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Que futuro?

O que há de racional no ato de automutilação? O que há de racional nas práticas rituais de sacrifício humano a deuses incognoscíveis? O que há de racional na concetualização de uma entidade superior a quem se atribuem características supremas de bondade, filantropia e graça, sem racionalizar que uma tal entidade não necessitaria em absoluto de sacrifício algum por parte da insignificante obra criada, a não ser que fosse dotado, de igual modo, de características supremas de egocentrismo, sadismo, narcisismo, entre tantas outras alheadas do frescor da verdade, da racionalidade e da sanidade mental?

Vivemos um período da história que se revela importantíssimo na determinação do modo como a humanidade se pode preparar inexoravelmente para enfrentar os desafios de uma nova era que se avizinha e cujos pilares deveriam ser erigidos, como sempre deveriam ter sido em todas as épocas, com base nas sólidas fundações dos erros reconhecidos e aprendidos do passado e na firmeza de um planeamento pragmático para o futuro. No entanto, a irracionalidade parece insurgir-se a cada dia que passa.

A crise económica, surgida de um sistema bancário internacional manipulado pela cegueira do lucro fácil, célere e a qualquer custo, abate-se por todo o mundo civilizado, ensombrando os dias de incerteza e as noites na esperança de que ela não seja uma certeza duradoura. A Este, um louco deificado declara guerra à democracia, exibindo um arsenal militar desmesurado e exulta como uma criança imberbe perante a vitória num qualquer jogo de estratégia de tabuleiro. No Bangladesh, durante o período da Páscoa cristã, dezenas de milhares de muçulmanos aglomeram-se em simultânea genuflexão na capital do país, como coelhos acometidos de mixomatose, não para pôr ovos, mas para rezar pela morte de um corajoso blogger ateu que alegadamente insultou o Islão, exigindo de volta as ancestrais e irracionais leis punitivas do ato de blasfémia. Ainda no mundo islâmico, crianças são atingidas a tiro de caçadeira na cabeça, por elementos da própria família, pelo crime de quererem estudar; outras são chicoteadas até à morte pelo crime de terem sido violadas. No Brasil, a emocionalmente descontrolada seita evangélica tenta insurgir-se a todo o custo contra as leis seculares de um estado laico, patrocinada pela exorcização de demónios e financiada pelo dízimo de um povo com um potencial enorme de desenvolvimento, mas que ainda soçobra perante o infortúnio da incultura, da superstição e do obscurantismo, que nem o excesso de Sol mingua. A Norte, os criacionistas empenham-se dia e noite, investindo largas somas de dinheiro com o intuito de elucidarem a humanidade acerca da inquestionável veracidade das metáforas do Velho Testamento e para a inclusão da sua surreal histórico-pseudociência no ensino escolar nacional. No mundo católico, os fiéis não se poupam nos elogios a um Papa elegido democraticamente pela intervenção do Espírito Santo e que a comunicação social se encarrega de elevar a Superstar; um Santo a ser caldeado numa forja que apenas produz Santos, calcinando nesse ato a memória do seu pensamento misógino e homofóbico, que se manterá imune a verrina, ao mesmo tempo que exorta o rebanho a combater pela persistência da oração os ardis que um tal de Diabo tece, como se o seu Deus omnipotente fosse incapaz de refrear as obras de tal subalterna, chifruda e vilipendiada figura de estilo. Nas Filipinas, jovens mutilam-se simulando a morte de um mito que pretendem eternizar de uma forma pornográfica e que a hierarquia da Igreja não tem o decoro de desaprovar em público de forma veemente e a comunicação social de não exibir, ao mesmo tempo que organizam debates sobre o nocente excesso de exibição de imagens violentas na formação cívica e moral das crianças.

Para quem é crente inveterado, todos os atos tresloucados se tornam congruentes quando neles se introduz o fator fé.

Que futuro queremos construir? Que futuro poderemos almejar para as novas gerações neste mundo que se ressente e se esboroa incessantemente com funestas dualidades cognitivas e contradições evolutivas?

O avançado saber científico que possuímos progride diariamente, permitindo-nos não só uma existência mais digna e menos sofredora, embora muitas vezes devastadora do natural equilíbrio do ecossistema, mas também o conhecimento da nossa condição de humanos e do lugar que ocupamos na natureza. Ao mesmo tempo, a falta do conhecimento mais básico irroga-se como realidade para milhões e milhões de seres humanos que, não tendo a capacidade para descortinar os mais elementares porquês das coisas, se deixam enredar sem constrangimento e de braços abertos nas teias debilitantes de quem julga ter todas as respostas sem necessidade de colocar todas as perguntas, perpetuando instituições que, pese embora a boa vontade propalada, não passam de organizações socioculturais primárias e impeditivas do hígido progresso da nossa espécie.

Estamos, de momento, num impasse. Resta-nos escolher. Essa escolha resume-se à luta entre o esclarecimento, com base no conhecimento, da mente mortal, das suas contingências e do seu aperfeiçoamento, contra a opressão irracional da perpetuação ilusória da posse de uma alma que só na concretização tão ardentemente ambicionada da imortalidade pode adquirir contornos perenes de perfeição.

14 thoughts on “Que futuro?”
  • Carlos Esperança

    Um artigo bem pensado e melhor conseguido.

  • O Culto Professor

    O que nos vale é que ainda existe homens racionais, laicos e pacíficos como este:

    ” Na verdade, parece evidente que uma aplicação errada da tortura nos
    devia deixar muito menos preocupados do que os danos colaterais: afinal, não há
    notícias de bébés encarcerados na Baía de Guantánamo, apenas alguns jovens
    degenerados, muitos dos quais foram flagrantemente apanhados a tentar matar os
    nossos soldados. A tortura nem sequer precisaria de submeter as suas vítimas a
    um risco de vida ou de invalidez significativo. Se a nossa intuição acerca do
    carácter errado da tortura resulta de uma aversão à forma como as pessoas
    normalmente se comportam quando são torturadas, deveríamos notar que esta
    infelicidade em particular poderia ser contornada farmacologicamente, já que as
    drogas paralisantes poderiam dispensar-nos de ouvir os gritos ou assistir às
    contorções das vítimas. Poderíamos facilmente engendrar métodos de tortura em
    que o torturador seria tão cego aos suplícios das vítimas como um piloto a
    trinta mil pés. Donde a nossa aversão natural às visões e sons do Inferno não
    fornecem qualquer argumento àqueles que pretendem opor-se ao uso da tortura.
    Para demonstrar até que ponto os tormentos das vítimas da tortura podem ser
    apresentados sob uma aparência abstracta, basta imaginarmos uma « pílula de
    tortura ideal» – uma droga que nos proporcionasse não só os instrumentos da
    tortura como também o instrumento do seu total encobrimento. A acção do
    comprimido seria produzir um estado transitório de paralisia e sofrimento de
    tal ordem que nenhum ser humano alguma vez se lhes poderia submeter uma segunda vez. Imagine como nós, torturadores, nos sentiríamos se, depois de ministrarmos este comprimido aos terroristas prisioneiros, todos se deitassem numa aparente sesta de meia hora para depois acordarem e confessarem imediatamente todos os pormenores do funcionamento da sua organização. Não acabaríamos enfim por ceder à tentação de chamarmos a isto a « pílula da verdade»? Não, não há qualquer diferença ética na forma como o sofrimento dos torturados ou das vítimas
    colaterais se nos apresenta. Se estamos dispostos a lançar bombas, ou mesmo
    correr o risco de que uma salva de tiros de pistola possa errar o alvo, deveríamos estar igualmente dispostos a torturar uma certa categoria de suspeitos de crimes e de prisioneiros militares. Julgo ter conseguido argumentar a favor do uso da tortura em quaisquer circunstâncias em que estivéssemos dispostos a causar danos colaterais. Tendo em conta aquilo que muitos de nós acreditam sobre as exigências da guerra ao terrorismo, a prática da tortura afigurar-se-ia, em certas cirunstâncias, não só admissível como necessária”.

    Sam Harris, O Fim da Fé, páginas 214, 216, 217 a 219.

    • Maravilhosa Esposa Ateia

      Tony querido, vem tomar a medicação!
      Anda nandinho meu anjo, larga o computador, pára com o copy/paste.
      Ó valha-te o menino jesus.

      • provocador

        Ainda tanta azia Carpinteiro ? Resquícios do tempo em que foste sacristão ? Para ti, as crianças sírias massacradas não te suscitam nenhum comentário ? Também pensas que o Assad é um grande democrata ? Ou preferes quando o Christopher Hitchens e o Sam Harris defendiam o genocídio dos islâmicos ? Tu és mais de bater e fugir, não é cobardolas ?

        • Maravilhosa Esposa Ateia

          Tony querido, estás pior. Toma a medicação!!
          Já nem o menino jesus {que hoje voltou a ressuscitar} te vale.

  • provocador

    Mais um exemplo de racionalidade laica do grande ” democrata” sírio, Bashar Al-Assad, que o Carlos Esperança tanto elogia.Aqui não há nenhum automutilado:

    http://www.youtube.com/watch?v=garg9XrL3mQ

    • David Ferreira

      Solicito que não coloque nos meus posts imagens horrendas e pornográficas de humanos mortos, reveladoras do inqualificável avançado grau de demência em que se encontra. Sobretudo quando estas imagens exibem crianças, o que poderá motivar em mim um descontrolo irracional que não me permita ter o adequado bom senso e educação no modo como o passarei a tratar daqui em diante.
      Atenciosamente

      • provocador

        Estou-me nas tintas para o que você pensa. Eu penso por mim. Estas imagens são bem reveladoras da verdadeira tragédia humana e servem para desmascarar a vossa disfarçada hipocrisia. O Esperança enaltece o monstro do Assad e, quanto a isso, você, e outros da sua igualha, silenciam, não levantam a menor objecção. Apresentam-se muito preocupados com as automutilaç
        oes, que eu também censuro, mas calam-se quando o Esperança se permite elogiar o monstro do Assad.Vocês definem-se a vocês próprios. O vosso carácter está à vista. Eu só faço por vos desmascarar.

        • David Ferreira

          Caro desequilibrado emocional, você aqui é apenas o bobo da corte que insiste em ridicularizar-se constantemente, para gáudio de todos os que aqui se vão deleitando com a coerência manifestado pelos seus heterónimos.
          Você aqui não exige e muito menos deveria tentar manipular as observações que as pessoas aqui queiram deixar.
          Pela minha parte não me manifesto sobre o que não tenho conhecimento de causa e esclareço-o que política não é assunto para se debater neste local, para além de ser um campo que não me seduz, a não ser quando conspurcado pelos tentáculos da religião.
          Passe bem e encha a boca de folar para ver se mantém a matraca fechada.

          • GriloFalante

            Caro David, tolere um pouco mais o António Fernando, por favor. O rapaz, que se limitava a ser intelectualmente subnutrido, tornou-se marreco emocional. No fim de contas, ele é a prova provada de que as guerras nunca poderão deixar de existir; porque se ele fosse vomitar assim para um portal religioso, haveria guerra, de certeza. Como os ateus são pacíficos por natureza, limitam-se a expulsá-lo por indecente e má figura, que foi o que fez um portal ateu brasileiro, ou então passam a tolerá-lo – sempre na perspectiva de que os doidos não devem ser contrariados.

      • Ah pois

        Chamar a isto pornografia não é demência? Então é o quê?

        Agora vou ver um filme de guerra, portanto, pornogr’afico!

  • Ah Pois

    Um bom exemplo do ridículo a que um fanático
    pode chegar. Este texto mostra

    como
    o fundamentalismo pode distorcer completamente a realidade e como um fanático,
    de mente formatada pelo ódio e pela lavagem cerebral que os ateus sofrem, pode
    aldrabar, ludibriar a verdade e tornar-se um desonesto pregador de falsos
    argumentos.

    Este
    texto prova como o autor é ignorante e insiste em tornar-se caricato ante os
    olhos de todos.

    Comecemos
    com o termo “pornografia”. A ignorância do autor, e de outros membros
    deste blogue, leva-o a imaginar que pode dar-lhe o significado que lhe
    apetecer, como se a semântica e a etimologia dependessem da vontade de um
    qualquer ignaro ou se obedecessem às demonstrações de demência dessas mentes
    perturbadas.

    Pornográfico
    é um adjectivo que qualifica tudo aquilo que diz respeito à pornografia. Mas,
    pornografia remete para ECLUSIVAMENTE para o campo sexual. O prefixo
    “porno” radica no grego “pórne”, que significa,
    exactamente, “prostituta”. Dai que se diga pornográfico tudo o que
    for contrário ao pudor, aos bons costumes e moral sexual, que seja obsceno por
    razões sexuais, etc.

    A
    ignorância do autor leva-o a interpretar a “moral” como se se tratara
    da “moral social”.
    Ridiculo e absurdo simultaneamente.

    Pergunta
    o ignaro autor:

    “O
    que há de racional nas práticas rituais de sacrifício humano…”

    Tudo
    o que alcançamos e tem valor ou reconhecimento implica sacrifício. O
    conhecimento, o estudo, a investigação, o desporto, o trabalho… a perfeição e
    o valor em todas estas áreas obtêm-se, apenas, com sacrifício. Muito sacrifício.

    A
    sociedade valoriza e dá reconhecimento a esse sacrifício, pois é ele que
    aproxima da perfeição. Alguns autores atribuem a Tito Lívio a expressão:
    “Ad augusta per angusta”. Esta expressão resume bem esta associação.

    Mas
    o autor quer chegar mais além e refere-se a “deuses incognoscíveis”.
    Se ai engloba Deus, volta a ser ridículo, pois Deus, por exemplo na perspectiva
    cristã, é cognoscível. Por certo
    o autor fala por si, da sua limitação, da sua incapacidade.

    A
    única parte que se aproveita do texto é esta DEFINIÇÃO DE ATEÍSMO, bastante
    expressiva e dita por quem o conhece:

    “A
    falta do conhecimento mais básico irroga-se como realidade para [alguns] seres
    humanos que, não tendo a capacidade para descortinar os mais elementares
    porquês das coisas, se deixam enredar sem constrangimento e de braços abertos
    nas teias debilitantes de quem julga ter todas as respostas sem necessidade de
    colocar todas as perguntas, perpetuando instituições (…) primárias e
    impeditivas do hígido progresso da nossa espécie.”

    • David Ferreira

      Caro heterónimo, obrigado por este breve momento de pura hilaridade. O voluntarismo e a abnegação manifestados na sua incessante missão de nos alegrar os dias, neste período chuvoso e depressivo, é uma benção sempre bem-vinda.

      Quanto à questão do termo “pornográfico”, podia ter pedido uma ajudinha ao “Culto Professor”. Desse modo teria ficado a saber que o uso da palavra não se restringe à sexualidade (sexualidade, mas sempre respeitando as normas do pudor e dos bons costumes), tendo como sinónimos termos como “obsceno” e “imoral”, podendo ser interpretado como algo que fere o que é considerado moral, etc, etc, palavras não existentes na continuada prática da posição de missionário que aqui anonimamente verbaliza, procurando nunca ferir suscetibilidades.

      Tudo o que alcançamos, de facto, exige sacrifício. Um sacrifício que tem mais a ver com empenho e dedicação, não com a automutilação física e com a sua PORNOGRÁFICA exibição, cujo objetivo a minha limitação de ateu não consegue descortinar.

      Quanto ao resto, é mais do mesmo, as mesmas técnicas de destabilização, as mesmas falácias, a inversão e deturpação do significado dos textos, as mesmas figurinhas lamentáveis, demasiado insignificantes e ridículas para quem se julga muito culto e coerente.

      Enfim, aproveite este dia das mentiras, que algum Deus cognoscível parece ter criado exclusivamente para pessoas como você, pessoas cuja existência não passa de uma grande mentira auto-infligida.

      Agradecendo os momentos de boa disposição, sempre a considerá-lo.

      • Ah pois

        Ainda não percebi se ser ridículo é uma característica intrínseca do ateísmo ou de alguns ateus que frequentam este blogue.

        O caso do uso errado e abusivo do adjectivo “pornográfico”, se não fosse infantil e caricato, poderia ser tomado como uma boa piada.

        Efectivamente, é completamente fantasiosa e descabida semântica usada. PORNOGRÁFICO É UM ADJECTIVO QUE RESPEITA, ÚNICA E EXCLUSIVAMENTE, A ACTOS DE CARIZ SEXUAL.

        Entendidos esses actos dentro da esfera do pudor, da moral sexual, da honestidade (que também significa “castidade”) e decência sexual, ou da reserva na observância dos bons costumes em questões sexuais.

        Desafio-te a trazer aqui o mais refinado linguista ou filologista para desmentir estas afirmações.

        Este tipo de utilização semântica fantasiosa, irracional, absurda, despropositada e disparatada, corresponde a uma psicopatologia que se chama imbecilidade. Característica que eu sempre soube não ser estranha ao ateísmo, mas que aqui de pode comprovar, sem margem para dúvida.

        Aliás, até a própria palavra “obsceno” (obscenus) tem como significado original o contrário de “obsæpso” (que significa: tapar, fechar, impedir).

        Outro tanto direi da questão de “Deus incognoscível “. Dizer que Deus não é cognoscível, é uma afirmação da mais ignorante irracionalidade. Conhecer não é sinónimo de “comprovar”. Deus é cognoscível (de conhecer), mas não comprovável (certificável experimentalmente).

        Analisando as espirituosas afirmações aqui feitas pelos ateus, tomo já o ateísmo como uma arte cénica humoristica, nada mais do que isso.

        Temos aqui um bom artista, tão risível como insistente, tão ignorante como convencido, tão persistente como fanático.

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