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Ateísmo e confusão.

O JFD escreveu que «em relação ao ateísmo […] fica por compreender a razão da sua afirmação identitária tendo por constante as referências a pressupostos religiosos», acrescentando que falta ao ateísmo «um corpus ideológico coerente e um mecanismo de atuação política que não passe pelo mero ataque a todas as manifestações de fé». Escreveu também que a atitude do ateísmo é «tão vil, desnecessária e fanática quanto os movimentos de evangelização violenta ou as guerras santas»(1). Penso que o JFD tem razão em que lhe ficou por compreender algumas coisas acerca do ateísmo. Espero que isto ajude. O ateísmo não tem um «corpus ideológico coerente» porque o termo foi inventado para acusar outros de não terem o deus certo. Hoje já não dá castigo, por isso não me importo de aceitar o rótulo, mas, tal como “herege”, “pagão” e “apóstata”, o termo “ateu” só existe por causa dos religiosos. A religião criou um termo para distinguir coisas sem diferença, e é daí que vem tanta confusão.

Em matérias de facto, “ateísmo” é mais uma expressão de desagrado por parte do crente do que uma categoria coerente. No caso geral, dar a cada hipótese apenas o crédito que as evidências justificam é considerado sensatez. Isto quer se trate da venda de automóveis usados, dos benefícios da banha da cobra ou das alegações das outras religiões. Um católico dirá ser sensato rejeitar as hipóteses de que Maomé tenha conversado com os anjos ou que Zeus controla as trovoadas. Não rotulará ninguém de ateu por isso. Mas quando o mesmo critério, com o mesmo nível de exigência, leva à conclusão de que Deus não existe, em vez de sensatez chamam-lhe ateísmo. Não é por haver mais evidências para Deus do que para Zeus. Não é por aceitar alegações com base na tradição, fé ou número de adeptos ser um método mais fiável. É simplesmente porque não lhes agrada a conclusão de que Deus não existe. Para não darem o braço a torcer, em vez de admitirem que é uma conclusão razoável rotulam-na de “ateísmo”. Não me importo que o façam. É só um nome. Mas depois não venham pedir «corpus ideológico». Se não é preciso isso para rejeitar a mitologia grega, também não é preciso para rejeitar a mitologia cristã.

Em questões de valor, “ateísmo” pode também referir a atitude pessoal de não venerar divindades. Isto é independente das opiniões acerca dos factos. É logicamente possível, se bem que improvável, surgirem dados que tornem a hipótese de um deus criador a explicação mais plausível para o universo. Se isso acontecer passarei a aceitá-la como factualmente correcta. No entanto, posso continuar ateu se não adoptar esse criador do universo como meu deus. Não é por ter criado o universo que me vou pôr a louvar o seu nome, a venerá-lo ou a rezar. Inversamente, também posso deixar de ser ateu sem mudar de opinião acerca dos factos. Basta venerar algo como um deus. O Sol, por exemplo, ou o Joe Pesci*. Também aqui o ateísmo não requer «um corpus ideológico coerente». Não tenho deuses porque não quero. Se quisesse tinha. Também não quero ter uma moto, nem um barco nem um urso, mas não preciso de fundamentar com um «corpus ideológico» o meu amotismo, abarquismo e aursismo.

Num post posterior, o JFD escreveu «Não considero o ateísmo uma religião mas antes uma posição filosófica face àquela.»(2) O ateísmo não é uma religião, concordo, mas também não é uma posição filosófica. O ateísmo é apenas uma parte de uma posição filosófica. Em matérias de facto, eu tenho uma posição filosófica fundamentalmente céptica, considerando que uma hipótese só merece confiança se tiver mais fundamento objectivo do que as alternativas. Em questões de valor, a minha posição filosófica tem com fundamento a liberdade e a responsabilidade individual. Estas posições filosóficas fazem com que concorde com os religiosos em muitos pontos, desde a forma da Terra à condenação do homicídio, mas leva-me a discordar de outros, como a ressurreição e o pecado da contracepção. O meu ateísmo não corresponde às minha posições filosóficas em si. É só aquelas pequenas pontas que incomodam os religiosos. É verdade que o ateísmo acaba por ser definido em oposição às religiões, mas isto é porque são os religiosos que assim o definem. No tempo dos gregos que cunharam o termo eu seria ateu por rejeitar Zeus. Hoje é por rejeitar o Espírito Santo. A diferença não está na minha posição filosófica, pois considero ambos igualmente fictícios. A diferença está apenas nas partes da minha posição filosófica que contradizem as crenças religiosas dominantes.

Finalmente, chamam também ateísmo, normalmente “fanático” e “radical”, à critica pública de coisas como as capelanias militares ou a cura milagrosa do olho da Guilhermina. Estas críticas são em oposição a alegações religiosas, é verdade, mas não constituem «afirmação identitária» nem ideologia. Mais uma vez, são apenas parte de um todo muito maior. Eu considero que é um direito e um dever protestar contra as injustiças e disparates. Oponho-me à isenção do IVA para a Igreja Católica tal como me oporia se isentassem de IVA a associação de amigos do Homem Aranha. Sou contra as capelanias militares tal como sou contra a RTP contratar astrólogos para prever o futuro na televisão. Só inventaram o rótulo de “ateísmo” para uma parte disto, que até condenam como «tão vil, desnecessária e fanática quanto os movimentos de evangelização violenta ou as guerras santas», por julgarem que as superstições e fantasias de certa religião são mais verdadeiras ou virtuosas do que as restantes. Mas não são. Treta é treta. Se o JFD perceber que “ateísmo” é apenas um termo arbitrário que os crentes usam para rotular a oposição às suas crenças perceberá também que não é nesse pequeno sub-conjunto que vai encontrar «corpus ideológico» ou «afirmação identitária». Não é o ateísmo que me faz opor as religiões. É ver as religiões ao nível de tantos outros disparates que a humanidade inventou que faz com que me chamem ateu.

* Ou o George Carlin, mas isso talvez já fosse ironia a mais.

1- JFD, Ateísmo.
2- JFD, Ateísmo, uma resposta.

9 thoughts on “Ateísmo e confusão.”
  • antoniofernando

    O ateísmo, contrariamente ao que sustenta o Ludwig, é evidentemente uma posição filosófica, remete para uma específica visão da existência, normalmente associada ao naturalismo, materialismo e à descrença quanto à existência de Deus. Hoje, como o Ludwig certamente sabe, o debate ideológico, que se trava, entre crentes e não crentes, tem por referência a existência ou não de um Deus monoteísta, mas não só, tem também, quanto ao ateísmo, por base apodíctica, uma concepção filosófica estritamente materialista. Quem acredita na alma, por exemplo, pressupõe a configuração de um elemento imaterial, que subsiste para além da morte física do corpo. E o mesmo se passa com aqueles que, não acreditando na existência da alma humana singular, como é o caso dos budistas, aceitam a permanência da mente ou da consciência, termos equivalentes para significarem a mesma realidade imaterial. Os ateus, normalmente, são naturalistas e materialistas. Para eles, quando falam em evidências, situam-nas exclusivamente nesse domínio de validação empírico-científica. O natural é aquilo que é palpável, visível, susceptível de ser experimentalmente comprovado. Ou seja, os ateus são normalmente materialistas, naturalistas e positivistas. Ora, assim sendo, é indiscutível que o ateísmo é obviamente uma posição filosófica. Pode haver, concedo, ateus que admitam a possibilidade da consciência como elemento imaterial, que já os há, mas são raros. A regra geral é que o ateísmo se resume a uma visão filosófica materialista, naturalista e positivista Eu acredito em Deus e não reconheço , por exemplo, o dogma do Pecado Original nem muitos outros dogmas da Igreja Católica. Há muita mais concepção de Deus, para além da posição específica da ICAR, e o facto de eu não ser católico não me confere menor legitimidade para acreditar na existência de Deus para além das teses peculiarmente teístas que integram a dogmática católica, nem faz de mim um ateu. O texto do Ludwig suscitar-me-ia vária objecções, mas prefiro centrar a minha divergência num ponto que se me afigura essencial. O Ludwig continua a bater na sua estafada tecla de que o seu ateísmo se baseia exclusivamente na sensatez do que as apregoadas ” evidências” justificam a concomitante adesão racional. Descontando o absurdo de alguém, como ele, que acredita nesse enorme disparate da IA forte , relativamente à qual inexiste qualquer base minimamente consistente de credibilidade lógica, e muito menos de evidência empírica, o que só vem aliás comprovar, a sua falta de consistência intelectual, num domínio que também é filosoficamente relevante, tentarei demonstrar que a mencionada tese evidencialista do Ludwig não faz o menor sentido. E, a este propósito, perguntar-lhe-ia como pode ter a certeza se a sua mulher ou os seus filhos o amam, admitindo que possua uma relação afectiva regular com uma mulher e que tenha filhos ou que os venha a ter.De facto, nenhum de nós pode ter a certeza de ser amado seja por quem for. O domínio da mente é insondável. Como pode o Ludwig ou qualquer pessoa saber que é amado por alguém ? Não pode, não existe nenhuma forma de aferir essa ” evidência”. Os psicopatas, por exemplo, conseguem disfarçar a sua ausência de sentimentos, ao ponto de poderem passar socialmente pelas pessoas mais abnegadas e generosas, mas tudo não passa de estratagemas para alcançarem os seus objectivos mais pueris. Mas sem necessidade de chegarmos a essa área demencial, como poderia o LK saber, com toda a certeza, com toda a evidência, que a sua mulher ou seus filhos o amavam ? Não pode. Tudo o que pudessem ser manifestações de afecto ou de generosidade poderiam ser desprovidas de genuíno sentimento. Então como pode o LK situar-se socialmente no mundo dos afectos, das amizades e do amor ? Pode apenas acreditar que algumas pessoas o amam, mas não tem meios de aferir a certeza absoluta dessas ” evidências”. Mas, não havendo a possibilidade dessa certeza absoluta, será que o LK não vai confiar que os seus amigos são seus verdadeiros amigos e que os seus familiares o amam ? Pelos vistos, não vai. LK gosta tanto de evidências que, não havendo a possibilidade de total certeza quanto à genuinidade desses afectos, ele vai certamente, também aí, manter a sua céptica posição, em nome da coerência da sua posição ideológica, centrada no deificado critério das suas inultrapassáveis ” evidências”.

    • Pitonisa

      Ai, rico, como eu gosto de o ver com esse fatinho!! Eu sempre disse que lhe dá um ar intelectual, nada a ver com o fato do “cínico”, que lhe dá um ar de gajo vivido, mal-vestido e sub-alimentado. O Nandinho com essa roupa até parece uma pessoa, olhe para o que eu digo. Claro que essa roupa é confeccionada à custa de muito copy/paste, mas o que interessa é o resultado final, não é verdade? Mas o que eu mais aprecio é a capacidade que o Nandinho tem de baralhar e dar de novo! Mas repare que eu até aprecio as suas opiniões. Toda a gente tem o direito de dizer disparates, e o Nandinho não há-de ser excepção, evidentemente. Mas a verdade é que p rico consegue praticamente encher o espaço que lhe está destinado, para dizer nada. É obra!
      É pena que as pessoas não saibam aproveitá-lo. Ai, meu Zeus, como eu gostaria de ver o rico a arrotar postas de pescada no Diário do Ricardinho! Mas prontes, o rapaz nem sabe o que está a perder.
      Olhe, rico, não se esqueça de lavar a loiça do meio-dia. E diga ao seu melhor amigo ateu que o álcool faz mal. Que beba antes uns whiskies, que sempre ajuda a circulação do sangue.
      Beijinhos à sua esposa ateia. Para si, um ósculo – que sempre é melhor que um beijo. Pelo menos, é mais fino.
      Sua
      Pitonisa.

      • antoniofernando

        Pois eu divirto-me bem mais contigo quando, antes desta tua fase de travesti, me recordo do tempo em que vestias o teu fatinho marujo de Carpinteiro e nos relatavas os teus saudosos tempos de sacristão, quando te emborrachavas com o vinho Lágrima e prostituías os teus ideais nos intervalos inter-missas por meia dúzia de tostões. Aí sim, nem imaginas as gargalhadas fartas que eu lanço quando te imagino na tua faceta de anjinho sacerdotal.E também quando, para mostrares a erudição dos teus estudos bíblicos, andavas a asseverar a existência histórica de Moisés mas de Jesus Cristo jamais. Isso sim é que eram tempos de gozo superior.

        • Ateu sim, e daí ?

          hahaha
          Isso. Atire para todos os lados, vai que uma você acerta.
          Por falar em acertar: encontrou o capelão pastafariano ? kkkk

        • Pitonisa

          Ai, Nandinho, rico, eu estou es-tu-pe-fa-que-ta!!!
          Completamente siderada! Literalmente petrificada! Liminarmente aturdida! Que
          estrondo, Nandinho! Que perspicácia! Veja lá o rico, que até já pareço o João
          Pedro Moura a espalhar pontos de exclamação por tudo quanto é canto. Culpa sua,
          Nandinho, culpa sua que, ao fim de não sei quanto tempo, acabou por me
          descobrir a careca, como diz a grei. Demorou, mas conseguiu, graças a Zeus.

          Com que então, carpinteiro!

          Olhe, rico, eu, nestas coisas, sou muito terra a terra. E
          quis saber como Hades o rico descobriu o meu disfarce. Vai daí, consultei os
          meus dois oráculos preferidos: o de Delfos e o de Bellini. Desta vez, dispensei
          a Maya, porque a rapariga parece que tem um dilema qualquer a resolver.

          Ora, é facto que os meus oráculos já estão um pouco datados,
          são pouco menos que cavernícolas (veja lá que eu até evitei a palavra
          “troglodita”, porque sei que o Nandinho fica enxofrado). Com meia dúzia de
          megabytes de RAM, também não se lhes pode exigir muito, valha a verdade. Vai
          daí, o que é que os oráculos responderam? Pois olhe, o oráculo de Delfos
          respondeu-me que essa sua brilhante conclusão só poderia ter saído da cabeça de
          um ateu. Ou ateia. Resposta liminarmente rejeitada, tal é o disparate; um ateu
          tira conclusões muito mais brilhantes. Lá vou ter que mandar fazer um “upgrade”
          ao oráculo.

          Já o oráculo de Bellini encaminhou-me para outra solução:
          tantas as vezes que o rico vai ao caixote da serradura, que foi constrangido a
          fazer uma fatal associação de ideias: serradura/carpinteiro. Parece-me a
          hipótese mais razoável, por lógica.

          Prontes, por hoje fico-me por aqui. E o rico fique-se com a
          sua brilhante conclusão. Já agora, aproveite e limpe as mãos à parede com ela,
          mas veja lá, não vá a sua dedicada mulher ateia obrigá-lo a repor a pintura
          original. Não viria grande mal ao mundo, porque o seu melhor amigo, por sinal
          também ateu, sempre dava uma mão.

          Ou duas.

          Um ósculo da sempre sua

          Pitonisa

    • Ateu sim, e daí ?

      Antolo, não passa por sua minúscula mente que a imensa maioria dos ateus o é por simples bom senso ?
      Eu e muitos mais não aceitamos a ideia de uma divindade por que simplesmente a confecção do mito é ingênua, infantil e absurda.
      Milhões de ateus já morreram e o seu deusinho de merda não mandou nenhum de volta para nos tirar do “mau” caminho.
      O deusinho só existe no meu papel higiênico – a gibibliblia só presta para isto mesmo – e o seu jesuizinho é uma figura patética e ridícula. Vou acreditar nisso ? só se eu fosse um asno crentóide.
      Quer que eu acredite no papalhaço ? ou em algum pastor evanjegue ? ou em algum judeu barbudo avesso à carne de porco ? (aprecio muito costeletas de porco; jamais poderia aceitar tal palermice)
      Entenda, Antolo: sou ateu por simples bom senso. Não me interessa teorias imbecilizantes sobre “ismos”.
      Não sou ovelha para ter pastor, e nem escravo para ter senhor.

  • Ludwig

    António Fernando,

    «o debate ideológico, que se trava, entre crentes e não crentes, tem por referência a existência ou não de um Deus monoteísta, mas não só, tem também, quanto ao ateísmo, por base apodíctica, uma concepção filosófica estritamente materialista. Quem acredita na alma, por exemplo, pressupõe a configuração de um elemento imaterial, que subsiste para além da morte física do corpo.»

    Esta é uma confusão recorrente. Quem acredita na alma, ou em deuses, pressupõe que essas coisas existem. É o seu ponto de partida, o fundamento para o que daí se segue. Mas isso é tão errado como ser ateísta por pressupor que não há alma nem deuses. Trata-se de uma questão de facto e não é a pressupor, sem mais nada, que se sabe o que a realidade é.

    É aqui que o ateísmo é fundamentalmente diferente da crença e daquilo que crentes como o Fernando julgam que é. O ateísmo não pressupõe que não há deuses nem almas. Essa parte, que incomoda tanto os crentes, é uma de muitas conclusões de uma abordagem mais genérica.

    Eu sou ateu, no fundo, porque reconheço que posso cometer erros. Como posso cometer erros, sei que não é pela minha crença, fé ou mera pressuposição que vou acertar. Tenho de considerar hipóteses alternativas, reunir dados, confrontá-las com os dados de que disponho, seleccionar as que melhor correspondem, descartar as que não têm suporte nessa informação, e continuar a fazer isso sempre porque pode sempre haver dados novos que justifiquem mudar de ideias.

    É por isso que eu concluo que o Pai Natal não existe, que o monstro de Loch Ness não existe, que não há ETs a raptar pessoas e dissecar vacas, que os vampiros são ficção e que não há deuses nem alma. Nada disto é pressuposto. São conclusões a que chego por seleccionar as hipóteses com mais fundamento objectivo em vez de simplesmente pressupor que umas são verdadeiras como se estivesse a escolher o sabor do iogurte que vou comer.

    • antoniofernando

      Ludwig

      Agradeço a sua resposta. Porém, o Ludwig deixou de responder à questão essencial que coloquei no meu inicial comentário.
      Há várias áreas das nossas vidas, nas quais as ” evidências” de que fala são meros actos de crença.
      Suscitei o exemplo dos afectos, dos sentimentos do Amor e da Amizade. E quanto à problemática que suscitei, o Ludwig nada respondeu.
      O Ludwig não tem forma de aferir a veracidade dos sentimentos dos seus familiares e amigos. Ou acredita na respectiva sinceridade ou não acredita.
      Mas nunca, em bom rigor, pode saber se a sua mulher ou os seus filhos o amam.
      O Ludwig não pode entrar na mente seja de quem for. É um reduto inexpugnável. Não tem nem nunca terá acesso aos pensamentos alheios.
      Pode acreditar que as manifestações de afecto, que lhe são dirigidas, são genuínas .Mas nunca poderá ter a certeza absoluta que o são, mesmo que realmente essas manifestações correspondam a sentimentos sinceros.
      O que é que o Ludwig teria a objectar quanto a este meu contra-argumento ?
      Eu pus em causa a falibilidade da sua asserção, de que o seu materialismo se baseia exclusivamente na sensatez das suas evidências.
      Ora, não é nada evidente que alguém possa saber o que outro pensa ou sente.
      Então como é que o Ludwig responde a estas questões ? Não funciona também como crente quando acredita que outras pessoas o amam ?
      Se a sua resposta for sim, ou seja, que acredita na sinceridade de outras pessoas, então eu também posso acreditar na alma humana.
      Como é que o Ludwig, por exemplo, analisa a temática das alegadas manifestações de mediunidade ? Descarta imediatamente a possibilidade de as almas se poderem manifestar ? Se alguém disser que visualizou outra pessoa já falecida, o Ludwig só admite que ela possa estar alucinada ? Não admite que essa fenomenologia possa ser seriamente estudada ?
      O problema, Ludwig, é que na visão filosófica, materialista e ateísta, como a sua, também existe muito preconceito contra qualquer abordagem da realidade que a possa pôr em causa
      Manifestações de mediunidade e experiências de quase-morte são para serem levadas a sério, como hipóteses de a alma humana poder prevalecer para além da morte física corporal.Pelo menos são hipóteses bem consistentes, dado existirem muitos testemunhos que abalizam essa perspectiva. Pode ser que seja assim ou não seja, mas não é com atitudes preconceituosas, sejam elas materialistas ou idealistas, que conseguimos intelectualmente evoluir.

      • Ateu sim, e daí ?

        Antolo escreveu:
        Manifestações de mediunidade e experiências de quase-morte são para serem levadas a sério, como hipóteses de a alma humana poder prevalecer para além da morte física corporal.

        SIm. E também o papai noel pois não é verdade que presentes surgem na época do natal de pessoas das quais nem nos lembrávamos ? e há milhões de testemunhas que juram que o pai natal existe. Qual o problema se são crianças ? a totalidade delas é mais confiável e mais inteligente que os asnos crentóides. O problema é que depois crescem e serão imbecilizadas pala icar. E que dizer de são longuinho ? sempre que perco as chaves do carro, peço ajuda a são longuinho, dou três pulinhos e eis que as chaves aparecem ( curiosamente, depois de encontrá-las, eu me recordo do lugar em que eu as havia deixado e elas reaparecem exatamente no mesmo lugar). E que dizer da cura misteriosa das dores de cabeça ? tomo uma aspirina e rezo; num instante, graças às rezas, a dor se vai. Há tantas provas da existência da alma…Mas desses assuntos entendo pouco. Diga-me para quê serve uma alma ?
        Uma outra pergunta: nos cemitérios há um fenômeno conhecido como fogo fátuo, isso tem relação com almas ou é só mais uma piada dos cientistas ignorantes que associam a nossa alma a eventos explicáveis ?

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