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  • 14 de Dezembro, 2012
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

O papa Ratzinger e a música

O Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação da Fé (ex. Santo Ofício) num ensaio consagrado à liturgia, em 11 de Fevereiro, criticou severamente a música rock e pop e manifestou reservas em relação à ópera que acusa de ter “corroído o sagrado” de tal modo que – cita – o papa Pio X “tentou afastar a música de ópera da liturgia”, donde se deduz que ela é claramente desajustada à salvação da alma.

Eu já tinha desconfiado que certa música é a “expressão de paixões elementares” e que o “ritmo perturba os espíritos”, estimula os sentidos e conduz à luxúria. Salvou-me de pecar a dureza de ouvido que tinha por defeito e, afinal, era bênção.

Mas nunca uma tão relevante autoridade eclesiástica tinha sido tão clara quanto aos malefícios da música, descontada a que se destina à glorificação do Senhor, à encomendação das almas ou a cerimónias litúrgicas ( outrora com o piedoso sacrifício dos sopranistas).

Espero que o gregoriano, sobretudo se destinado à missa cantada, bem como o Requiem, apesar do valor melódico, possam ressarcir-nos a alma dos danos causados pelo frenesim da valsa, a volúpia do tango ou a euforia de certos concertos profanos.

Só agora, mercê das avisadas palavras de Sua Eminência, me interrogo sobre a acção deletéria do Rigoleto ou da Traviata, dos pensamentos pecaminosos que Aida ou Otelo poderão ter desencadeado em donzelas – para só falar de Verdi – ou dos instintos acordados pela Flauta Encantada de Mozart ou pelo Fidélio de Beethoven! E não me venham com a desculpa de que há diferenças entre a ópera dramática e a cómica, ou entre esta e a bufa.
A música, geralmente personificada na figura de uma mulher coroada de loiros, com uma lira ou outro qualquer instrumento musical na mão, já nos devia alertar para o pecado oculto na arte de combinar harmoniosamente os sons.

Sua Eminência fez bem na denúncia. Espera-se agora que, à semelhança das listas que publicou com os pecados veniais e mortais e respectivas informações complementares para os distinguir, meta ombros à tarefa ciclópica de catalogar as várias músicas e os numerosos instrumentos em função do seu potencial pecaminoso.

Penso que a música sacra é sempre de louvar (desde que dispensados os eunucos), enquanto a música de câmara, a ser executada em reuniões íntimas, é de pôr no índex. Na música instrumental, embora o adjectivo seja suspeito, talvez não haja grande mal, mas quanto à música cifrada não tenho dúvidas de que transporta uma potencial subversão.

Nos instrumentos há-os virtuosos, como o sino, o xilofone, as castanholas e quase todos os de percussão, deixando-me algumas dúvidas, mais por causa do nome, o berimbau.
Nos de corda, excepção para o contrabaixo e, eventualmente, o piano (excluídas perigosas execuções a quatro mãos) quase todos têm riscos a evitar. A lira, o banjo, a cítara, o bandolim e o violino produzem sons que conduzem à exacerbação dos sentidos.

Mas perigosos mesmo – a meu ver – são os instrumentos de sopro. Abro uma excepção para os órgãos de tubos que nas catedrais se destinam a glorificar o Altíssimo. Todos os outros me parecem pecaminosos. A flauta, o clarim, o fagote, o pífaro e a ocarina estimulam directamente os lábios e, desde o contacto eventualmente afrodisíaco aos sons facilmente lascivos, tudo se conjuga para amolecer a vigilância e deixar-nos escravizar pelos sentidos. Nem o acordeão, a corneta de pistões ou a gaita de foles me merecem confiança.

Apreciemos o toque das trindades dos sinos dos campanários e glorifiquemos o Senhor no doce chilrear dos passarinhos. Cuidado com a música e, sobretudo, com os efeitos luminosos associados. Estejamos atentos às palavras sábias do Cardeal Ratzinger.

(Texto escrito em 15-02-2001 para o Diário as Beiras. Publico-o com a ortografia da época)

 

20 thoughts on “O papa Ratzinger e a música”
  • Catellius

    B16 não está condenando Rigoletto e Aida, mas a música sacra com influência da Ópera. Um exemplo é o Réquiem de Verdi. Para quem não conhece, ouça o comecinho do Dies Irae – Dia da Ira, o juízo final. Claro que, teatralmente, a mitologia cristã funciona muito bem! E eu gosto muito, do mesmo modo que gosto da história de Medea e de Orfeu. Verdi compôs o conjunto de peças sacras mais ou menos na época de Otello, uma ópera violenta que contém trechos que lembram tanto o Mefistófeles de Arrigo Boito, libretista de Otello e Falstaff, quanto o próprio Requiem.

  • deus

    Quero só ver a cara do Lento 16 quando aparecer por aqui ( em 2013 vem ao Brasil para ver se consegue uns trocacdos para a sua seita) e for “homenageado” com um desfile de escolas de samba.
    Já pensou ? o velhote vai comer capim pela raiz. Aquelas mulatas lindas, o tambor, o reco-reco…O estropiado papalhaço irá visitar o amigo Adolf.

  • Milba

    No raio da musiquinha mortilenta do carro de gás, aquele pianozinho “clássico” tocando uma adoração à morte, todo dia de manhã (por “recomendação” das igrejas) isso não tem um que faça nos livrar.

    O jornalzinho pestilento conivente com a mentirada religiosa até dá “força” pra tão “nobre” agouro na porta e no ouvido todo “santo” dia.

    E a desgraça do ruído “gôspi”; isso é a bandalha do “inferno”.

    Mas qual era mesmo o músico preferido do Nazismo?

  • Milba

    Anda pelo Brasil a mania das “mirnistras” do “céu” de dizer (se esponjando todas com aquelas caras de ex-tudo-de-ruim) que: “si dêus assubiá in cirma, já foi. U zinfeliz tá futricado”. Mas se não estamos muito lembrados, não era o tal do cramunhão que era o bam-bam-bâ do assobio?

  • David Ferreira

    Estou lixado. E logo eu que adoro música, mas que tenho um fraquinho, eu chamo-lhe um viciozinho, por Heavy Metal, um género que usa e abusa do trítono que foi proibido pela Igreja porque as dissonâncias sonoras tritónicas provocavam calafrios na espinha, tensões diabólicas e lascivas que evocavam demónios em convulsão numa rave permanente! Nem Beethoven escapou…
    Nem dois batismos me vão safar da perdição da alma…

    • provocador

      O 1º movimento da 5ª Sinfonia de Beethoven será obra do Diabo ? Ou este grupo musical também terá sido proibido pela Igreja?

      http://www.youtube.com/watch?v=EdSpt5nv2Mw

      • David Ferreira

        Claro que não, meu caro provocador. A música é, toda ela, maravilhosa. Se excluirmos o Zé Cabra…
        Mas na idade média e “média avançada”, o tal período da humanidade que foi classificado como idade das trevas, este conjunto de notas que se designam por trítono, ou a escala tritónica, por ser dissonante e se distanciar da maviosidade do canto dos anjos, foi censurado pela ICAR. Isso é um facto bem documentado.
        Mas mesmo na era moderna, a música tem sido alvo de tentativa de censura por parte de muitas entidades religiosas, numa tentativa absurda de a “moralizar”, sobretudo o Rock e as suas variantes mais pesadas. Parece que a religião tem sempre algo contra o desfrute do prazer… Há um estímulo ao encarceramento dos sentidos permanente e quase obssessivo que só pode vir de quem não sabe lidar bem a sua própria natureza.

        • provocador

          “Parece que a religião tem sempre algo contra o desfrute do prazer”

          Sim ? A religião é uma entidade com capacidade de avaliar ou não o desfrute seja do que for ? Não sabia. Há-de me dizer onde ela mora para eu lhe perguntar se gosta de morangos com açúcar.

          • David Ferreira

            Eu sei que ela não tem muita capacidade para avaliar seja o que for. Ela é que pensa que tem.

          • provocador

            Ela ? lol…

          • David Ferreira

            Acha que estou a humanizar demasiado o conceito de religião atribuindo-lhe um ego? É capaz de ter razão. Mas a religião é mais do que isso. Tem na sua própria entidade o ego e o alter ego das pessoas que a criaram e das que lhe dão vida.

    • manny

      Caro David Ferreira,fazem duro esses falsos vendedores de billetes bem caros para o paraiso!!Mesmo na musica vem se intrometer…e;se eles ouvisem às escondidas o samba, soul,jazz,lambda,rock,mesmo a musica clàsica,incluindo yanni o grego,yanni arméniano,pàro ,senão vou ficar tárlá como eles!!Mas nunca falam das chacinas por milhôes que fiséram ao curso de séculos de escuridão,com o seu deus inexistente os milhões de seres que mataram de uma maneira horrivel.Os Mayas,Incas,Toltécas,Astécas etc,etc.
      Os conhecimentos que privaram as civilisações futuras,para quererem
      impor uma religião inexistente sem algum fundamento,só porque um imperador romano viu uma opurtunidade de prolongar o seu mandado dictaturial!!Sem alguma duvida que vão desaparecer todas éssas religiões
      arcaicas,na sua existencia o planeta conheceu outras depois de 4,5 bilhões d’anos,ao menos cinco vezes já desapareçéram de 90a95% de forma de vida vegitale e animale,e não vai ser a ultima.

      Ps.em pasant,tenho um ducomentario sobre o vaticano onde eles estão mais armados,e modérnamente que os vários quarteis onde prestei serviço militar!!!A minha pergunta è… se eles precisam de tantas armas para se defenderem a razão é que não tem confiamça no seu deus e santos…
      lógico meu caro Watson !!!

      • David Ferreira

        Se o pontifex maximus tivesse assim tanta confiança no seu deus, não se fazia deslocar numa viatura blindada. Mas tenho a certeza de que a apologética se encarregou de encontrar alguma desculpa teológica que justifique este procedimento.
        Em caso de dúvida, mais vale prevenir do que remediar. O que já faz algum sentido.

  • stefano666

    canto gregoriano foi criado pra abafar os gritos dos torturados pela inquisição.

    ah… a igreja mandava castrar garotos que cantavam no coral.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Castrato

  • stefano666

    Ratzinger é um pobre senil… e decadente… sabe que a empresa Vaticano SA se aproxima do ocaso.

  • Hunig

    Parece que alguns dinossauros assobiavam. E uma curiosidade: Foi documentado que alguns japoneses próximos da explosão da bomba atômica escaparam do dano da radiação. Seria precário se supor que de tanto tempo que houve dinossauros, todas as espécies sucumbiram completamente. Até nos cabe esperar que se já alguns se refugiavam em locais recônditos para escapar de predadores maiores, isso pode ter lhes valido numa hecatombe.

    É raso pensar que TODAS as espécies sucumbiriam em todo canto do Planeta; e que os organismos começariam do zero, como no começo após a formação do período estável da Terra.

    Mais ainda: O estágio de estabilidade razoável da Terra, por certo, fez concorrer que houvesse tamanhos menos imensos por uma calibração mais aperfeiçoada da ambiência terrestre em adequação à Gravidade.

    Isso tudo é pautável para pesquisas mais detalhadamente prospectadas.

    Muito bem.

    Passa-nos à cabeça que se alguma espécie viu-se na necessidade de encarar o ambiente e não tinha como se expor à danos, e uma outra espécie conseguia ir e vir sem desastrar-se vital e totalmente, então … se fossem enganados, poderiam, por parasitismo, depredar os recursos ou tudo da outra.

    Mas como os costumes, incorrem em vícios, o parasitismo temporário terá se tornado vitalício.

    E qual a melhor artimanha para fazer uma espécie se rastejar como súdita de outra?

    A CRENÇA.

    O incutimento de um enganoso artifício, a crença, a religião, e os misticismos, isso desgraça e degenera e estropia o ser humano.

    É o que tudo que está aí indica e escracha na nossa cara todos os dias.

    Notem: Qual é o currículo do evangélico no Brasil, hoje?

    Um elemento nocivo, interesseiro, corrosivo, de mirar de soslaio, atacado de falsidade para consigo, bajulador, extremamente desonesto (até quando parece o mais “bonzinho” — vide os repasses de mercadorias doadas para vítimas de desastres, ir parar em “mercadinhos” de “abençoados”, cheios de propagandas divinas feitas pelos “ex”- pútridos que os “ganham” do Sinhô).

    A igreja católica, e outra qualquer confraria, que permitiu-se ao parasitismo para sobreviver, descuidou de procurar retirar dos elementos anterordievos que necessitavam da escravidão, para também se livrassem da luxúria viciante impregnadora da enganação, usando formatos de divinices, de monarquias, e totalitarismos, por imposição de regimes teo-pulhíticos.

    Duas coisas cabe-nos pensar, num afim indireto com tudo dito neste comentário:

    1o.: Caso “deus” existisse, tivesse vida, precisaria de ir ao banheiro.

    2o.: Qualquer carro, hoje, parado num estacionamento, durante o sol do dia, dá-nos pela lataria, o mesmo fusco, o mesmo ofuscamento brilhante que qualquer máscara de “espertos-divinos” estampassem na frente do sol.

    Enfim, o que se quer dizer é que, sejam os mais reles truques que “espertos’ usam para ludibriar pessoas, são todos tirados de aquisições tecnológico-científicas de quantos buscam viver honestamente.

    Aí um comentador disse mesmo que cantos houve que “abafaram” atrocidades, assim como melindres com cãeszinhos fazem as gentes descurarem dos afetos humanos. Coisas que nos dão em bandejas com salvas midiáticas, são armas, como até mandatos se tornam ARMAS em mãos de corruptos.

    “Respeito” e “moral” é fácil de todo mundo ter, mas Dignidade, Honestidade, Escrúpulo, não são tão disponíveis nos indivíduos, pois as crenças fazem que tendam à COVARDIA, à omissão, à alienação, ao deboche, ao cinismo, e à desfaçatez.

  • GriloFalante

    Embora não tenha nada a ver com ópera, será que a ICAR censurou “Carmina Burana”? Se o fez, não o deveria ter feito, já que a música foi composta (magistralmente, aliás) por Carl Orff sobre canções compostas por frades goliardos.
    Uma voltinha pela Internet, onde grande parte das canções está traduzida, dá-nos conta do carácter religioso e, como diria o outro, mostra-nos a dimensão ética dos frades.
    Espalhando a cristandade (eu já lhe tenho ouvido chamar outros nomes…)

  • manny

    Agóra mesmo no Connecticut,um assacino matou entre 20 a 27 crianças e profesores o assacino tem 24 anos.
    Ó papa diz ao teu deus que evite tragédias déstas!! e tu pára de fazer o cave…pica

    a carta e vai tomar o lugar da Teresa de calcuta.Serias bem mais util á humanidade

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