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  • 15 de Maio, 2014
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

A Espanha franquista respirou de novo com Aznar

Há hoje em Espanha uma luta cívica das «plataformas cidadãs» contra os privilégios da Igreja católica onde a Mesquita de Córdova se converteu em símbolo.

Em 2006, a diocese registou-a em seu nome por 30 euros, parecendo que o número 30 é a ressonância da alegada traição de Judas.

O problema resulta do artigo n.º 206 da Lei Hipotecária franquista, que converteu os clérigos numa espécie de notários. O referido artigo permitiu registar pela primeira vez em seu nome milhares de propriedades com um processo expedito, que levanta dúvidas constitucionais. Só em Navarra – segundo o diário El País do dia 10 do corrente mês –, registaram-se 1087 propriedades, com este expediente, das cerca de 4.500, em Espanha.

As plataformas cidadãs pedem o fim desse iníquo privilégio com efeitos retroativos e o Ministério da Justiça apresentou em abril uma reforma da lei que exclui o art.º 206, mas fixa 1 ano para a entrada em vigor, a partir da publicação no Boletim Oficial do Estado.

A Mesquita de Córdova, como é sabido, é Património da Humanidade, há três décadas. Um grupo de cidadãos criou uma plataforma cívica para reclamar a titularidade pública, isto é, para garantir uma gestão laica que evite apagar os sinais islâmicos do monumento – a diocese já chegou a apagar o nome «mesquita» –, e a Junta de Andaluzia também já pediu informações ao Governo sobre a competência para exigir a gestão e titularidade.

Resta dizer que em 1998, o Governo de José Maria Aznar, ligado ao Opus Dei, estendeu o privilégio concedido pelo Art.º 206, acima referido, aos templos de culto. Dado tratar-se de um edifício religioso, o atual Governo renuncia à propriedade e entrega-a à Igreja, neste caso, tratando-se de uma mesquita, à Igreja… católica.

A gula era um pecado capital mas, para a Igreja espanhola, em proveito próprio, é uma bênção suplementar.

mezquita

 

2 thoughts on “A Espanha franquista respirou de novo com Aznar”
  • Ja_Deista_Nao_Sou

    O franquista Molochbaal deve estar todo feliz, mesmo sabendo-se que agora ele se coloca mais próximo do CDS.

  • Molochbaal

    É incrível que se dê a administração da mesquita à igreja responsável pela expulsão da comunidade muçulmana.

    Por cá houve um caso parecido, com uma sinagoga, que se pretende transformar em museu,administrado pela igreja. A mesma igreja que expulsou os judeus e andou a queimar vivos os convertidos à força.

    Um judeu hegou a dizer que a situação lhe lembrava o projeto de Hitler, de fazer um museu sobre os judeus, quando acabasse de os exterminar.

    As comunidades judaica e muçulmana foram alvo de uma limpeza étnica brutal, a qual foi a inspiração para o nazismo. Atribuir a gestão de monumentos das vitímas aos seus algozes, é de um mau gosto atroz.

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