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  • 15 de Março, 2014
  • Por Carlos Esperança
  • Literatura

Já copeiam, já devedem, o pior são os ivões (Crónica)

Alguém me contou que Carvalhão Duarte, o corajoso jornalista que foi diretor do jornal República e empenhado antifascista, foi um dia recebido por Salazar na qualidade de presidente do organismo de classe dos professores primários, profissão de que viria a ser demitido por motivos políticos.

Carvalhão Duarte queixou-se de que os vencimentos dos professores não correspondiam à categoria profissional, ao que o ditador respondeu que, não podendo elevar os salários ao nível da categoria dos reivindicantes, faria com que a categoria viesse a corresponder aos vencimentos que auferiam.

Não surpreende que tal possa ter acontecido pois o encerramento das Escolas Normais e a criação dos Postos Escolares e respetivas Regentes, a quem bastavam quatro anos de escolaridade, correspondeu ao desprezo que a instrução lhe mereceu. Deve-se à ditadura o retrocesso escolar de quem temia a cultura e a julgava prejudicial à doutrina cristã e ao cuidado das almas de que Cerejeira se encarregou.

Os anos 30 do século XX foram de uma enorme regressão na formação dos professores e nas importantes inovações da I República, tragédia que só seria alterada na agonia do regime fascista, com Veiga Simão, no consulado marcelista.

O ensino obrigatório era, no meu tempo de escola, a 4.ª classe para rapazes e a 3.ª para meninas. Recordo a minha mãe a entrar nas casas das pessoas da aldeia, a dizer às mães que já lhe tinha matriculado a filha na 4.ª classe, senhora professora não me faça isso, faz-me falta para criar os irmãos, é uma boa aluna merece ir mais além, quem me fica com os outros filhos quando tenho de ir para a horta, a professora a submeter a mãe da menina que gostava da escola, a mãe a lamuriar-se, e a professora a conseguir mais um ano de escolaridade para a menina que não podia ser criança e para quem a 4.ª classe era considerada supérflua.

Em 1963, as regentes ganhavam 600$00 mensais, vencimento igual para as agregadas e as efetivas, tendo estas direito a 12 meses de vencimento anual e as outras a 9 meses e 12 dias. Para se fazer ideia da exploração e miséria a que eram condenadas, vale a pena recordar os salários miseráveis dos funcionários públicos, em geral, e os dos professores primários, em particular: 1.600$00, agregados; 1750$00, efetivos; e 2.000$00, 2200$00 e 2.400$00, após 10, 20 e 30 anos de serviço, respetivamente.

Em 1963, quando, por ser o único professor, fui nomeado Delegado Escolar, encontrei 16 regentes escolares no concelho, todas mulheres, em pequenas aldeias. Sem elas, muitas crianças ficariam desobrigadas da escola porque uma residência superior a 3 km da escola era motivo legal para isentar as crianças da frequência escolar.

Contrariamente às anedotas e humilhações a que a condição as submetia, devemos-lhes a alfabetização de muitas crianças que, doutro modo, não teriam oportunidade de, mais tarde, obter um passaporte e emigrarem, para fugirem à fome e à miséria a que estavam condenadas.

As regentes eram frequentemente ridicularizadas pela escassez de habilitações literárias e rudimentares conhecimentos, objeto de anedotas, tantas vezes injustas, quase sempre racistas, e da arrogância de professores que presidiam às provas de passagem dos seus alunos.

Era vulgar atribuir-lhes redações de ofícios onde a sintaxe e a ortografia abalavam os mais rudimentares alicerces da ortodoxia gramatical. Apareciam datilografados e eram divulgados para gáudio de quem tinha aprendido um pouco mais e subido na hierarquia rígida da função pública.

Havia muitas histórias atribuídas a regentes, que, com a miséria do vencimento, sofriam o sarcasmo de quem se julgava superior. É dessa indigência, do quotidiano repisado de «um país em “inho”» que aqui deixo a suposta afirmação de uma regente para o inspetor que a visitou: «os alunos já copeiam, já devedem, o pior são os ivões…», 3 vezes 8, 24, ‘e vão’ 2; 9 vezes 8, 72, ‘e vão’ 7», malditos ‘ivões’, a conjunção e a conjugação do presente do indicativo do verbo “ir”, a tornarem-se o plural de um absurdo substantivo.

9 thoughts on “Já copeiam, já devedem, o pior são os ivões (Crónica)”
  • Molochbaal

    O fifi, grande filósofo, biólogo, filólogo e, last but not least, grande químico especializado em alimentação, deve ter sido educado numa escola dessas.

    • Luís M

      “Os animais e plantas são constituídos por produtos químicos.”

      Molochbaal

      E também por moléculas e estas por átomos e estes por quarcks, não te esqueças sabichão.

      E os átomos sao compostos por 90% de vazio..

      E a matéria é decomposta em energia e esta em mera informação.

      Portanto, lili, podes dizer que os animais e plantas são constituídos por mera informação.

      Ou então, se preferires, por grandes zonas de vazio.

      Já imaginaste como ficaria bem no menu do teu restaurante uma açorda, não de calhaus, mas de mera informação ?

      Vá, manda aí mais alguns dos teius bitátás para eu me divertir à brava com as tuas idiotices.

      P.S. Descobri para ti a representação de um átomo. Acho que ficaria muito bem na parte do teu cardápio, em que te referes à tua sopa de átomos. Deve ser uma delícia, para ti, imagino.

      • Molochbaal

        Ah.
        E essas redundâncias todas são suposto ter graça ?
        Eu digo-te o que é que tem graça.
        Um doido, sempre armado em grande cientista, que tem cultura geral e não faz a mínima ideia do que se passa no mundo.
        Esse doido armado em intelectual, quando é apanhado em situações em que toda agente percebe que ele não sabe nada dos assuntos que estão a ser abordados, tenta disfarçar, fazendo piadinhas estúpidas sobre coisas que se estão a passar, como se isso as fizesse desaparecer.
        Não fui eu que inventei a alimentação artificial fifi.
        Empresas e laboratórios estão a trabalhar na substituição da alimentação tradicional, nomeadamente na sístese química dos alimentos, ou na reprodução in vitro, de células animais. O que vai permitir, entre outras coisas, evitar matar animais.
        Isto não é de agora. Passa-se há pelo menos 50 anos.
        Não tenho culpa que sejas ignorante.
        Faz mais umas gracinhas, que é para disfarçar.

        • Luís M

          Pois, pois,lili, eu estico-te a trela e tu continuas a mandar bitátás.

          És tão previsível, tótó. Fazes-me lembrar um cãozinho amestrado, com o maior respeito que tenho pelos cães.

          Olha, tenho aqui uma surpresa muito gira para ti.

          Fotografei-te a contemplares um montão de átomos cheios de quase vazio.

          Achas que dão para fazer uma excelente omoleta ?

          • Molochbaal

            Força fifi.
            Faz montes de piadas sobre o assunto.
            Pode ser que a NASA e os laboratórios e empresas que há décadas investem milhões em pesquisas sobre alimentação artificial, suspendam os projectos.
            Só porque tu queres.
            Concretamente, só porque tu queres disfarçar que, mais uma vez, não sabias nada sobre o que se estava a falar.

          • Luís M

            Ó lili, isto está a perder piada. Tu andas em círculos à volta do teu rabo. Como um verdadeiro cãozinho amestrado. Agora, vou-te deixar a ruminares sozinho. Começo a ter pena de ti.

          • Molochbaal

            Sim fifi. Sim.
            Se disseres muitas piadinhas obtusas, vais ver que a NASA deixa de existir.
            A tua arguemtação “filosófica” está cada vez mais brilhante.
            Consiste em provocar por provocar. Já nem tentas disfarçar, nem fingir que estás a argumentar.
            Deves pensar que estás a dar imagem de um tipo muito esperto. Coitado.
            Deve ser para ver se a gente se esquece que já admitiste que não acreditas no teu deus.
            O tal “omnipotente” que, segundo tu dizes, não tem meios materiais nem espaço para manter vivas as suas criaturas.
            Resumindo, o teu deus é uma aldrabice para exactamente aquilo que tu estás a fazer. Um instrumento inventado por vocês para provocar os outros e armarem-se em superiores.
            Já meteste a pata na poça tantas vezes que acabaste por revelar o teu próprio jogo.
            Mais vale, de facto, nem tentares arguementar, que só te enterras mais.
            Continua com estas provocações obtusas, que não querem dizer nada. Em boçalidade é que tu és bom. Não te metas no resto…

          • Hermenêutico

            “que os animais e plantas são constituídos por mera informação.

            Ou então, se preferires, por grandes zonas de vazio.”

            Eis o antolo a mostrar a sua capacidade intelectual.

          • Molochbaal

            O fifi está mesmo convencido de que, se fingir com muita força, que estas pesquisas não existem , elas deixam mesmo de existir.

            É o chamado poder da fé.

            Ou o poder dos alienados de fugirem à realidade.

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