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Turismo em Portugal

Acabo de ouver, neologismo televisivo-cinematográfico que consiste na aglutinação de ouvir e ver, , dizia eu que acabo de ouver, na televisão, que o Governo de Portugal está empenhado, como se nós não soubéssemos, em promover o turismo, e esta parte é que eu não sabia. Alavancar, como se diz hodiernamente. Para isso, vai tomar medidas para desenvolver o turismo de saúde e, pasme-se! o turismo religioso.

Ora, eu acho que o turismo religioso é, na verdade, uma fonte praticamente inesgotável de receitas, e a iCAR que o diga, mas a ICAR deve ficar com a parte de leão. O que está correcto, se considerarmos que é a ICAR a única produtora, isto é, detém o monopólio das duas vertentes religiosas que mais atraem os turistas daquele ramo: os milagres e as aparições. Mas parece-me que será chegada a altura de os governantes começarem a pensar seriamente na hipótese de promover uma alteração nos acordos bi-laterais, de modo a que a ICAR passe a contribuir num pouco mais para o esforço anti-crise. Um pouco mais, é como quem diz: contribuir, tout-court. O que não se me afigura difícil, mas se o for certamente que o ministro Álvaro não deixará de deprecar os bons ofícios do católico presidente da República. Sim, que isto de país laico é muito lindo, mas é como a saúde tendencialmente gratuita: fica muito bem na Constituição, e dá um ar de democracia. Só.

Vamos ao que interessa. Em primeiro lugar, para que o turismo religioso, porque é este que interessa abordar neste local, seja, efectivamente, alavancado, há que modernizar toda a estrutura, de modo a que os turistas religiosos sejam efectivamente atraídos por algo mais que as patéticas passeatas do mamarracho pelo terreiro de Fátima.  Alvitro, assim, que sejam criadas novas aparições, de preferência no Algarve, de modo a que os turistas possam juntar o útil ao agradável. Nada mais prático do que assistir a uma procissão enquanto se passa o bronzeador pelo toutiço, ou debitar uma ave-maria entre dois mergulhos nas águas cálidas. As velinhas acesas podiam ser, facilmente, substituídas por telemóveis com retro-iluminação nos “displays”, ou por modernas lanternas de raios-laser. Pelo menos, não se corria o risco de apanhar com pingos de cera na roupa, que aquela porcaria dá uma trabalheira do caraças a tirar.

Depois, os milagres. Os milagres atraem sempre gente. Mas nada de milagres fatelas, tipo olho-esquerdo-de-D. Guilhermina, nada disso! Milagres a sério, do género serrar uma mulher, pode ser um homem, ao meio e o tipo, ou a tipa, aparecer vivo da costa e com as partes coladas, aquela multidão toda a berrar “milagre! milagre!”. Até podiam convidar o Luís de Matos ou, até, um outro ilusionista no desemprego… Sim, porque aquele truque da ressurreição já está mais que visto, anda a humanidade católica a gramar isso há quase dois mil anos, já cansa, é sempre a mesma trata, aleluia, ele morreu para nos salvar, etc.

Por falar nisso: qual a razão para ainda se manter o anacrónico hábito de andar o “compasso” de porta em porta? Em pleno século XXI, com a tecnologia a tornar a palavra “impossível” cada vez mais sem sentido, não se poderia resolver o problema por e-mail? Ou com o acesso a um “site” apropriado?

À atenção de quem de direito.

4 thoughts on “Turismo em Portugal”
  • Ah Pois

    Confesso que gostei desta:
    “Em pleno século XXI, com a tecnologia a tornar a palavra “impossível” cada vez mais sem sentido, não se poderia resolver o problema por e-mail? ”

    Vejamos um exemplo igual:
    “Em vez de ir à farmácia, pode o remédio ser enviado por e-mail e administrado via USB…”

    Acho que o Zé Moreira descobriu algo importante… Não há nada como um ateu crente na ciência e na informática!

    • Ah Pois

      “de modo a que a ICAR passe a contribuir num pouco mais para o esforço anti-crise.”

      Mais!
      Já é o suporte dos rejeitados pela engrenagem capitalista, o amparo dos espoliados pelos políticos ignorantes e incapazes , um dos maiores empregadores nacionais que em vez de despedir cria emprego, a geradora de comércio (de apoio aos crentes) que mais tem aumentado a sua capacidade de atrair e movimentar pessoas… etc… etc…

      • David Ferreira

        Suporte dos rejeitados? Daqueles que dormem nas ruas? E que continuam a dormir nas ruas, mesmo à porta de igrejas?

        Não sei quantos padres emprega, nem quantos empregos o mercado da venda de bugigangas religiosas gera, mas é em número insignificante para a economia. E é um trabalho que apenas produz uma mão cheia de nada e outra cheia de ilusões que nunca se resolvem e muito menos se concretizam.

        Os crentes e as pessoas que atravessam dificuldades não precisam de atração ou de movimento religioso, muito menos do apoio do placebo da crença. Precisam de gente lúcida com os pés assentes em terra e não com os joelhos. Gente que os oriente e os guie e os ajude a ultrapassar as dificuldades com criatividade, com formação, com preparação para enfrentar o mundo real. A idade média faz apenas na memória. Voltar à crendice piedosa, ao culto do sofrimento e do mito é regressar ao passado mais sombrio que a humanidade já teve.

  • Deusão

    Mas falar sobre o que a essa gente ?
    Sobre o universo ? como ? o universo deles resume-se ao entorno da igreja
    Sobre ciência ? Sobre evolução ?
    Há pessoas para as quais a evolução é uma grande farsa. E assim será !

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