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De repente, sinto medo

De repente, sinto medo.

De repente, sinto medo. Não por mim, que já estive 52 dias em coma profundo gozando as «delícias do nada», não pelos que já tiveram da vida o seu quinhão e, muito menos, pelos que se repoltrearam à solta na gamela do orçamento, mas pelos que vão herdar as dívidas que deixamos, sem a água, o ar e a energia que estafámos na orgia do consumo.

Deixámos que a bomba demográfica explodisse, com 8 mil milhões de pessoas, quando o Planeta só consegue sustentar metade e sem as assimetrias que se consentiram.

Quando a fome vitimava centenas de milhares de crianças, longe das nossas fronteiras, quando a malária e a sida dizimavam o continente a sul da Europa era-nos indiferente o seu destino e a angústia das mães que tinham de escolher os filhos mais robustos para as acompanharem à procura de água e de comida.

Permitimos que o sistema financeiro se tornasse o deus do nosso futuro, tão insensível e perverso como aquele que os homens inventaram na Idade do Bronze. De repente, em Portugal, transformado num laboratório de experiências neoliberais, à mercê de agiotas e vampiros, sentimos que as últimas promessas que nos fizeram eram mais falsas das que outros já nos tinham feito.

Embalados no ódio e ressentimento clubista dos partidos da nossa perdição, sentimo-nos abandonados no mar da incerteza e na fogueira onde ardem as últimas ilusões das mais recentes mentiras.

Podemos arranjar bodes expiatórios, gritar contra os agiotas, injuriar os néscios que nos governam, mas não vejo propostas viáveis para nos libertarem do labirinto do desespero em que nos lançámos.

Digam-me quem nos emprestará dinheiro para a comida e os medicamentos quando nos cansarmos dos agiotas que já lá têm, hipotecado, o destino dos nossos filhos. Não basta dizer o que não queremos, urge saber o que podemos fazer. E ninguém nos diz. Gritam-se slogans, insultos e vaias enquanto os campos morrem, secam os rios e arde a floresta.

Só falta acreditar em deus e na sua bondade.

De repente, sinto medo.

10 thoughts on “De repente, sinto medo”
  • HJK

    “I don’t think infanticide is always unjustifiable. I don’t think it is plausible to think that there is any moral change that occurs during the journey down the birth canal.”

    John Harris, ateu

    http://www.telegraph.co.uk/news/uknews/1452504/Infanticide-is-justifiable-in-some-cases-says-ethics-professor.html

    • David Ferreira

      A fita de fraca qualidade da cassete heteronómica enrolou-se toda e está em vias de se partir com inaudível estrépito.

  • GriloFalante

    Pois…
    O grande problema é que Deus nunca resolveu problema nenhum. Com excepção, claro, dos que o usam como forma de angariar farto sustento. Esses já têm os problemas resolvidos. E estão-se borrifando para os outros, embora apregoem o contrário. “Rezem por mim, que nem eu sei como hei-de limpar esta merda. Vai-me valendo a venda do produto, e o emprego vitalício”.
    Amém.

  • Veron

    Sente MÊDO? Devia também sentir vergonha por COVARDIA. Quando o Pensador Haddammann indicou que temos um escape e contou com o discernimento dos que “se dizem conscientes”; ele recorreu à várias frentes de atividades em que esperou tivesse pessoas com vigor necessário para encarar qualquer problema que precisássemos resolver. Então, quando dispôs neste sítio vários comentários com respaldo das absurdas coisas noticiadas na Mídia; ao invés de receber atenção e disposição à ação, só viu os comentários receberem censura, covarde atitude intimidada e subserviente a CANALHAS que nos escravizam. Já foi dito que não importa o quê, quem, e quantos são os grupos de pulhas que insistem em nos desgraçar, TEMOS COMO FAZÊ-LOS se destroçarem por si próprios. Mas quais são nossos interesses e qual o tamanho de nossas vaidades, para não sermos subjugados? Igrejas do nazi-teo-pulhismo-evangélico-petista são um monte de cocô, poluindo cabeças para que a Sociedade chafurde em esgôto e escravidão. Temos todos provas disso, todos os dias. E com quem uns e outros podem contar? Quase nenhum garoto ou garota entra mais nesse local. Por quê? Sabem que os “protetores de famílias” na internet só envia para os adolescentes porcaria para verem e lerem?

    Pergunta: Como pode ser considerado um “sábio” um tal de Salomão, que tinha como ESCRAVAS 300 mulheres, e ainda se gabava dissso, e ainda ASSASSINOU para ter mais. E desse elemento terá ainda “exemplos” de genealogia que nos dão a DESGRAÇA de crenças insanas?

    Onde estamos nós como HOMENS, e como mulheres? Por que não dizemos na cara dos fiéis-crentes e suas espiritices, que não passam de COVARDES, e vendem os próprios filhos e a própria vida para que “pastutos” façam o que quiserem com eles?

    • Veron

      Foi dito aqui, como denúncia, que o serviço público no Brasil do NAZI-TEO-PULHISMO-PETISTA-EVANGÉLICO estava EXIGINDO que mulheres fossem VIRGENS para poderem ‘SERVIR” aos pastrõeszinhos-pulhas no arremêdo de governo dos chefetas-pulhítico-divinos. E o comentário foi deletado por MÊDO desses escróquis? Não importa o cargo do CANALHA, se foi comprado com o próprio dinheiro ROUBADO da população,seja de “juiz heróizinho” mascarado, seja qualquer pútrido desse; é criminoso SAFADO, enganador. Se depende de nós, a gente é que impetra a DEVIDA JUSTIÇA.

      athan3@gmail.com

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      Haddammann Veron

      Tudo que foi feito em projetos e iniciativas para estimular e desenvolver a Sociedade em várias áreas, foi COMPLETAMENTE ROUBADO do que fiz e apresentei durante anos, em muitos locais no Brasil. E os pulhas estão milionários à minha custa; e os fiéis-crentes, principalmente os crentes-evangélicos, querem saber sobre isso? Claro que não, tem um monte de “deitão” só na sopa, no bem-“bão”. Mas nós todos estamos nos ferrando muito por causa dessa COVARDIA.

  • kavkaz

    Estimado Carlos Esperança,

    O seu post despoleta emoções. Compreendo o sentido e a razão da incompreensão e da falta de confiança no futuro radiante.

    Eu vejo as coisas de forma simples. Em Portugal, desde o 25 de Abril de 1974, os governos democraticamente eleitos têm gasto mais do que o que recebem. O Estado português foi acumulando endividamentos sucessivos. Chegou já a um patamar em que tem de cobrar mais e mais impostos aos contribuintes para pagar as despesas do funcionamento do Estado (pagar os vencimentos aos funcionários públicos, as reformas devidas aos idosos), manter as escolas e centros hospitalares em funcionamento, manter as forças de segurança e militares sustentáveis, etc., e pagar mais ainda os juros e as dívidas acumuladas nestes quase 40 anos ao credores. O Estado português tem nesta altura quem lhe empresta dinheiro (a Troika) com melhores condições que o mercado livre, mas tem de se sujeitar às condições acordadas e que permitirão aos credores receber o seu dinheiro emprestado. É o acordado!

    Os cofres do Estado português estavam praticamente vazios na altura da entrada deste governo PSD/CDS (já só havia dinheiro para pagar ordenado e pensões para mais 2-3 meses). O empréstimos da Troika têm mantido o funcionamento “regular” do Estado até esta altura. A única alternativa, já que o Estado não cria riquezas suficientes com empresas públicas e actividades económicas, foi aumentar imediatamente os impostos e carregar em TODOS. A uns são cobrados mais impostos do que a outros, devido às diferentes possibilidades existentes. O resultado é a tristeza do país com a diminuição da actividade económica, com a falta de rentabilidade de muitos negócios e fecho de empresas que viram os impostos subir. Registou-se o aumento do desemprego e da emigração.

    Qual a alternativa? Se queremos ter Estado português e este estava, e continua a estar, perto da bancarrota, há que entender o aumento das receitas do Estado com a subida dos impostos em lugar destacado. Claro que sabemos e vimos que haverá muitas famílias e empresas a não resistirem ao aumento desta carga fiscal.

    Se não queremos pagar mais impostos para sustentar o Estado, então ele rapidamente acabará na bancarrota e o caos social será muito mais pesado para o país.

    Pode acontecer, e receio muito que seja tarde, que todos os esforços dos aumentos da receita fiscal poderão não ser suficientes para travar a queda financeira do Estado português. Este, apesar dos esforços de arrecadar mais impostos, poderá não ter capacidade de pagar aos credores, por ser já tão avultado o endividamento externo do país. Só este ano, o Orçamento do Estado gastará cerca de + 6 % do que receberá. Ficará, assim, com uma dívida externa ainda maior.

    Esperar-se que tudo possa acabar bem, mudando a cara de um fulano e colocando lá outro (alguns candidatos a governantes têm um passado impressionante de otários), afirmar-se que se consegue acabar com o endividamento do país e criar o progresso social é não perceber como funciona a Economia, vender ilusões enganadoras que mais tarde, tardiamente e com prejuízos graves, serão compreendidas pelas pessoas.

    O Estado português precisa de gastar menos do que o que recebe, pois não terá sempre credores dispostos a financiar mais e mais, e sem retorno, o despesismo público. As pessoas estão a assistir ao recuo da economia estatal e ao seu empobrecimento. Os particulares têm de se agilizar e não esperar que o Estado lhes dê mais… É que este ainda está muito mais aflito, teso e endividado que muitos dos particulares que exigem ao Estado.

    Esta é a realidade e quem pedir que o Estado lhes dê o que antes recebia pode não estar a querer ver que o Estado já não é o mesmo do antigamente. O período das “vacas gordas” já não é de agora e não serão os estrangeiros que quererão sustentar sempre Portugal e os portugueses.

    Estejam atentos e tenham mil cuidados com o momento extremamente difícil e preocupante que vivemos. Livrem-se do endividamento particular e façam votos que o estado ganhe juízo e consiga endireitar as contas públicas, gastando menos do que o que recebe.

    O Vaticano também não ajudará Portugal. Ele também quer e precisa de receber mais… E não esperem pelos deuses para fiadores, nem sonhem que receberão algo deles, pois os deuses não existem!

  • Português

    Os maiores problemas de Portugal, neste momento, são 5:

    1) Passos Coelho, o troca-tintas ( aquele que prometeu não aumentar impostos antes de se apanhar na coelheira);

    2) Vítor Gaspar, o incompetente ( aquele que errou todas as metas macroeconómicas)

    3) Álvaro Santos Pereira ( aquele que ainda não percebeu que a actividade económica ganharia imenso com diminuição substancial da burocracia)

    4) Cavaco Silva ( aquele que está sempre à espera de ficar bem na fotografia)

    5) Miguel Relvas ( aquele ” licenciado” que nem sequer consegue cantar a Grândola Vila Morena)

  • Ícaro Cristão

    “Não tenhais medo! Abri antes, ou melhor, escancarai as portas a Cristo!” João Paulo II. Sabe… gostei do seu texto e partilho uma parte substancial do seu medo. Ânimo! Abraço

    • kavkaz

      As portas das igrejas estão escancaradas há dois mil anos, mas o vosso Jesus Cristo nunca apareceu nem lá entrou. Fazerem-se de burros é mesmo lucrativo no Vaticano!

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