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  • 8 de Abril, 2015
  • Por Carlos Esperança
  • AAP

Debate civilizado

Escola Prof. Doutor Ferrer Correia – Debate com o padre Nuno Santos

Referida a impossibilidade teórica de o ateísmo ser uma crença, tal como não jogar futebol não ser desporto, o debate foi um exemplo de moderação e respeito mútuo, com o padre Nuno a manifestar a sua crença e eu, que não distingo a água benta da outra, a dizer que a descrença não depende de um ato da vontade.

É fácil num ambiente circunscrito concordar em objetivos comuns, com um único ponto de discórdia, o clérigo, doutorando em Teologia, a afirmar que se trata de uma ciência e o ateu a negar tal qualidade por lhe faltar o método e o objeto.

Foram duas horas cordiais, sem azedume ou ofensas, com a minguada plateia a aceitar opiniões divergentes. Sobrou em urbanidade o que faltou em picardia. O padre aceitou o facto de as religiões serem, ou terem sido, detonadoras de violências, tal como o ateu se referiu a violências de regimes ateus por razões políticas.

Ambos concordámos que a laicidade é um fator de liberdade, a única possibilidade de garantir a liberdade religiosa ou, mesmo, antirreligiosa.

Cumprimos o dever cívico de manifestar as convicções sem pretender conversões, com a benevolente moderação da Prof. Dr.ª Cristina Vieira.

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5 thoughts on “Debate civilizado”
  • Oscar

    A impossibilidade teórica não é de o ateísmo não ser uma crença, é exactamente ao contrário. O ateísmo é de facto uma mundividência que assenta grande parte dos seus pressupostos filosóficos numa crença de ordem metafísica, como procurarei demonstrar.

    Quando se fala em metafísica, temos que distinguir dois aspectos. A metafísica de natureza idealista, como, por exemplo, a de natureza religiosa ou espiritual. E a metafísica materialista, como é o caso do ateísmo.

    No primeiro caso, podemos falar em certos tipos de crença, como o deísmo, o teísmo ou o budismo, por exemplo. Naquelas crenças que remetem para a aceitação da existência de Deus ou da alma, da permanência de espíritos, como o espiritismo, da reencarnação ou da vida para além da morte física. Caso típico de crença idealista é, por exemplo, o dualismo cartesiano ou a teoria das ideias de Platão.

    No segundo caso, já temos as situações de crença que excluem, à partida, qualquer tipo de dualismo, entre corpo e alma e são intrinsecamente monistas, como é o caso da metafisica dita naturalista, do fisicalismo ou do ateísmo.

    Os ateus não acreditam em Deus, é um facto. Mas o ateísmo não se esgota exclusivamente na não crença em Deus. Quando se trata de dar uma explicação para a origem do universo e da vida, para a consciência humana e dos animais, os materialistas, como é o caso dos ateus, não admitem a existência da alma, nem postulam que haja uma mente imaterial que conduza as operações no cérebro. Para os materialistas, que não aceitam nenhuma realidade imaterial, o ser humano é apenas um conjunto de matéria organizada e aquilo a que chamamos consciência não se passa de uma mera ilusão.

    Os ateus são exclusivamente materialistas ou então não são ateus. Não é filosoficamente concebível que os ateus admitam algo como a alma ou uma mente imaterial. Se as admitissem, então poderíamos perguntar-lhes porque não admitiriam igualmente a hipótese de uma consciência suprema, de uma causa inteligente que estivesse na origem do universo ou da vida.

    O grande problema, com que os ateus têm que se confrontar, não é a não crença em Deus.

    O problema é outro. Chama-se inteligência ou consciência. E, para esta problemática, a crença metafísica em que acreditam visa justificar todas as ocorrências da realidade através do prisma exclusivamente fisicalista ou materialista.

    Um neurocientista materialista não admitirá que exista a alma ou a consciência, como realidade imaterial, contrariamente ao que já defenderá um neurocientista não materialista.

    Como, do mesmo modo, um ateu não admitirá a hipótese da alma ou da consciência imaterial ,como condutora das nossas acções.

    O ateísmo, sendo moldado numa metafísica materialista, conduzirá ao determinismo e à inexistência do livre-arbítrio.

    Os idealistas admitirão que o ser humano não se reduz a uma mera máquina física e que, portanto, nós temos a hipótese de não sermos determinados pelas acontecimentos físicos, neuronais, do nosso cérebro.

    Quer, no caso da metafísica idealista, quer no caso da metafísica materialista, há um ponto comum entre aqueles que acreditam em Deus, na alma imaterial, na mente autónoma do corpo físico, nos espíritos, na vida para além da morte física e entre aqueles que, negando tudo isso, já acreditam na exclusividade da matéria.

    São todos crentes.

    Uns idealistas, como é o caso dos deístas, dos teistas, dos espíritas ou dos budistas.

    E outros materialistas, como é o caso dos ateus.

  • Nelson

    Porque é tão importante para alguns crentes classificar os não crentes como crentes?

    EU diria que a motivação é de nos por na mesma posiçao de religiões estão entre elas.
    Basicamente, quando uma religião diz que esta correcta e as outras dizem o mesmo, basicamente ninguem pode desempatar…

    Agora, quando o ateismo, pergunta:
    – Porque é que as religiões afirmam todas estarem correctas acerca do seu deus e mitologia associada? O que faz com que uma tenha mais razão do que outra?

    Neste caso a religião, nao vai poder dizer: existe um conflito de interesses pois a outra religião está a questionar para impor a sua visão.
    Classificando o ateismo como uma religião, aí sim, pode estar errado!!

    resumindo:
    SE O ATEISMO FOR UMA RELIGIÂO OU UMA CRENÇA, ENTÂO PODE ESTAR ERRADO; SE NÂO È UMA CRENÇA NÂO PODE ESTAR ERRADO, SIMPLESMENTE NAO PODE CRER EM ALGO QUE NÂO É PROVADO.

    PS: Neste caso a religião já tem uma resposta engraçada: deus não pode ser provado, porque não pode ser testado pela fisica!!

    Boa noite e passem bem!

  • Nelson

    Fica aqui um ted do padre Nuno Santos.

    Deixo ao vosso entender tirarem as vossas conclusões.

    https://www.youtube.com/watch?v=FCoCUX6O7mA

  • João Pedro Moura

    CARLOS ESPERANÇA disse:

    «…tal como o ateu se referiu a violências de regimes ateus por razões políticas.»

    “Violência de regimes ateus”?!

    Mas isso não é condição do ateísmo! Para que serve referir isso?!

    O ateísmo é apolítico. É um ideário meramente denegador de deuses e das religiões e não fautor de ação política.

    Os regimes totalitários comunistas é que praticaram ou praticam políticas ateístas, porque são totalitários e não porque são ateístas…

    Há políticos ateus que não praticam políticas ateístas, porque o ateísmo não tem de ser regimental.

    Só há ou só houve problemas com certos comunistas mais radicais, que, por isso mesmo, isto é, por serem totalitários, aplicaram políticas ateístas.

    Donde se infere que os ateus não podem ser responsabilizados pelas políticas ateístas dos comunistas.

    E os católicos poderão ser responsabilizados, pelo menos enquanto ideologia, pelos atos totalitários dos ditadores católicos?

    Claro que a responsabilidade é de quem faz. Todavia, o cristianismo, mormente na sua vertente católica, não é intrinsecamente apolítico ou associal ou meramente recluído em liturgias anódinas e ideias gerais.

    O cristianismo, sobretudo na sua versão católica, tem ideias político-sociais, como decorre de diversas referências bíblicas, tais como os atribuições de césar e ao que não é do césar, questões de riqueza, como as passagens de camelos por buracos de agulhas e ao estendal normativo de penalidades, sobre usos e costumes, como as patentes nos códigos moralistas do Levítico e do Deuteronómio, para só referir estes…

    Outrossim, temos o conceito político de “democracia cristã”, atualmente manifestamente decadente, mas a que se propunha e propõe fundir a política com o magistério cristão, mormente o católico…

    Se um ateu pode ser o maior patife político, pois que o seu ateísmo em nada concerne a ideários político-sociais, os cristãos, nomeadamente os católicos, eivados de “paz, amor e misericórdia”, deveriam patentear tais atributos morigeradores não só na política, mas também nas relações sociais, coisa que nem sempre se manifestou, ao longo da História, quer nos propósitos inquisitoriais, quer nas inúmeras ditaduras, europeias e, sobretudo, sul-americanas, de cunho católico…

    …Catolicismo este, moralista e preconizador de “paz, amor e misericórdia”, mas bastante desconexo entre a teoria geral e a prática…

    Talvez porque a sua matriz bíblica seja realmente cruel e totalitária…

    http://www.diariodeunsateus.net/2013/09/06/jesus-cristo-o-exterminador-implacavel/

    • Oscar

      Como vendedor da banha da cobra és capaz de ter jeito

      Ou então como negociante de detergentes.

      Agora, conseguires branquear os crimes e genocídios praticados em nome do ateísmo é que não consegues por muito que te esforces.

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