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  • 8 de Julho, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Laicidade

A primeira missa do Patriarca de Lisboa

Consta que 278 padres e bispos e 65 diáconos foram o ornamento pio do Sr. Dr. Manuel Clemente quando ontem rezou a 1.ª missa como patriarca de Lisboa.

Além dos referidos empregados da diocese estavam presentes, na condição de créus, os Srs. Paulo Portas, Cavaco Silva e Passos Coelho, por ordem decrescente de importância.

Não sei se a missa de um patriarca tem atrativos litúrgicos que aliciem a freguesia mas a presença não deve ser alheia aos pecados dos réprobos e ao peso da consciência.

Se a missa é lixivia suficiente para limpar nódoas a tais personagens, podem continuar a arruinar o País porque não há nódoa que uma confissão bem feita, o arrependimento sincero e a penitência cumprida não limpem.

No Vaticano, as missas e indulgências são a terebentina que na igreja lava os pecados (nódoas da alma) e no IOR o dinheiro de origem suspeita.

A Presidente da Assembleia da República, o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o Presidente do Tribunal de Contas e o ministro da Segurança Social foram as figuras de Estado que, segundo a comunicação social, se juntaram aos três crentes já referidos no festival litúrgico da primeira missa do novo patriarca.

Os pecadores têm todo o direito às missas e complementos pios que lhes aprouver, mas não podem invocar a qualidade de altos dignitários do Estado sob pena de converterem o país num protetorado do Vaticano. Podem viajar de joelhos e rezar novenas mas não podem invocar uma condição que transforma o país laico numa sacristia.

Talvez não saibam o que é a ética republicana.

8 thoughts on “A primeira missa do Patriarca de Lisboa”
  • kavkaz

    O Sr. Clemente não dispensou centenas dos seus empregados para enfeitarem a igreja na primeira missa como patriarca de Lisboa. Terão alugado camionetas com padres e bispos para garantirem o recinto cheio? Tem algo parecido com muitos comícios políticos e sindicais…

    P.S. Parece que o clero e a beatada bateram muitas palmas aos actuais governantes portugueses. Eles lá saberão porquê…

  • João Pedro Moura

    CARLOS ESPERANÇA disse:

    “Além dos referidos empregados da diocese estavam presentes, na condição de créus, os Srs. Paulo Portas, Cavaco Silva e Passos Coelho, por ordem decrescente de importância.
    (…)
    A Presidente da Assembleia da República, o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o Presidente do Tribunal de Contas e o ministro da Segurança Social foram as figuras de Estado que, segundo a comunicação social, se juntaram aos três crentes já referidos no festival litúrgico da primeira missa do novo patriarca.”

    “Na condição de créus”?!
    Estavam, mas é, na condição de autoridades do Estado, independentemente de crédulos…

    É um velho problema destes regimes razoavelmente clericalistas, disfarçados de laicos, o de fazerem representar o Estado laico nas cerimónias da clericalha tartufa. Ou desta naquele…

    Ora, um Estado laico, oficialmente, não tem que se fazer representar em cerimónias religiosas, que, de modo nenhum, concernem ao Estado. Nem de participar clérigos nas cerimónias político-administrativas…

    A religiosidade é assunto privado e não assunto público, de participação dos próceres políticos do país.

    O Estado é a organização política duma comunidade de cidadãos, necessariamente pluralista de vivências e conceções políticas, partidárias, religiosas, desportivas…

    Já agora, os representantes do Estado também deveriam participar em cerimónias de glorificação dalgum clube desportivo, que ganhasse campeonatos ou cometesse grandes proezas desportivas, ou dalgum autor emérito a quem fosse atribuído gloriosos prémios.

    As autoridades políticas participam ou podem participar em quaisquer eventos representativos do país. Isso é que é adequado. Mais nada.

    Enfim, a quem ganha um grande prémio, decorrente do seu esforço, com alguma projeção nacional ou internacional, de representação, ainda posso imaginar uma autoridade estatal ou governamental emitir públicas congratulações…

    … Agora, um serventuário da Igreja ser nomeado capataz patriarcal pelo papa, em ato puramente de gestão interna e fazer disso um evento nacional com repercussões representativas estatais… é demais e, mais uma vez, denotativo, da promiscuidade entre Estado e Igreja, que tanto agrada a ambos…

    • GriloFalante

      “Já agora, os representantes do Estado também deveriam participar em cerimónias de glorificação dalgum clube desportivo, ”

      Bom, mas isso já se vai fazendo, quando a selecção portuguesa não perde. E não vale o argumento de que a selecção representa Portugal. Não me parece. Portugal, bem ou mal, é representado pelo presidente da República; a selecção representa a Federação Portuguesa de Futebol.
      Mas gostaria de ver a malta governativa a participar nas cerimónias judaicas ou islâmicas – para não falar nas restantes religiões que por aí abundam.

  • JoaoC

    O Estado até pode ser laico. Mas não anti-religioso. Ou melhor, anti-católico.

    Mas o país, a nossa Pátria é Católica, súbditos de uma Rainha Imaculada. Chorem o que quiserem, mas é a vida….

    Quanto à Ética republicana… LOL!

    • GriloFalante

      Diz-me uma coisa, JoãoC: vamos supor, por hipótese meramente académica e completamente absurda, que um idiota qualquer te nomeava rei de Portugal. Posto isto: tu serias automaticamente rei, ou terias de aceitar?
      Agora, a questão principal: onde é que consta que a tal “rainha imaculada” aceitou a realeza?
      Outra coisa: na monarquia, a rainha não tem de ser casada com o rei – como em Espanha, por exemplo? Se sim, onde é que consta que a “rainha imaculada” casou com o rei?
      Finalmente: quando é que tu deixas de fazer figuras tristes? É que se queres concorrer com o outro idiota que aparece de vez em quando, chegaste atrasado. Mas não andas muito longe.

    • João Pedro Moura

      JOAOC disse:

      “Mas o país, a nossa Pátria é Católica, súbditos de uma Rainha Imaculada.”

      “Imaculada” quer dizer que não tem “mácula”. Que “mácula”?!

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