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  • 8 de Abril, 2015
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

Os crentes e a tolerância

O aparecimento de crentes tolerantes vai-se tornando uma constante a que urge estar atento. É um fenómeno das sociedades democráticas onde a secularização exerce a sua pedagogia. A religião não faz ninguém bom, mas não estraga todos por igual. Os livros sagrados refletem a violência da época e a idiossincrasia de quem os escreveu, mas são poucos os crentes que os leem e menos os que os levam a sério.

A verdade revelada dos quatro livros escolhidos no consulado de Constantino teve mais a ver com os interesses do Império Romano do que com as necessidades espirituais do Imperador. Esses livros, evangelhos, refletiam interesses políticos que se tornaram determinantes para a organização política da ICAR e a conquista do poder temporal que logrou. Outro tanto aconteceu com a Tora, primeiro, e o Alcorão, depois.

Curiosamente, ainda hoje a ICAR vai buscar aos evangelhos que ela própria declarou apócrifos factos e personagens a que atribui valor canónico. É o caso de Ana e Joaquim, acoimados de santos e distribuídos a Jesus, como avós maternos cuja vida e respetiva existência os «verdadeiros» omitem.

Excetuando épocas de crise em que o sentido literal da Tora, Bíblia e Alcorão são objeto de um proselitismo infrene, a tendência vai no sentido da relativização dos textos e o cumprimento da vontade de Deus aligeira-se como se o próprio, suspeito de Alzheimer, começasse a merecer desconfiança.

Com crentes tolerantes e civilizados é possível alargar os espaços democráticos e levar o respeito pelos direitos humanos a regiões onde é desconhecido. Seria trágico que, por questões de assepsia, os ateus recusassem dar as mãos aos crentes, de qualquer credo, que sobreponham o espírito da paz à paranoia do proselitismo. Basta, para desgraça, que a inversa se verifique.

Infelizmente, à medida que a instrução, a diversidade cultural, o pluralismo e a miscigenação vão aproximando povos e criando laços fraternais, recrudesce no seio do clero das diversas religiões o pânico pela perda do poder, o horror à extinção, a volúpia da supremacia e a obsessão pelo absolutismo e a verdade única.

O clero tem reflexos tribais que urge conter com a difusão e aprofundamento da laicidade e tendências prosélitas que a separação da Igreja e do Estado minoram. A vocação totalitária, que a sociedade civil deve refrear, precisa de uma vacina que permita a vitória da paz, da liberdade e do livre-pensamento. A vacina existe – chama-se laicidade –, e interessa a ateus, crentes e agnósticos.

A liberdade religiosa, reconhecida pela primeira vez, pela Igreja católica, no concílio Vaticano II, foi vista com azedume por João Paulo II e Bento XVI, mas a reafirmação explícita e veemente, pelo Papa Francisco, dá à sua Igreja autoridade moral.

12 thoughts on “Os crentes e a tolerância”
  • Oscar

    Mas o Carlos Esperança ainda não aprendeu a ser filosoficamente rigoroso ?

    Quando é que ele aprende que a expressão ” crentes” se aplica também aos crentes ateus ?

    Não haverá aqui alguma alminha caridosa que lhe explique o carácter metafísico do ateísmo ?

    Ou será que vou precisar de explicar em que é que consiste o materialismo metafísico ?

  • Nelson

    Ateismo como crença?

    A melhor analogia que conheço entre teismo e ateismo é a dualidade prisão vs liberdade.

    Claro que qualquer pode advogar que as pessoas livres de prisão, tambem sao presos, porque estão do lado contrario das grades.
    Velha a frase que presos somos todos…

    MAS OS QUE SABEM E DAO VALOR À LIBERDADE, SABEM QUE LIBERDADE NÃO É UMA FORMA DE PRISÃO!!

    Deste modo, classificar a minha descrença na unica religião que acreditei na minha vida como sendo uma crença, é a maior anedota que já ouvi.

    Mas claro que esta classificação é apenas para por ao mesmo nivel, para poder classificar e julgar, no fundo, para confortar quem não tem liberdade de pensar por si proprio, sem a pressão de uma crença, sem a pressão do inferno.

    Bom dia e passem bem, crentes e descrentes, ou como eles dizem crentes e crentes da não crença!

    PS: Será que tambem pode existir a crença da descrença na crença da descrença da crença na descrença???

    • carlos cardoso

      Dizer que ateísmo é uma crença é tão estúpido como dizer que careca é um penteado ou que descalço é um tipo de sapato!

      • Oscar

        Eu não debato com gente sem categoria intelectual suficiente para fundamentar racionalmente as suas opiniões.

        E, além do mais, a minha esmerada educação não me permite baixar ao nível da ofensa gratuita.

    • Oscar

      Eu já sabia que vocês não eram capazes de entender conceitos filosóficos elementares.

      Claro que o ateísmo é uma crença filosófica, não é a vossa berraria que vai conseguir desmentir aquilo que qualquer pessoa medianamente instruída já o sabe.

      Em filosofia, materialismo é o tipo de fisicalismo que sustenta que a
      única coisa da qual se pode afirmar a existência é a matéria, que,
      fundamentalmente, todas as coisas são compostas de matéria e todos os fenómenos são o resultado de interacções materiais, que a matéria é a única substância.

      Já a metafísica clássica ou idealista ocupa-se das “questões últimas” da filosofia, tais como: há um sentido último para a existência do mundo? A organização do mundo é necessariamente essa com
      que deparamos, ou seriam possíveis outros mundos? Existe um Deus? Se existe, como podemos conhecê-lo? Existe algo como um “espírito”? Há uma diferença fundamental entre mente e matéria? Os seres humanos são dotados de almas imortais? São dotados de livre-arbítrio?

      O ateísmo enquadra-se, portanto, numa metafisica materialista e determinista. Não há ateus idealistas, no sentido filosófico do termo, todos são materialistas e fisicalistas.

      Os ateus acreditam que o universo proveio do mero acaso, tal como as constantes cosmológicas, inerentes a um conjunto de leis físicas rigorosas, sem as quais, nem o cosmos nem a vida seriam possíveis.

      Os materialistas acreditam que o universo e a vida não têm sentido, que a vida surgiu da matéria, que a consciência realmente não existe, que cada ser humano está cerebralmente determinado pelas relações neuronais, que o livre-arbítrio é ilusório, que as espécies animais evoluíram pelo método arbitrário e aleatório da selecção dita natural.

      Mas tudo isso não passa de crenças específicas do materialismo, pois nenhuma dessas suposições está cientificamente provada.

      Os ateus muitas vezes confundem a sua metafísica materialista com cientismo, apregoando como verdades científicas aquilo que apenas se insere no seu objecto específico de crenças.

      Se vocês, em vez de debitarem as vossas ignorantes tiradas, se não quiserem passar pela vergonha de mostrarem a vossa arrogante incultura, se derem ao trabalho de estudarem um bocadinho sobre metafísica materialista, talvez consigam entender por que é que o ateísmo, na sua acepção filosófica global, é uma crença similar às demais.

      http://www.britannica.com/EBchecked/topic/369034/materialism

  • Frei Bento

    Caríssimos irmãos em Cristo, que tão soberbamente vilipendiais o nosso estimado irmão Oscar-sem-acento: atentai no elevado sentido de humor daquele nosso amado e já referido irmão. Aliás, ele não se limita a ter sentido de humor, ele vai mais longe e mais acima: ele É uma anedota.
    Lembrai-vos de que a inveja é um pecado, o sexto dos mortais, refiro-me aos pecados.
    Saúde e merda, que Deus não pode dar tudo.

    • carlos cardoso

      Caro Frade,

      Nosso irmão salvo seja, que eu não quero aquilo para nada. Já aqui escrevi algumas vezes que não dou trela a trolls. Se fosse uma anedota ao menos dava vontade de rir. Assim só entristece ao mostrar que um ser humano pode saber escrever sem saber pensar.

      Pelo facto de alguém declarar que não acredita em Deus não se lhe pode colar uma etiqueta à força, como se essa posição tivesse qualquer coisa de filosófico. Não acreditar que exista um deus não é mais nem menos que não acreditar que exista o Pai Natal ou o monstro do Loch Ness e, que eu saiba, estas também não são posições metafisicas.

      É exactamente por o ateísmo não ser uma filosofia que há ateus de todos os quadrantes políticos e filosóficos, contra ou a favor da pena de morte ou da despenalização do aborto, etc.

      É ridículo afirmar que alguém, por ser ateu, tem que sustentar que a única coisa da qual se pode afirmar a existência é a matéria, que, fundamentalmente, todas as coisas são compostas de matéria e todos os fenómenos são o resultado de interacções materiais, que a matéria é a única substância e outras imbecilidades. No que me diz respeito é completamente falso e não é qualquer cretino que pode vir para aqui “interpretar” como é que eu devia pensar.

      • Oscar

        “É exactamente por o ateísmo não ser uma filosofia”

        Não continues a dizer asneiras que te fica tão mal.

        Vá começa por aqui:

        The Philosophy of Atheism

        by Emma Goldman

        First published in February 1916 in the Mother Earth journal.

        Ou por aqui;

        The Philosophy of Atheism by Joseph Lewis

  • Nelson

    Antigamente eram os milagres e os livros em latim que ninguem entendia, hoje em dia a forma de mostrar superioridade intelectual é a treta da metafisica.

    Metafisica é mesmo isto, algo ninguem entendo ou tem a certeza e serve para confundir mais do que elucidar.

    Algo que não é possivel de ser explicado de forma simples, tem uma alta probabilidade de não ser verdade…

  • Fulano Minasge

    Não existem crentes tolerantes; o crente, por definição, é um asno patético, um imbecil tarado por milagres, crenças idiotas e ritos ridículos. Agora, existem os agnósticos que se dizem crentes mas não o são de fato: não fazem novenas, não se postam de joelhos, não acreditam na gibibribria e apenas acreditam em uma dividade como guia moral (ainda não se aperceberam que não há moralidade na divindade, mas chegarão lá), aceitam a liberdade religiosa como um dos fundamentos da sociedade. A estes, os meus devidos protestos de elevada estima e consideração. Aos fanatizados, o meu desprezo.

    • Oscar

      Vieste aqui abandalhar ainda mais o ateísmo ?

      Achas que com esse tipo de linguagem tão primária e tão mesquinha, alguém de bom senso confere alguma credibilidade intelectual ou moral a ateus como tu ?

  • Oscar

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