E assim vai o meu país…
Com um milhão de desempregados, e a ameaça a pairar sobre os que ainda mantêm um posto de trabalho, instala-se o medo e bloqueiam-se os sonhos e a esperança.
Há nas ruas, nos transportes públicos, nas repartições e oficinas, um silêncio tenebroso, uma paralisia fúnebre e uma tristeza solitária.
A televisão espanhola aconselha rezas e velas acesas. Do Portugal profundo saem ainda velhos rurais, com restos do que foi uma farda militar, convencidos de que foi a Senhora de Fátima que fez o milagre de regressarem vivos da guerra colonial. Buscam a ventura sonhada, para depois da vida, quando se extingue a confiança na única que nos coube.
Quando da terra, que deixou de amanhar-se, e do mar, que vai deixando de dar peixes, não vêm sinais animadores, as pessoas erguem as mão para o céu, numa resignação contida, e vão a pé a Fátima.
São avós que pedem um emprego para o neto, pais a quem se esgotam as prestações de desemprego e mães que veem a dispensa vazia e a quem minguam os ingredientes para a sopa que fumegava à mesa.
Da Europa sonhada por Schuman e Monnet e, ainda, por Delors, resta a merquiavélica visão da agiotagem. Deixámo-nos deslizar para o terreno barroso do nosso desencanto.
Troicam-nos por um prato de lentilhas.
Quanto maior é a desgraça mais a fé se exacerba e a superstição se aprofunda. Fátima é o pântano onde se afoga o desespero.
18 thoughts on “E assim vai o meu país…”