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  • 9 de Dezembro, 2014
  • Por Carlos Esperança
  • AAP

A propósito do ateísmo

Há quem não compreenda que o ateísmo é uma opção filosófica de quem se assume responsável pelos seus atos; de quem respeita a vida, única e irrepetível, a sua e a dos outros; de quem defende a razão e confia na ciência para elaborar modelos de racionalidade, sem recurso a um ser hipotético ou à esperança de outra vida para além da morte.

Há quem não veja que o Deus abraâmico foi fruto dos patriarcas tribais que, na Idade do Bronze, o criaram à sua imagem e semelhança: violento, xenófobo, homofóbico, misógino e vingativo.

Há quem recuse o direito de não acreditar em afirmações sem provas e de sentir repulsa pela crueldade dos homens da Idade do Bronze, crueldade atribuída ao deus criado à sua imagem e semelhança, quando hoje a tolerância e o humanismo se vão impondo.

Há quem não repare que cada religião considera falsa todas as outras e o deus de cada uma delas, no que certamente têm razão, e que os ateus só consideram falsa mais uma religião e um deus mais, tornando-nos a todos, de certo modo, ateus.

Há quem não admita que todos somos ateus em relação a Zeus, Afrodite, Ísis ou ao Boi Ápis e que os deuses de hoje poderão um dia ser estudados na mitologia.

Há quem pense que o único deus verdadeiro é aquele que lhe ensinaram em criança e que há um Paraíso à espera de quem troca a vida por um mito, a felicidade pela oração e a compaixão pela guerra.

Há quem não saiba que a defesa dos crentes e descrentes não exclui combater as crenças que sustentam a discriminação de género, o ódio, as mutilações, as torturas, as guerras e as crenças num Paraíso para quem execute as patifarias do deus com que o intoxicaram.

Não se podem esquecer factos, por muito que desgostem os crentes. Sem islamismo não haveria Estado Islâmico nem o rapto de crianças cristãs da Nigéria, feitas escravas. Não foram ateus, disfarçados de muçulmanos que as raptaram. Sem cristianismo não teria havido Cruzadas e sem judaísmo não haveria sionismo.

Vale mais um só artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos do que todas as páginas do Antigo Testamento.

«E se todos os homens do mundo quisessem dar-se as mãos…» (De uma balada de Paul Ford)

5 thoughts on “A propósito do ateísmo”
  • Oscar

    Sem ateísmo não teria havido uma doutrina filosófica, política e materialista, representada por Karl Marx, Lenin, Estaline, Mao, Enver Hoxha, Pol Pot e Kim Jung-un e todos os seus milhões de vítimas. Não teria também havido indivíduos, como Dakwins a legitimar a pedofilia ” branda” sobre menores,o aborto de crianças com sindrome de Dawn, ou como Peter Singer, a sustentar o infanticídio de crianças deficientes.

    • Manel

      Chama-lhe puta filha antes que te chamem a ti, és tu temente a deus e defendes-te dessa forma, contrapondo com argumentos que nada tem a ver com o filosofia ataísta, tens assim tanta certeza a a teoria económica do Marx não vai ser ainda restruturada e que vai seguir-se ao capitalismo? ou foi o teu deus que te segredou? Podes orar dia e noite, podes até rastejar até Fátima, que nenhum ateu se comove, a não ser lamentar a parvoíce.

      • Inteligencia Artificial

        Manel?
        Não seira Manoel?
        Tudo que o Oscar escreveu, eu também já li sobre esse assunto.
        Logo, posso garantir que é verdade.
        Ateísmo é a desgraça da Terra.
        E olha que isso não é preconceito, pois já Marx disse o mesmo dos religiosos, nem por isso fuzilaram aquele filho da puta.

  • Jorje Junqueira

    Muito bom, Carlos Esperança. Li e guardei para ler novamente outras vezes. E por falar em Esperança, tem um dito popular aqui no brasil que diz: nunca se case com mulher cuja mãe se chame Esperança, porque a Esperança é a última que morre.

  • Molochbaal

    “de quem respeita a vida, única e irrepetível, a sua e a dos outros;”

    Sim, Pol Pot respeitava imenso a vida de toda a gente.

    Para propaganda barata, de pacotilha, já cá andam os crentes.

    Ninguém é melhor ou pior por ser crente ou ateu.

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