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Ódio é outra coisa.

Num post intitulado “Ódio Ateísta”, o Ricardo Pinho escreve que «O Diário Ateísta é poluição intelectual; um desperdício de energia eléctrica; uma tasca de asco e cuspo.»(1) E assim por diante. Apesar de me parecer uma generalização precipitada, concordo parcialmente com esta avaliação. Há coisas no Diário Ateísta que também me desagradam, que não publicaria em meu nome ou que não me interessa ler. No entanto, parece-me que o Ricardo erra, muito, na extrapolação que faz a partir deste juízo subjectivo.

Escreve o Ricardo que quando fundou o site ateismo.net, «O objectivo principal era […] «a despreconceitualização do ateísmo» mas que «Passados estes anos todos, é ele próprio um antro de preconceito.» Dá a ideia de que as coisas corriam bem quando o Diário Ateísta tinha uma política editorial rígida e agora, que cada um escreve como entende, ficou muito pior. Não é verdade. Eu também participei no DA há uns anos e o problema era, fundamentalmente, o mesmo. Também nessa altura havia muita coisa no DA que não me agradava. O que era de esperar. Afinal, a única coisa que os ateus têm garantidamente em comum é não acreditar que existam deuses. No resto, do sentido de humor à orientação política, discordam tanto quanto quaisquer outros. Além disso, o sistema antigo tinha a agravante de impor a todos os preconceitos de alguns. Por exemplo, havia uma regra que proibia posts em resposta a textos de outros blogs, o que sempre achei um disparate. E acabei por sair daquela encarnação do DA quando me rejeitaram um post sobre o aborto por o considerarem ofensivo, voltando só depois de decidirem deixar cada texto a cargo do seu autor. Agora, pelo menos, os preconceitos de cada um determinam apenas a sua escrita e não obrigam os outros.

O Ricardo pergunta «Qual é a estratégia, qual é o objectivo disto tudo?», referindo-se aos insultos aos crentes religiosos. A resposta está no próprio texto do Ricardo. Quando escreve que o DA é «uma tasca de asco e cuspo» e «voz histérica da parolice ateísta» também não parece ter estratégia ou objectivo além de dizer o que pensa. Mas isso, afinal, é o mais importante. O maior valor da liberdade de expressão não é instrumental. É intrínseco. Vale por si. Seja disparate ou revelação profunda, o mais importante é poder dizê-lo. Se quiséssemos garantir que todos os textos tivessem “estratégia e objectivo” teria de haver alguém a impor estratégia e objectivo aos outros, e esse seria um problema muito maior.

Mas o pior erro é esta coisa do “ódio”: «Ainda pensei que se poderia salvar esta página mudando-lhe o nome para Tasca Ateísta, mas até numa tasca há coisas boas. Mais acertado seria chamar-lhe Ódio Ateísta. [… houve] uma densificação da massa vil: e os odiosos acabaram por gravitar para onde há outros odiosos.» O ódio é um sentimento forte que implica querer mal ao outro. Pode-se inferir que sente algum ódio quem acredita que os ateus merecem uma eternidade no inferno ou que os terremotos são um castigo pela homossexualidade. Mas não se pode concluir que alguém odeia só porque goza ou escarnece de algo. Nem mesmo que diga dos outros que o que escrevem é «é poluição intelectual; um desperdício de energia eléctrica; uma tasca de asco e cuspo.» Quando leio o texto do Ricardo percebo que quer ser duro na crítica mas não concluo que odeia as pessoas de quem fala. Seria uma conclusão injusta e injustificada.

O Ricardo confunde duas coisas muito diferentes. A liberdade de expressão, que tem valor mesmo quando ofende, e o ódio de quem deseja mal aos outros pelo que pensam ou são. É uma confusão infeliz, especialmente neste contexto, porque aquilo que o Ricardo chama “ódio ateísta” são manifestações contra o ódio. O ódio religioso. Algumas podem expressar desprezo, outras podem ser de mau gosto, escárnio ou insulto, mas nenhuma defende que os crentes merecem o tormento eterno por acreditar no que acreditam. No ateísmo que o Ricardo rotula de odioso não há nada equivalente ao ódio que tantos religiosos manifestam contra os homossexuais, contra as mulheres, contra os apóstatas e ateus. Esta é uma diferença fundamental entre o ateísmo e as religiões. Os ateus não o são por obrigação, recompensa ou medo de castigo. Como tal, não consideram que os outros tenham obrigação de ser ateus ou que mereçam castigo se não forem. Mas a ideia da crença religiosa como uma virtude e obrigação moral trespassa praticamente todas as religiões. Isto leva as instituições religiosas a defender o ódio, no sentido muito específico de desejar o mal a quem não partilhar a crença certa. Segundo a doutrina cristã, por exemplo, eu mereço o inferno por achar que Jesus não tinha nada de divino e que o Espírito Santo é tão fictício como a Carochinha. É isto que sugere ódio.

Para concluir, queria apontar duas coisas ao Ricardo. Primeiro, a diferença entre as sociedades que toleram a «poluição intelectual», o «asco e cuspo» e a «parolice ateísta» e as outras sociedades onde as religiões têm mais poder. Dizer mal de Maomé é muito menos odioso do que apanhar dez anos de cadeia por isso (2). E, em segundo lugar, que temos de defender constantemente os nossos direitos para evitar perdê-los. Confundir a liberdade de expressão com o ódio é meio caminho andado para a censura religiosa, leis anti-blasfémia e outras expressões do ódio que motiva as religiões a condenar todos os que rejeitem a doutrina.

1- Ricardo Pinho, Ódio ateísta.
2- The Blaze, Man Gets 10 Years in Kuwaiti Prison for Allegedly Sending Anti-Prophet Mohammad Tweets

26 thoughts on “Ódio é outra coisa.”
  • luishgr

    Excelente texto, Ludi!
    Só não concordo contigo num pequeno pormenor.
    Dizes:
    “Confundir a liberdade de expressão com o ódio é meio caminho andado para a censura religiosa, leis anti-blasfémia e outras expressões do ódio que motiva as religiões a condenar todos os que rejeitem a doutrina.”

    Não, não é “meio caminho andado”.
    Pelos vistos, é o caminho todo…

  • Ateu sim, e daí ?

    Excelente.
    O discurso original parecia ter sido escrito pelo próprio papa; não por um ateu. O seu texto recolocou as coisas em seus devidos lugares. Parabéns.

  • Joaquim Silva

    “Há coisas no Diário Ateísta que também me desagradam, que não publicaria em meu nome ou que não me interessa ler.”

    Ludwig Krippahl

    Vale mais tarde do que nunca. Ludwig Krippahl sempre omitiu qualquer posição crítica em relação a essas coisas que lhe desagradam no Diário Ateísta.Ou seja, sempre foi com elas contemporizador, para não dizer objectivamente cúmplice. E foi preciso Ricardo Pinho vir, sem nenhuma espécie de tibieza, afirmar a sua própria personalidade para que Ludwig Krippahl, embora timidamente, aqui também o viesse secundar. Claro que agora não restava a Krippahl senão esta saída airosa para também não ficar mal na fotografia. No entanto, por falta de atempada e corajosa intervenção, Krippahl acaba por esborratar a sua pintura. Na vida, Ricardos Pinhos há poucos, muitos mais limitam-se a surfar na onda, como parece ser o caso de Ludwig Krippahl.

  • Carlos Esperança

    Este foi o post mais lúcido que li no DA. Parabéns, Ludwig Krippahl.

  • kavkaz

    O facto de haver coisas que desagradam no “Diário Ateísta” é natural…

    No dia em que não houver coisas que desagradam algo estará mal. Esse dia será aquele em que haverá um só a escrever e ninguém a ler e/ou comentar.

    O melhor é não criarem ilusões para não terem desilusões!

    Habituem-se a que possam não gostar de vocês. É natural…

    A única coisa de que todos gostam é do Céu, onde há um Paizinho que cuida de nós desde que não comam a maçã da tal árvore. Mas isso não existe na realidade e é uma fantasia da imaginação humana!

  • Citadino

    Muito bem!
    Os que citavam Ludwig Krippahl como exemplo de “ateísmo responsável” já começaram a mudar de opinião…talvez que para eles, esse conceito tenha a ver com a conduta do Papa…

  • HAMONBAAL

    Não sei porque dão tanta importãncia ao tal Ricardo.

    Estive no site dele à espera de uma grande revelação do pensamento humano, mas só vi a coisa mais vazia e incipiente.

    Truques para fazer amiguinhos e lamechices à volta de cartões de boas festas.

    Continuo a dizer, só lá faltavam receitas de bolinhos, fotonovelas e dicas para crochet para ser uma cópia da revista crónica feminina dos anos 60.

    Se o domínio era dele só ganharam em ver-se livres do dito cujo.

    • Citadino

      A filosofia de Alain de Botton (O Paulo Coelho da Filosofia), aplicada por Ricardo Pinho:
      “Sugiro até que a carta tenha uma nota positiva, recordando que a amizade passada foi vivida como importante para si.
      Caro Fulano,Fomos grandes amigos. Prezei muito a nossa amizade e o tempo que passámos juntos. O que vivemos foi importante para mim, e recordar-te-ei com saudade.Mas receio que os nossos laços tenham sido desatados pelo tempo; assim expirou a nossa amizade.Apagarei o teu contacto das minhas agendas, mas farás sempre parte da minha história pessoal.Adeus,
      (assinatura)
      Imprima. Assine. E envie por correio postal.
      Quem sabe no que dará.”
      Do site de Ricardo Pinho

      • HAMONBAAL

        Talvês dê que os ex-amiguinhos dele, afinal aliviados por já não terem
        de o aturar, se lembrem para sempre, que o gajo era tão chato, ma stão chato, que, apesar de já não ser amigo deles, ainda os conseguiu chatear com mais uma ultima carta de declaração oficial de expiração de amizade.

        Este Pinho dava um burocrata soberbo.

        Um verdadeiro semi-deus das repartições de finanças e instituições chatérrimas afins.

        • HAMONBAAL

          Uma sugestão dentro da mesma linha seria o Pinho enviar a toda a gente que não conhece, uns 10 milhões, uma declaração a afirmar que não os conhece mesmo, mas que pod evir a conehcer, ou não.

          Quem sabe no que dará ?

          • HAMONBAAL

            Uma coisa que pode dar é numa data de providências cautelares para não deixarem o maluco aproximar-se das casas deles.

            Quem sabe ?

  • Abraão

    Como já não existe o botão “Gosto”, só posso dizer que este texto disse tudo. Acho que o Ludwig não ferveu em pouca água e soube esperar, ponderar para escrever este artigo que apoio.
    Obrigado.

    • UmGajo

      Penso que agora podes atribuir o “Gosto” com a opção das “Stars”. Eu clique e ficou com “1 Stars”. Suponho que seja aí.

  • Citadino

    Tem medo da morte? (pergunta a Alain de Botton)
    Pânico! Eu não consigo suportar a ideia de que terei que morrer e que meus entes queridos também. Meu pavor real é morrer antes que meus filhos completem 30 anos.
    Alain de Botton ( Filósofo, autor de “Religião para Ateus” e ídolo de Ricardo Pinho)
    Comentário: Este ateu daria (dará?) um belo crente…

    • cínico

      Não deixa de ser sintomática a clivagem de águas feita entre Ricardo Pinho e todos aqueles que agora, como tu, o vão tentar denegrir. Que censura merece a frase sincera de Alain de Botton ? Será motivo de crítica que um ateu, como ele, afirme o seu pavor por morrer antes dos seus filhos completarem 30 anos ? Não constitui essa frase uma manifestação de Amor de um homem pelos seus filhos ? Haverá algo de errado no facto de alguém temer a morte pela quebra de laços afectivos que o une aos seus entes queridos ? Em boa hora Ricardo Pinho, o fundador deste site, é bom não esquecer, lançou uma forte pedrada neste charco de águas pútridas em que se transformou o D.A.
      O facto de tu não conseguires esconder o teu tom raivoso só eleva ainda mais a postura digna de Ricardo Pinho. Com efeito, não há maior elogio que lhe possa ser feito do que ver todo o tipo de comentários de tão baixo nível e de tão mau carácter contra ele dirigidos. É prova clara de que o texto-denúncia de Ricardo Pinho alcançou plenamente o seu objectivo e que ele vos deu uma belíssima lição de ética e personalidade.

      • Citadino

        Não me parece anormal o medo da morte, mas esse pavor tremendo manifestado pelo Botton não acho digno de um filósofo ateu.
        Já sabemos que um dos factores mais apelativos da religião é a promessa de vida eterna, mas devemos deixar essas quimeras para quem necessita de se confortar na mentira.
        Já tomou hoje a sua dose de ópio?

        • cínico

          Tu a falares em ” dignidade” dá vontade de rir.
          Desde quando é que um ateu deixa de ser menos digno, seja filósofo ou não, por ter medo da morte ou pavor de deixar os seus entes queridos ? Há algum critério objectivo, universal, sobre o sentido de dignidade, que passe por censurar alguém, ateu ou não ateu, que tenha medo da morte ?
          E desde quando é que alguma vez o ateu Alain de Botton escreveu ou afirmou que acredita na vida eterna ? O seu comentário aponta exactamente no sentido contrário: ele teme tanto mais a morte por certamente não acreditar na vida eterna. Doutra forma, teria que se afirmar crente e ele diz que é ateu.
          Do teu comentário, tão absurdo, ilógico e disparatado, o que até parece é que és tu que andas a snifar cocaína e depois vens aqui fazer esta triste figura. Tens cérebro para quê, não é para pensar ?

          • HAMONBAAL

            Mas ó fifi, o JC também temia a morte.

            Até disse ao pai, isto é, a ele próprio, porque era muito dado a falar sozinho, para afastar dele esse “cálice”.

            E deixou bem claro que a vontade que se ia fazer era a do pai e não dele, filho.

            Embora como também fosse ele o pai do filho e o filho do pai, tudo ao mesmo tempo, a vontade afinal era dele. Embora não fosse. Mas afinal era. Bolas, já me perdi.

            Bom, adiante, o tal JC estava mesmo com uma disposição fudida lá no jardim de getsamani, estava mesmo à rasca.

            O que não deixa de ser esquisito. Porque afinal a vontade a cumprir, sendo contra a vontade dele era também a vontade dele. Isto é, era e não era. Ou era e deixava de ser.

            Bem, se esta questão das vontades já é confusa então o facto de, segundo os ensinamentos dele próprio, SABER QUE A MORTE NÃO EXISTE, estava com um medo do caraças.

            Sempre achei isto muito estranho. Afinal se a alma não morre, se ainda por cima ele era deus (não era, mas era) então estava com medo de quê ?

            Qual era o grande drama de morrer, se sabia que não ia nada morrer ?

            Atão mas qque grande sacrifício era esse ? Descansar uns dias na fresquinha, sabendo que ia ressuscitar ? Mas que raio de morte era essa ? Aliás, se era deus como podia sequer morrer ?

            E a igreja que apregoa tudo isso como pode dizer que ele “morreu” por nós ? Então não dizem a alma é imortal ? E como poderia deus morrer mesmo ? Como pode a igreja fazer um dramalhão em volta da “paixão” de cristo, quando a mesma não teria passado de uma “formalidade” que todos sabiam que nada o poderia matar a ele, deus, ou sequer à alma humana, sendo que aquela nem poderia temer o perigo do inferno ?

            Ou será que o JC afinal não tinha assim tanta certeza ? E se não tinha a certeza como poderia ele ser deus ?

            E a igreja ? Ao fazer um alarido e um dramalhão em volta da morte de cristo, será que não está a dar a entender que afinal sabe que ele MORREU MESMO, bateu a caçoleta, kaput, e que, como todos os mortos, ninguém mais o voltou a ver ?

            Se não é isto então porque todo o drama em volta da “morte” de um tipo que já sabia que ia voltar dali a três dias ?

            Aliás noto isso em todos os crentes. Acreditam todos que são imortais, logo que a morte não existe.

            Mas têm todos um medo de morrer do caraças.

            Estranho.

            Será que vêm para aqui meter-se com toda a gente por pura INSEGURANÇA e que se refugiam na agressividade porque vocês são os primeiros a duvidar das vossas lendas ?

            A vossa simples presença aqui, tão “contra vontade2 como se alguém os obrigasse, não será, através da propaganda despejada para cima dos outros, uma tentativa de se CONVENCEREM A VOCÊS PRÒPRIOS da veracidade da voassa mitologia ?

          • Citadino

            Sim, tu estás safo da morte. Como vais para a vida eterna até te podes dar ao luxo de te atirares de um arranha-céus hoje mesmo. Se estás com a certeza que vais para o paraíso nem sei porque ainda andas por aqui com esta crise toda. Vá atira-te, muda para melhor!

      • Jairo

        « O pensamento dos ateus militantes está marxizado. Por muito mal que os ateus façam contra os religiosos, nunca é mal porque acreditam fanaticamente que “a religião” é a raíz do mal [Richard Dawkins], envenena tudo[Cristopher Hitchens] e é pior do que o estupro [Sam Harris]. Com este pensamento, tudo aquilo que seja feito ou dito contra religiosos está justificado.

        Em Portugal, não existe uma organização ou instituição que seja o equivalente religioso ao ódio gratuito dos ateus do Diário Ateísta e da Associação Ateísta Portuguesa »

        http://neoateismoportugues.blogspot.pt/2012/06/os-ateus-nao-odeiam-e-impossivel-sao.html

  • UmGajo

    O Ludwig tem a extraordinária capacidade de dizer em poucas linhas aquilo que tantos de nós pensam.
    Estou plenamente de acordo. Também a mim me desagradam alguns posts. E normalmente, esses ignoro e raramente me dou ao trabalho de os comentar.
    Mas é a possibilidade de que os outros possam escrever e dizer o que me desagrada que eu considero imprescindível.
    Pode por vezes não existir por aqui grande qualidade retórica, mas a liberdade que por cá se respira é uma das razões porque há anos sigo este blogue.

    Bom, por isso e porque andam sempre por aqui uns comentadores que apimentam de tal forma as conversas que a coisa fica no mínimo interessante 🙂

  • SG

    Não me recordo de comentar algo neste
    blogue e nunca mais comentarei. Este comentário é personalizado e exprime
    apenas o que eu penso. Não sou crente nem ateu. Sou indiferente. Tanto me faz.

    Se nunca fui crente, depois de tudo o que tenho lido neste
    blogue nunca me atreveria a dizer que sou ateu.

    Passo por aqui regularmente e, com toda a sinceridade, estou
    do lado do Ricardo Pinho. O Ludwing não tem razão alguma, e os seus argumentos
    são tão despropositados como falaciosos e ingénuos.

    Acho que, por detrás de um certo ar de intelectual, o Ludwing
    consegue escrever um texto enorme sem dizer nada. Enrola, tece, cruza e acaba
    por justificar uma asneira com outra maior. Do meu ponto de vista, para além demonstrar
    muito pouca clareza de raciocínio, demonstra ser o típico logrador. Este texto
    é digno de um pastor da IURD ou de uma outra seita religiosa.

    O Ricardo pergunta «Qual é a estratégia, qual é o
    objectivo disto tudo?», referindo-se aos insultos aos crentes religiosos. A
    resposta está no próprio texto do Ricardo.

    Não, não está.

    O Ricardo Pinho coloca o foco das suas críticas, justas e
    muito precisas, na actuação dos ateus de quem se distancia enormemente. O seu
    post, do qual não tem a intenção de fazer uma competição a ver se tem muitos comentários,
    é muito objectivo e exprime aquilo que tenho escutado de pessoa amigas: este
    blogue dá uma péssima imagem do ateísmo. Está bem caracterizado como «uma tasca de asco e cuspo» onde
    a maioria dos posts e as opiniões de alguns comentadores (como “lhgr”, “hamonbaal”,
    “stefano666”, Kavkaz e muitos outros) são verdadeiras expressões da «voz histérica da parolice
    ateísta».

    Se quiséssemos garantir que todos os textos
    tivessem “estratégia e objectivo” teria de haver alguém a impor estratégia e
    objectivo aos outros, e esse seria um problema muito maior.

    Um exemplo de um argumento vazio, sem nexo, apenas
    palha. A questão não é haver uma “uma
    estratégia” e um “objectivo”, até porque ele existe e o Ludwing refere-o ao
    longo de todo o seu texto. A verdadeira questão é que existam regras de educação,
    de civismo, de respeito e que não se ultrapassem os limites do razoável e do
    necessário.

    O maior valor da liberdade de expressão não é
    instrumental. (…) Seja disparate ou revelação profunda, o mais importante é
    poder dizê-lo.

    Se, para o Ludwing, a noção de “liberdade de expressão”
    reside no facto de cada dizer o que lhe apetece e da forma que lhe apetece, sem
    obedecer a regras, limites, formas, conteúdos e destinatários, então
    desiluda-se, porque essa noção de “liberdade de expressão” não existe, actualmente,
    em nenhum estado do mundo.

    O ódio é um sentimento forte que implica querer mal
    ao outro.

    É exactamente aqui que bate o cerne desta questão e onde
    está focalizado tudo aquilo que o Ricardo Pinho disse.

    O problema deste “Diário” é que ele descambou para o ódio gratuito
    e incontrolado a tudo o que seja religião, crente ou crença religiosa. Inclusive, a expressão
    máxima do ódio está plasmada no incondicional apoio da gestão do blogue a tudo
    o que seja anti-religioso e anti-crente, fomentando e aplaudindo os mais bárbaros,
    odientos e malcriados comentários.

    No fundo faz-se aqui uma competição a ver quem melhor expressa
    o ódio aos crentes, e sobretudo à Igreja católica, rivalizando-se na tentativa
    de ser mais acutilante e rancoroso.

    A comparação deste ódio inflamado, direccionado cirurgicamente
    e cultivado até a exaustão com o “inferno” ou “castigos divinos”, é um perfeito
    disparate.

    Uma sanção ou um castigo, em todos os sistemas
    institucionais da actualidade (as religiões constituem apenas um desses sistemas,
    e muito pouco expressivo), tem uma multiplicidade de vertentes, que vão desde o
    aspecto pedagógico e moral à privação intencional de algo (que, no extremo, até
    pode ser a vida), mas nunca assentam no exercício do ódio ao infractor. Essa é,
    precisamente, a filosofia contrária à justiça.

    Dizer a alguém que a sua conduta pode levar a um castigo ou
    tem uma consequência, ainda por cima no plano de uma suposição ou de uma presumida
    “vida além da morte”, não pode ser comparado a uma acto real, objectivo e concreto,
    como é o caso do ódio expresso, por exemplo, ao Papa e ao Vaticano. Ao contrário do que o Ludwing afirma, aqui é
    que está expresso o “o ódio de quem deseja mal aos outros pelo que
    pensam ou são”.

    Aqui, chega-se ao cúmulo de negar qualquer coisa ou acto
    positivo que esteja ligada à religião, só porque está ligado à religião. Para
    já não falar na falsa e difamante ligação de actos perversos à religião e aos
    crente, mesmo que não tenham nenhuma correlação. O último post do Carlos
    Esperança, sobre os bebés espanhóis, é um exemplo, pois a assunto nada tem a
    ver com religião ou crença.

    O Ludwig confunde as religiões com a ordem social e cultural
    de uma comunidade, quase sempre transversal a todas as vertentes, práticas e condutas
    dessa sociedade. Aquilo que ele chama “uma virtude e
    obrigação moral”
    , na verdade é apenas uma das vertentes da institucionalização
    cultural de uma sociedade, fundada na “normalização e institucionalização do
    bem comum” (assente na perspectiva de : “para a sociedade o melhor é que seja
    assim”). A oposição esta “normalização”
    chama-se contracultura ( que, no mesmo plano conceptual, é geradora de instabilidade, logo indesejada).

    Outro aspecto que o Ludwing ainda não entende (ou não tem
    bagagem para perceber, ou fá-lo intencionalmente
    de forma incorrecta), é o facto de que a gravidade dos actos “odiosos” afere-se
    pelas consequências sobre os visados. E, há expressões, ditos, frases, “gozo”,
    desrespeito frontal ou vilipêndio intencional que pode ser mais doloroso e ter
    piores consequências do que dez anos de cárcere. Há formas de ofensa que podem
    levar à morte ou a situações patológicas dificilmente reversíveis.

    Não discuto mais e não respondo a comentários. Termino com a
    constatação óbvia : O Ricardo Pinho foi correcto, tem razão e todas a
    críticas que lhe vejo fazer, são de uma menoridade e cainheza incomparável.

    Ainda não vi um só argumento válido que permita pôr em
    causa, do ponto de vista de um não crente, aquilo que ele disse.

    • HAMONBAAL

      Isto é estranhíssimo.

      Este blog está cheio de textos enormes de montes de pessoas que dizem que não querem escrever aqui.

      Só há uma explicação.

      Os ateus do blog estão a usar da violência para obrigar todos estes desgraçados a escrever aqui.

      Pelo amor de deus, deixem em paz estes pobres desgraçados que não querem, mas que acabam por ser obrigados a debitar textos enormes e chatíssimos.

      Também como poderiam estar inspirados se é contra a vontade deles que aqui escrevem ?

      Deixem-nos deixar de escrever de uma vez, a ver se só fica cá quem gosta de aqui escrever.

      Deixem de obrigar quem não quer escrever e até de frequentar este blog.

      Se isto assim tão mau, não deviam ser obrigados sequer a ler isto, quanto mais a escrever.

      Isto é mais uma prova da violência ateísta.

      E é contra os direitos humanos.

      Coitadinhos.

      Libertem os prisioneiroooooooos…

  • mathias

    Não tiro a razão do Ricardo mas também concordo com os exageros apontados pelo Ludwig.

  • RuiGomes

    Muito bem dito. Há pessoas que pensam que se pode gozar com tudo exceto com religião, dizer que nós somos aqueles que estamos mal é ridículo, para além de estarmos a exercer um direito estamos a lutar contra injustiças, quer as pessoas que são injustiçadas nos agradeçam ou insultem. Durante a história os ateus foram perseguidos, escravizados, mortos e torturados, somos constantemente ameaçados com dor eterna, mas por alguma razão um livro numa sanita faz de nós maus da fita, mais ridículo é que se esse livro fosse de um qualquer Prémio Nobel não teria tantos defensores a falar de ódio.

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