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  • 9 de Julho, 2015
  • Por Carlos Esperança
  • Literatura

Poesia e filosofia

Divina Comédia

Erguendo os braços para o céu distante
E apostrofando os deuses invisíveis,
Os homens clamam: — «Deuses impassíveis,
A quem serve o destino triunfante,

Porque é que nos criastes?! Incessante
Corre o tempo e só gera, inestinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,
N’um turbilhão cruel e delirante…

Pois não era melhor na paz clemente
Do nada e do que ainda não existe,
Ter ficado a dormir eternamente?

Porque é que para a dor nos evocastes?»
Mas os deuses, com voz inda mais triste,
Dizem: — «Homens! por que é que nos criastes?»

Antero de Quental, in “Sonetos”

10 thoughts on “Poesia e filosofia”
  • Oscar

    Na Mão de Deus

    Na mão de Deus, na sua mão direita,

    Descansou afinal meu coração.

    Do palácio encantado da Ilusão

    Desci a passo e passo a escada estreita.

    Como as flores mortais, com que se enfeita

    A ignorância infantil, despojo vão,

    Depois do Ideal e da Paixão

    A forma transitória e imperfeita.

    Como criança, em lôbrega jornada,

    Que a mãe leva ao colo agasalhada

    E atravessa, sorrindo vagamente,

    Selvas, mares, areias do deserto…

    Dorme o teu sono, coração liberto,

    Dorme na mão de Deus eternamente!

    Antero de Quental, in “Sonetos”

    • MC

      Ninguém é perfeito, nem mesmo Antero de Quental. Então, Óscar, como é que vai essa metafísica transcendental? Está a correr bem? Diga-me uma coisa: vocês também têm de se ajoelhar, às vezes?

      • Oscar

        “Enquanto
        o meu corpo e o meu espírito puderem esbracejar, nunca farei o jogo
        sujo de erguer as mãos por cálculo diante de nenhum altar. Mas dado que
        sim, que exista um Deus cioso que a minha miopia me não deixa ver
        claramente, quero crer que é esta mesma atitude de rebeldia que espera
        de mim. Tragicamente postas num pé de dúvida irremediável, as nossas
        relações teriam de ser, e foram sempre, difíceis mas viris. De potestade
        a potestade. A omnipotência divina enfrentada pela inconformação humana” (Diário, Lisboa, Hospital de S. Luís, 22 de Junho de 1972)

        • MC

          Já eu, como ateu, não sou inconformado, pelo contrário, acho maravilhosa a Natureza, e o facto de sermos uns seres insignificantes na imensidão do Universo não me assusta, acho até que é radiante ir descobrindo, através da Ciência, os mistérios daquele, mistérios esses que vão, cada vez mais, contrariar o dogma religioso que me tentaram impingir em pequeno. Já agora, para mim, o tal “pé de dúvida irremediável” não passa do primeiro passo para o ateísmo. Até os moderados devem tentar compreender que o “pé dentro, pé fora” religioso é incompatível com a realidade.

          • Oscar

            Aquilo que vossemecê pensa tem apenas a mera importância de um voto democrático.

            Nem mais nem menos.

          • MC

            Pois, e mesmo assim sendo, ainda debato as coisas, veja lá…

          • Oscar

            E vossemecê julga saber tanto o que é ou não incompatível com a realidade…

            Imagine o que seria se o sr. Manuel Diogo Catarino não se visse como um ser insignificante na imensidão do Universo…

          • MC

            Seria Católico, provavelmente.

          • Oscar

            Provavelmente um ateu omnisciente…

          • MC

            Ou um ateu curioso em aprender mais sobre os mistérios da Natureza. Mas digo-lhe o que nunca poderia ser: um dogmático que acredita que o Mundo tem cerca de 6 mil anos.

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