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O 10 de Junho e a memória da ditadura católica

Parece que é a nossa vocação mórbida que conduz à celebração da morte em vez da exaltação da vida e à perpetuação das piores memórias da ditadura para alimentar rituais que a higiene democrática já devia ter banido.

Exumam-se os hábitos e tiques do salazarismo para ornamentar com veneras os peitos disponíveis das celebridades autóctones, algumas só conhecidas da família, dos amigos, do partido e dos negócios.

Vestem um fato de cerimónia, põem um ar grave e lá esperam que o nome seja citado para oferecerem o pescoço ao nastro, o peito à venera e as costas aos abraços.

É assim todos os anos e não se nota a ausência do Tomás. Faltam apenas as viúvas, os órfãos e os estropiados que davam à cerimónia o ar lúgubre da tragédia que teima em perseguir-nos e do ritual que não há coragem para mudar.

Mantém-se o presidente e os carregadores que transportam as medalhas, os figurantes e figurões que desfilam no ecrã das televisões, as vaidades reprimidas e as cumplicidades.

O 10 de Junho é a repetição da liturgia do Império a que faltam, agora, as colónias e os mutilados, as mães dos filhos mortos, as criancinhas a quem mataram o pai e os Pides que nunca foram julgados.

É o palco de vanglórias para mostrar à Pátria o presidente escolhido e os figurantes que ele aceitou distinguir. Tudo se pauta pelo mau gosto e por uma liturgia gasta, numa cumplicidade entre a vaidade dos que foram agraciados e a conveniência política de quem os distingue.

Faltam, por pudor, a missa e o cardeal, a caldeirinha da água benta e o hissope, orações e padres.  Mas não faltarão ave-marias e genuflexões, quem se persigne e quem vá ao beija-mão.

Para quem fez a guerra colonial e não perdeu a sensibilidade, é com um misto de revolta e de vergonha que vê o nome de Camões associado à palhaçada que a ditadura montava para legitimar a guerra ignóbil em que destruiu uma geração, com o cardeal a dizer uma missa por alma dos que mataram.

Eu saí da guerra colonial, dos quatro anos e quatro dias de tropa, mas nunca saíram de mim os 26 meses de Moçambique, o Moura que lá ficou no rio Zambeze e o Dias cujo calor do corpo esmagado ainda sinto a sangrar-me nos braços a fazer-me sangrar por dentro.

13 thoughts on “O 10 de Junho e a memória da ditadura católica”
  • antoniofernando

    Acho bem que se comemore o 10 de Junho como Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades como acho bem que se comemore o 25 de Abril. Camões e Salgueiro Maia parecem-me dois símbolos humanos relevantes da Portugalidade mais inconformada.Quanto às cerimónias oficiais, prefiro as comemorações populares sentidas às oficialmente evocadas…

  • Carlos Esperança

    António Fernando:

    Comemorar Camões é um dever de quem ama a língua e gosta de Portugal. Manter cerimónias quase iguais às da ditadura, ofendem.

    Camões e Salgueiro Maia estão muito acima dos figurantes desta liturgia.

  • antoniofernando

    Carlos Esperança:

    Também prefiro todas as comemorações genuinamente populares…

  • Molochbaal

    Considero um pouco infeliz a referência a uma suposta contradição do 10 de Junho nacionalista e colonialista com os valores da república democrática.

    Foram os republicanos democráticos quem se apoderaram da imagem de Camões, transformando-o em ícone de ultranacionalismo exacerbado e, aliás, de apologia do colonialismo.

    Foram os repúblicanos democráticos quem transformou a defesa enérgica e militarista do império colonial em motivo de mudança de regime.

    Foram os republicanos democráticos quem, para defender o império colonial lançaram o país na guerra mais sangrenta de que tem memória, a I GM, onde morreram muitos, mas muitos mais tugas do que na guerra colonial salazarista.

    De facto, pode haver muitas contradições entre o salazarismo e o republicanismo democrático. Mas se há um ponto em comum é precisamente a exaltação nacionalista, nomeadamente no 10 de junho como símbolo guerreiro imperial e o imperialismo colonial.

  • jovem1983

    Caríssimo Molochbaal:

    Aparentemente a sua interpretação carece de vários dados históricos, no que concerne aos acontecimentos que mencionou, os respectivos contextos em que se geraram, e nesses, em particular, a organização do sistema político português.

    Portugal foi o terceiro país da Europa, logo um dos pioneiros, a organizar-se segundo um regime republicano. Os seus desenvolvimentos não foram lineares, em muito pelo contributo dos eventos internos e externos dos primeiros anos, bem como a tenção e manutenção de clientelas do anterior regime ou, posteriormente, partidárias.

    Neste campo, o estudo da História de Portugal, no que diz respeito à esfera política, considera de forma consensual a existência de três períodos no regime republicano nacional, a saber:
    I República (1910-1926);
    Estado Novo (1926-1974);
    Democracia (1974- ).

    Outro aspecto, a participação de Portugal na Primeira Grande Guerra não é comparável com as guerras coloniais, em todos os níveis; bem como a exaltação nacionalista não ocorre nos moldes que se desenvolveram durante o Estado Novo.

  • Zeca portuga

    Ilustre Jovem:

    Portugal foi o terceiro país da Europa, logo um dos pioneiros, a organizar-se segundo um regime republicano.

    Não é exactamente assim, lustre Jovem. A republica é um sistema politico com uma curva de implementação pouco invejável. Os primórdios remontam à longínqua (no tempo) Grécia, atravessaram a velha Roma, trespassaram a França (onde a liberdade e a fraternidade se media pelo numero de cabeças decepadas na guilhotina). Poretugal não é o terceiro, nem nunca foi organizado coisa alguma. A república foi imposta por bandoleiros, assassinos, assaltantes e quadrilhas a de algumas máfias (a máfia do avental, a máfia da Carbonária e a máfia ateísta em geral).

    Os seus desenvolvimentos não foram lineares…
    Felizmente e graças a Deus que não foram!…
    Estou a ver os protonazis (como Sampaio ou o Costa), a velar a sua ideia em frente: criar campos de extermínio para os jesuítas e quem seguisse a sua regra (como defendia Sampaio, por exemplo)… depois vinham os crentes em geral… etc.

    ”I República (1910-1926);
    Estado Novo (1926-1974);
    Democracia (1974- ).”

    Ou melhor:
    ”I República (1910-1926);
    Estado Novo (1926-1974);
    III República (1974- ).

    São apenas fases arbitrárias da mesma coisa – a república.

    Vá-se lá saber porquês a segunda não é contada, quando tudo foi republica e a “II” não foi, sequer, pior do que a “I”.

    ” a participação de Portugal na Primeira Grande Guerra não é comparável com as guerras coloniais…”

    De todo!!!!
    No segundo caso estávamos a defender o que era nosso, no primeiro estávamos a sacrificar gente que nada tinha a ver com o assunto.
    Curiosamente, um dos Heróis da I Guerra (para a qual a I República empurrou o país) foi o “implementador” da fase fascista da república.

    Ora, estes galhardetes são uma herança mais republicana, tal como as cerimónias politico-maçónicas.

  • jovem1983

    Caríssimo Zeca portuga:

    Quando escrevi pensei que estaria claro o objecto da minha intervenção, conforme também ficou claro no comentário de Malochbaal, as repúblicas europeias modernas, em particular a República Portuguesa.

    Especificamente neste quadro moderno, Portugal foi um dos países pioneiros nesta forma de organização. A divisão que mencionei dos três períodos da República Portuguesa é consensual na sua análise no campo da História de Portugal do Século XX.

    Certamente terá presente algumas das especificidades que marcam e distinguem esses períodos, como a instabilidade interna e externa da I República, onde se inclui em grande medida a participação de Portugal na Primeira Grande Guerra, sobretudo devido aos desenvolvimentos das tensões das relações internacionais com a Alemanha desde 1914, através de conflitos armados nas colónias de Angola e Moçambique, e posteriormente, em 1916, com a declaração oficial de guerra pelos germânicos após o apresamento de navios germânicos.
    Distingue-se como 'Estado Novo', designação adoptada pela formação de regime depois de 1926, o período marcadamente oposto ao liberalismo e parlamentarismo da I República, que posteriormente reforçou o seu distanciamento em 1933, e mantendo essas transformações essenciais até 1974.
    A partir de 1974 são evidentes os princípios democráticos que enformam o regime do país, e que destingem este período dos anteriores, daí o reconhecimento formal actual de República Democrática Portuguesa.

    Todas as cerimoniais oficiais actuais remetem para princípios cerimoniais anteriores à I República.

  • Molochbaal

    jovem1983,

    “Outro aspecto, a participação de Portugal na Primeira Grande Guerra não é comparável com as guerras coloniais, em todos os níveis;”

    Claro que não. Foi muito mais custosa para o país em termos de perdas humanas e materiais.

    Entretanto os motivos foram EXACTAMENTE os mesmos – a defesa do império colonial.

    Se se der ao trabalho de consultar qualquer livro de história sobre a I GM verá que foi a única razão da entrada de portugal na guerra.

    Sendo assim não faz nenhuma diferença da política do estado novo relativa à questão.

    Quanto à designação específica de república democrática, sabe muito bem que esta se considera a herdeira da I república, depois de um interregno salazarista, e foi nesse aspecto que eu me referi.

    Quanto à exaltação nacionalista, a única diferença da I república do salazarismo é que o segundo acrescentou elementos católicos à sua propaganda. De resto, o nacionalismo republicano era tão agressivo como o salazarista. Fundava-se na premissa de um grande império colonial e toda a propaganda republicana assentou no belicismo expresso, por exemplo, no hino da república, que exalta os valores guerreiros da nação. Presumo que nunca tenhas prestado atenção à letra…

    Dizer que há uma grande diferença entre uma propaganda nacionalista que exalta os valores guerreiros e o espirito dos antepassados e uma propaganda que exalta os valores guerreiros e o espirito dos antepassados, só porque uma é de um regime de que gostas e outra de um regime que não gostas, é cair outra vez na discussão das camisolas. Quem tiver uma da mesma cor da minha tem sempre razão…

  • jovem1983

    Caríssimo Molochbaal:

    A sua asserção sobre a minha falta de conhecimento da História de Portugal é frágil, e confirmo-lhe errónea. Confirmo-lhe mais uma vez a distinção entre os três períodos que anteriormente mencionei na análise dos investigadores profissionais da área disciplinar/científica da História, bem como na sua produção.
    Se tiver atenção, reparará que em todos os períodos referidos existem diferenças substanciais na organização política e governamental do país, bem como a progressão do regime e das suas acções não estão de modo algum desconexas do contexto mundial, sobretudo europeu.
    Com essa consideração, facilmente reverá que os motivos da participação de Portugal na Primeira Grande Guerra devem-se sobretudo aos seguintes factores:
    a) necessidade de afirmação do novo regime no quadro europeu, quando este tipo de regime era adoptado apenas por mais dois países da Europa e com larga oposição dos reinos europeus;
    b) necessidade de afirmação e implantação no plano interno, sobretudo contra a oposição das estruturas sociais tradicionais e os caciques locais, num contexto marcado por instabilidade económica e social que se prolongava do Antigo Regime (situação que impulsionou em grande medida a alteração no regime), crise que se adensou com a participação de Portugal na Guerra;
    c) os conflitos armados nas fronteiras coloniais portuguesas em África com os germânicos a partir de 1914, sobretudo as de Angola e Moçambique, acentuados com a declaração oficial de guerra por parte dos alemães a Portugal em 1916, com o apresamento de navios alemães. Neste momento não estava em causa a soberania de Portugal nos territórios que possuía em África, mas tratou-se de uma reacção do país às movimentações germânicas não autorizadas nos seus territórios, e consequentes conflitos. Lembre-se que nesta época as colónias já eram um assunto sensível desde o tempo da monarquia, lembre-se certamente do famoso Ultimato Inglês.
    Distinguirá facilmente estas condições que influenciaram as decisões políticas da altura, e que serviram para justificar a participação Portuguesa na I Grande Guerra, como sendo diferentes das condições, decisões e acções que mais tarde, durante o Estado Novo, procuraram servir e justificar as guerras nas antigas colónias portuguesas no continente africano, e que unicamente neste caso acertou precisamente no objectivo dessas intervenções: a defesa do que restava do Império Colonial Português.

    A consideração hereditária entre a Republica Democrática Portuguesa em relação à I República cabe especificamente ao nível dos ideais e princípios parlamentares e constitucionais do seu funcionamento, e que, como bem escreveu, cessaram em parte com o interregno salazarista. Contudo a sua relação cessa precisamente para além desses campos, acrescentando-se alguns renovados valores pós-25 de Abril e, consequentemente, o apuramento do sistema democrático eleitoral.

    Quanto à questão da propaganda, alguns aspectos que não convém esquecer:
    a) a figura de Camões, entre outros, foi impulsionada pelos interesses e valores nacionalistas do Século XIX, mantendo-se até aos nossos dias segundo abordagens distintas. A figura de Camões serviu de recurso para princípios de unidade nacional, segundo uma herança e personificação de um património linguístico, mas foi apropriada de forma distinta nos três períodos que apontei. O Estado Novo não acrescentou unicamente elementos católicos à sua propaganda, exaltou na sua propaganda figuras e acontecimentos aglutinadores que justificassem o sentimento nacional e a confiança no regime, logo nas suas acções. Reparará certamente que a conotação dada à sua figura difere totalmente das que foram atribuídas anteriormente. Actualmente, utilizando a expressão que utilizou, o recurso à sua figura não é sinónimo de agressividade, bem como o próprio conceito de propaganda não é o adequado para a sua classificação.
    b) O hino nacional foi composto em Janeiro de 1890, enformando ideais patrióticos em protesto contra o Ultimato Inglês, e que alguns interpretaram como antimonárquicos pelas opções republicanas de Alfredo Keil (prontamente desmentidas por Keil e Henrique Lopes de Mendonça, ainda em 1890). A preservação e consagração de A Portuguesa em 1911, a hino nacional pelo novo regime, resultam das reacções contra as proibições monárquicas quanto ao seu uso, devido à apropriação republicana da marcha, consequente do facto simbólico de ter sido entoada em oposição ao hino anterior na primeira tentativa de implantação da República no Porto em Janeiro de 1891, nada mais.

    Tudo o que apresentei não foi a defesa de qualquer partido ou camisola, como pôde facilmente constatar, são apenas alguns dos factos conhecidos e provados, que nos permitem ser assertivos nas nossas considerações quando formamos determinada opinião, e que certamente devem estar presentes e devidamente considerados. Se tiver atenção é fácil reparar que em momento algum proferi um juízo descontextualizado ou apreciativo sobre estes factos que justifique ou fundamente a sua acusação de parcialidade.

  • Molochbaal

    jovem1983,

    Olha, já vi que não vale a pena.

    Portanto dizes que,

    A – A participação tuga na I GM nada teve a ver com a conservação do império colonial, excepto por uns incidentezitos de fronteira. Não sei que livros de história andas a ler, nos meus a questão colonial aparece sempre em primeiro lugar. Nomeadamente as pressões internacionais causadas pela possibilidade de partlha das colónias entre os alemães e os nossos “aliados” ingleses, ao ponto de existirem tratados secretos (tornados públicos) nesse sentido. Mas pronto.

    B – Só por a portugueza ter sido proibida pela monarquia é que os republicanos a adoptaram, nada tendo a ver PRECISAMENTE ( !!!!!!!!! ?????????? !!!!!!!!!!! ) o contexto de ter sido escrita como um desafio bélico a favor da expanção do nosso império colonial. Nadinha mesmo, foi só para contrariar o rei. Só para contrariar. Só… Se fosse qualquer outra coisa os republicanos teriam adoptado na mesma, só por birra.

    Vá lá tivemos sorte. Se o rei tem proibido alum folheto de publicidade a uma casa de putas os republicanos teriam imediatamente adoptado a letra do folheto como hino nacional e hoje cantaríamos a plenos pulmões nas cerímónias oficiais (pode ser com música da portugueza);

    Meninas novas e asseadas
    Com atestado médico e limpas de sífilis
    Quartos com águas correntes
    Pessoal discreto
    Entrada pelo quintal ao abrigo dos curiosos
    Roupa branca mudada para cada cliente por apenas mais 3 reis
    Quartos à hora onde ninguém vos incomodará
    Pagai adiantado e sereis bem servidos
    Terças feiras a Rita maluca dança o Can Can”

    Teria sido giro não há dúvida.

    C – A questão da afirmação do regime etc etc. Todos esses motivos encontram-se ligados à manutenção do império colonial de que o republicanismo se tinha arvorado o defensor contra a inépcia do rei que não teria conseguido impor o mapa cor de rosa. Obviamente que seria um golpe mortal para o regime que se fundou nessa propaganda, vir a ser não só incapaz de aumentar o império, como o rei não tinha sido, como ainda por cima vir a ser o regime que perderia esse império de que fez a propaganda.

    Todos esses motivos, com as diferenças obvias, encontram-se nos dois casos. Obviamente que o salazarismo também procurou, não a afirmação, mas a manutenção da sua posição internacional neste caso como “defensor do ocidente”, a nível interno como reafirmação da solidez da sua política e do regime etc.

    Ou seja, sejam quais forem as particularidades os dois regimes consideraram indispensável para a sua própria manutenção, por razões internas e externas, levar o país para a guerra.

    Mas pronto não há qualquer semelhança. A questão colonial na nossa participação na I GM resumiu-se a os alemães roubarem umas galinhas numa quinta da fronteira. Foi só por acaso que a maior parte das nossas tropas combateram precisamente em áfrica. Foi só por acaso que a maior parte dos nossos mortos morreram a defender as colónias. Provavelmente estas tropas destinavam-se à Europa, mas o comandante dos navios tinha precisamente uma quinta no sul de angola, precisamente a tal a que faltavam galinhas, e desviou as tropas para defender o seu galinheiro. A questão do mapa cor de rosa não teve qualuqer peso na propaganda republicana, a portugueza foi adoptada inteiramente por acaso, só para contrariar o rei, a possibilidade da partilha do império entre as grandes potências não incomodou nem um bocadinho os nossos governantes etc etc,

    Tudo o que tu quiseres.

  • jovem1983

    Caríssimo Molochbaal:

    Sobre o ponto A, que escreveu, apontando supostamente um apanhado erróneo da minha posição – “A participação tuga na I GM nada teve a ver com a conservação do império colonial, excepto por uns incidentezitos de fronteira” -; deixo aqui as respectivas linhas de esclarecimento que já estavam no comentário anterior, com a salvaguarda, como escrevi no final, que se trata de um apanhado do contexto e dos acontecimentos da época SEM APRECIATIVOS DE QUALQUER TIPO:

    “[sobre OS FACTORES PRINCIPAIS QUE CONDUZIRAM Portugal à Primeira Grande Guerra, neste caso ficou referido numa terceira posição mas não quer ISTO QUER DIZER QUE SERIA POR ESTA ORDEM, tanto mais que SUBSTITUI UMA ENUMERAÇÃO POR UMA LISTAGEM] os conflitos armados nas fronteiras coloniais portuguesas em África com os germânicos a partir de 1914, sobretudo as de Angola e Moçambique, acentuados com a declaração oficial de guerra por parte dos alemães a Portugal em 1916, com o apresamento de navios alemães. Neste momento não estava em causa a soberania de Portugal nos territórios que possuía em África, mas tratou-se de uma reacção do país às movimentações germânicas não autorizadas nos seus territórios, e consequentes conflitos. Lembre-se que nesta época as colónias já eram um assunto sensível desde o tempo da monarquia, lembra-se certamente do famoso Ultimato Inglês.”
    De notar que EM NENHUMA destas referências se extingue as relações que apontou brevemente no ponto A do seu último comentário quanto a este tema, bem como as restantes referências que encontramos em diversos volumes de diferentes Histórias de Portugal Contemporâneo; mas cada um é livre para fazer a sua interpretação do que os outros escrevem e, mesmo se quiser, atribuir determinados sentidos que nos seus textos não constam, como verifiquei que você fez com o que escrevi.
    Tenha atenção que a existência de conflitos neste contexto em particular, que antecede a entrada de Portugal na Guerra, bem como os seus desenvolvimentos até ao seu encerramento, NÃO ESTAVA EM CAUSA A SOBERANIA do país em relação às colónias que possuía em África, situação totalmente diferente em relação à Guerra do Ultramar, onde as pressões internacionais e das colónias COLOCARAM EM CAUSA A SOBERANIA de Portugal.

    Sobre o ponto B – ” Só por a portugueza ter sido proibida pela monarquia é que os republicanos a adoptaram”, a resposta seguirá os mesmo princípios da anterior: “O hino nacional foi composto em Janeiro de 1890, enformando ideais patrióticos em protesto contra o Ultimato Inglês [o contexto particular da época]” (…) tendo sido preservada e consagrada em 1911 a hino nacional pelo novo regime, em específico pelas “roibições monárquicas quanto ao seu uso, devido à apropriação republicana da marcha, consequente do facto simbólico de ter sido entoada em oposição ao hino anterior na primeira tentativa de implantação da República no Porto em Janeiro de 1891, nada mais”. Disto NÃO SE EXCLUI O CONTEXTO DA ÉPOCA, mas aponta-se as RAZÕES PARA A ESCOLHA de 'A Portuguesa', em oposição à manutenção do 'Hino da Carta' ou a substituição por qualquer outra marcha. As divagações jocosas que fez sobre a apropriação de publicidades de diversa natureza com a mesma finalidade foi despropositada e demonstra que não compreendeu o que foi anteriormente escrito.

    Relativamente ao ponto C – “A questão da afirmação do regime etc etc”; como reparou, não exclui as acções bélicas ou a propaganda do novo regime do particular período do Estado Novo, ambos com as suas especificidades, por isso somente apontei algumas distinções, pois não nos esqueçamos que são várias as décadas e os acontecimentos que os separam… Importante notar que em momento algum escrevi sobre o número de soldados mortos em qualquer uma das intervenções armadas do país, nem onde essas teriam ocorrido, não o fiz porque é impossível estabelecer comparações sérias e assertivas perante a qualidade e quantidade de dados que dispomos, bem como faltaria o enquadramento desses resultados e o seu respectivo impacto na época para escrever qual foi a pior; muito menos apreciei esses acontecimentos da forma como fez com o exemplo das galinhas e dos quintais, enfim, como escrevi, cada um é livre de fazer a sua interpretação do que foi escrito, mas isso não corresponde necessariamente ao que a outra parte escreveu.

    Lamento que no lugar de procurar o devido esclarecimento sobre alguma ideia que não tenha ficado de imediato esclarecida, tenha optado pela exposição que decidiu imprimir em algumas partes do texto do seu último comentário, compreendo que tem essa liberdade bem como não sente qualquer obrigação em contrário, contudo certamente reconhecerá que tinha outras opções.

  • Molochbaal

    jovem1983,

    Confesso que a sua insistência em criar um novo movimento de revisionismo histórico é admirável.

    O autor ao referir a entrada na guerra e o facto de as colónias não estarem nesse momento ameaçadas, refere-se, obviamente a esse momento concreto, ao momento concreto da entrada na guerra.

    Acontece no entanto que a política não vive apenas no momento imediato. As colónias estavam a ser ameaçadas à décadas, desde a conferência de Berlim, em que começaram a servir de moeda de troca potencial entre as grandes potências. Com certeza que, durante todos esses anos houve períodos menos critícos, mas mesmo nesses momentos, todos sabiam que o perigo da sua perda podia voltar a qualquer instante. Obviamente que enquanto a situação não estivesse definitivamente assente esse perigo existia. Tão obviamente que existiam nesse preciso momento tratados que legitimavam a intervenção alemã nas nossas colónias em certas condições, nesse preciso momento – o que significa que era apenas questão de tempo.

    A qualquer momento as grandes potências poderiam resolver os seus conflitos à custa das nossas colónias, o que seria impossível, ou pelo menos mais difícil, se nesse momento estivessemos a lutar ao lado de uma delas contra a outra.

    A entrada de Portugal na guerra deveu-se a assegurar de uma vez por todas, lutando ao lado dos vencedores, que estes não usariam as colónias como moeda de troca com uma alemanha que Portugal teria ajudado a derrotar. Se no preciso momento da entrada na guerra estas não estavam em perigo, tal não obsta a que tal entrada se tenha dado como uma estratégia definitiva de assegurar a sua posse. Informe-se bem que vai ver que não estou a dar novidade nenhuma.

    Relativamente ao ponto C obviamente que os dados existem, mas só para quem os quiser ver, o que parece não ser o caso. Na guerra colonial houve cerca de 8 000 mortos, na IGM, cerca de 17 000 mortos. É diferente.

    Quanto ao tom da minha exposição deve-se ao facto de não ser a “minha” exposição, a minha é apenas o relato dos dados históricos existentes. Levo as coisas para a brincadeira apenas por ser a única maneira de se levar uma conversa onde o interlocutor faz tudo para virar o bico ao prego para defender a camisola. Até virar os livros do avesso.

  • jovem1983

    Caríssimo Molochbaal:

    Se tiver atenção não invalidei as ameaças nas antigas colónias portuguesas em África, essa foi a sua interpretação do que escrevi, muito menos a apreciação que fiz resumia-se ao imediato como esclareci, pois são largamente divulgados os contextos que enformam ambos os conflitos.

    Esclareço para que o mal entendido não se prolongue, quando escrevi referia-me aos aspectos distintivos a nível político e diplomático, e ao contexto particular bem como os principais motivos que enformaram as intervenções portuguesa na Primeira Grande Guerra no tempo da primeira República da Guerra Colonial no Estado Novo.
    Não desvalorizo em ambos o papel propagandista do regime para mobilizar as vontades, como creio que ficou com essa ideia, apenas apontei distinções, nem mesmo questiono o impacto negativo de ambos os conflitos nas épocas respectivas, tanto mais que estamos a escrever sobre a participação em confrontos bélicos, contudo é preciso de ter em consideração uma distinção essencial: num conflito a soberania portuguesa em relação às colónias não estava em causa, no segundo momento a soberania nacional estava em causa.

    Destaco da questão do mapa cor-de-rosa os seguintes aspectos para ter em consideração, reconhecendo que a sua complexidade não se resume a esta síntese, para que não torne a haver uma interpretação que não corresponde especificamente ao que escrevo de seguida. Na época, Portugal não viu reconhecido por via diplomática os seus direitos tradicionais sobre todos os territórios que tinha em consideração, tendo sido adoptado o critério de ocupação territorial para esse reconhecimento, o que beneficiava outros reinos europeus.
    No caso das colónias africanas, Portugal mantinha assim reconhecidos unicamente os direitos às colónias que efectivamente estavam ocupadas, esforçando-se posteriormente, por meio de expedições, reverter essa situação a seu favor, e reforçar a sua ocupação fortalecendo as definições fronteiriças.
    Independentemente dos tratados que se firmaram com a Inglaterra ou Alemanha para o reconhecimento colonial ou com vista à sua partição, estava reconhecido internacionalmente os direitos territoriais de Portugal nos territórios que efectivamente ocupava, ou seja, onde exercia a sua soberania nacional.

    Quanto ao segundo conflito no período do Estado Novo a questão coloca-se de outra maneira. Nessa altura, no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, a soberania portuguesa nas colónias de África e na Ásia foram colocadas em causa pelos movimentos ideológicos que exigiam a independência, situação similar perante outros países europeus e as suas respectivas colónias.
    Portugal foi dos últimos a ser afectado por esses movimentos, mas não deixou de procurar garantir a defesa do que restava do Império Colonial Português, mesmo sem o apoio dos seus aliados ou o reconhecimento das comunidades internacionais.

    Sobre o ponto C, obviamente conheço os dados que refere, apenas recuso retirar dos mesmos juízos do tipo apreciativo, e se reparar foi sempre essa a minha posição nos meus comentários.

    Sobre as minhas exposições, se desejar e for essa a sua vontade, pode confirmar que tudo o que apresentei são apenas alguns dos factos conhecidos e provados que pertencem ao domínio da História, não a defesa de qualquer camisola (como pode facilmente reparar na leitura dos comentários apresentados), com o objectivo de observar algumas das respectivas distinções.

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