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  • 18 de Outubro, 2012
  • Por Carlos Esperança
  • Laicidade

O Patriarca, a Concordata e as manifestações

O patriarca Policarpo, é contra as manifestações que lhe perturbem a tranquilidade e os interesses pios. No dia 13 de outubro, a partir de Fátima, afirmou: «Não se resolve nada contestando, indo para grandes manifestações», apesar do paradoxo de quem se esforça por manter mobilizados os crentes para as grandes manifestações… da fé.

Não se indignou com as manifestações dos bispos espanhóis que incitaram diariamente o povo a ocupar as ruas de Madrid, contra Zapatero, contestando as leis sobre a família, mas condenou as manifestações contra o orçamento do atual Governo português quando ele próprio presidia a uma de 160 mil, fiéis que foram à Cova da Iria aclamar a Senhora de Fátima.

Foi este patriarca que promoveu a manifestação de júbilo, encabeçada pelo presidente da república, acolitado por Paulo Portas, quando Nuno Álvares, depois de ter curado o olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos de óleo fervente de fritar peixe, ganhou a promoção a santo, um ato que os incréus consideram uma ofensa ao herói medieval, com vários séculos de defunção. E não se coibiu de recrutar os créus que foram ao Vaticano em manifestação de regozijo pela canonização que ele encarou como honra e outros como afronta.

Para Sua Eminência, há manifestações boas e manifestações más. As boas destinam-se a louvar ao deus do Sr. Cardeal e são más as que esconjuram as malfeitorias do Governo.

E disse mais, sobre o orçamento, o ilustre purpurado: «Sejamos objetivos e tenhamos esperança. Este sacrifício levará a resultados positivos, não só para nós como para a Europa», talvez temendo manifestações que exijam o fim da isenção de impostos à Igreja católica no património imobiliário das Misericórdias, nos lucros da hotelaria, da assistência e do ensino, bem como das Fundações religiosas que o Estado está impedido de fiscalizar.

Não se aceita que, em época de restrições, se sustentem duas embaixadas em Roma, a escassos quilómetros de distância, uma junto do Governo italiano e outra da Santa Sé e que, com o desemprego de milhares de professores, se mantenha a Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), com professores isentos de concursos e dependentes do poder discricionário dos bispos das dioceses.

Urge denunciar a Concordata.

Manifestações, só as que sirvam a Igreja. Para o povo… vem à memória a iconografia do concelho donde o ilustre purpurado é natural.

4 thoughts on “O Patriarca, a Concordata e as manifestações”
  • kavkaz

    Mais uma vez exprimo alguma discordância neste tema. O Sr. Policarpo raramente acerta no que diz. Mas em relação às afirmações que fez, a alertar que as manifestações não resolvem nada, acertou em cheio. Claro que ele poderia dizer o mesmo para as manifestações em Fátima em que os crentes saem com os bolsos mais vazios e cheios de esperança no inexistente. Mas isso é a vontade de cada um e as pessoas gostam de ilusões. Ficam mais bem dispostas… As ilusões podem ser as de alcançar o Céu, como podem ser as de ganhar o Euromilhões ou o clube desportivo adorado ganhar o Campeonato. Acalenta-as manter uma chama ilusória, seja ela qual for, para aquecer e esquecer a rotina diária.

    O Estado português não tem recursos suficientes para fazer face aos encargos que tem. O endividamento externo é de 120 % do PIB. Isto significa que Portugal vive nesta altura com o fiado de todo o ano de 2013 e mais dois meses de 2014. Se parassem os empréstimos ao Estado português neste momento ele entraria automaticamente na bancarrota. Mas isso não acontece, pois temos a sorte de estar com um grupo de países que apoia Portugal no momento difícil.

    O Sr. Policarpo não colocou em causa o direito das pessoas a manifestarem-se ou o regime democrático. Este é bem aceite pela Igreja Católica, como já anteriormente tinha aceite bem o regime salazarista ou o regime monárquico constitucional e antes, até ao século XIX, tinha abraçado o regime monárquico absolutista. O problema da Igreja Católica nunca foi, nem será, o sistema político em vigor. Tanto lhes dá. Adapta-se bem a qualquer um. É preciso é vender ilusões, os serviços religiosos.

    A questão levantada pelo Sr. Policarpo, e com razão, será o RESULTADO OBTIDO com as manifestações: nenhum mesmo. É este o aspecto que ele realçou na intervenção realista. E concordo. A última manifestação na Assembleia da República saldou-se por 11 feridos, dez dos quais polícias (desgraçados que tem de levar no seu trabalho com aqueles descontentes) e um ou dois presos que terão de fazer trabalho cívico a favor da sociedade, para retribuirem de alguma forma os prejuízos que causaram. Houve também espectáculo gratuito de pessoas a despirem-se para mostrarem as suas capacidades físicas, uns cercos e ataques ao bastião da Democracia, o Parlamento português, uma ofensa ao Povo Português que votou claramente em quem queria que governasse Portugal durante 4 anos. Podemos não gostar disto ou daquilo, mas não umas centenas de pessoas que têm o direito de destruir o Parlamento de todos os portugueses! Tentaram sem resultado. Ainda bem que não conseguiram destruir o que é de todos. Aconteceu o que Sr. Policarpo falava com realismo: nada!

    • Carlos Esperança

      O direito de manifestação, constitucionalmente consagrado, não se confunde com distúrbios ou atentados à propriedade.

  • Mateus

    A posição do patriarca Policarpo é absolutamente deplorável ,uma forma de tentar sufocar a justa indignação popular, por um lado,e,por outro, de procurar legitimar a política insensatamente recessiva e injusta do desgoverno de Passos Coelho. Ninguém de bom senso poderá contestar que Portugal necessita de auxílio económico externo. Se não tivesse sido esse apoio, o nosso país estaria na bancarrota total. O que está em causa é saber se um governo responsável deveria ou não tentar renegociar a dívida por forma a alongar o prazo do seu cumprimento e a procurar diminuir os juros do empréstimo contraído. É saber também se, até ao momento, esse desgoverno anunciou medidas consequentes de relançamento da actividade económica, por forma a incentivar o incremento da procura interna, única forma de se poder criar mais riqueza, para além do aumento significativo das exportações.Provavelmente do que Portugal necessita, em sede de IRC e IVA, não são impostos mais altos, mas exactamente ao contrário, taxações mais baixas, para , designadamente, atrair investimento estrangeiro. Veja-se a politica fiscal inteligente da Holanda, onde existe um significativo incremento económico por via das grandes reduções das taxas de IRC. Não é por se aumentar as taxas dos impostos que se obtém maior receita fiscal. Por vezes, é fazendo exactamente o contrário e diminuindo os custos de produção, como os combustíveis, a água e a energia eléctrica. Por outro lado, o peso da burocracia estatal afasta a instalação de grandes empresas no nosso depauperado tecido empresarial. Para alguém instalar uma unidade industrial em Portugal são necessários mais de vinte autorizações, de diversos departamentos estatais ou autárquicos. Assim não há economia que resista. Alguém concebe também por razoável que os escalões do IRS tenham sido diminuídos, ao ponto de rendimentos relativamente moderados passarem a ser taxados como se tratassem de rendimentos de pessoas ricas ? Alguém concebe que a solução político-económica para este país passe pelo sucessivo empobrecimento das classes média e baixa, em termos muito próximos da verdadeira miséria ? Só alguém muito tonto é capaz de defender a politica tola deste desgoverno. Policarpo é só um desses intelectualmente insensatos, que tenta legitimar o ilegitimável. Também não admira. Esse não sabe o que é dormir ao relento, tem cama, casa e roupa lavada e comidinha boa também não lhe falta. Os pobres que se lixem. Depois,haverá certamente muitas pias orações para passar uma esponja pelo branqueamento do nosso tão incompetente governo.

    • kavkaz

      O Governo do Dr. Passos Coelho tem feito aquilo que nenhum governo anterior, no sistema democrático, fez até hoje: reduzir a despesa pública. Isto é absolutamente necessário, pois o Estado ocupa uma larga fatia da Economia portuguesa e precisa de emagrecer para não endividar tanto o Estado e torná-lo menos dependente da Troika que é quem dá o “soro” para o doente não morrer. Portanto, o Governo tem feito a política correcta: cortar nas despesas.

      Mas isto não chega, o cortar nas despesas. São precisas mais receitas. Aqui pode-se não estar de acordo com todas as escolhas governamentais. Mas a política do aumento das receitas é absolutamente necessária para aguentar o défice público a um nível que seja suportável ao país. O aumento de impostos para 2013 é incontornável, pois sem ele não será possível pagar os compromissos do Estado português e o manter na zona do Euro.

      Os portugueses, sabemos, irão passar maus tempos. Muitos deles não se prepararam ou não estão preparados para esta situação de aperto fiscal. Penso que esta situação de impostos bem altos poderá demorar vários anos. Não é possível endireitar as contas públicos rapidamente e em pouco tempo. Infelizmente, os deuses não existem e não haverá milagres económicos com a ajuda deles! Não se prevê a descoberta de petróleo ou de minas de ouro e diamantes em Portugal.

      Há o perigo grande de o défice público resvalar, isto é, continuar a aumentar, mesmo subindo os impostos, pois o valor do défice é difícil de baixar. Aqui poderemos cair numa situação que faz lembrar a Grécia, que como disse o seu primeiro-ministro, “o povo está a sangrar”. Não quero ser pessimista, mas há que fazer muitos esforços para que a situação económica em Portugal melhore e não piore. É aqui que o aviso do Sr. Policarpo entra e faz sentido. Mais greves e manifestações não contribuem para a resolução positiva da situação económica. Portugal precisa de estabilidade para continuar o caminho da recuperação económica. Se, pelo contrário, todos paralizarem o país, por exemplo, estaremos bem pior no ano que vem. Podem ter a certeza disto. A ideia de mudar de Governo está na cabeça de muitos. Mas convém lembrar que boa parte dos que afirmam querer outro Governo são aqueles que estiveram no Governo anterior e que deixou Portugal nas mãos dos credores, da Troika. A outra parte dos contestatários já é conhecida desde sempre pelas suas fantasias e ilusões políticas com final ditatorial e irrealista. Cabe-nos fazer as escolhas certas em momentos complexos e errarmos o menos possível. É preciso dar algum tempo a quem está a mudar a política de Portugal, pois a anterior é que nos trouxe a esta situação de dependência financeira total. Tenta-se livrarmos-nos desta situação de dependência. Para começar…

      A situação dos portugueses não é homogénea. Há os ricos e os pobres, os assim-assim. Há os que criam riqueza e os que a estragam. Há gente para todos os gostos. Os portugueses que têm mais dificuldades precisam de ajuda que pode não ser suficiente por parte do Estado. É preciso estar-se muito atento e tentar fazer-se o melhor que se sabe para não se ficar em situações difíceis e agilizar-se na procura de soluções. Actuar construtiva e positivamente. Só assim se pode atenuar e ultrapassar os efeitos da crise económica e social. Ser pessimista e destrutivo não ajuda ninguém, nem aos próprios que sofrerão o “boomerang” da sua própria actuação negativa. Se agirmos correctamente melhores dias virão e mais depressa.

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