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  • 14 de Outubro, 2012
  • Por Carlos Esperança
  • Catolicismo

A igreja católica portuguesa e as declarações infelizes de um cardeal

Por

Alexandre Castro

A Igreja Católica, desde que se tornou a religião oficial do Império Romano, sempre foi uma religião de poder. O Papa ainda reproduz, nos dias de hoje, nos paramentos e no cerimonial, os tiques dos imperadores. Na sua longa história de dois mil anos, sempre se aliou às aristocracias e às classes possidentes. Foi na Península Ibérica onde ela mais se enraizou com o poder político, que ia sempre outorgando-lhe regalias e privilégios.

Aliou-se ao invasor germano (os Visigodos), que delegou nela a administração da coisa pública. Na Alta Idade Média, eram os bispos que, na prática, governavam, tomando as principais decisões políticas e religiosas nos concílios ibéricos. Na Reconquista, era vulgar ver os bispos nos campos de batalha ao lado dos reis cristãos, batalhando contra o mouro infiel.

Nos Descobrimentos, para evangelizar os novos povos e alargar a sua influência por todos os novos continentes descobertos, atrelaram-se aos navegadores e aos conquistadores dos impérios coloniais, numa aliança espúria entre a espada e crucifixo.

No crucial século XVI, os dois reinos ibéricos, o de Portugal e o de Espanha, foram o principal esteio dos papas no lançamento e consolidação da Contra- Reforma, saída do concílio tridentino. Foi nessa altura, que se instituiu a Inquisição e o Tribunal do Santo Ofício, para queimar os hereges, os apóstatas e os praticantes clandestinos do judaísmo, semeando no país o medo e o terror. Nos séculos seguintes, apesar de alguns contratempos e sobressaltos, ganhou força institucional e espiritual nestes dois países, que atingiu o seu máximo esplendor na aliança com os fascismos ibéricos, o de Salazar e o de Franco.

Após o 25 de Abril, a igreja católica portuguesa constituiu-se num baluarte da contra-revolução, sendo muito interventiva no processo político e usando como arma o púlpito, o confessionário, a fábrica dos milagres do santuário de Fátima e outros processos secretos, pouco recomendáveis.

Afastado o “perigo comunista”, recolheu-se discretamente para os seus espaços de intervenção, mas não deixou de, na sombra, ir urdindo e reforçando o seu poder e sua discreta influência. Durante séculos, teve o monopólio do ensino em Portugal, que lhe serviu de eficiente veiculo para a intensiva doutrinação das elites e da população em geral, monopólio esse que só interrompido abruptamente pelo marquês do Pombal (sec. XVII), por Joaquim António de Aguiar, o Mata-Frades (sec. XIX), e pelos republicanos (sec. XX). A sua influência foi profunda na formatação da mentalidade dos portugueses, principalmente nas zonas rurais do norte do país, onde primeiro se iniciou a Reconquista Cristã.

Na atualidade, e perante a bárbara ofensiva contra o povo português, através de um iníquo plano para os empobrecer, levada a cabo pelo governo PSD/CDS, a soldo dos interesses do capitalismo financeiro internacional, a igreja católica remeteu-se a um silêncio cúmplice, apenas quebrado por uma ou outra voz mais ousada. Mais uma vez, a igreja católica está ao lado dos poderosos, não levantando a voz, como seria o seu dever, na defesa dos mais desprotegidos.

Não admira, pois, que o patriarca Policarpo, e já é a segunda vez que isto acontece, venha a terreiro aplaudir implicitamente a imposição de sacrifícios monstruosos aos portugueses. Ignorando que a igreja utiliza a rua para as suas manifestações da Fé, insurge-se contra aqueles que na rua exercem o seu legítimo direito à indignação e ao protesto.
É bom que o patriarca tenha presente que o bispo de Lisboa, na sequência do golpe palaciano desencadeado pelo Mestre de Aviz, e que deu origem à revolução de 1383-85, foi atirado da torre da Sé, pela populaça enfurecida, que lhe não perdoou a sua aliança com Leonor Teles, a rainha viúva de D. Fernando, que queria entregar o trono português ao rei de Castela.

A História às vezes repete-se. E da segunda vez, normalmente, é uma comédia. E eu não me queria rir de ver D. Policarpo atirado da torre da Sé de Lisboa pelos indignados deste país. Sou contra os atentados contra a vida, seja qual for o pretexto.

 

27 thoughts on “A igreja católica portuguesa e as declarações infelizes de um cardeal”
  • kavkaz

    Eu estou completamente de acordo com a afirmação do Sr. Policarpo quando afirmou «que os problemas não se resolvem “contestando, indo para grandes
    manifestações” ou fazendo uma qualquer “revolução”. E criticou a
    “reacção colectiva a este momento nacional, que dá a ideia de que a
    única coisa que se pretende é mudar o Governo».

    É uma afirmação séria e correcta. O Estado português chegou a um momento em que não tem dinheiro para pagar o que deve. Só com os empréstimos da Troika conseguiu evitar a bancarrota e a falência do funcionamento estatal, com o consequente desemprego massivo dos funcionários públicos portugueses.

    A única forma de endireitar as contas públicas portuguesas é ter mais receitas e gastar menos. É essa a linha GERAL seguida pelo governo português. Não há outro caminho para fugir à queda no abismo da bancarrota. As manifestações de protesto contra os aumentos de impostos não pagam as dívidas do Estado. Não resolvem o problema financeiro grave do Estado! O Sr. Policarpo disse-o bem. De acordo nesta afirmação.

    Pode-se discordar dos pormenores se o Governo português deve obter mais receitas e menos despesas por esta rubrica ou por aquela. Mas rejeitar a linha GERAL é aceitar a bancarrota do Estado português.

    Desta vez o Sr. Policarpo até esteve certo no que afirmou. Realmente, os portugueses precisam de um Estado com as contas equilibradas. As manifestações não criam riqueza nem pagam as dívidas do Estado! Estas continuarão lá ou ficarão ainda maiores…

    Não esperem melhores tempos económicos nos próximos anos em Portugal… A não ser que a riqueza criada no país aumente rapidamente pela produtividade ou pela descoberta de petróleo ou minas de ouro. As dívidas têm de ser pagas e não são os deuses que as irão pagar… Só um governo de caloteiros e sem honra é que não pagaria os compromissos assumidos pelo Estado português!

    • Jesus Nunca Existiu

      Só mesmo um grande reaccionário como tu é que não consegue discernir que o problema não está no facto de Portugal ter uma dívida externa, mas de não haver uma justa distribuição dos sacrifícios, por um lado. E, por outro, de não se tentar alargar o período do pagamento do resgate, por forma a não se asfixiar a depauperada economia nacional. Por isso não me admira nada que, ao comentário completamente infeliz do Policarpo, se venha juntar o teu comentário reles. Se recebesses uma miserável pensão de sobrevivência não falavas assim. Mas como deves ser um dos raros privilegiados, sem sensibilidade social, que falta do alto da burra, em estilo totalmente estupidificante, não admira que estejas ao teu pior nível de sempre.Só um governo sem honra e sem vergonha é que não faz um mínimo esforço por tentar renegociar a dívida e de chegar ao cúmulo de impor IMI a pessoas que já não conseguem pagar os seus encargos mais básicos. Um governo deste calibre tem que cair o mais rapidamente possível e serão as manifestações populares que o irão colocar no olho da rua. Depois que venha um governo politicamente à esquerda que de direita eu e muitos já estamos fartos. E que se elabore uma legislação adequada para pôr na cadeia todos aqueles governantes que contribuíram para uma gestão danosa dos bens públicos ! Kavkaz a lamber as botas de José Policarpo e a dizer ámen com ele, ao que isto chegou…

      • kavkaz

        Ó choninhas, que culpa é que eu tenho de seres um infeliz, mal formado economicamente?

        O Sr. Policarpo tem toda a razão quando diz que as manifestações não resolvem nada! Estas não pagam as dívidas do Estado! Quando terminam as arruaças o país continuará a dever o mesmo de que antes devia ou ainda mais, pois por vezes elas são completadas por greves e destruições que ainda gera mais dívidas. Esta é a verdade!

        Deves ser um daqueles chicos espertos que defendiam a construção do TGV e do novo aeroporto de Lisboa mais a terceira ponte sobre o Tejo e mais autoestradas… Onde é que andam essas vozes ridículas? Em Paris? Já mudaram o disco com a realidade do endividamento de Portugal? Coitadinhos dos asnos…

        Quanto a reaccionarismo podes ver-te ao espelho! Devias escrever com a canhota se achas que és de esquerda. Serias coerente!

        Fica sabendo que é graças à TROIKA que os funcionários públicos ainda recebem ordenado, mesmo que cortados os subsídios de férias. O mesmo para os pensionistas. Sem a TROIKA andavam o governo de José Sócrates a pedir empréstimos no mercado livre as taxas de juro que chegaram aos 20 %. Era a bancarrota do país à vista!

        Não preciso de lições de um ignorante que não me conhece. Deves ter dor de cotovelo! Trabalho como os outros e vou ter de pagar muito mais impostos, como praticamente toda a gente.

        Conheço bem a situação económica do país, mas tu achas que são os outros que têm de pagar o despesismo do Estado. Olha que o endividamento continua a aumentar. Já atinge os 120 % do PIB. Isto significa que só um aumento substancial das receitas do Estado e a diminuição séria das suas despesas poderá evitar a completa falência económica e a bancarrota de Portugal. Isso vai custar muito aos cidadãos. Mas a alternativa do Governo é escassa. Tem de subir os impostos e diminuir as despesas estatais. É o que está a fazer! É o único caminho possível e correcto. Mesmo assim pode não conseguir chegar a bom porto, visto o endividamento do país ser já enorme.

        Adiar o pagamento das dívidas é atirar mais e mais dívidas com mais juros para o futuro. Andaram a gozar e a gastar à conta do fiado, dos empréstimos, e agora acham que quem tem de pagar as dívidas são os netos… Ainda bem que temos pessoas no Governo que tentam parar o despesismo. De outra forma será bem pior num curto espaço de tempo. Nenhum governo pode fazer investimentos seja no que for se não tiver dinheiro para investir. É o caso deste governo do Dr. Passos Coelho. E não é a comprar Audis novos que a oposição vai equilibrar as contas públicas. Mais as enterra!

        Portanto, desta vez o Sr. Policarpo acertou no que disse. É raro ele dizer algo certo. Mas não foi este o caso!

        • Jesus Nunca Existiu

          És um tonto. Ninguém no seu perfeito juízo defende que Portugal não honre os seus compromissos. A questão é outra. Todos os governos são culpados do deplorável estado de coisas a que chegamos, mas o desgoverno de Sócrates é um dos maiores responsáveis. Cavaco Silva também tem grandes culpas no cartório quando legitimou a escandalosa política do abate de navios e do pousio forçado de terras. Sou totalmente contra o esbanjamento de dinheiros públicos e igualmente contra o TVG, o novo aeroporto de Lisboa e obras do mesmo estilo. Como igualmente sou contra o esbanjamento de dinheiro nas PPP, no caso dos submarinos e do BPN, que os teus correligionários políticos de direita apadrinharam. Tens todo o direito democrático de seres partidário do copinho de leite do Passos Coelho e do erno Paulinho das Feiras. Isso é contigo. Do Paulinho dos Submarinos também, ou do Passos Coelho do ” aumentar impostos nem pensar”, antes de o PSD ter ganho as eleições. Se Cavavo fosse um Presidente decente já há muito que tinha provocado novas eleições, porque o que este desgoverno fez foi uma autêntica burla aos portugueses. Passos Coelho prometeu não aumentar os impostos de fosse Primeiro-Ministro e agora é o que se vê. Tu, como o Policarpo, e outros da vossa igualha, legitimam o ilegitimável: milhões de portugueses completamente esbulhados dos seus parcos rendimentos, em situações humanamente aflitivas e de autêntica miséria. E o que é que tu e o teu querido Policarpo dizem quanto a estas enormes desgraças sociais ? Nada. Estão de barriguinha cheia e com os bolsos bem aviados de dinheiro. O mexilhão que se lixe não é patarata ? Pode ser que as formigas e os mexilhões vos venham a dar a lição que merecem:um governo politicamente à esquerda e que não meta o socialismo na gaveta.

          • kavkaz

            Tonto és tu… E não és pouco!

            Quando os manifestantes gritam “A Troika que se lixe!” estão a dizer que passem para cá o dinheiro deles (já cá estão 89 mil milhões de euros) e vão-se embora a seguir sem nada. Chicos espertos! E caloteiros, claro!

            O teu choradinho de misérias é bem conhecido de toda a gente! O problema é que não ultrapassas a tua iliteracia económica!

            Queres o quê? Omolete sem ovos? Terás noção de que não é possível continuar a sustentar o mesmo nível de endividamento do Estado como anteriormente e que chegou aos 8 % de défice do Orçamento anuais? E fazes o quê? Gastas ainda mais e recebes menos? Bom demagogo e tonto!

            – A política do Governo é a de contenção das despesas. Tens alguma coisa contra?

            – A política do Governo é a de cobrar impostos a todos e paga mais quem tiver mais receitas. Tens alguma coisa contra?

            – A política social de apoio aos mais fracos mantém-se dentro das possibilidades existentes. Tens alguma coisa contra?

            O que eu digo é que tu não percebes nada de Economia nem de Política. Queres boa vida e que os netos paguem as dívidas que foram feitas anteriormente. És esperto. Um chico esperto!

          • Jesus Nunca Existiu

            Tonto, patarata e grandecíssimo reaccionário é o que tu és. Mas espera sentado que as manifestações populares vão aumentar e tu e os teus correligionários da direita política hão-de levar um valente sopapo no estômago. Já é tempo de Portugal vir a ter um governo politicamente de esquerda, mas que não meta o socialismo na gaveta. Depois podes ficar a choramingar ao peito do teu querido Policarpo. A contenção de despesas do teu governo é cortar em pensões e subsídios, afectar de forma muito gravosa os salários, já reduzidos de milhões de portugueses, é aumentar de forma totalmente irresponsável os impostos, para agravar ainda mais a recessão e provocar mais falências de empresas, é elevar para patamares completamente iníquos a taxa do desemprego. E seria reduzir os encargos das empresas, no caso da famigerada TSU, indo sacar o dinheiro dessa diminuição aos bolsos dos trabalhadores. Que mais é preciso para caracterizar este governo como o mais reaccionário pós 25 de Abril ? E onde está neste governo uma política económica estratégica que possa levar o país a sair deste descalabro ? Não está, não existe. A alternativa não passa por incumprir o acordo com a Troika, mas passa por, no plano interno,ter uma orientação sensata que não arrase o país com encargos sistematicamente crescentes e insuportáveis ? Qalquer tipo que tenha dois dedos de testa percebe isso, desde Francisco Louçã a Jerónimo de Sousa, ou de Manuela Ferreira Leite a Bagão Félix. Menos tu, claro.

          • kavkaz

            Tonto, escreve com a mão canhota e serás uma pessoa de esquerda coerente!

            Os teus partidos de esquerda são uns aselhas. O Povo português percebe bem isso. Por isso dá-lhe sempre “um valente sopapo no estômago”, como tu escreveste.

            O Sr. Policarpo tem razão! As manifestações são uma criancice dos esquerdistas. O infantilismo deles não paga as dívidas.

            Tonto, devias estudar e trabalhar mais. Poderias ajudar os outros em vez de exigir que seja o Estado a fazê-lo. Podes começar hoje…

            Podes ter a certeza de que este governo está correcto a cortar nas despesas e tentar superar os défices públicos, o que nenhum governo anterior fez, nem se preocupou com tal.

            Quanto aos esquerdistas terão de esperar ainda muito tempo pela construção do TGV que exigiram e seguirem todos contentes numa excursão a Madrid para comprarem caramelos! Não há dinheiro para devaneios!

          • Jesus Nunca Existiu

            Este governo está correcto com o défice em 6,6% ? Deixa-me rir….LOL….só mesmo um patarata como tu ainda acredita nas patranhas deste desgoverno. Também não admira, tu foste um dos que contribuiu para que o copinho de leite do Coelho e o esganiçado do Paulinho das Feiras tivessem ido paras o poleiro fazer a vida negra aos portugueses .Onde está agora o campeão da iniciativa privada em Portugal ? O defensor dos contribuintes ? Caladinho como um rato. Mas o tempo em que eles e o desmiolado do Gaspar vão ser corridos do poleiro já faltou mais.

          • kavkaz

            Quem tem sido corrido do governo de Portugal são os esquerdistas. Sabes porquê? Porque são uns eternos aselhas e não batem bem da tola! O Povo português coloca-os sempre no devido lugar nas eleições democráticas.

            – Percebeste isto? Claro que não!

            Então consegues ver o défice do Orçamental do Estado de 6,6 % e achas que o Estado tem dinheiro para pagar tudo o que tu pretendes? Tomara o Estado que lhe dêem dinheiro a ele… Ele ainda está mais teso do que tu!

          • Jesus Nunca Existiu

            O défice de 6,6% foi conseguido pela gajada direitista que nos andou a enganar, dizendo que, com os sacrifícios impostos aos portugueses, esse défice iria substancialmente reduzir e o que se viu foi exactamente o contrário. Queres maiores aselhas do que essa cambada que foi completamente cilindrada na manifestação do 15 de Setembro ? Deves ter o cu alapado nalguma mordomia direitista para ainda cantares de galo. Mas quando essa malta for corrida do Governo vais ficar é a chuchar no dedo.

          • kavkaz

            Tu falas, falas… mas eu já oiço essa lengalenga esquerdista desde 1974! Contigo não aprendi nada!

            O Sr. Policarpo tem razão: «que os problemas não se resolvem “contestando, indo para grandes manifestações” ou fazendo uma qualquer “revolução”. E criticou a “reacção colectiva a este momento nacional, que dá a ideia de que a única coisa que se pretende é mudar o Governo».

            – Nada mais tenho a acrescentar a este diálogo. Obrigado.

          • Jesus Nunca Existiu

            Olha, vai ao texto mais acima do Carlos Esperança. Pus lá umas citações muito jeitosas do teu querido Passos Coelho, proferidas antes de ele ter sido nomeado Primeiro -Ministro. É muito giro sabermos que tipo de indivíduo ele é. Basta comparar as suas posições antes e depois de se apanhar no poleiro. Vai lá ver e mostra a tua lábia para comentares o que ele andou a dizer sobre o não aumento de impostos, antes de ir para o poleiro. Vai lá ver e vê se tens estaleca para o defenderes. De que é que estás à espera ? Não os tens sítio? Anda, agora é que eu gostava de ver a tua lábia direitista para defenderes um governo que tem a oposição de toda a gente decente deste país.

    • JoseMoreira

      Caro Kavkaz, obviamente, não posso concordar contigo. Já sabemos que os protestos não pagam as dívidas, mas também é verdade que o governo está a gerir mal a situação, a fazer lembrar aquele militar que, no desfile, era o único que levava o passo certo.
      Mas a verdade é que as palavras do sr. Policarpo são abjectas, e é pena que o debate neste local tenha derivado para o campo político, quando devia ter-se mantido no religioso. Desde logo, é uma questão de macacos e dos respectivos galhos. Mas já lá vamos.
      O sr. Policarpo falou em “democracia”. Como é que um funcionário da mais ditatorial organização se atreve a falar em democracia? Só se for por estar agradecido, porque graças a esta “democracia” a organização de que faz parte está isenta de inúmeros impostos e está a ser altamente beneficiada. Se calhar. convém-lhe que o povo não se aperceba, e se mantenha tranquilo, no redil.
      Mas o mais importante é que, por uma questão de honestidade, coisa de que o sr. Policarpo certamente terá ouvido falar de relance, ele devia estar calado. Pura e simplesmente, porque não tem que meter o bedelho em campo que não é da sua lavra. O sr. Policarpo deve preocupar-se com casos de pedofilias na Igreja, por exemplo, com a falta de padres e com a a falta de clientes às missas e procissões. E só deve afirmar, “urbi et orbi”, que os protestos não adiantam nada, quando os membros deste ou de outro governo se pronunciarem quanto à utilidade das orações procissões, e outras palhaçadas que tais. Enquanto isso não acontecer, fique o sr. Policarpo no galho que lhe compete.

  • José Gonçalves Cravinho

    Ao contrário de KavKaz,eu estou de acôrdo e subscrevo as afirmações contidas no texto de Carlos Esperança.O Cardeal Policarpo não tem moral para falar de democracia,pois no Vaticano ela não é permitida.O Regime do Vaticano é teocrata.

    • Milba

      Exato. Quem outorgou aos governos “assumir” as dívidas de BANCOS? Praticamente todos os “bancos falidos” estiveram metidos em falcatruas, e tais “negociações” foram feitas por corruptos envolvidos no desenfreado espalhamento de crenças no mundo. Cite-se o pior arremêdo de governo já visto no Brasil: O BILIONÁRIO lularápio tirou de onde tanto dinheiro em dois mandatos em que se apossou da verba pública com vasta corrupção, injetamento de drogas na população, e crenças para fazer um povo “passivo”. O cancro tornou-se tão daninho que o .corrupto é dono agora do mais alto cargo do Judiciário Brasileiro.
      Tudo isso vem sendo tramado como um esquema de alastramento mentiroso que prega uma “crise” fantasmagórica, para disfarçar todo o roubo que os países sofreram com pústulas impondo um terror fingido e uma assolação civil por meio de abarrotamento de crenças.
      Vitimaram-nos como escravos, aferrolharam nossas vidas, abestalharam as pessoas.
      O lema mais fresquinho que se coloca em vidros de carros neste momento é: “faça um seguro de vida, entregue-se pra jesus”; e uma revista bem política no Brasil faz uma matéria em que um “cientista” prega que um religioso tem mais segurança num hospital do que quem não aceita uma crença, E o ridículo da lenga-lenga do cara-sabido é que ele dá uma “receita”: a crença tem de ser o “remédio” do país que a pessoa está; ou seja; a pessoa não pode “recorrer” em oração ao deus pregado no país vizinho ou mais distante; só “vale” o deus do terreiro pregado pelos pastutos-pastrófilos de onde a pessoa mora.
      Por trás de toda essa fantasiosa “crise” está o enriquecimento ilícito ligado ao ferrolho imposto por crenças.
      A Educação caiu, a Sociedade não dispõe da Ciência que precisa, as técnicas começam a se perder (não há como bitolados em crenças produzirem coisas que prestem, falta a aptidão que cérebros sadios têm sem estarem danificados, sequelados por crenças); e pior: rarefaz-se a educação civil sã, cada vez se cerceia mais o sexo sadio, e se açula o descambo da sexualidade, e infesta-se de dejetos o âmbito social.
      Alguém tem noção do que o acúmulo de urina e pó de cocô produz? E definitivamente ruim: Alguém sabe quanto é o volume de tufos de pêlos de cachorros despejados nos bueiros. Alguém sabe qual a desgraça engendradora disso? Os donos de crenças. Isto. Acertou.

    • kavkaz

      Caro Cravinho,

      Já lhe respondi, mas a resposta sumiu-se quando a colocava aqui e tenho de reinventar a resposta que lhe desejo dar.

      A questão que colocou é um tema diferente daquele a que eu respondi. Parece-me claro que o Sr. Policarpo não põe em causa o regime democrático português. Ele não critica a democracia, mas afirma, e parece-me correcto o que ele diz, que as manifestações não resolvem os problemas de Portugal. E no caso do endividamento do país isso é ainda mais certo! Ele não põe em causa o direito das pessoas às manifestações o que, como todos sabemos, é um direito constitucional.

      O Cravinho tem razão ao afirmar que o Vaticano é uma teocracia. Ele sabe com “mestria” adaptar-se aos governos mais diversos dos países em que actua. Seja qual for o governo, democrático, fascista ou comunista, monárquico ou republicano, liberal, o objectivo é colar-se ao Governo e aos governantes o mais que puder e vender os seus serviços religiosos nesses países. Tão simples quanto isto!

      Cumprimentos.

  • João Pedro Moura

    ALEXANDRE CASTRO disse:

    1- “No crucial século XVI, os dois reinos ibéricos, o de Portugal e o de Espanha, foram o principal esteio dos papas no lançamento e consolidação da Contra- Reforma, saída do concílio tridentino. Foi nessa altura, que se instituiu a Inquisição e o Tribunal do Santo Ofício…”

    A Inquisição não foi criada no séc. XVI, mas sim nos finais do séc. XII, no sul da França, na região de Albi, para reprimir a heresia dos cátaros.
    Depois, fundou-se no reino de Aragão, no séc. XIII, e avigorou-se no último quartel do séc. XV, em Leão e Castela.
    Com a irrupção protestante e para prevenir ameaças de dissidência nos reinos católicos e coartar as movimentações judaicas, o Tribunal do Santo Ofício foi relançado e refundado no séc. XVI.

    2- “… monopólio [do ensino] esse que só interrompido abruptamente pelo marquês do Pombal (sec. XVII)”

    O Marquês de Pombal é do século XVIII. E não interrompeu o monopólio da Igreja no ensino. Apenas permitiu outra abertura ao progressismo da época (Iluminismo…).
    Digamos que o “despotismo esclarecido” imperou mais que os ditames puros e duros da Igreja…

  • Alexandre de Castro

    João Pedro Moura: Agradeço-lhe a achega. Eu queria referir-me à institucionalização da Inquisição em Portugal. Falhou esta última palavra, assim como falharam mais algumas, que, embora estas não tenham retirado significado ao texto.

  • Citadino

    Normalmente a religião está do lado da direita política. Por que será?

    • kavkaz

      Em Cuba está com Fidel Castro.

      • Citadino

        Em Cuba o Estado é neutro em matéria religiosa mas o Partido Comunista é ateu e promove o ateísmo. A Igreja adaptou-se mas é óbvio que convive mal com o marxismo.
        Não deixa de ser curioso que aqui neste blog coexistam ateus de direita com ateus de esquerda, apesar da religião ter quase sempre posições de direita. Esteve sempre com a ditadura fascista e continua a fazer campanha pela direita em Portugal.
        Um dia destes Policarpo estará a dizer que não adianta nada haver eleições, sindicatos e Direito do Trabalho.
        Este filme já foi visto no séc. XIX mas os direitos dos trabalhadores progrediram através de muitas lutas da esquerda, incluindo os sociais-democratas (não confundir com o P”SD” português), ao longo de mais de 100 anos.
        António de Oliveira Salazar também subscreveria na íntegra o que disse Policarpo.

        • stefano666

          ke eu saiba Cuba não é teocracia.. não tem lemas usando nome de Deus etc.
          de fato… o nazifascismo foi a fada madrinha da igreja… até hoje a igreja conserva boa parte dos privilegios que ganhou do Eixo.

          • Citadino

            Em Cuba há liberdade religiosa mas o Estado não promove a religião nem tem que a promover como Portugal e outros Estados laicos promovem.
            A Igreja não hostiliza o poder em Cuba mas toda a gente sabe de que lado estaria se pudesse.
            Há mais liberdade para os católicos em Cuba do que para os ateus em Portugal ou no Brasil.

          • stefano666

            de fato… isso a midia “livre” omite!

        • stefano666

          engraçado… tem gente que considera a França laica… mas.. a dita laicidade não vigora na Alsace-Moselle e nem nas colonias ultramarinas.

  • Alexandre de Castro

    João Pedro Moura: Continuo o meu comentário de há momentos, que não tive a oportunidade de completar, como queria.
    A referência ao sec. XVII, como sendo o século em que viveu e governou o Marquês de Pombal, foi nitidamente uma gralha. A data do terramoto é tão universalmente conhecida, que recuar-lhe ou avançar-lhe um século, demonstrava “grossa” ignorância. Sou na realidade ignorante, mas não tanto. Pelo menos, sei o número de cantos dos Lusíadas.
    No entanto, não concordo consigo, quando diz, contrariando a minha afirmação, que Pombal “não interrompeu o monopólio da Igreja no ensino”.
    Recordo-lhe que os jesuítas, que dominavam por completo o ensino superior, foram expulsos do país pelo Marquês, decisão esta muito corajosa para a época. Logo a seguir, reformou a Universidade (já sem a docência dos jesuítas), retirando-lhe a carga teológica- aristotélica e introduzindo cursos, que formassem técnicos para as áreas da atividade económica. Também a Universidade de Évora, pertencente aos jesuítas, foi extinta. No meu ponto de vista, pode dizer-se que a igreja católica perdeu, na época do Marquês, o monopólio que detinha na educação, e que mais tarde veio a recuperar.
    No meu texto não referi o Iluminismo, porque isso não interessava ao seu respetivo objetivo, além de que, e arriscando-me a alongá-lo demasiado, seria também obrigado, para caracterizar melhor aquele período histórico, a falar da primeira obra iluminista, escrita em português, e que teve uma enorme importância: o livro “Testamento Político de D. Luís da Cunha”, cujo o autor foi o verdadeiro mentor de Sebastião José de Carvalho e Mello. Reservo esta apagada erudição para outra altura.
    Obrigado pelo seu comentário.

    • João Pedro Moura

      ALEXANDRE DE CASTRO

      Tudo o que o Alexandre disse, no comentário acima, é verdade, mas referir a retirada do “monopólio da Igreja”… parece-me excessivo…
      Claro que a Igreja perdeu importância no ensino, pela expulsão dos jesuítas, mas estes saíram devido à acusação de conspiração e intriga contra o rei e não propriamente por serem da Igreja ou “monopolistas”…
      O “monopólio da Igreja” no ensino, mesmo que não fosse realmente um monopólio, continuou nos níveis académicos mais baixos…
      … E a direção política do país continuava a ser profundamente religiosa, isto é, católica, só que o “despotismo esclarecido” tendia a prevalecer, mesmo detraindo o poder da Igreja…

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