Loading

“Deus tem futuro?”

Assim, de repente, até parece uma pergunta feita por um ateu ou, na melhor das hipóteses, de um agnóstico. Na verdade, parece não caber na cabeça de um crente que Deus, o omnipotente, o eterno, o etc. seja, ou esteja, carente de futuro. Deus é eterno, ponto final. e se, como dizem, “o futuro a Deus pertence”, então estamos conversados. No entanto, a pergunta tem toda a pertinência. É tão pertinente perguntar “Deus tem futuro?”, como é pertinente perguntar “a Democracia tem futuro?”, ou “o Comunismo tem futuro?” De facto, todas as criações do Homem são passíveis de desaparecer ou, numa hipótese menos radical, de serem alvo de transformações. E Deus não é excepção.

A resposta à pergunta “Deus tem futuro?” não pode, no entanto, ser dada de ânimo leve. Até porque há, na minha perspectiva, duas respostas: não e sim.

Com  efeito, o deus omni-sapiente, o que era uma resposta para tudo, o que tudo podia e fazia, esse está moribundo. A Ciência vai-se encarregando, dia após dia, de lhe dificultar a vida ou, numa linguagem mais corriqueira, de lhe tirar o tapete.. Milhares, milhões, de coisas que Deus fazia foram, definitiva e irrevogavelmente, avocadas pela Ciência. Hoje, dificilmente se morre “porque Deus se dignou chamar à sua presença”, tantas são as maneiras de bater a bota. Ninguém, em seu perfeito juízo, acredita que a trovoada é “Deus a ralhar” e se dizem “até amanhã se Deus quiser”, o se Deus quiser não passa de uma figura de retórica, pois ninguém acredita que Deus esteja preocupado a querer isto ou aquilo.

Mas há uma outra vertente de Deus que, essa sim, tem o futuro assegurado. Refiro-me ao deus-placebo, ou deus-paliativo, ou deus-madre-teresa-de-calcutá. Pelo menos enquanto houver pobres e desvalidos “porque essa é a vontade de Deus”, essa vertente divina tem o futuro assegurado. Em último caso, até ao momento em que o Homem tome consciência de que não é Deus que o vai salvar seja do que for, porque também não foi Deus o causador da desgraça, da doença ou da fome. Mas esse momento nunca chegará, porque há sempre formas ínvias de alguém calar as vozes que pretendam lançar alguma luz..

Como se viu e ouviu.

3 thoughts on ““Deus tem futuro?””
  • João Pedro Moura

    É mais ou menos como tu dizes…

    Concretamente, geografica e demograficamente, os povos europeus, nomeadamente os nórdicos, os holandeses, os franceses e outros, em graus diferentes, vão-se deixando de acreditar em deuses, à medida do avanço científico e educativo, começando, sucessivamente, pelo abandono da igreja, religião, e teísmo.

    Todavia, ainda temos uma forte religiosidade nos EUA e daí para baixo, proporcional à menor difusão da educação, exceto nos EUA, que é um caso “sui generis”.

    África é um desastre generalizado e pasto de todos os males da Terra, portanto, também da religião.

    Na Ásia, depende…
    Nos povos islâmicos, a religião está para lavar e durar e o seu Alá continuará a medrar…
    Nos hindus, a coisa é lenta e também continuará a ter futuro…

    Nos povos mais avançados, como chineses, coreanos e japoneses, é onde a religiosidade está mais minimizada, mas também não têm um conceito de deus, como nós temos…

    Nesta apreciação geral e simplória, conclui-se que o deus judio-cristão não tem grande futuro, na Europa…

  • Jorje Junqueira

    Tem muito futuro sim. Enquanto lá pelos lados da África, do oriente médio, da Índia e de uma boa parte das Américas continuarem a “fabricar” crianças sem projeto, o futuro de deus está garantido por mais assim uns mil anos.

  • Molochbaal

    Tudo isto evoca a questão central das religiões.

    Não se trata aqui de saber se deus existe ou não, mas dos líderes religiosos controlarem as vidas dos outros. A pópria pergunta é uma prova. Se deus existe ou não, é indiferente, o que lhes interessa é o controlo social.

    Deus não precisaria que acreditassem nele para nada. E se quisesse que acreditassem teria bom remédio e mostrava-se a todos.

    Ou seja, ou não existe ou se está nas tintas para essas coisas.

    No entanto os religiosos fazem verdadeiras guerras para impor esta ou aquela modalidade de crença. As cruzadas foram isso, assim como as ameaças de morte do católico que vive neste blog.

    Por outras palavras, o que lhes interessa e realmente está a ser perguntado, é se vão continuar a mandar em nós – usando deus como desculpa.

You must be logged in to post a comment.