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  • 7 de Novembro, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

A visita do Papa a Santiago de Compostela

Os beatos investiram em ave-marias, os restaurantes avançaram com vitualhas, as lojas encheram-se de recordações e os franquistas exultaram com a desforra anunciada contra a democracia, mas B16 não é uma estrela pop e o ex-prefeito do Santo-Ofício carrega o peso de um papa anacrónico, zangado com a modernidade.

As tiradas contra o ateísmo e a laicidade fazem exultar os nostálgicos da ditadura, os devotos dos santos por atacado e os peregrinos profissionais, mas deixam desolados os donos das barracas de lembranças a quem os autarcas tinham prometido uma enchente de 200 mil católicos sequiosos de bênçãos e recordações.

De 1.200 autocarros esperados só chegaram 300 e a devoção definha quando a multidão se reduz aos incondicionais e se vêem abandonados pelo seu deus num encontro com o alegado representante.

Nem o dinheiro e a força do Opus Dei foram capazes de dar à visita aquela histeria que contagia e converte os incréus. Há quem pense que os escândalos possam prejudicar a popularidade do Papa, esquecendo que os escândalos nunca foram relevantes em dois mil anos de existência.

A razão do fracasso encontra-se  na monotonia das missas, na repetição da coreografia e na insistência nos milagres que ninguém leva a sério. Um Papa que se apoia no Opus Dei, nos Legionários de Cristo e nos fascistas de monsenhor Lefebvre arrisca-se a ficar a pregar para os empregados da ICAR e para os indefectíveis de todos os papas.

20 thoughts on “A visita do Papa a Santiago de Compostela”
  • antoniofernando

    Nunca também simpatizei com a figura de Bento XVI, desde a altura em que foi Inquisidor, com o eufemístico nome de Prefeito de Congregação para a Doutrina da Fé, não obstante entender que qualquer instituição tem um corpo doutrinário que deve ser respeitado pelos respectivos aderentes, embora também entenda quem queira alterar a actual situação caótica da ICAR, como Hans Kung.Pessoalmente, cindi com o Catolicismo quando reflecti mais aprofundadamente sobre a sua dogmática e entendi que ela imensamente se afastava da Doutrina de Cristo, em pontos,a meu ver, inconciliáveis. Recordo-me perfeitamente do dia da ruptura. Quando me apercebi do famigerado artigo 2267 do Catecismo da ICAR disse para comigo: “uma igreja que aceita a pena de morte não é digna de Cristo”.Mas sempre distingui a Igreja Católica dos seus membros. Como em todas as instituições, há gente exemplar e outra que não. Mas isso é transversal à condição humana, independentemente do seu posicionamento ideológico.A ICAR perdeu muito com o falecimento repentino de João Paulo I, um homem que sempre admirei. Há certamente grandes personalidades na Igreja Católica que não se confundem com a ” entourage” de Bento XVI. A ICAR está muito longe de se confundir com homens como Saraiva Martins ou Ângelo Solano. Seja como for, julgo que este artigo do Carlos Esperança peca por não citar as frases concretas a que se reporta.Se Bento XVI faz ” tiradas contra o ateísmo”, penso que faz mal. Para afirmar a doutrina da Igreja Católica e os valores que considera respeitáveis, não precisa de ir por esses ínvios atalhos. Mas será que só os ateus é que podem bramar contra a religiosidade e as igrejas e Bento XVI já não pode tecer ” tiradas” contra o ateísmo ? Será que o Carlos Esperança se pode permitir dizer, com a maior ligeireza e desfaçatez, que ” a cumplicidade das igrejas com as ditaduras faz parte da matriz genética” e Bento XVI já não pode criticar o ateísmo marxista-leninista- estalinista porque “os meninos” são muito vidrinhos de cheiro,ficam logo muito sentidos e aparece imediatamente o Luís Grave Rodrigues a insultá-lo de ” facínora” ?…

    • Carlos Esperança

      António Fernando:

      O ateísmo do DA nada tem a ver com a deriva totalitária do estalinismo mas o catolicismo de B16 está de regresso ao concílio de Trento e não renega a cumplicidade com o franquismo.

      Quanto ao ateísmo o Papa é contra (não se refere ao totalitarismo de raiz ateia, que o houve). Todas as ditaduras fascistas tiveram o apoio do catolicismo romano e o nazismo conseguiu igualmente o do protestantismo.

      São os factos.

      • antoniofernando

        Carlos Esperança:

        Quando Bento XVI visitou a Inglaterra proferiu a seguinte afirmação:“enquanto reflectimos sobre as advertências do extremismo ateu do século XX, não podemos nunca esquecer como a exclusão de Deus, da religião e da virtude pública, conduz em última análise a uma visão truncada do homem e da sociedade.” Eu interpretei essa frase de Bento XVI como estando a referir-se ao extremismo soviético, pois não vejo que outra interpretação se possa conferir ao ” extremismo ateu do século XX”. Essa frase, se referenciada nesses termos, não tem nada de extraordinário. Espantoso seria se só se criticássemos Hitler mas já não Estaline. Pois, por causa dessa frase, como você bem sabe e silenciou, Luís Grave Rodrigues apareceu logo aqui, desvairado, a catalogá-lo de ” facínora”. Estes também são factos e você nada disse,na sua habitual linha comportamental de só criticar as boçalidades que provenham de crentes, mas de tudo permitir e contemporizar quando as grosserias vêm de ateus. Isto é igualmente factualidade exacta, como você também muito bem sabe.

        ” Todas as ditaduras fascistas tiveram o apoio do catolicismo romano “, assevera você.

        Já ouviu falar em Aristides Sousa Mendes ? Padre Abel Varzim ? António Ferreira Gomes, bispo do Porto ? Padre Mário de Oliveira ? Padre Joaquim Alves Correia ? Padre César Teixeira da Fonte ? Padre Manuel Rocha ? Padre Adriano Botelho ? Padre. João Perestrelo de Vasconcelos ? Padre. António Jorge Martins ? Padre. José da Costa Pio ? Padre. José Narino de Campos ? Padre. Joaquim Pinto de Andrade ? Padre. Franklin da Costa ? Padre Alexandre Nascimento ? Padre Manuel Joaquim das Neves ? Padres Vicente Rafael, Domingos, Alfredo Gaspar, Martinho Samba e Lino Guimarães ? P. José da Felicidade Alves ? Padres Joaquim Teles Sampaio e Fernando Marques Mendes ? Padres João Dekker e Adriano ? Padre Bartolomeu Recker ? Padre Ismael Nabais Gonçalves ?

        Sabe quem foram ?

        Foram todos padres católicos, exceptuando Aristides Sousa Mendes, e perseguidos pela Pide:

        http://entreostextosdamemoria.blogspot.com/2007/07/padres-e-bispos-que-enfrentaram.html

        Se eu quisesse agora incorrer na sua falácia indutiva, também poderia dizer:

        ” A ditadura fascista em Portugal teve sempre a oposição do catolicismo romano”.

        Mas eu não quero descer a nível tão baixo de argumentação. Isso deixo para você quando está nos seus dias menores…

        • JoaoC

          Bela lista de hereges e apóstatas. Só falta o teu nome lá.

          Lamento informar-te, mas a Igreja Católica é a do Santo Padre, a de Pedro, a Romana, a de Cristo.

          E não aquela que PARA TI devia ser a “igrejola católica-hipie-moderno-maçónica-de-paz-e-amor” dos Mários do Lixo, dos Anselmos, dos Boffs, dos Januários e toda a erva daninha que por aí nasce, cresce e por fim, também morre…

          Lamento, mas a Igreja Católica é exactamente aquela a que tens raiva e odeias.O que é normal para um filho das Trevas.

          • Anonimo

            Comentador João C.:

            Os nomes referidos pelo AntónioFernando são de membros da Igreja perseguidos pela PIDE.

            Esses nomes provam duas coisas: que a Igreja não estava tão metida no regime como alguns pretendem e que, pelo menos a partir de uma dada altura, a PIDE actuava contra sem o controlo do próprio governo. Ao que parece, segundo algumas opiniões mais recentes, até Salazar foi vitima da PIDE.

            Não defendo a PIDE nem o “regime”, mas entendo que hoje ultrapassamos o limite oposto. Algumas coisas que aqui se comentam e noticiam levam-me a pensar que, no extremo oposto, estamos pior do que no tempo de Salazar.
            Se a isso juntarmos a situação económica e política, percebe muito bem porque elegeram Salazar o “maior do século XX”.

            Não gosto de alinhar em excessos. Percebo que tu tens sido provocado a ponto de teres que reagir de forma muito áspera.
            Uma das coisas que não entendo é o facto de dizerem as maiores barbaridades contra a religião e não serem consideradas insultos, mas uma só palavra mais dura contra os ateus é considerada um grave insulto.

            Acho este site muito arrogante e provocador. A falta de educação e o excesso de liberdade que permitem comportamentos arrogantemente provocadores e insultuosos, são iguais à repressão.

        • Anónimo

          ficou esquecido o padre alberto (esquece-me o apelido) – fundamental nesse leque. foi o homem da capela do rato… (tem uma escola secundária com o seu nome na linha de sintra).

          • Anónimo

            nota: – também em resposta a um dos comentadores teístas…
            considero que houve uma franja de cristãos (alguns católicos e poucos protestantes) que souberam ter uma posição vertical neste país.
            uma franja note-se.
            assim como alguns monárquicos…
            pois.
            mas isso não representa uma igreja. a igreja, em termos oficiais, apoiou o regime.

    • JoaoC

      “Nunca também simpatizei com a figura de Bento XVI, desde a altura em que foi Inquisidor, com o eufemístico nome de Prefeito de Congregação para a Doutrina da Fé”.

      Evidente. Um herege como tu TEME qualquer poder eclesiástico.

      “Embora também entenda quem queira alterar a actual situação caótica da ICAR, como Hans Kung.”

      Herege defende Herege.

      “uma igreja que aceita a pena de morte não é digna de Cristo”.

      Quem és tu, lesma, para dizeres que alguém que seja não é digno de Cristo? Até um ateu coerente e convicto na sua (des)crença é mais digno de Cristo que tu, serpente venenosa e mentirosa!! Pormenor: A Igreja Católica NÃO É uma simples instituição. Ainda por cima és ignorante porque criticas o que nem conheces! Tem dó da inteligência dos outros…

      “Se Bento XVI faz ” tiradas contra o ateísmo”, penso que faz mal.”

      Ai faz mal, ó ateu cobarde demais para sair do armário? É função da Igreja e de todo o crente – católico ou não – uma Cruzada contra o ateísmo, porque acreditamos que o ateísmo é o pior que pode acontecer no mundo.Todos consideramos que um mundo sem Deus – o verdadeiro ou um ídolo das falsas religiões – não pode existir nem subsistir.

      ACABASTE DE ASSINAR A TUA DECLARAÇÃO ATEÍSTA!

      • MO

        João:

        Fico sempre espantado com o veneno dos seus comentários. Vindos de alguém que se diz cristão faz-me pensar onde está a sua caridade cristã?

        Tem razão, a Igreja não é uma instituição (esse é um erro comum dos ateus que os leva a não entender a sua estrutura e funcionamento). É pena não dizer o que é. É uma comunidade, um grupo reunido no amor de Cristo, uma assembleia (ekklēsia). É por isso é que nela co-existem Hans Kung e Bento XVI e outros nomes de que fala… Se eles defendem ou não nalguns pontos doutrina herética (isto é, escolhida em vez de ser a transmitida e preservada) é outra questão. E é preciso ver se os pontos são dogmáticos ou não também…

        Pax et bonum

        • Anonimo

          Eu entendo perfeitamente a azia do João C..
          Não direi que estou de acordo, mas percebo-a perfeitamente.

          Repare na forma como são apresentados todos os textos. São apresentados com maldade, com intenção perversa, com vontade de ofender. A grande maioria dos textos aqui aprestados não representa opiniões, mas sim acusações. São apresentados como se fossem a única fonte de certeza e com comentários acrescidos, de grande acutilância, tem como finalidade ofender e não esclarecer.
          A linguagem é agressivamente ofensiva e sarcasticamente negativa.

          Isto parece uma guerra. Parece a cruzada dos ateus contra os crentes.

          Acho que anda aqui muita agente que ainda não percebeu uma coisa básica: aquilo que uma pessoa prensa não é mais importe do que aquilo que outra pensa sobre o mesmo assunto.

          • Carlos

            Help! Help! I’m being repressed!

    • MO

      António:

      Concorda que os desvios claros da doutrina dogmática da Igreja devem ser interpelados e no entanto critica o actual Papa por ter presidido à Congregação que o faz (e que é constituída por diversas pessoas, todas com o mesmo voto, o que quer dizer, como aliás já analisado por estudiosos, que Ratzinger assinou textos de conclusões da Congregação com os quais não estava totalmente de acordo). Tenho dificuldade em entender.

      O mesmo em relação ao Catecismo. Não é um documento dogmático. Se deixou a Igreja por isso é uma pena. Em relação à pena de morte e ao seu enquadramento como possível legítima defesa, a argumentação parece-me racional e dentro da fé. Já as palavras sobre a homossexualidade parecem-me confusas (e a confusão só aumenta com as diversas versões e diversos documentos). Não razão para eu deixar de ser cristão e católico, nem razão para abandonar a fé ou a ordem a que pertenço (Ordem Secular Franciscana). Não há nenhum pronunciamento dogmático sobre a pena de morte ou sobre a homossexualidade na história da Igreja. Sou católico porque sou cristão – é tão simples como isso, e as tormentas dentro da Igreja são de esperar porque é uma comunidade humana onde o bem e o mal, a luz e a sombra lutam. Igrejas que se apresentam sem mácula ou discussões são de temer. Para um cristão, uma igreja nunca é um sítio de paz, é um lugar de conflito permanente que espelha os nossos próprios conflitos: não é um sítio de paz, mas é onde podemos encontrar a paz.

      Pax et bonum

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  • Butter

    Em primeiro lugar gostaria de deixar ciente que respeito a vossa decisão. Em segundo lugar gostaria de deixar apenas algo para reflectirem: sendo ateístas parecem-me demasiado centrados na questão da religião,se a vossa crença é acreditar em religião alguma porque se preocupam? Não estarão a incorrer numa contradição? 🙂

  • hh

    O jornal “elpais” tem este problema, quase nunca é sério em temas religiosos.

    Acompanhei a visita seguindo varia televisões espanholas: VT-Televison; Pontevedra, La2, TVG, etc. Para quem viu as imagens, facialmente percebe que se trata de uma perfeita aldrabice. As imagens aéreas demonstram isso de uma forma perfeitamente irrefutável.

    Este jornal, patrocinado por um dos grupos ateístas dos mais fundamentalistas do mundo, fala sempre meias-medidas. Recordo-me de ter estado em Espanha numa jornada da família onde não foi possível conter todas as pessoas no espaço que havia sido reservado. A notícia do “elpais” mostrava um espaço quase sem ninguém e noticiava uma fraquíssima participação. No dia seguinte enviei um mail ao jornal. A resposta foi curiosa: “ Nuestro informe se hizo a las ocho de la mañana y el comienzo del “Encuentro” Eran las once. Esto justifica tal discrepancia.”.
    Chama-se a isto jornalismo sério.

    Neste preciso momento, estão OCUPADAS TODAS as “51 000 Sillas” no espaço exterior da Basílica da Sagrada Família – segundo as reportagens e imagens da Neox, VTV, TVG, La2, etc.etc. etc.
    Vejamos o que dirá o “elpais”.

    Vi algumas imagens das manifestações contra a visita papal em duas cadeias de TV: a 24Horas e a CNN+. Que diferença!
    Uma imagem aérea mostra um magote de pessoas.
    Uma imagem terrestre mostrava uma multidão.

    Que miopia! Que cegueira!

    O ateísmo fanático tem destas coisas: http://anti-ateismo.blogspot.com/2010/11/imbecilidade-dos-perigosos-ateus.html

    • Se_moncho-blogue

      É possível que em Barcelona houvesse muita gente, não sei. Mas eu escrevo desde Santiago e posso assegurar que aqui teve muito pouco público. Houve isso sim, muita policia, mas fieis muitíssimos menos que os esperados. Falavam-se de 200.000 é não sei se chegariam a 10.000.

  • Jcduarte

    “Prada recebido em Barcelona por poucos fieis e muitos homosexuais que à sua passagem se beijaram.”

    Imediatamente perguntou ao seu assessor porque razão tinha sido marcado o Concilio do Vaticano para este dia, sem ser avisado.

  • Anónimo

    algumas das imagens que provam “a boa recepção do do papa em espanha”…

    http://fundacaovelocipedica.wordpress.com/2010/11/07/da-boa-recepcao-do-papa-em-espanha-imagens/

  • Anónimo

    oh anónimose acha mesmo “este site muito arrogante e provocador.” e que: “A falta de educação e o excesso de liberdade que permitem comportamentos arrogantemente provocadores e insultuosos, são iguais à repressão.”que faz aqui?… é masoquista…? ou está a cumprir uma promessa à virgem?eu… quando não gosto, ou como menos ou nem meto nada no prato…o anónimo… não o entendo.e vem com oexcesso de liberdade?… pois. o medo que vocês têm da liberdade…para esses espíritos subservientes, moldados à medida de cartilhas… compreendo. é muito difícilevêm para aqui treinar. não é?…vocês com esse linguajar eram banidos de qualquer site religioso…melhor; nem entravam.temos uma sina…é que é só melgas…!qualquer dia vou sugerir uma rede mosquiteira para o blogue…

  • Anónimo

    A razão do fracasso encontra-se na monotonia das missas, na repetição da coreografia e na insistência nos milagres que ninguém leva a sério. Um Papa que se apoia no Opus Dei, nos Legionários de Cristo e nos fascistas de monsenhor Lefebvre arrisca-se a ficar a pregar para os empregados da ICAR e para os indefectíveis de todos os papas.

    OXALÁ! OXALÁ!

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