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  • 13 de Fevereiro, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Laicidade

O Presidente da República e o Papa demissionário

«Quero, nesta ocasião, sublinhar a admiração profunda do Povo Português por Vossa Santidade e por um magistério que constitui exemplo de fé e de esperança, na defesa dos valores universais da tolerância e da paz».  (CAVACO SILVA  –  PRES. DA REPÚBLICA)

***

Esta humilhante mensagem podia ter sido enviada por qualquer devoto, mas jamais pelo Presidente da República Portuguesa. Um país laico não se revê na subserviência do seu Presidente para com o chefe do único Estado totalitário encravado num país da União Europeia.

Cavaco Silva pode viajar de joelhos até Roma ou rastejar perante o único teocrata europeu mas não pode ferir a consciência dos ateus, agnósticos, livres-pensadores e membros de outras religiões.

O ato que julga protocolar é a ofensa gratuita e injusta de quem jurou a Constituição e tem o dever de a respeitar, comportando-se como representante de um Estado laico e não como regedor de um protetorado do Vaticano.

Num período de intenso desânimo e falta de amor próprio do País, as palavras de quem não distingue as convicções particulares das funções públicas que desempenha, são um ultraje a todos os portugueses alérgicos à água benta e de pituitária sensível ao incenso.

A atitude do devoto Cavaco Silva é simplesmente deplorável.

22 thoughts on “O Presidente da República e o Papa demissionário”
  • Ícaro Cristão

    Laico significa que não pertence à hierarquia da Igreja. Tanto eu como o PR somos então Laicos, ou se preferirem Leigos. Assim sendo, e sabendo que o cargo PR é indissociável da Pessoa que o ocupa e do próprio órgão de soberania, Anibal Cavaco Silva é livre de dizer estas palavras, de falar da sua Fé e da dos outros. É tão simples.

    • GriloFalante

      Tens uma noção de laicidade muito engraçada e conveniente. Convenientemente redutora.

      “2. Que não sofre influência ou controlo por parte da igreja (ex.: estado laico).” Dicionário Priberam.

      “Laicismo: «doutrina que defende o carácter não religioso das instituições do Estado, nomeadamente do ensino». – Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

      INSTITUIÇÕES DO ESTADO.
      Percebeste, ou nem por isso? Um pouco de honestidade intelectual só te ficava bem.Mas não é expectável.

      • Ícaro Cristão

        Man, quem me está a parecer um tanto ou quanto desonesto é você.

        Onde é que qualquer dessas definições me contradiz? Pelo contrário, desmontam qualquer tentativa de confusão entre Laicidade de Descristianização ou Anti-Religião. O PR não sofre qualquer “influência ou controlo por parte da igreja”. Eu também não. Por isso somos Leigos (Laicos) e não religiosos (Padre, Irmãos, Monges, Bispos, Cardeais, Freira). Custa assim tanto a perceber? Santo Deus!

        De qualquer forma obrigado pelas definições que, para além de esclarecerem o assunto, desmontam o próprio post que o motivou. Abraço

    • Daniel

      Laico não significa que não pertence à hierarquia de qualquer igreja.O conceito de laicidade, aplicado a um estado, significa que existe separação de poderes entre o estado e qualquer igreja, incluindo a católica. Se Cavaco Silva é presidente de uma república laica, como a portuguesa, é irrelevante se ele é religioso ou não. Se ele é católico, mas não possui qualquer papel sacerdotal, então será leigo. Cavaco Silva, em situações institucionais, não tem que falar como católico, mas como presidente da república, mas isso não significa que não possa dirigir-se a um chefe de estado, como Bento XVI, nos termos em que o fez. Goste-se ou não de Bento XVI, ele é formalmente chefe do Estado do Vaticano, como tal reconhecido por Portugal. E se o Vaticano é um estado sacerdotal, é lógico que Cavaco Silva se tenha dirigido a Bento XVI nos termos em que o fez. O artigo do Carlos Esperança é, por isso, simplesmente ridículo. Para ele, o conceito de laicidade é muito parecido com o de Enver Hoxha.

      • Ícaro Cristão

        O único cargo em Portugal no qual uma Pessoa e o órgão de soberania são os mesmos é o Presidente da República (muitas vezes erradamente referido como presidência da república). Sendo ele Cristão e homem livre, apesar do cargo, pode dirigir-se nos termos que entender. Mas de facto confunde-se Laicidade com eliminação pura e simples da Religião, que mais não é a agenda do sr. Esperança. Abraço

        • Daniel

          Se Cavaco Silva é o Presidente da República e católico não pode dirigir-se, seja a quem for, sem respeito pelo princípio constitucional da laicidade do estado português. Logo, não pode, sob pena de infringir esse princípio, actuar publicamente em termos que ofendam esse princípio. Porém, no caso das palavras que dirigiu a Bento XVI, não vejo que esse princípio tenha sido infringido. Cavaco Silva falava em termos genéricos do povo português, atendendo certamente à realidade sociológica do nosso país, que é de predominância católica. Foi um gesto de cortesia perfeitamente compreensível. O facto de eu, por exemplo, não sentir admiração por Bento XVI, não significa que não entenda o gesto de cortesia de Cavaco Silva referindo-se à maioria dos portugueses que ele representa.

          • Ícaro Cristão

            Do dicionário priberam online:

            leigo
            (latim laicus, -a, -um, comum, ordinário)
            adj. s. m.

            “Que ou quem não pertence ao clero nem fez votos religiosos. = LAICO, SECULAR ≠ECLESIÁSTICO, RELIGIOSO”

            leigo
            (latim laicus, -a, -um, comum, ordinário)
            adj. s. m.

            “Que ou quem não pertence ao clero nem fez votos religiosos. = LAICO, SECULAR ≠ECLESIÁSTICO, RELIGIOSO”

      • David Ferreira

        Acho que o problema reside precisamente no facto de o Vaticano ser um Estado. Porque haverá um sistema específico e cultural de crenças ter direito a um Estado próprio? A história explica bem os quês e os porquês que deram origem ao Vaticano, mas a sua utilidade continua a carecer de uma justificação válida para a humanidade, a não ser a que a pesada hierarquia católica foi propagando por intermédio de empenhado proselitismo.

        Mas e se, de igual modo, todas as outras variações do cristianismo, ou mesmo de outras religiões, resolvessem achar-se no direito de ter o seu próprio Estado, ou seja uma nesga de terreno onde pudessem reinar entre fronteiras?

        Conseguimos perceber, por razões históricas, que o poder açambarcador da ICAR lhe tenha conferido a legitimidade para possuir o seu próprio pedaço de céu na terra. Mas a necessidade de um Estado apenas revela a necessidade de um poder demasiado humano e terreno para quem anuncia o reino imaterial, onde se hasteou uma bandeira celeste para lhe conferir a credibilidade que apenas a superstição e a tradição cultural podem dignificar.

        Ao PR ficar-lhe-ia mais sensato sublinhar a profunda admiração que todos os devotos que nele votaram sentem por Sua Santidade. E nem aí teria unanimidade.

        • Daniel

          O facto objectivo é que o Vaticano é um estado sacerdotal, reconhecido por Portugal.E também é um facto objectivo que o papa é simultâneamente o bispo de Roma e chefe de estado do Vaticano. É ainda um facto sociologicamente incontornável que Portugal é um país predominantemente católico. Assim, só um tolo é que poderia equacionar que Portugal deveria prestar o mesmo tratamento institucional ao Edir Macedo da IURD, como presta ao papa da Igreja Católica. Se Bento XVI, pessoa com a qual não simpatizo, foi recebido por Portugal, é expectável que seja recebida de forma cortês. E as palavras de Cavaco Silva são perfeitamente ajustadas a uma personalidade que exerce, simultâneamente, um magistério pastoral e as funções de chefe de estado. Se Cavaco Silva, político com o qual não possuo afinidades ideológicas, fosse ateu e tivesse proferido as mesmas palavras, a situação seria exactamente a mesma e nenhum reparo me mereceria.Ou seja, é completamente irrelevante saber se Cavaco Silva é ou não católico.As palavras que ele proferiu foram institucionalmente correctas e em nada beliscam o princípio da laicidade do estado português, com o qual inteiramente concordo.
          Carlos Esperança é que ainda não percebeu que Portugal não é a Albânia de Enver Hoxha.

  • GriloFalante

    Não se preocupe, Carlos; o povo português, no seu todo, está a ser insultado todos os dias. O PR nem sequer foi original.

    • Ícaro Cristão

      Refere-se portanto aos milhões de Católicos que só por existirem ofendem o pudor moralista e asséptico da minoria ateia… É de facto tão fácil dizer asneiras, Grilo.

      • GriloFalante

        Eu sou responsável por aquilo que escrevo; não sou responsável por aquilo que tu lês ou entendes.

  • João Pedro Moura

    O presidente ou o primeiro-ministro ou um qualquer responsável político dum país “laico”, como Portugal, não tinha nada que “saudar”, ainda por cima com essa prolixidade fútil e inútil, pomposa e reverenciosa, o papa, por ir embora. O Vaticano é um Estado dum grupo religioso, duma igreja, logo, não tem nada a ver com os Estados nacionais, contendo uma pluralidade de expressões políticas e religiosas.

    Era como se o Cavaco saudasse o Benfica ou o F. C. Porto, por ter ganho a uma equipa relevante, na casa desta, ou como se saudasse outro qualquer grupo, por maior que seja, de interesses particulares, políticos, religiosos, desportivos, filosóficos ou do que fosse.

    Um político deve saudar, se for caso disso, as manifestações nacionais ou estrangeiras políticas, ou afluentes ou conexas da mesma, e não uma organização religiosa, mesmo que estatizada, que prossegue atividades privadas de difusão e proselitismo religiosos.

    Mas a bajulação e a reverência pelas entidades religiosas é um tique cultural dos nossos políticos e não só…
    … Por isso, temos a laicidade que temos…

    • sim

      O Vaticano é um Estado igual a Portugal, França, EUA, Mónaco, San Marino, etc.

      Existem varios “estados nacionais” (Portugal é um estado, uma nação e um país, governado por um estado laico, mas um país/nação católica), que não têm “uma pluralidade de expressões políticas e religiosas”. Curiosamente , alguns dos piores estão ligados ao ateísmo. Nada disto é determinante do estatuto de estado independente, pois esse estatuto está dependente, apenas, do reconhecimento internacional, e o Vaticano é reconhecido universalmente como Estado.

      Neste comentário contradizes-te em todos os aspectos. Um Chefe de Estado deve saudar tudo o que represente interesse para o povo, a sua cultura e os seus interesses. Foi isso que ele fez.

      A única coisa que te chateia, por seres um ateu fundamentalista, é que esteja em causa uma religião. Isso é apenas um problema de fundamentalismo extremista e nada mais.

      • Carlos Esperança

        «O Vaticano é um Estado igual a Portugal, França, EUA…». Nestes exemplos as eleições são livres, o poder é sufragado e não é vitalício.

        • a1

          Tal como no Vaticano. O Papa é eleito, as eleições são livres, existindo um colégio eleitoral, tal como nos EUA.

          O poder do papa é meramente simbólico, ao contrário do poder no governo mais ateu do Mundo – a Coreia do Norte: uma república hereditária, onde o poder não é sufragado, onde nem existem eleições, onde o poder não é simbolico mas sim opresivo real.

          Sabendo que maldizes o Vaticano por ser um estado católico, também os católicos podem dizer-te o mesmo do Estado oficialmente ateu da Coreia do Norte.

  • Pitonisa

    Daniel/antipapas (cerelac)/antoniofernando
    Ícaro Cristão
    David
    João Pedro Moura
    Grilo Falante/”ortópetro”/insectívoro/granívoro:

    Todos falam muito para, prontes, não dizer nada. O vosso PR fez o que devia ser feito por todos os bons católicos: despediu-se do seu líder espiritual. E eu bato palmas com ambas as duas mãos. Estou convencida de que o Ícaro não fez isso, limitou-se a rezar umas avé-marias e uns padre-nossos para que o papa dure muitos anos. Mas é só até à eleição do próximo, altura em que o Ratz vai para o rol do esquecimento.
    Se o Cavaco devia, enquanto PR, ajoelhar-se perante o papa? Claro que sim! Porque sois vós a morar num estado laico e eu a aparecer na Playboy todas as semanas. Atenção, que isto não é piada para o Ícaro, que nunca leu a Playboy. Ele é mais Bíblia e catecismo.
    Olhem meninos, tenham juízo e deixem-se de discutir o sexo dos anjos. Os ricos andam tão distraídos que nem se apercebem do fundamental. E que é: uns católico-inteligentes já vieram a terreiro gabar a acção do Ratz, e até o apontaram como exemplo a seguir por alguns senhores da “sociedade civil” (alguém me explica o que é isso?) porque mostrou que não estava agarrado ao poder. Olhem, meninos, eu ri-me tanto, que até a placa caiu. Então, desde que inventaram o “Chrestus” até agora, e já lá vão mais de dois mil anos, só houve DOIS papas que não estiveram agarrados ao poder? Então, e os outros? Valha-me Zeus!!! Então, isso diz-se de toda aquela papada? Toda aquela gente agarrada ao poder? Claro que houve excepções, parece que houve alguns que foram postos no olho da rua, por indecente e má figura. Mas prontes,que saíssem voluntariamente, só houve dois.
    Vá, meninos, portem-se bem, e nada de insultos. E o menino António Fernando deixe-se lá de bater em tudo e em todos. O menino tanto bate nos que estão a seu favor como nos que estão contra. Bate porque sim. Trate mas é de explicar como é que um tipo judeu adopta um nome grego, está contra os romanos e vai pôr a sede da igreja em Roma. Consegue ser mais híbrido que um cristão-pagão, como o Ícaro.

    Beijoca para todos. Vossa
    Pitonisa

    • Ícaro Cristão

      Olá Pitonisa. Vejo que vem cheia de espírito. Toda divertida e lampeira. Não comentarei esse moralismo que vai barrando linha-a-linha. Nem tão pouco a forma, que respeito. Só não percebi as referência que a mim fez. “Cristão-pagão” (na percebo pk), que não li Playboy (na entendo pk), rezar por uma determinada razão (na compreendo pk). Donde se conclui, que tanto o conteúdo, como a forma, como também os visados (incluindo mois mémme), são só para tentar irritar. Bem espremidinho, resume-se a muito pouco. O vácuo.

    • GriloFalante

      Ó D. Pitonisa, ou lá como devo tratá-la, a senhora nem sabe o que diz nem diz o que sabe. A prová-lo, está a resposta do Ícaro Cristão, que, como de costume, não percebeu peva do que a senhora escreveu. Aliás, o Ícaro tem a excelsa virtude de não perceber, quando não lhe convém.

      Olhe, D. Pitonisa, eu sei que este portal é ateu, trata de assuntos ligados à religião, e não devia focar casos políticos; mas a verdade é que, aqui em Portugal, a política e a religião andam de tal modo misturados, que não se sabe muito bem onde começa uma e acaba a outra. Basta dizer que não há inauguração que não leve benzedura.

      O presidente da República de Portugal não tem o direito de se dirigir, seja a quem for, em nome dos portugueses. Pela singela razão de que não tem legitimidade para tal, já que não foi eleito pela maioria dos portugueses. Na verdade, o Sr. Cavaco Silva foi eleito pela maioria dos votantes, sendo que estes votantes representaram menos de metade do eleitorado. Desses votantes, Cavaco Silva não conseguiu mais que uns tangenciais 52%. Resumindo e concluindo, Cavaco Silva foi eleito por 2.209.227 votantes, contra 9.543.550 eleitores inscritos. Nas minhas contas Cavaco Silva foi eleito por cerca de 23% dos eleitores inscritos.

      Ora bem, considerando que “Portugal é um país maioritariamente católico”, como por aqui se vai dizendo, parece não haver dúvidas de que Cavaco Silva nem sequer tem legitimidade para falar em nome dos católicos como ele. Pelo que, se achava que devia saudar o Ratzinger, só lhe ficaria bem que o fizesse em nome pessoal. Era, pois, escusado acrescentar “presidente da República” ao nome. Bastaria que escrevesse “Cavaco Silva”, tout-court.

  • UmGajo

    A frase emitida pelo PR de Portugal, não faz lá grande sentido.
    Se é uma frase dirigida ao líder de uma confissão religiosa, atropela a laicidade do estado, do qual ele é o seu representante máximo.
    Se é dirigida a um chefe de estado de outra nação… bem, seguramente que não é. Não nos termos da frase, cheia de fés e magistérios.
    Enfim, um devoto Cavaco a borrifar-se para a Constituição e a tentar salvar a sua já condenada alma, à custa do cargo que exerce. Em todo o caso, tudo isto vale o que vale e a meu ver, é muito pouco.

  • Hunig

    Observem muito bem a nota do Hollande e a desse sem-noção aí de Portugal. Um Diplomata e um subserviente.

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