desanimemos. Qualquer dia o David Ferreira junta-se ao Ludwig Krippahl, para esclarecerem esta aristotélica questão, e decidem serrar a cabeça de qualquer humano para tentarem resolver experimentalmente essa dúvida metódica.

    • David Ferreira

      Apesar de o meu texto se ter inspirado num comentário que utiliza muitas vezes, não pretendo interferir no debate silencioso que mantém com o Ludwig.

      1.” Eu retorqui, tentando mostrar que existem várias crenças, a que os seres humanos, genericamente recorrem, independentemente de acreditarem ou não em Deus, e que também não são empiricamente testáveis.”

      De facto é verdade. São essas crenças que descreve que nos dão consistência existencial. São elas que nos dão confiança, ou esperança, uma palavra muito utilizada na religião. Contudo, apesar de essas crenças não serem empiricamente testáveis, as suas causas e os seus efeitos são-no e de uma forma bastante simples. Algo que eu tentei explicar, mas que pelos vistos não compreendeu. Mas são crenças baseadas em algo que sabemos que acontece porque se manifesta e se repete.

      2. “…ninguém pode, em bom rigor, saber o que se passa no íntimo de cada um…”
      Há muitas formas de saber se não tudo pelo menos uma parte do que se passa no íntimo de cada um. Não só podemos manipular a pessoa para o saber, como podemos observar os sintomas ou sinais por intermédio das expressões que identificam sentimentos específicos. Penso que já ouviu falar das técnicas que nos permitem saber, por exemplo, se alguém está a mentir. Ou penso que já observou as expressões reveladoras de tristeza que se manifestam nas lágrimas, ou nas expressões que revelam dor. De facto você não está a ver o sentimento em si, porque não existe fisicamente, mas consegue observar o seu efeito. O sentimento é apenas a palavra que encontrámos para designar os processos químicos responsáveis por provocar ações e reações. E só o consegue observar porque foi condicionado para o identificar pela observação, pela aprendizagem e pela genética. E porque também sente algo semelhante. Sabendo que essas manifestações externas de sentimentos se revelam na quase totalidade dos humanos, pode facilmente depreender que eles existem e são comuns, intrínsecos ao ser.
      De facto você não pode dizer com absoluta certeza que alguém o ama verdadeiramente. Mas interpretando corretamente os sinais e as manifestações comportamentais da outra pessoa, você pode concluir que isso acontece. Porque confia. Porque evoluiu de modo a conseguir interpretar os comportamentos e as expressões dos outros. Não só porque crê, mas sobretudo porque confia na interpretação que faz e no que lhe é transmitido. A confiança, mais que a crença, é essencial para a nossa existência social, tal como a mentira. Você também não pode provar um sonho, mas sabe que eles existem, porque também os tem.
      Acho que você está apenas a confundir conceitos. Seja como for, a noção de Deus não é essencial para a nossa sobrevivência. Se fosse, eu não estaria aqui a comentar.

      • orenascido

        “De facto você não pode dizer com absoluta certeza que alguém o ama verdadeiramente.”

        David Ferreira

        Nem eu nem você,nem o Ludwig,é isso mesmo. Plenamente de acordo. Podemos simplesmente acreditar que alguém nos ama ou é nosso amigo. E podemos acertar ou errar relativamente a esse tipo de crenças. Não podemos é colocar pensamentos e sentimentos em tubos de ensaio, para qualquer tipo de validação empírica. É isso mesmo David, seja bem-vindo ao mundo dos crentes.

        • David Ferreira

          A questão é que nós não colocamos pensamentos ou sentimentos em tubos de ensaio. Eles já lá estão e não foram criados. Evoluiram.
          Por outro lado, tente ver as coisas por outro prisma. Quando você diz que não se podem colocar pensamentos ou sentimentos num tubo de ensaio, estará a ter razão no que afirma?
          Se considerarmos que o nosso cérebro é esse “tubo de ensaio”, passe a figura de estilo, é perfeitamente possível colocar lá tanto pensamentos como sentimentos, manipulando-o ou condicionando-o. Uma criança que desde tenra idade é doutrinada, por exemplo, no islamismo, a decorar e a assimilar o corão, não será um bom exemplo de como é perfeitamente possível “construir” uma personalidade? As pessoas com pouca formação e conhecimentos não estarão elas mais suscetíveis à superstição, sendo facilmente moldáveis?
          A questão aqui é que você está a colocar o termo “crença” num pedestal demasiado esotérico e não apenas no sentido filosófico com efeitos práticos. Seja como for, e falo por mim, essa “crença” que você me atribui é baseada em algo que sei que existe e que se manifesta. Exatamente o que não sucede com a crença numa entidade superior, subjetiva e ausente.

          • orenascido

            Muita letra, muita letra, mas o seu comentário em nada responde à questão que eu coloquei.

            Vejamos:

            1 – O Ludwig afirmou que não podem ser produzidas afirmações de verdade sobre proposições que não sejam empiricamente demonstráveis.

            2- Deus não é susceptível de demonstração empírica, concordo;

            3- Mas os pensamentos e sentimentos alheios também não. Nenhum de nós pode, em bom rigor, saber o que outra pessoa pensa ou sente. Assim, se a tese do Ludwig, estivesse certa, ele nunca poderia afirmar que alguém o estima ou ama. Teria que afirmar que não pode saber se alguém verdadeiramente o ama ou estima.

            4- Mas não é assim que a maior parte das pessoas funciona. Os seres humanos costumam dizer que alguém os ama ou estima, porque acreditam que isso é verdade, ainda que não possam entrar nas mentes alheias. Ou seja, não necessitam de fazer qualquer tipo de experiência empírico-laboratorial para aferir a validade dessas suposições. Nem essa experiência seria possível, mesmo serrando a cabeça de qualquer outra pessoa. Difícil de entender, isto que é tão elementar ?

            5- A Abiogénese também não está centificamente demonstrada, não tem qualquer validade científica por não ser passível de demonstração empírica. Não obstante, os ateus costumam acreditar nessa crença pseudo-científica.

            6- Do mesmo modo, a Teoria do Cego Acaso, também não tem nenhum fundamento científico, é meramente espculativa. Tão especulativa quanto a hipótese de o mundo ter sido criado por Deus. Aliás, a este propósito, veja-se a posição de Darwin contra a conjectura do Cego Acaso, que ele liminarmente rejeitou na sua ” A Origem das Espécies”.

            7- Assim, a Teoria do Cego Acaso e a Abiogénese, por não serem passíveis de demonstração empírica, só valem o que valem como meras hipóteses especulativas, nada mais.

            8- Os ateus acreditam na Teoria do Cego Acaso e na Abiogénese, ou seja, acreditam na suas próprias crenças. E alguns, exceptuando porventura o Ludwig, até acreditam nas declarações de sentimentos de terceiros. Assim, os ateus são tão crentes quanto aqueles que acreditam em Deus. Estão exactamente na mesma situação: as suas crenças não são susceptíveis de comprovação empírica, mas os crentes ateus têm a mania que as suas crenças pseudo.científicas valem mais do que as dos outros.

          • David Ferreira

            “Do mesmo modo, a Teoria do Cego Acaso, também não tem nenhum fundamento científico, é meramente especulativa. Tão especulativa quanto a hipótese de o mundo ter sido criado por Deus.”

            Virou agnóstico agora?

          • orenascido

            Não. A hipótese de Deus é meramente especulativa, no sentido de que remete para uma mera crença. Qual o espanto ? Eu nunca afirmei que a hipotese Deus era susceptível de demonstração empírica. Eu acredito em Deus, como você acredita na Abiogénese ou na Teoria do Cego Acaso, ou de que o Universo não tem sentido. Tudo isso é metafísica. Palpites, intuições. Qual o espanto ?

          • David Ferreira

            A hipótese de Deus não é suscetível nem de demonstração empírica nem de “demonstração” filosófica.
            Eu não a credito na Abiogénese ou na teoria do cego acaso. Eu acredito no que se conseguiu provar cientificamente porque o posso confirmar. No entanto, todas as evidências apontam nesse sentido. Acreditar é muito diferente de constatar. Não são palpites nem intuições. São dados, provas.
            De facto o Universo não tem sentido. Existe apenas. Conhece alguém que lhe tenha encontrado algum sentido? Quer dizer, há pessoas que dedicam a vida inteira a observá-lo e a estudá-lo e não o encontraram…
            Por outro lado, nenhum cientista credível alguma vez afirmou que sabe exatamente como tudo começou. É um mistério extremamente difícil de decifrar devido ao tempo decorrido.
            Vejamos, teoricamente é perfeitamente possível criar vida, ou seja, animar matéria. Já foi tentado em laboratório, embora seja praticamente impossível simular as condições perfeitas em que esse evento se deu. Sabemos, no entanto, que tudo partiu de algo muito simples, uma forma de vida básica que se replicou. Não sei se sabe mas, por exemplo, antes de existir qualquer espécie vegetal na terra já formas tão evoluídas como os tubarões habitavam os oceanos!… Impressionante, não é? É tão impressionante que não me impressiona que algumas pessoas possam elaborar conjeturas baseadas na emoção que estes acontecimentos extraordinários provocam. Não tenho nada contra uma posição deísta ou panteísta, apesar de não fazer sentido para mim, como já expliquei. Mas eu sei que você acredita no Cristo redentor, e isso já muda tudo; por isso das duas uma, ou você está em contradição com as suas próprias convicções, ou já não tem como justifica-las.

          • orenascido

            AS VACAS SAGRADAS DO ATEÍSMO

            1- Você não sabe se acredito ou não no Cristo redentor, nos termos em que você equaciona, mas não é isso que agora está em causa neste nosso debate.

            2- Tenho as minhas convicções como você tem as suas. Eu tenho a crença em Deus, como você tem a crença pseudo-científica na Abiogénese, na Teoria do Cego Acaso e num Universo sem sentido. Tudo isso é pseudo-científico ou metafísico, pelas razões que já lhe adiantei e que não vou repetir.

            3- Se eu acredito numa especulação e isso para si é muito redutor, então também tem que considerar redutoras todas as suas insistentes fezadas pseudo-científicas, acima referidas.

            Você vê o mundo pelo prisma de um materialismo filosófico, que eu respeito.

            Assim, nem eu quero convencê-lo sobre a hipótese Deus ou sobre a hipótese de um Universo com sentido, nem você me consegue convencer sobre a hipótese, igualmente especulativa, da abiogénese e do cego acaso.

            Cada um de nós acredita no que lhe parece mais provável.

            Tão simples e claro como isso.

            A única diferença é que os crentes ateus acham-se no direito de se insurgirem contra quaisquer outras crenças que não sejam as suas, mas, no fundo, também têm as suas vacas sagradas.

          • David Ferreira

            Os ateus insurgem-se contra as crenças porque sabem que nenhuma delas tem fundamento. Mas não é apenas contra a crença, é, sobretudo, contra aqueles que as querem vender e impor à força à humanidade com o propósito de alcançar uma posição de poder que lhes permita explorar as consciências das pessoas, já para não falar do dinheiro.
            Você chama-lhes vacas sagradas? Não são sagradas porque não são uma questão do foro emocional ou da submissão pedante. E são vacas que se conseguem ver. Deixarão de ser vacas quando evoluírem para outra espécie qualquer.

          • orenascido

            Claro que vocês, os ateus, têm as vossas “vacas sagradas”, que se resumem àquele tipo de tiradas panfletárias e repetitivas que não explicam coisa nenhuma.

            Vocês vivem imersos nas vossas próprias crenças ou teses pseudo-científicas, mas que não conseguem empiricamente demonstrar, como a “abiogénese”, o “cego acaso,” “a gestação espontânea”, ” o universo sem sentido”, etc.

            Tudo isso releva de uma visão filosófica tão especulativa e metafísica como as demais.

          • Zeus

            Teses pseudocientíficas? Deves andar a comer dejetos à colherada tu. Não vives neste mundo de certeza. Não se consegue demonstrar o universo sem sentido precisamente porque ele não tem nenhum. E tu, consegues explicar o sentido dele?

            Releva uma visão filosófica tão especulativa e metafísica como as demais? A sério. Toda a ciência nasce da especulação. Não há nada de metafísico nisso. Depois estuda-se, testa-se, comprova-se. E a tua religião ou a tua crença já provaram o quê? Diz. Anda, conta lá à malta. O que é que a tua crença baseada em conceitos de povos bárbaros e primitivos de há milénios já provou a não ser mentir e enganar constantemente? Anda, conta lá….
            É que as pessoas escrevem as coisas e tu fazes-te despercebido. Não tens estaleca para refutar a pertinência do que aqui é dito. Por isso tentas atribuir aos outros as tuas características de crente. És um bom apologista tu, devias ser teólogo.
            Nem de porrada és farto, pá. Fica-te na tua e vê se aprendes alguma coisa em vez de insistires em distorcer o que as pessoas dizem. Se não te agradar a dose, tens uma boa forma de te manifestar. DESAPARECE.

          • orenascido

            A ESTRUTURA DO SILOGISMO- LIÇÃO 1ª

            “Não se consegue demonstrar o universo sem sentido precisamente porque ele não tem nenhum”

            Zeus, o patarata de serviço.

            Ó pá, nem sequer és capaz de elaborar uma lógica elementar ?

            Bem, tenho que te ensinar a estrutura de um simples modus ponens. Ora aprende, tótó:

            1- Não se consegue demonstrar um universo sem sentido.

            Logo

            2- Não se consegue demonstrar que o universo não tenha sentido

            3- Se o universo não tem nenhum sentido é uma mera proposição.Uma simples premissa.

            4- Falta, no entanto, a prova da correspondente afirmação.Portanto, o teu silogismo não só fica manco, como também é uma contradição nos seus próprios termos.

            5- Assim, afirmar que o universo não tem sentido é uma mera crença metafísica.

            Nenhum cientista sério se põe a discorrer sobre a existência de sentido ou não para o universo. Isso não está sujeito a nenhum tipo de validação empírica, escapa ao valor de aferição do método científico. A cosmologia, por exemplo, pode medir a velocidade do afastamento das galáxias, a física pode determinar a velocidade da luz, a química pode apurar os elementos que compõem uma determinada substância. Mas nenhuma ciência consegue determinar se o universo tem ou não sentido.

            Qualquer criança percebe este raciocínio elementar.

          • Zeus

            Olha lá, ó minha alimária aristotélica, estás para aí armado em filósofo mas só dás tiros nos pés. queres que te aponte quantas falácias lógicas tu apresentaste na tua argumentação? Ao fim de 7 desisti. Andas com o cérebro todo baralhado. Continuas a confundir o que é crença com a tua crença. Pela tua linha de pensamento tu és agnóstico, mas preferes intitular-te de crente. O problema é que tu só entendes o que te dá jeito. Lê lá bem o texto e vê se consegues refutar o que o seu autor quis dizer. Diz lá tu qual é o sentido que o universo teve durante os biliões de anos em que existiu sem o homem ter surgido. Vá diz lá. Vai lá aos manuais de lógica e silogismo e diz lá em que é que sustentas a tua crença. É que eu sustento a minha nas evidências, não em crenças metafísicas. Eu estou-me a borrifar para as crenças conforme tu lhe chamas. O que é que o sentido do universo interessa a alguém? Diz lá. Sabes que um dia morres como todos os outros. E acabou-se. Para que interessa haver ou não sentido? Aí é que está o vosso grande problema, querem atribuir sentido a coisas quando na realidade elas não o têm. Andam todos iludidos.

          • orenascido

            Continuas muito fraquinho em termos de argumentação.És mesmo um deserto total. Nem sequer consegues encontrar uma falácia no meu comentário, quanto mais 7, isso seria uma grande empreitada para os teus escassos atributos intelectuais.

            Quanto ao não sentido do universo, fico à espera das tuas explicações cientificamente comprovadas

        • Molochbaal

          Mas fifi…

          As tuas comparações não se podem colocar.

          Porque os teus amigos ateus estão a a falar de gente de carne e osso, com quem interagem e a quem podem aferir, correctamente ou não, a validade dos seus sentimentos.

          Tu transpores isso para um ser que nunca viste, com quem nunca interagiste, que nem fazes a mínima ideia se existe ou não, a quem não podes aferir coisissima nenhuma – é especulação pura e simples.

          Um ateu pode acreditar que o pai dele existe e gosta dele, porque constata a sua existência e o seu comportamento.

          Em relação a deus tu não constatas nada do que dizes.

          Simplesmente não podes saber se existe ou se gosta de ti, porque nunca o viste, nem ninguém o viu, nem sabes o que pensa, se existir.

          Simplesmente decides que o teu deus, o Baal do ramo proto-judeu da cultura cananeia, existe e pensa assim ou assado, tal como um antigo egipcío decidia que Anúbis, o deus chacal, existia e era desta ou daquela opinião.

          Estás a comparar a legitima aferição comportamental a que os ateus se estão a referir, fundamentada na observação factual, com especulação infundada a que apenas a tua própria vontade e imaginação serve de “aferição”.

  • orenascido

    “Quem aceitar o conceito de um criador omnipotente, e se for intelectualmente honesto e saudavelmente lúcido (excluo, à partida,TODOS OS CRIACIONISTAS) …”

    David Ferreira

    TODOS MESMO, ATÉ UM TAL CHARLES DARWIN ? Nem este consegue
    passar pelo estreito crivo “ferreirista” da honestidade intelectual ?

    “Certos autores eminentes parecem plenamente satisfeitos com a hipótese
    de cada espécie ter sido criada de uma maneira independente. A meu ver, parece-me que o que nós sabemos das LEIS IMPOSTAS À MATÉRIA PELO CRIADOR concorda melhor com a hipótese de que a produção e a extinção dos habitantes passados e presentes do Globo são o resultado de causas secundárias, tais como as que determinam o nascimento e a morte do indivíduo”

    “Não há uma verdadeira grandeza nesta forma de considerar a vida, com os seus PODERES DIVERSOS ATRIBUÍDOS PRIMITIVAMENTE PELO CRIADOR a um pequeno número de formas, ou mesmo a uma só?”

    Charles Darwin, A Origem das Espécies, 2003, Lello & Irmãos Editores, págs 553 e 554

    “Another source of conviction in the existence of God, connected with the reason, and not with the feelings, impresses me as having much more weight. This follows from the extreme difficulty or rather impossibility of conceiving this immense and wonderful universe, including man with his capacity of looking far backwards and far into futurity, as the result of blind chance or necessity. When thus reflecting I feel compelled to look to a First Cause having an intelligent mind in”

    Charles Darwin, pág. 313 do livro The life and letters of Charles Darwin, including an autobiographical chapter. London, John Murray. Volume 1,d autoria do seu filho Francis Darwin

    Em carta datada de 2 de Abril de 1873:

    “Posso afirmar-vos que a impossibilidade de considerar este magnífico universo, que contém o nosso ‘eu’ consciente, como obra do acaso, é para mim o PRINCIPAL ARGUMENTO EM FAVOR DA EXISTÊNCIA DE DEUS”.

    Em carta datada de 3 de Julho de 1881:

    “Devo dizer-vos que em vosso livro Pretensões da Ciência expressastes a minha profunda convicção, e mesmo mais eloquentemente d que eu saberia fazê-lo, isto é, que O UNIVERSO NÃO É NEM PODE SER OBRA DO ACASO”.

    M. Francis Darwin. La Vie et la Correspondence de Charles
    Darwin. Trad. de Henry Crosnier de Varigny. Reinwald, Paris, Vol. 1, p. 354 a 365.

    .

    • David Ferreira

      Vamos por partes.
      Há uma razão pela qual, se não estou em erro, você nunca me viu aqui citar alguma fonte ou autoridade em algum texto da minha autoria. Não que não o possa fazer, ou que não o venha a fazer no futuro, mas apenas porque penso que se torna irrelevante. Se eu tenho capacidade para pensar com a minha própria cabeça de modo a elaborar um fio de raciocínio, independentemente de estar correto ou não, porque hei-de pensar com a cabeça dos outros. O que me interessa é beber o pensamento dos outros, assimilá-lo, aprender com ele, refletir, para depois então formular as minhas opiniões e evoluir as minhas capacidades.
      Neste exemplo específico que dá, continua com mais uma velha falácia argumentativa que já foi refutada milhentas vezes, mas, ao que parece, sem efeito. A importância de Darwin ou do seu trabalho (diga-se que, mesmo no seu tempo, não foi o único a desenvolver esta teoria) é independente das suas convicções religiosas as quais, como bem sabe, são fruto da época em que vivia, crenças essas que, como também parece esquecer, se foram esfumando até ao final dos seus dias.
      O que é que interessam as observações de Darwin que apresenta? As suas observações são fruto de uma época, temos que compreende-las dessa forma. Não sendo cientista e muito menos tendo a capacidade intelectual do indivíduo em questão, facilmente consigo refutar ou contra argumentar essas afirmações que me apresenta.
      Quando uso a expressão “honestidade intelectual” refiro-me a uma tomada de posição perante a evidência. Dou-lhe um exemplo: a ICAR, ou parte da sua hierarquia, reconhece hoje em dia, sem problema nenhum, que a evolução é um facto, que muito do que está escrito na Bíblia, sobretudo no VT é apenas mitologia e que deve ser interpretada metaforicamente. Esta tomada de posição é intelectualmente honesta, porque não nega a evidência a favor das suas crenças. Reconhece, dá a volta e continua a manobrar. Os criacionistas fazem exatamente o contrário. Negam a evidência peremptoriamente apenas porque não está descrita no seu livro sagrado.
      Não, meu caro, o meu crivo não é estreito. Tem uma abertura normal onde, obviamente, não passam as coisas anormais.

      • João Pedro Moura

        DAVID FERREIRA disse:

        “.Não, meu caro, o meu crivo não é estreito. Tem uma abertura normal onde, obviamente, não passam as coisas anormais.”

        Convém esclarecer que, até à 2ª Guerra Mundial, e ainda mais até ao século XIX, não era fácil a um cientista intitular-se ateu, pois que poderia ser liminarmente corrido da sua cátedra ou função profissional académica, pelos religionários que geriam as escolas superiores ou outras instituições.
        …Além de que não é citando gente do século XIX, por mais mérito que tenha, e Darwin tinha-o, que se consegue contraditar o que quer que seja da atualidade científica e ideológica…
        Os argumentos, se se quer contestar, contestam-se com argumentos, e não com figuras conhecidas e queridas, por serem conhecidas e queridas…

      • orenascido

        Tanto paleio para você não responder se também considera o criacionista Charles Darwin incluído na categoria de intelectualmente honesto. Que tal um sim ou um não, não chegavam para responder a uma pergunta tão simples ?

      • David Ferreira

        Embora vários membros da família de Darwin fossem pensadores livres, abertamente lhes faltando crenças religiosas convencionais, ele inicialmente não duvidava da verdade literal da Bíblia. Ele frequentava uma escola da igreja da Inglaterra e, mais tarde, em Cambridge, estudou teologia Anglicana. Nesta época, ele estava plenamente convencido do argumento de William Paley de que o projeto perfeito da natureza era uma prova inequívoca da existência de Deus. Contudo, as suas crenças começaram a mudar durante a sua viagem no Beagle. Para ele, a visão de uma vespa paralisando uma larva de borboleta para que esta servisse de alimento vivo para seus ovos parecia contradizer a visão de Paley de projeto benevolente ou harmonioso da natureza. Enquanto a bordo do Beagle, Darwin era bastante ortodoxo e poderia citar a Bíblia como uma autoridade moral. Apesar disso, ele via as histórias no velho testamento como falsas e improváveis.

        Ao retornar, ele investigou a questão de transmutação de espécies. Ele sabia que seus amigos naturalistas e clérigos pensavam em transmutação como uma heresia que enfraquecia as justificativas morais para a ordem social e sabiam que tais ideias revolucionárias eram especialmente perigosas em uma época em que a posição estabelecida da igreja da Inglaterra estava sob constante ataque de dissidentes radicais e ateus. Enquanto desenvolvia secretamente a sua teoria de Seleção Natural, Darwin chegou mesmo a escrever sobre a religião como uma estratégia tribal de sobrevivência, embora ele ainda acreditasse que Deus fosse o legislador supremo. Sua crença continuou diminuindo com o passar do tempo e, com a morte de sua filha Annie em 1851, Darwin finalmente perdeu toda a sua fé no cristianismo. Ele continuou a ajudar a igreja local e colaborar com o trabalho comunitário associado à igreja, mas, aos domingos, ia caminhar enquanto sua família ia para o culto. Em seus últimos anos de vida, quando perguntado sobre a visão que tinha a respeito da religião, ele escreveu que nunca tinha sido um ateu no sentido de negar a existência de Deus e, portanto, se descreveria mais corretamente como um agnóstico.

        Charles Darwin contou em sua biografia que eram falsas as afirmações de que seu avô Erasmus Darwin teria clamado por Jesus em seu leito de morte. Darwin concluiu dizendo que “Era tal o estado de sentimento cristão neste país [em 1802]…. Nós podemos apenas esperar que nada deste tipo prevaleça hoje”. Apesar desta crença, histórias muito parecidas circularam logo após a morte de Darwin, em particular, uma que afirmava que ele havia se convertido logo antes de morrer. Estas histórias foram disseminadas por alguns grupos cristãos até ao ponto de se tornarem lendas urbanas, embora as afirmações tenham sido refutadas pelos filhos de Darwin e sejam consideradas falsas por historiadores

  • kavkaz
  • Carlos Esperança

    Excelente texto.

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