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Assim não, senhor bispo

Deixe-me dizer-lhe que subscrevo inteiramente as suas palavras. Na verdade, se o anterior governo dizia mata, este diz esfola. E o senhor falou em corrupção precisamente numa altura em que as autoridades andam a investigar negociatas a que membros do governo não são alheios. No entanto, não lhe reconheço o direito de dizer o que disse. Ou seja, o tiro foi certeiro, a arma é que não foi a adequada, isto para utilizar terminologia da tropa.

Vou tentar explicar.

O senhor disse cobras e lagartos do actual Governo – precisamente o Governo que lhe aconchega a carteira ao fim do mês. Mas isso até ainda é o menos; há muitos funcionários públicos a dizer mal do Governo, e não é por aí que o gato vai às filhoses. O grande problema, senhor bispo, é que o senhor falou enquanto bispo. Pelo menos, envergava um dos fardamentos da função. E embora a ICAR tenha vindo, mui lesta, dizer que o senhor exprimiu uma opinião pessoal – nem outra coisa era de esperar – a verdade é que era o bispo das Forças Armadas que estava a falar. E é aí que eu começo a não concordar.E sabe porquê? Porque se trata de uma indecente ingerência da Igreja nas questões governativas. Do Estado, portanto. Já ouviu falar em separação? Pois…

Diga-me uma coisa: se, por hipótese meramente académica e completamente absurda, dado o permanente ajoelhar governativo, um membro do Governo se pronunciasse relativamente ao celibato dos padres ou ao sacerdócio das mulheres, como reagiria?

Pois é. Há situações em que fica muito mal morder a mão que alimenta.

Em simultâneo no À Moda do Porto

5 thoughts on “Assim não, senhor bispo”
  • Bufarinheiro

    O Aguiar (que deve ser muito mau condutor) enveredou logo pelas ameaças que é o que o actual governo mais gosta de fazer a quem não concorda com a corrupção instalada.
    Se é verdade que o bispo devia separar mais claramente as suas funções, pouco apropriadas num estado laico, das suas posições pessoais -a que tem o mesmo direito de qualquer cidadão- também o ministro colocou a questão em termos de ou/ou querendo impedi-lo de fazer comentários.

    • Carlos Esperança

      O que está errado é a existência das capelanias e a afronta de uma Concordata.

  • Lu´s Almeida

    “A mão que o alimenta” é a do Estado,não a do Governo. O Governo é partidário. O Estado tem de ser supra-partidário e pluralista…

    • GriloFalante

      O Governo não faz parte do Estado?
      ” O Estado tem de ser supra-partidário e pluralista…” E é-o. Em teoria, claro. O Estado é supra-partidário, pluralista e laico.
      E eu sou o Napoleão.

  • kavkaz

    O Sr. Januário anda danado desde que os militares não lhe deram o dinheiro que ele queria lá no peditório que inventou. A massa já não entrou às carradas…

    Em vez de intervir contra a lavagem de dinheiro no Banco do Vaticano, põe-se a dar lições de moral ao governo português. O empregado do Vaticano (potência estrangeira) só tinha que ser sério e apresentar queixa no Ministério Público com provas do que afirmou. Não o fez e, claramente, não o fará. É só fogo-de-artifício para ganhar uns minutos de fama.

    O mais giro é ele dizer que é “Igreja”. Deve ser a alcunha dele: o “Igreja”.

    Na Igreja Católica aparecem de vez em quando uns fulanos que gostam de manifestar o avesso daquilo que lhes mandam dizer… É para ver no que dá. Se lhes der certo, ainda bem, é um herói da paróquia. Se falhar o objectivo, então a culpa não será do Vaticano, é do Sr. Januário que perdeu a cabeça e perdoem-lhe os pecados.

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