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  • 17 de Agosto, 2012
  • Por Carlos Esperança
  • Fátima

O 10 de junho, o ridículo e a Senhora de Fátima

Não vou falar da Senhora de Fátima, a única personagem que tem mais heterónimos do que Fernando Pessoa. Vou referir-me aos exóticos edis da Câmara de Ourém, aos seus anseios autárquicos e à frivolidade das reuniões camarárias.

Segundo o jornal «O Mirante», a edilidade de Ourém, “quer comemorações do Dia de Portugal em Fátima”. O delírio místico, próprio da região, partiu de um edil do PSD que pretende as referidas comemorações, em 2013, na Cova da Iria, um terreno de pastorícia que as cambalhotas do Sol e as visões da Irmã Lúcia transformaram num lucrativo local do setor terciário, quer no sentido da ciência económica quer na prática litúrgica, graças à promoção do terço.

A justificação baseou-se na importância «que o santuário de Fátima tem para Portugal e para o mundo», justificação que colheu a unanimidade do executivo municipal (PS/PSD/CDS) e levou à decisão de manifestar tão pia vontade ao Presidente da República.

Com tal argumento certamente se justificariam muitos outros eventos, nomeadamente de natureza desportiva, dadas as dimensões do santuário e as infraestruturas hoteleiras.

 

O 10 de junho, há muito que perdeu o sentido republicano, com que o feriado foi criado, para se converter na lúgubre evocação da cerimónia com que o salazarismo glorificava a guerra colonial. O atual PR acedeu a ser presidente da comissão de honra da canonização de Nun’Álvares depois daquele milagre que o guerreiro medieval obrou no olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, curando-a da queimadura provocada pelos salpicos do óleo fervente de fritar peixe, mas a República, apesar da ofensa da canonização ao herói de Aljubarrota e das genuflexões do PR, continua laica.

Será que os trogloditas que formam o executivo camarário de Ourém, habituados a andar de joelhos e a rastejar, sabem o que significa a laicidade do Estado?

Hoje pede-se que as comemorações do Estado se realizem num santuário mariano, quiçá à luz das velas, com o PR a ser recebido pelo batalhão de servitas de Fátima e com uma charanga de cónegos a tocar o Avé. No futuro assistiremos à procissão do «Adeus» a sair da Assembleia da República.

4 thoughts on “O 10 de junho, o ridículo e a Senhora de Fátima”
  • cínico

    Afinal aqui alguém pode apelidar os outros de ” trogloditas” sem que o pressuroso Carpinteiro/ Zemano/Citadino/Laico/ Bufarinheiro venha logo insurgir-se contra a utilização desse termo. Esse alguém é o Carlos Esperança:

    ” Será que os trogloditas que formam o executivo camarário de Ourém, habituados a andar de joelhos e a rastejar,sabem o que significa a laicidade do Estado ?”

    E agora Carpinteiro ? Vais sair da toca a censurar o Carlos Esperança ou, em matéria de ética, também adoptas a canídea do Moura, ou seja a de Pilatos ?

    • Provedor

      E tu sabes, sequer, qual o significado de “troglodita”? Se soubesses ficavas caladinho. Mas como nem sequer sabes qual a diferença entre uma letra grande e uma letra maiúscula…

    • Citadino

      Vir obsessivamente a um site ateísta para críticar os ateus é o mesmo que um sportinguista se tornar sócio do Benfica e ir para o Estádio da Luz dizer mal do Benfica! Isso não é doentio? Que lógica tem? E depois colocas-te na posição de vítima porque os ateus dizem mal de ti e da religião!
      Já viste se eu fosse às igrejas escarnecer da religião? Nem sequer vou aossites religiosos onde tu deverias ir.
      Porque não fundas a tua igreja? Dou-te uma dica: «Igreja Universal Bíblica Sem o Deuterónimo, o Levítico e o Êxodo». Culto diário na Associação Atéista Portuguesa.

  • GriloFalante

    “(…)
    a única personagem que tem mais heterónimos do que Fernando Pessoa (…)”
    É uma atitude denunciadora de ingratidão, esquecer-se do António Fernando. Esse, consegue suplantar a senhora de Fátima.
    Não seja ingrato, Esperança. Olhe que o A.F. é a nossa alegria.

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