Loading
  • 12 de Outubro, 2010
  • Por Ricardo Alves
  • Laicidade

O professor crucificado

No cantão suíço de Valais, um professor do ensino público foi despedido por se atrever a retirar um crucifixo da sala de aula. A seu favor, tem uma decisão do tribunal federal suíço, em 1990, que confirma que a presença do crucifixo na sala de aula viola a liberdade confessional. Contra si, tem a circunstância de ter desobedecido à ordem da autoridade escolar para recolocar o crucifixo.

O professor Valentin Abgottspon, como se não bastasse, é presidente da secção local da Associação Suíça dos Livres Pensadores. E não o esconde. Como é de seu direito. Mas a lei escolar cantonal prevê a «educação cristã» dos alunos, o que é sem dúvida anacrónico e antilaicista.

Caberá ao governo do cantão tomar uma decisão definitiva, mas não final: a batalha prosseguirá nos tribunais, porque ninguém compreende como um cantão com 4% de católicos praticantes pode despedir um professor por retirar da parede o instrumento de tortura popularizado como símbolo de uma religião. A laicidade, enquanto forma de separar o espaço das crenças e o espaço do ensino, acabará por se impor, mas como sempre através de lutas longas e difíceis.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

11 thoughts on “O professor crucificado”
  • Anónimo

    AÍ ESTÁ A RELIGIÃO E A POLÍTICA A DEFENDEREM MUTUAMENTE OS INTERESSES DE AMBOS.

  • Pingback: Tweets that mention O professor crucificado :: Diário Ateísta -- Topsy.com

  • antoniofernando

    O professor em causa será provavelmente ateu, eventualmente refugiado na associação eufemística dos ” Livres Pensadores”. Como se a livre expressão de pensamento só pudesse ser aferida pelo critério de aferição restritiva dos ateus. Pobre manifestação de exercício intelectual. Se é desse modo que a referida associação se quer impor,começa mal no tom de prosápia filosófica que se arvora. Aliás, não só começa mal como até se menoriza. Não é vergonha para nenhuma associação reivindicar-se ateísta. Vergonhoso é esconder os seus fundamentos ideológicos no eufemismo da expressão adoptada. Afinal não é só em Portugal que prepondera o nacional- porreirismo superficial e militante.Até na Suiça da banca repleta de dinheiro das mais vis proveniências isso acontece.Por mim, poderia retirar o crucifixo à vontade. Também entendo que, nas escolas públicas, não deve haver lugar para a exibição de símbolos religiosos, colocados pelas respectivas direcções. Coisa diferente é cada cristão ou muçulmano, ou hindu, ou judeu ou de qualquer outra religião usar os símbolos religiosos que muito bem entender. Pessoalmente não uso cruz como elemento de referência cristã. Mas,se usasse, e se o Valentim Abgottspon se atrevesse a retirá-lo,iria haver confronto físico pela certa.Há limites para tudo. Inclusive para a tentativa de aviltamento de outros cidadãos.Se a lei escolar cantonal prevê a ” educação cristã” dos alunos ,também me parece inconstitucional. Cada qual deve ter o direito de ter a educação que deseja e não estar sujeito a qualquer tipo de imposição ideológica. Seja teísta ou ateista. O Ricardo considera a cruz um instrumento de tortura. E tem razão. Cristo foi torturado na cruz por não ceder na assunção dos princípios éticos que apregoava. Como ele muitos mais assim foram torturados. No tempo dos romanos, imensos foram lançados às feras e feitos archotes de iluminação pública. Mas a tudo isso o Cristianismo resistiu. Decorridos 2010 anos depois da morte de Cristo,o Cristianismo prevalece. Não vai ser fácil derrubá-lo. Podem tirar das escolas públicas todos os crucifixos que quiserem. A grandeza da Doutrina de Cristo não depende de objectos de culto mas da sua superioridade ética . Algo que muitos ateus nunca irão reconhecer. E muitos mais outros, ressabiados, biliosos e amargurados, também não. Não deixa, porém, de ser curioso verificar o título que o Ricardo Alves adoptou para este seu texto: ” O Professor Crucificado”. Onde quer que esteja um homem ou mulher injustiçados podemos, de facto, usar apropriadamente,como metáfora, a expressão adjectivante que escreveu. Mas, na foto que ilustra este texto, não se notam, nem vergastadas, nem escoriações de coroas de espinhos, nem um rosto amargurado. Entende-se: Jesus de Nazaré só houve um e Valentim não lhe chega sequer aos calcanhares…

    • carpinteiro

      «Jesus de Nazaré só houve um…»

      Jesus? qual Jesus, o histórico ou o mitológico?

  • Antonioporto

    Pelo que entendi, a justiça do país permite que ele faça isso, mas as escola não.
    A situação é complicada, pois envolve pontos de vistas diferentes.
    Se a escola é pública e a justiça permite que se tire o crucifixo,
    então foi a escola que desrespeitou a leie não o professor.
    Como sou crente, também não sou a favor que se tenha simbolos religiosos,
    inclusive bíblias, em lugares público, mas não faço disso um cavalo de batalha.
    Se Jesus tivesse morrido enforcado, será que os católicos colocariam
    uma forca no próprio pescoço?

    • Anónimo

      Aparentemente a escola podia fazer o que fez e penso que a decisão do tribunal federal de 1990 não resultou em lei.
      Se o professor o entender, será essa decisão com 20 anos que o poderá ajudar numa possível batalha jurídica.
      Mas será que justifica? Afinal é um boneco pendurado na parede!!
      Percebo o principio do professor, pois o boneco tem uma grande carga religiosa, mas seria mais bem apostado pejar a parede com tudo o que é boneco representativo de outras crenças.
      Talvez assim a situação se invertesse e fosse a escola a exigir a retirada dos adornos de parede.

  • Jeferson de Almeida

    Se fosse na América Latina eu não ficaria surpreso.
    Mas na Suiça!!!
    É surpreendente como mesmo em países de população mais culta ainda possa acontecer incidentes como esse.
    Principalmente se levarmos em conta que o símbolo religioso em questão só representa uma parte muito pequena da população.
    Aqui no Brasil toda repartição pública tem um crucifixo. E há até júiz de paz que termina o casamento civil em nome de Jesus.
    O poder da ICAR é tão grande que uma candidata a presidente que se declarou ateia no passado foi pedir a bênção a “Senhora de Aparecida” e se deixou fotografar no batismo de seu neto.

  • sauloxicão

    Puta mera! Se isso aconteceu na Suíça imagine aqui, no Brasil!! É capaz do professor ser lixado pelos acéfalos.

  • rayssa gon

    a escola q fiz o ensino fundamental, ainda tem uma sala repleta de versiculos biblicos.

    tá em todo lugar. 🙁

  • zyn

    Trata-se de uma exteriorização de maldade de uma pessoa. Talvez se possa classificar esta atitude como a uma “proeza” de um fulano que quer mostrar que é um herói.

    Entro frequentes vezes num edifico publico onde tenho que tolerar a presença do busto de um individuo que prejudicou muito os meus antepassados familiares, que tal se eu o arremessasse pela janela para a rua?

    E, nem seria esse o caso do dito professor. A sua atitude era apenas para “chamar atenção”.Que mal! saiu-lhe o tiro pela culatra.

    Acho justa a decisão da escola!

    • carpinteiro

      Caro zyn.

      «Entro frequentes vezes num edifico publico onde tenho que tolerar a presença do busto de um individuo que prejudicou muito os meus antepassados familiares, que tal se eu o arremessasse pela janela para a rua? »

      Acabou de lançar uma questão bastante pertinente, não fora o caso de o individuo que prejudicou muito os seus antepassados ter realmente existido.

You must be logged in to post a comment.