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  • 16 de Outubro, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Política

A indústria da santidade ao serviço do fascismo

Para vergonha da Igreja católica, descontados os crimes de eras recuadas, que podem sempre ser atribuídos aos costumes bárbaros da época, mas comprometem a inspiração divina de que se reclama, bastava a cumplicidade e o silêncio perante um dos maiores genocidas da Humanidade – Francisco Franco –, para exigir o pedido de perdão sincero de quem herdou o ferrete da ignomínia.

Todos sabemos que a violência atingiu na Guerra Civil espanhola limites inauditos de crueldade dos dois lados da barricada. Não houve bons e maus, só maus. Não podemos esquecer a violência cruel do anticlericalismo dos anarquistas e liberais e, em menor medida, dos marxistas, cujo ódio à Igreja, implicada com a pior direita, rivalizou com o empenhamento do clero nos crimes mais perversos.

Há, no entanto, duas diferenças capitais entre os que se bateram de um e de outro lado da barricada. Do lado da República, o facto de ter resultado de eleições livres sufragadas pelo povo, e, do lado dos sediciosos, a intenção de derrubar o Governo legal e instalar a ditadura. A segunda diferença, assaz sinistra, resulta do facto de, vencida a guerra, insistirem nas execuções sumárias, perseguições cruéis, assassinatos programados e nas valas comuns, cujos vestígios querem apagar, para onde atiraram as vítimas, fuziladas por divertimento sádico e violência sectária.

As crianças roubadas a mulheres, que assassinavam após o parto, foram distribuídas por casais inférteis de sequazes do fascismo espanhol. Não houve ignomínia, crueldade ou sadismo que os franquistas não cometessem, depois da guerra onde Hitler experimentou o armamento com os aviões da Legião Condor, Mussolini colaborou com submarinos e avões, a Igreja católica concedeu o estatuto de Cruzada aos revoltosos e Salazar apoiou a retaguarda, permitindo o recrutamento dos Viriatos, o abastecimento aos franquistas e impedindo o refúgio das populações leais ao Governo.

Franco teve o apoio entusiasta do Opus Dei, que nunca lhe faltou com bênçãos, missas e ministros para o Governo. Balaguer, além de ter colaborado na guerra, ainda o felicitava entusiasticamente, quase duas décadas depois, em carta de 25 de maio de 1958, carta que a filha do ditador conservou extasiada com a veneração do futuro santo ao déspota.

Depois da dolorosa memória que dilacera Espanha, depois de mais de 400 mil mortos e centenas de milhares de exilados, impede-se a exumação das vítimas do franquismo e exonera-se um juiz corajoso, Baltasar Garzón, que quis identificá-las e reparar a sua humilhação e esquecimento, exumando as valas comuns. Para trás fica o horror galego onde o franquismo instaurou, depois da guerra, o método dos “passeios” , ir às casas das pessoas, buscá-las para as “passear”, isto é, fuzilá-las à noite e deixá-las nas valetas.

Através dos sinistros “passeios”, dos conselhos de guerra contra civis, dos fuzilamentos maciços de prisioneiros e de confrontos armados com a guerrilha, morreram, só na Galiza, 197.000 galegos (fonte “La Guerra Civil en Galicia” edic. La Voz) durante o regime franquista, continuando a grande maioria em valas comuns. Nesse período, cerca de 200 mil galegos exilaram-se noutros países, sorte que não tiveram os que escolheram Portugal e foram entregues, para fuzilamento, pelas polícia de Salazar.

João Paulo II beatificou 233 vítimas religiosas da repressão republicana, ignorando o sofrimento coletivo dos espanhóis e Bento XVI reincidiria com nova beatificação de outras 498 vítimas, a maior beatificação da história da Igreja católica.

A decisão destes dois papas, profundamente reacionários, comprometidos com o Opus Dei, não surpreendeu, apenas indignou os familiares das vítimas republicanas e todos os que ansiavam pelo esbatimento do ódio que dilacerou Espanha.

Com mais de duas mil valas comuns por abrir, surpreende que o Papa atual, de quem se cria que não deitasse mais ácido nas feridas por sarar, eleve cerca de quinhentos beatos ao altar do franquismo, numa manifestação de demência episcopal da Espanha que não perdoa e que não se deixa julgar.

Este Papa, depois da lixivia gasta a limpar as nódoas do Vaticano, maculou as vestes e acabou por recordar as boas relações que manteve com Videla.

12 thoughts on “A indústria da santidade ao serviço do fascismo”
  • Tolo Mor

    Como já disse em relação à aliança da igreja com Franco, acho muito bem que façam o que quiserem, não temos a obrigação de ser todos santos. Eu também não sou

    • stefano666

      e o que dizer do conluio atual da igreja com traficantes ?

    • kavkaz

      Ahahaha… A igreja a apoiar o franquismo ditatorial e este diz que acha bem… É Tolo Mor, claro!

      A igreja autoproclama-se de “santa” e este diz que “não temos a obrigação de ser todos santos”. Está a reconhecer que a ICAR diz uma coisa e pratica outra!

      Que na ICAR são vigaristas já o ateus sabem há muito tempo, não é preciso vir ensinar-nos!

      • stefano666

        as belas amizades da igreja

      • Zulmiro

        Claro que o agnóstico Moloch Baal é o Tolo Mor, concordo totalmente contigo, mas olha que tu não andas longe dele. E aquela frase, de apoio franquista, pertence-lhe por inteiro, palavra por palavra. Caíste que nem um patinho.

        • Molochbaal

          Sim fifi, sim.

          Quando morreres vais direitinho para o céu.

          Porque o deus que planeia o sofrimento da lepra preocupa-se imenso com o teu bem estar.

          Podes confiar!

          🙂

          • stefano666

            Hitler era mais “bonzinho” que Deus…

            ao menos…as vitimas deles morriam logo.. e nao sofriam eternamente.

      • Molochbaal

        A frase é minha, cuidadosamente descontextualizada pelo fifi, para lançar a confusão.

        Assim, como está, claro que tens razão.

        Simplesmente suprimiu a frase a seguir, em que digo que, se a igreja fez essa aliança, nunca mais poderá afirmar que defendeu os valores da vida, sob pena de ser um antro de aldrabões – o que naturalmente retira todo o sentido que o fifi lhe quer dar.

        Quem não tem argumentos para discutir, passa a vida a distorcer o que os outros dizem.

        O que se passa é que o fifi tem imenso medo de morrer e eu estou à anos a tentar que ele me explique, como é que o deus “bom” em que ele acredita, que PLANEOU o mundo, planeia o sofrimento humano mais horrível, até ao mínimo pormenor de tortura.

        Parece que só depois de mortos é que se preocupa imenso com a felicidade dos seus filhos.

        Assim é fácil.

        Como ninguém volta para contar, podem inventar todas as histórias de paraísos com leite e mel etc etc.

        Ora, precisamente, são estas contradições imbecis que eu lhe ando a pedir para me explicar.

        Coisa que parece que o anda a por um bocado nervoso. Já quase só intervém para me provocar.

        Se calhar, no fundo, está farto de saber que tudo aquilo em que diz acreditar não passam de histórias da carochinha.

        Ao fugir durante anos com estes ataques ridículos, está a admitir que não dá uma para a caixa. O que o põe nervozinho.

        O nosso representante local da religião do amor, odeia-me mais do que a vocês.

  • Molochbaal

    De facto.

    É nojento a igreja afirmar que sempre defendeu os valores da vida, quando se aliou a todas as ditaduras de direita do Séc.XX, para juntar à sua história de guerras e repressão.

    • stefano666

      e o apogeu da barbarie catolica… ocorreu na Croacia Ustasha… e em Ruanda de 1994…

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