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  • 12 de Setembro, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Catolicismo

A missa na aldeia_1 (Crónica)

Os sinos da igreja intimavam os paroquianos para a missa. O templo ia enchendo, homens à frente, mulheres atrás, os menos pobres nas primeiras filas, sempre conforme à hierarquia e à tradição. Uns minutos antes das nove ouvia-se a moto do padre Farias que já tinha despachado a missa das oito em Casal de Cinza e ainda o esperava a das dez noutra paróquia.

Entrava sempre com o ar mal disposto de quem sentia o penoso serviço de Deus como condenação, em paróquias pobres, de gente rude, sem instrução nem banho. Ainda há dois dias ali estivera para ouvir em confissão os pecadores mais aflitos ou com hábitos mais frequentes da eucaristia. Não tardariam a chamá-lo de novo para levar o viático a um desgraçado que já não descolava da cama nem para a santa missa.

O latim deixava estarrecidos os crentes pelo carácter esotérico que assumia aos castos tímpanos de quem até o português, para lá de algumas centenas de palavras, soava a latim ou parecia língua estrangeira criada por Deus para confundir os homens nas obras da Torre de Babel.

A homilia era breve e as ameaças repetidas. Trabalhar ao domingo deixava o Senhor furioso, comer carne à sexta-feira era veneno para a alma de quem não tivesse a bula, a côngrua andava atrasada por parte de alguns paroquianos, a trovoada tinha dizimado as searas, era certo, mas a culpa não lhe cabia a ele, padre Faria, que cuidava das almas, a moto não se movia a água nem o mecânico a consertava a troco da absolvição dos pecados. No entanto, o mais injurioso para Deus e arriscado para a alma era trair a castidade pela qual a Santa Madre Igreja tanto zelava.

Dita a missa, antes de deixar sair os paroquianos, fazia avisos: pedia a quem encontrasse uma burra que avisasse o dono, lembrava às freguesas que as crianças podiam ficar em casa se não se calassem na missa, que todos os cristãos podiam baptizar um recém nascido em perigo de vida, in articulo mortis, sem necessidade de despachar estafeta a exigir a sua presença, com risco de não estar ou de lhe minguar a disponibilidade.

Recordo as pias mulheres, embiocadas no xaile e lenço negro, a debitar ave-marias, sem me ocorrer que vivessem o drama de D. Josefa que Eça nos apresenta «toda sossegada, toda em virtude, a rezar a S. Francisco Xavier – e, de repente, nem ela soube como, põe-se a pensar como seria S. Francisco Xavier, nu, em pêlo».

Já não me surpreende que a Ti Celesta, transida de frio e carregada de fome, de fé e de filhos, sempre com aquela tosse que irritava o padre e merecia das outras mulheres o diagnóstico de tísica, se debatesse com o mesmo problema da D. Josefa de «O crime do padre Amaro», talvez em situações mais graves.

A bondosa D. Josefa acrescentava à nudez fantasiada do santo outro pecado que a torturava: «quando rezava, às vezes, sentia vir a expectoração; e, tendo ainda o nome de Deus ou da Virgem na boca, tinha de escarrar; ultimamente engolia o escarro, mas estivera pensando que o nome de Deus ou da Virgem lhe descia de embrulhada para o estômago e se ia misturar com as fezes! Que havia de fazer?”

Com a Celeste a consumição era maior, embora alheia à metafísica. A tosse e a expectoração apoquentavam-na durante a eucaristia e o padre Farias já a tinha ameaçado de lhe recusar o sacramento apesar da devoção com que cumpria os deveres canónicos e a regularidade com que paria um filho por ano.

Mal o corpo e o sangue do Cristo lhe eram pousados na língua, em forma de alva rodela de pão ázimo, logo as secreções lhe acudiam à boca parecendo acalmar à medida que o alimento espiritual aconchegava o tracto gastrointestinal, acalmando o jejum e o catarro, seguindo o curso fisiológico.

Depois, enquanto o padre desaparecia sobre a moto, entre nuvens de pó, ficavam os homens a falar da vida, as mulheres regressavam a casa a fazer contas à vida e os garotos enganavam a fome com uma bola de trapos, sem pensar na vida.

22 thoughts on “A missa na aldeia_1 (Crónica)”
  • antoniofernando

    Se você, Carlos Esperança, continua a publicar textos,assim como este, muito bem escrito e não panfletário ainda se arrisca a perder ” clientela”.Não sabe que o pensamento elevado não dá ” votos” ?…:-)

  • antoniofernando

    Se você, Carlos Esperança, continua a publicar textos,assim como este, muito bem escrito e não panfletário ainda se arrisca a perder ” clientela”.Não sabe que o pensamento elevado não dá ” votos” ?…:-)

  • Andreia_i_s

    “Se você, Carlos Esperança, continua a publicar textos,assim como este, muito bem escrito e não panfletário ainda se arrisca a perder ” clientela”.”

    O Sr. Carlos Esperança esta-se nas tintas se perde ou não “clientela” como lhe chama. Ao contrário da sua igreja que está sempre preocupada em perder sócios.

    • Anónimo

      OH ANDREIA

      SE CALHAR NÃO SABES, MAS O ANTONINHO FERNANDO É CONTRA TUDO QUE QUE SE VÊ E SENTE, DESDE QUE RELACIONADO COM A SANTA ICAR, POR SER TÃO OBVIAMENTE ATACÁVEL…
      POR OUTRO LADO, REFUGIA-SE NA SUA FÉ EM CRISTO E NA CRENÇA EM DEUS E JÁ AGORA TAMBÉM NOS ANJOS…
      DESTE MODO, SEMPRE PODE DIZER QUE ACREDITA…PORQUE SIM E PONTO FINAL.

  • Elmano1948

    Não se preocupe António que nós os ateus, para além de nos não preocuparmos com proselitismo, também não estamos preocupados com os dízimos dos fregueses.

  • Laico

    Nem mais nem menos.
    Tal e qual a vida de antigamente muitíssimo bem retratada e só entendida pelos que viveram essa época.
    Continue que nós gostamos. Incluindo as gerações mais novas.
    Obrigado pelo texto.

  • antoniofernando

    A minha igreja uma ova. E vê se aprendes o que são figuras de estilo irónico que este texto do CE merece bem mais do que o primarismo da tua brejeirice…

  • antoniofernando

    Tiro a lado.Vê-se mesmo que não entendeu patavina do sentido do meu comentário…

  • antoniofernando

    Concordo. É sem dúvida um grande texto do Carlos Esperança, bem maior do que outros que ele já aqui publicou de carácter panfletário, eivado de generalizações imprecisas e injustas e de propósitos de palmas a pedido. Os ressabiados certamente que preferem que ao CE salte mais vezes a chinela do pé e que arrote vezes sem conta, para catarse dos seus mesquinhos problemas existenciais.Faço votos que ele não baixe o nível desta intervenção. Pela amostra dos anteriores comentários, vê-se bem que o pensamento elevado não seduz quem alinha o intelecto pelo primarismo das suas habituais condutas…

  • Anónimo

    ORTODOXO E POUCO SENSÍVEL, LÁ IA O PADRE FARIAS PREGAR A OUTRA FREGUESIA.
    SIM, PORQUE DE FACTO A MOTO NÃO SE MOVIA A ÁGUA, OS SEUS OUTROS AFAZERES TAMBÉM TINHAM CUSTOS E JUNTAR UM BOM PÉ DE MEIA PARA A VELHICE SEMPRE TINHA AS SUAS DIFICULDADES.
    PADRE À MODA ANTIGA, FARIAS PAPAGUEAVA A MISSA CONFORME TINHA APRENDIDO NO SEMINÁRIO E OS PAROQUIANOS TAMBÉM NÃO SE QUEIXAVAM.
    JÁ LÁ IAM TRINTA E CINCO ANOS, SEMPRE EM PARÓQUIAS POBRES DO INTERIOR, O QUE LHE DIFICULTAVA A SITUAÇÃO, TENDO EM CONTA O BAIXO NIVEL DE VIDA DOS PAROQUIANOS, CUJAS ESMOLAS ACABAVAM SEMPRE POR NUNCA IR DE ENCONTRO AOS SEUS INTERESSES.
    VALIA-LHE A FALTA DE VOCAÇÃO DE NOVOS PADRES E ASSIM SEMPRE HAVER MAIS PARÓQUIAS PARA ATENDER E HOMILÍAS PARA REALIZAR. DESSE MODO, TAL QUAL CARTEIRO CITADINO EM REGIME DE RECIBOS VERDES, EXERCIA A SUA ACTIVIDADE DE FORMA RÁPIDA E OBJECTIVA DE MODO A REGRESSAR O MAIS CÊDO POSSIVEL AO RECOBRO DO LAR ONDE A SUA CARMINHO (ANTIGA E FIEL CRIADA QUE O ACOMPANHA JÁ LÁ IAM ALGUNS ANOS) O ESPERAVA PARA O AJUDAR A GERIR AS ESMOLAS E A QUEM ELE SEMPRE AJUDOU A CRIAR SEUS FILHOS, POR SINAL TODOS AFILHADOS DO PADRE FARIAS…

  • antoniofernando

    Eu não sou cobarde como tu, que te refugias num nick anónimo e gostas de usar diminutivos de tratamento porque te devem tratar como o pobre zezinho da esquina e nunca perdoaste isso a Deus.Desde que te sentiste apoucado na tua frágil condição humana, não resistes à tentação de veres nos outros a pessoa medíocre que és. Complexo de inferioridade também se trata… 🙂

    • Anónimo

      OH ANTÓNIO FERNANDO

      ASSIM NÃO VALE. SEM QUALQUER HIPÓTESE DE RESSABIAMENTO, VAMOS LÁ VER…
      EXCEPTO OS COLABORADORES AQUI IDENTIFICADOS (ASSUMO QUE OS NOMES SÃO VERDADEIROS) NÃO VEJO NINGUÉM A COLOCAR COMENTÁRIOS E A IDENTIFICAR-SE. SERÁ QUE antoniofernando O IDENTIFICA PERANTE ALGUÉM, TALVEZ EXCEPÇÃO FEITA ÀQUELES A QUEM PARTICULARMENTE SE IDENTIFICOU?

      ESTE BLOGUE, JULGO QUE SERVIRÁ CONCERTEZA PARA FAZER COMENTÁRIOS, DE PREFERÊNCIA SÉRIOS E SEM INSULTOS, O QUE NÃO IMPLICA QUE NÃO SE POSSA BRINCAR E ATÉ GOZAR PERANTE TANTA ENORMIDADE AQUI REFERIDA, NOMEADAMENTE POR CRENTES.

      PARA HAVER UM PADRÃO DE COMENTÁRIOS SÉRIOS, É NECESSÁRIO QUE HAJA UM PADRÃO DE RACIOCÍNIO SOBRE O TEMA DAS CRENÇAS, DAS RELIGIÕES E DA EXISTÊNCIA DOS DEUSES, QUE SEMPRE EMBATE NO MURO DA FÉ E DO DOGMA, DADO QUE OS CRENTES NÃO CONSEGUEM DAR EXPLICAÇÃO, COMO MUITO BEM SABE. UNS INCONSCIENTEMENTE ACREDITAM E OUTROS MAIS CONSCIENTES PREFEREM TODA A VIDA ACREDITAR NA INCERTEZA, O QUE ME PARECE UMA INCONGRUÊNCIA ACABADA, NOMEADAMENTE PARA PODER CONSTITUIR A BASE PARA A JUSTIFICAÇÃO DA VIDA NA TERRA.
      CONSIDERO QUE NÃO PODE HAVER MAIOR E MAIS GENERALISADO COMPLEXO DE INFERIORIDADE, DO QUE AQUELE QUE OS CRENTES TÊM PERANTE UM DEUS QUE VENERAM MAS SOBRE O QUAL TÊM DÚVIDAS.

  • antoniofernando

    Afinal Andreia e Ajpb vieram a terreiro.Morderam o isco os incautos. Pela amostra dos seus comentários rasteiros fica cientificamente provado que pensamento elevado não dá votos…
    E , perante o primarismo retórico destas luminárias do” mais fino gabarito intelectual”, até apetece desabafar:

    Volta João C,estás perdoado… 🙂

  • Andreia_i_s

    Boas tardes,
    se realmente foi irónico, assim acreditarei e peço desculpa se fui malcriada ou rude.

  • José M

    “(…) e nunca perdoaste isso a Deus.”
    Qual deus, António Fernando? O da Bíblia, ou o seu?

  • veradictum

    A isto chama-se excelência.
    Ao CE o meu sincero obrigado por mais esta pérola de literatura

  • antonioferando

    Andreia:

    Nada me separa de uma pessoa eticamente bem formada. A minha mulher é ateia,membro da Associação Ateísta Portuguesa e foi através dela que descobri este blogue.O meu melhor amigo,a quem estimo como irmão,também é ateu.. Enfatizo estas notas pessoais apenas para sublinhar que, humanamente, não nos devemos dividir pela nossas específicas ideologias. Acreditar ou não em Deus não deve ser motivo para escarnecermos de quem quer que seja, embora eu próprio não resista à tentação de retorquir a quem gratuitamente me insulta.A ética fraternal de valores não depende de sermos teístas ou ateístas. Pessoas bem formadas existem em todas as formações do pensamento. Costumo até dizer que os ateus ,que generosamente praticam o Bem e que se interessam pelos injustiçados da condição humana, têm até uma superioridade moral sobre os crentes porque não fazem depender essa devoção de qualquer Deus ou céu em que não acreditam.Acredito em Deus e por isso não me devo sentir culpado ou ser injustamente censurado pela minha crença. Já abandonei a ICAR há vários anos e da Doutrina de Cristo faço as minhas leituras pessoais. Não necessito de intermediários para me aproximar de Deus ou para interpretar o Novo Testamento.Há três anos tive uma grande crise de fé. Procurei o amparo de Deus e não o encontrei. Também eu perguntei:” Meu Deus porque me abandonaste ?”.Podia ter-me tornado num ateu ou num crente ressabiado. Curiosamente,sabe quem foi a pessoa que mais se preocupou em que não me tornasse num ateu ? A minha querida mulher ateia. Devo a ela o facto de me ter questionado se não seria a minha concepção de Deus interventor que estaria errado. E, após um longo período de reflexão, concluí que sim. Que estava errada. Porquê então permaneço a acreditar em Deus ? Não vou revelar. Há matérias tão pessoais que só as devemos confidenciar aos nossos melhores amigos. Apenas acrescento: concluí que toda a vida é evolução mas também e essencialmente espiritual. Porque se preocupam tanto os crentes e até os ateus em indagar porque não põe Deus fim ao Sofrimento Humano ? Se Deus existe,a obra da Sua Criação é já de tal forma grandiosa que a nós, crentes, compete fazer a parte da Criação que nos cabe cumprir: o mandamento divino ” amai-vos uns aos outros”, traduzido consequentemente na prática comportamental e na acção político-social. Cristo de alguns pães e peixes deu o enorme sinal de que não há Cristianismo sem justa socialização da riqueza e esses e outros ensinamentos são fundamentações ideológicas progressistas de que eu, como crente e cristão, não abdico de evocar.Admiro e agradeço o seu gesto bonito…

    • Anónimo

      Se Deus existe,a obra da Sua Criação …

      OH ANTÓNIO FERNANDO

      PENSEI QUE TINHAS MAIS CERTEZAS.

  • antoniofernando

    José M:

    Não sei quem é deus, mas sei que há bem mais crentes ressabiados do que verdadeiros ateus.Por aqui encontrei três ateus, que não precisam de cuspir quotidianamente o seu azedume existencial, para se afirmarem com elevação de comportamento e superioridade intelectual: Ludwig Krippahl, Jovem 1983 e, mais recentemente, Rui Cascão. Estes certamente que não andaram a rastejar pelo terreno de Fátima em busca de benesses divinas. Outros sim. Andaram por lá ajoelhados e não viram as suas preces atendidas. São depois os que se disfarçam de ateus mas mais não são do que crentes ressabiados. Daqueles que possuem do divino uma visão egocêntrica e mesquinha. Apelando para uma espécie de demiurgo permanentemente tutor dos seus dramas existenciais. Como Deus não lhes faz a vontade, revoltam-se e passam a expelir bílis em todos os seus amargurados dias.Há- de lhes adiantar muito quererem que Deus ande a reboque da sua teologia interesseira. Que diferença enorme entre a inteligência e afabilidade de Carl Sagan e do amargurado José Saramago. Que abissal distância entre um verdadeiro ateu e um crente ressabiado. ” Diário Ateísta”, este ? Não: ” Diário Ateísta e dos Crentes Ressabiados”. Mais dos crentes ressabiados…

  • LR

    Se não acreditam em Deus, porque gastam tanto tempo a falar d’Ele? Já pensaram nisso (trabalho para casa)?

  • José M

    Caríssimo António Fernando:

    Sinceramente, você começa a desiludir-me. Claro que você está-se borrifando para as minhas desilusões, do mesmo modo que eu começo a borrifar-me para os seus escritos; no entanto, eu tinha que lhe dizer isto.
    Eu sempre pensei que você fosse um daqueles crentes “ajuizados”, tolerantes e tranquilos de mente – que ainda os vai havendo, felizmente. Porém, começo a verificar – e não é de agora – que a sua escrita escorreita e marcadamente pernóstica, esconde uma mentalidade fundamentalista e sectária. Além disso, tem problemas com a qualidade do verniz, que estala com facilidade. Adiante.
    Claro que há ateus ressabiados. Do mesmo modo que há crentes igualmente – ou mais – ressabiados. Os primeiros pediram ao respectivo deus uma ou mais graças. Como não lhes foi concedida – como seria de esperar – “zangaram-se” e desataram a berrar que Deus não existe. Certo! Do mesmo modo que há crentes que, não tendo alcançado a(s) graça(s) solicitada(s) trataram de mudar de deus, criando um à sua imagem e semelhança. Numa atitude pedante, chamam-lhe “o meu conceito de deus”, coisa fina. Mas você, António Fernando, esqueceu-se de outra categoria de ateus: aqueles que, não tendo pedido nada, decidiram começar a pensar pela própria cabeça – julgo que sabe o que é isso, pelo menos já deve ter ouvido falar. Mas você não conhece, certamente, esse tipo de ateus. Porque você, como bom cristão, e tal como o seu mentor, acha que “quem não é por mim é contra mim”, numa atitude marcadamente maniqueísta. Para si, o mundo é a preto e branco, onde só há bons e maus. Não entende que também há os “assim-assim”.
    Posso dizer-lhe, pela parte que me diz respeito, que nunca pedi nada a Deus., embora tenha sido criado em ambiente de beatice. Tinha uma avó e uma tia que eram beatas até dizer chega, e que me obrigavam a frequentar a igreja. Não havia trovoada que não levasse a minha avó a invocar a Santa Bárbara. E a verdade é que a trovoada acabava por passar. Só mais tarde é que comecei a verificar que não rezando a trovoada passava na mesma… Foi o princípio do fim.
    Os anos foram passando e eu comecei a fazer perguntas. Foi esse o problema: não encontrava respostas e o clássico “Deus é que sabe” não me satisfazia. Por exemplo, nunca consegui compreender como é que um pai abandona os filhos à sua sorte. E não venham, por favor, com a anedótica estória do “livre arbítrio”: não há “livre arbítrio” que valha perante um tremor de terra ou um “tsunami”. Se, como dizem, Deus é o pai, é um pai altamente desnaturado. O que quer dizer, e para resumir, que a minha posição ateísta foi sendo tomada ao longo do tempo, e não por uma qualquer birra.
    Chega, que isto já vai longo. Mas, como referi acima, eu tinha que lhe dizer isto.

    Cumprimentos.

  • Anónimo

    Aqui fala-se D’elE porque mesmo afirmando que elE não existe, um ateu só é ateu por causa D’elE. Ou seja, se ninguém afirmasse que elE existe, não existiria quem afirmasse que elE não existe.

    Em todo o caso, se bem reparou, aqui não se fala propriamente D’elE, mas muito mais de um certo e determinado tipo de gente e/ou estruturas, que em nome D’elE, cometem algumas das mais hipócritas a repugnantes atrocidades. Pessoas, entendeu?

    T.P.C.- O que leva um crente e se calhar religioso, a visitar um blog com o nome “Diário Ateísta”?

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