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  • 17 de Janeiro, 2014
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

O medo é a mãe das religiões

A religião nasceu do medo do desconhecido e da ignorância da ciência. Os homens criaram Deus à sua imagem e semelhança na infância de tempos cruéis e de práticas bárbaras.

Assim, Deus é o reflexo do pior que os homens sonharam, com uma esperança de vida reduzida e a sobrevivência diariamente comprometida. O Deus monoteísta, vingativo e apocalíptico, é uma elaboração a partir do medo e da incapacidade de explicar o mundo.

O homem fez-se escravo do mito e confundiu o criador e a criatura, a danação própria e a perversão divina, a violência atávica e o furor celeste. Depois, à medida que domou os animais ferozes, domesticou Deus e entregou a trela aos clérigos.

O que se passa hoje é um exercício parecido com o dos treinadores de cães de guerra. Os padres açulam Deus às canelas dos ímpios e ameaçam com ele os crentes, tal como os polícias de choque fazem com pastores alemães aos recalcitrantes que se manifestam contra a ordem estabelecida ou os exércitos com os inimigos que se aproximam.

A única diferença, e não é pequena, é que em democracia pode existir legitimidade na repressão, mas em questões de fé só existe a demência cega de quem não concorda com a mudança nem admite dúvidas ou críticas sobre a tradição.

O crente é a vítima que teme que os padres lhe larguem Deus e lhe ferre o cachaço se não pagar o dízimo, rezar as orações e cumprir os mandamentos. E não basta esfolar os joelhos e arriscar a cólera clerical, se não fizer tudo como Deus manda tem a eternidade como horizonte temporal do sofrimento.

Os ateus, apóstatas e crentes da concorrência têm o cutelo para a degola, a pedra para a lapidação e o chicote para a correção das imperfeições da fé. Basta que a fé dominante detenha o poder e solte os clérigos. Até as fogueiras voltam se a teocracia romana voltar.

No circo da religião maltratam-se pessoas por vontade divina mas, por tradição e desejo de profetas, são as mulheres as vítimas prediletas. Decorrem séculos e Deus mantém-se vivo nas alfurjas das sacristias onde germina o ódio e se conserva o espírito misógino.

4 thoughts on “O medo é a mãe das religiões”
  • Tolo_Mor

    O maniqueu Esperança devia pensar mais numas garinas giras do que no deus em que não acredita mas esconjura. O homem anda muito infeliz e o fantasma de Deus não o larga, coitado,

  • carlos cardoso

    “Até as fogueiras voltam se a teocracia romana voltar”. Isto é claramente uma
    metáfora (ou então o Carlos Esperança estaria a fazer precisamente aquilo que critica: utilizar o medo).

    Estou absolutamente convencido que a teocracia romana não tem a mínima hipótese de voltar para os países democráticos da Europa mas, mesmo se voltasse, não haveria fogueiras pela simples razão que os crentes não permitiriam. Haveria retrocessos, claro está, mas há limites que já não podem ser ultrapassados. Julgo por exemplo que, por mais teocrática romana que a sociedade portuguesa se tornasse, o divórcio já não poderia ser posto em causa (para desespero de alguns fundamentalistas).

    Preocupa-me muito mais os apedrejamentos que ainda existem por esse mundo fora que um hipotético regresso da teocracia romana na Europa. Fui dos que acreditou que a “primavera árabe” seria um passo decisivo para reduzir a influência perniciosa da religião mas até agora isso não tem acontecido.

    • Molochbaal

      “há limites que já não podem ser ultrapassados”

      Fazes lembrar os positivistas alemães do Séc XIX, que também diziam que nunca poderia haver fogueiras e perseguições no mundo moderno. Isso era coisa dos tempos medievais.

      Depois, veio o III Reich e viu-se.

      Realmente, o pessoal nunca aprende mesmo nada com a história.

      Entre os tais crentes de que falas, muitos defendem a inquisição, até dizem que SALVOU muitas vidas.

      Se lhes dessem o poder absoluto, está-se mesmo a ver o que fariam.

      Claro, podia não ser numa fogueira. Podia ser à la Videla, desaparecias a meio da noite, eras torturado e a seguir, levado a passear de avião e lançado ao mar.

      Lá está o moloch a delirar, estão vocês a dizer. Mas isto FOI FEITO, milhares de vezes, na década de 1970, COM A BENÇÃO DOS CAPELÃES MILITARES ARGENTINOS.

      Os tais crentes que “não podem ultrapassar” os limites que tu traças.

      Eles estão-se a marimbar para os teus limites.

      • Molochbaal

        Alguns pequenos exemplos, RECENTES, de crentes, que o amigo cardoso jura a pés juntos que nunca “ultrapassarão os limites”.

        Pois…

        “Padre que abençoava voos da morte é denunciado enquanto rezava missa na Argentina

        Um padre que abençoava militares argentinos e os voos da morte por meio dos quais a ditadura jogava presos políticos-desaparecidos vivos no mar, foi localizado por jovens militantes em uma paróquia de San Martín, na província de Buenos Aires, e denunciado publicamente enquanto rezava a missa.

        No livro El vuelo, de Horacio Verbistky, o ex-capitão da Marinha, Adolfo Scilingo – preso atualmente na Espanha – fez sua primeira revelação sobre sua participação nos vôos da morte. Ele relatou que no regresso do primeiro vôo em que atuou jogando pessoas ao mar se sentiu muito mal e se aproximou de um capelão da Marinha, que o acalmou dizendo que era uma morte cristã porque as vítimas não sofriam.”

        “O TIGRE E O PEQUENO JESUS – Também estará no banco dos réus o capitão de corveta Jorge ‘Tigre’ Acosta, famoso pelos requintes de crueldade que aplicava aos civis detidos, uma das “estrelas” da ESMA. Ele era um dos principais sequestradores dos bebês de prisioneiras da ESMA. Calcula-se que em sua maternidade clandestina nasceram mais de cem bebês.

        Acusado do seqüestro de bebês, torturas e assassinatos, Acosta era apelidado de “tigre” por sua ferocidade. Segundo testemunhas, o capitão de corveta falava sozinho à noite, em delírio místico. O próprio Acosta explicava que conversava com “Jesucito” (O pequeno Jesus), ao qual peguntava qual dos prisoneiros deveria torturar no dia seguinte. Acosta foi um dos criadores dos “vôos da morte” (vôos sobre o rio da Prata ou o mar, desde os quais eram jogados os prisioneiros, ainda vivos).”

        http://rsurgente.opsblog.org/2011/03/28/padre-que-abeancoava-voos-da-morte-e-denunciado-enquanto-rezava-missa-na-argentina/

        https://www.youtube.com/watch?v=FDzchL4ThKY

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