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  • 9 de Maio, 2012
  • Por Carlos Esperança
  • Laicidade

A abolição dos feriados e o estado laico

Independentemente da ofensiva contra os direitos dos trabalhadores, de que a abolição dos feriados é um mero sinal, falta provar os benefícios resultantes de mais quatro dias anuais de trabalho.

O programa ideológico do Governo põe em causa a República cuja Constituição impõe a laicidade. Não é comparável o que é diferente. Os feriados de 5 de outubro e 1 de dezembro são feriados identitários, pertencem à memória do povo, como nação, e são datas de todos os portugueses independentemente dos sentimentos que lhes despertem. O Corpo de Deus e a Assunção de Nossa Senhora ao Céu são datas só de uma religião e, por maior afetividade que despertem, não passam de eventos de uma fé particular.

Comparar a data da implantação da República, regime cuja alteração está proibida na Constituição, e a Restauração da Independência de Portugal, com o Corpo de Cristo ou com a «subida ao Céu em corpo e alma» da mãe de Jesus, é trocar a memória histórica por crenças de uma religião a que se quer agradar.

Esta conduta, um ultraje à República e à laicidade, abre portas, no futuro, à chantagem de novas religiões sobre o Estado. No 5 de outubro houve heróis na Rotunda e nasceu um novo regime que em 2010 foi comemorado com pompa e circunstância. Em 1 de dezembro de 1640, 40 conjurados restauraram a independência de Portugal.

O Corpo de Cristo é uma festa respeitável para quem acredita na transubstanciação, isto é, na transformação do pão ázimo em corpo e sangue de Cristo, processo alquímico, através da consagração da hóstia, que nem os crentes veem. A «Assunção de Nossa Senhora aos Céus», em corpo e alma, é um dogma de Pio XII, de 1950, relativamente a um evento de que se ignora a data, o local, o meio de transporte e o itinerário. Não se pode comparar a hipotética viagem da mãe de Jesus, defunta, com o nascimento de um país e de um regime.

Para agravar a situação e enxovalhar o Governo, o Vaticano, prepotente, condescendeu em suspender durante 5 anos os dias santos, enquanto o Estado português elimina os dias da identidade nacional sem precisar se a medida é temporária. É preciso topete.

Para a Igreja católica todos os dias são santos. Sendo assim, para quem já dispõe de 52 domingos, que diferença faz o dia da semana ? De uma única decisão saem feridos os direitos dos trabalhadores, a laicidade e a identidade nacional.

31 thoughts on “A abolição dos feriados e o estado laico”
  • GriloFalante

    “(…)
    para quem já dispõe de 52 domingos (…)”
    Aí é que reside o problema. Os domingos não são da ICAR. Os domingos são do Sol. A ICAR apropriou-se desses dias, como se apropriou de muitos outros. Quando lhe interessa, a padralhada berra que a Bíblia é a “palavra de Deus”; mas quando convém, assobiam para o lado. A Bíblia é específica: o dia consagrado ao “senhor” é o sábado. Tanto assim que houve um gajo quaisquer que levou com pedras na cornadura até morrer, só porque apanhou lenha ao sábado. 
    A ICAR promove a “sua” festa num dia pagão. Como a festa do solstício de Inverno. Ou o equinócio da Primavera.
    Domingo é dia do Sol.
    Sunday.

    • Albino_al

      EM Inglês. E em Português, e em Latim, e em                                                               italinao, e em eslavo, e em coreano, e em arabe, espanhol… esses não contam?

      • GriloFalante

        Olha, eu não sei o que é que tu pretendes com esse “argumento”. Mas há duas coisas que não podes negar. Ou podes, mas fica-te mal:

        1) – Os pagãos adoravam o Sol no dia hoje chamado “domingo”.
        2) – A Bíblia farta-se de dizer que o dia consagrado ao “senhor” é o sábado. De tal modo que um freguês foi apedrejado até à morte por ter apanhado lenha ao sábado – e não ao domingo.

  • Pedro

    -|-         -|-
    M         MA
    -|- Sancta Filumena

    Se o Estado fosse Laico respeitava os feriados religiosos.

    • António Rodrigues

      Pois!!!
      E as testemunhas de jeová deviam ter todos os dias, feriados, para andar de porta em porta a semear o proselitismo.

    • GriloFalante

      Não são feriados religiosos, são feriados católicos. As outras religiões não têm feriados.” Se o Estado fosse laico, respeitava os feriados religiosos”.
      Tens toda a razão. Mas não respeita, só respeita os da seita ICARiana.

      • Pedro

        -|-         -|-
        M        MA
        -|- Sancta Filumena

        GriloFalante:
        #########
        Não são feriados religiosos, são feriados católicos.
        #########
        Como se os feriados da unam, sanctam, cathólicam et apostólicam Ecclésiam nao fossem feriados religiosos.

        #########
        As outras religiões não têm feriados.
        #########
        Depende das religioes que estejas a falar.
        E… se assim fosse estarias a contradizer-te a ti proprio em relacao ao que falas a seguir quando dizes: “só respeita os da seita ICARiana”.

        Antes de mais, nao se trata de nenhuma “seita ICARiana” mas sim da unam, sanctam, cathólicam et apostólicam.
        Primeiro dizes que: “as outras religioes nao tem feriados” e logo a seguir dizes que so respeita os feriados da unam, sanctam, cathólicam et apostólicam. Ou seja: “Que afinal as outras religioes tambem tem feriados”

        Sim, tem outras religioes que tem os seus feriados proprios e nao estao a espera que o Estado lhes diga que eh feriado ou nara ser feriados das suas proprias religioes.

        • GriloFalante

          Sabes, Pedrito, eu admito que, às vezes, sou um pouco… implicativo. Mas não leves a mal, é que eu ADORO ouvir-te falar em latim. Acho imensa graça, principalmente ao teu sotaque. Quando tu dizes ”
          unam, sanctam, cathólicam et apostólicam” (aqui, acho que te faltou “ecclesiam”, em qualquer sítio) é como se o sol brilhasse para mim, em noite escura! Principalmente, a forma como dizes.
          Mas acho que devias ir mais longe – já que tens enormes potencialidades. Que tal. começar a amandar com, por exemplo, “Nemini fidas, nisi ei, cum quo prius modium salis absumptseris.”, ou “Dementis convitia nihil facias” ou, ainda, ” In muktiloquio non deerit stultitia”? Hmmmm? Não achas que ficavas com um ar mais intelectualóide, que só te ficava bem?

          • Pedro

            -|-         -|-M        MA-|- Sancta Filumena

            GriloFalante:
            Verdade, faltou por 2 vezes o “Ecclésiam”, falhou o copy paste na sua totalidade mas como ja tinha postado depois nao quiz estar a corrigir:
            “unam, sanctam, cathólicam et apostólicam Ecclésiam”

            Eu simplesmente costumo e introduzi em latim porque o latim ainda é a língua oficial da Cidade do Vaticano e do Rito Romano da Igreja Católica e vem no Credo Niceno-Constantinopolitano que tambem existe traduzido para Portugues.

          • HAMONBAAL

            Eu, pessoalmente, quando quero impressionar os vizinhos, digo sempre

            Mammas atque tatas nimium conducit habere; sed potum et multum praestat habere cibum
            Claro que não sei o que quer dizer.  

            Mas como os vizinhos também não sabem brilho sempre.

            PS

            Entretanto acho graça que o pedrinho diga que faz citações em latim por ser a língua da igreja.

            De facto é.

            A igreja adoptou e manteve pelo prestígio que conferia essa língua que existia milhares de anos antes do cristianismo e que era a língua dos imperadores pagãos que governavam o mundo.  

            Antes de ser a língua da igreja já era a de Nero.

            Mais uma prova de que é uma completa aldrabice a pretenção da igreja de ser a raíz cultural da Europa.

            Se grande parte da cultura da própria igreja foi copiada de formas culturais europeias muito anteriores, é preciso uma granda latosa para pretender que a igreja é a origem daquilo que copiou e que existia milhares de anos antes da própria igreja existir.

            É um verdadeiro milagre da falta de vergonha.

          • Pedro

            -|-          -|-
            M         MA
            -|- Sancta Filumena

            HAMONBAAL:
            A língua latina era usada por membros e não membros da unam, sanctam, cathólicam et apostólicam Ecclésiam.
            Eu nao falei que a língua latina era originária da unam, sanctam, cathólicam et apostólicam Ecclésiam, aqui a unica pessoa que esta a dizer isso es tu e mais ninguem.
            A língua latina foi adoptada língua oficial da Cidade do Vaticano e do Rito Romano da Igreja Católica.

  • Nuno Serra

    Só uma precisão: o feriado de Junho é o do «Corpo de Deus» e não o do «Corpo de Cristo». Apesar do dogma da santíssima trindade, não é – em termos de celebração – a mesma coisa.

    • Carlos Esperança

      Tem razão. Obrigado. Isto de «três pessoas, iguais, distintas e só uma verdadeira» estar na base um monoteísmo com santos, arcanjos, profetas e familiares da estrela da Companhia, cria dificuldades aos ateus.

  • Citadino

    A concordata com o Vaticano não faz qualquer sentido.
    Todos os feriados religiosos deveriam ser eliminados e substituídos por dias de férias para cada um usar como bem entende. Quem quisesse comemorar as datas religiosas que usasse dias de férias. Exceptuava o 25 de Dezembro porque tem uma conotação de festa da familia para a maioria dos portugueses.
    Quanto aos feriados civis, é revoltante a a sua supressão. Principalmente o do 5 de Outubro, que além de comemorar a revolução repúblicana também é a data da fundação da nacionalidade (5 de Outubro de 1143, tratado de Zamora).
    O actual governo perdeu toda a legitimidade ao governar com medidas contrárias às promessas eleitorais e ao violar reiteradamente a Constituição da República Portuguesa.
    A vassalagem à ICAR ofende os principios mais elementares da justiça e da racionalidade.
    Até quando?

    • GriloFalante

      Desculpa, mas só concordo em parte. Vejamos:
      Num país laico, ou há feriados para todas as religiões ou não há para nenhuma. Os feriados católicos não têm razão de ser. Porque se se destinam a “festejar” (por isso se chamam “dias festivos”) dogmas – e não factos. Não passam de invencionices. Não fazem parte da memória colectiva, nem da História de um povo.
      Mas vamos partir do princípio de que os crentes têm todo o direito de festejar as suas crendices. E têm! Pois bem, nada como aproveitar as férias para esses festejos. Aliás, não é isso que fazem muitas das pessoas que vão a Fátima? Ou será que são todos desempregados ou reformados? 
      Ou será que também vão exigir um “dia festivo” para visitar o joelhódromo?

      • Citadino

        Não tenho nada a objectar. Só quis dizer que num Estado laico a questão religiosa diz respeito a cada um, não tendo o Estado que fixar feriados religiosos obrigatórios para todos, crentes ou não crentes.
        Costumo usar um dia de férias no dia do meu aniversário, mas era o que faltava que quisesse que fosse feriado nacional.

  • José

    Este ” D.A.” anda mesmo muito fraco. Repetem até à exaustão os mesmos assuntos e os comentadores ateus-residentes já só quase conversam entre si.É por isso mesmo que são marretas.

    • HAMONBAAL

      Dizes que só conversam entre si como se fosse uma grande perda deixar de ler as vossas provocações estúpidas.

      Deves pensar que é uma grande honra.

      Coitado.

    • Citadino

      Realmente conversar com um “crente” ou com um fardo de palha não adianta muito…

      • José

        Claro, é por isso que és burro, julgas que a palha que o teu dono te dá é para conversar em vez de comer.

        • Citadino

          Como católico ou lá o raio que és, andas muito malcriadinho. Vieste aqui insultar os ateus/agnósticos chamando-lhes marretas e depois não queres que respondam.
          Foi isso que te ensinaram na cataquese? Ou com uma hostiazita ficas limpo para mais chafurdice na semana seguinte?

          • HAMONBAAL

            Ele deve pensar que este tipo de conversa contribui para a elevação espiritual do blog.

          • Citadino

            Só vêm aqui para provocar e dizer alarvidades, mas ficam muito ofendidos com as reacções.
            Não estão habituados a debater, reflectir…apenas repetem fórmulas vazias e histórias da carochinha.

  • Albino_al

    É curiosamente imbecil a posição dos ateus: em vez de exigir que os feridos civis não sejam vilipendiados pelos capitalistas, preferem apedrejar  a Igreja porque ele se coloca do lado da maioria dos portugueses, defendendo o que essa maioria acha importante.
    Claro que para um católico o feriado civil do dia 5 de outubro tem muito menos significado do que o dia de Todos os Santos. Evidentemente!!!!!!!!!!!!!!
    Claro que o Dia de Todos os Santos ou o Dia do Corpo de Deus são datas festivas e comemoradas com grandes festividades em muitos lugares, enquanto os feriados civis não são… evidentemente!!!!

    Claro que os feriados civis não geram grande comercio, mas os “dias santos” geram muito comercio” e são imprescindiveis para a sobrevivencia de muitas pequenas empresas… evidentemente!!!
     Claro que a Republica  nunca foi um ideal nacional, mas um imposição… evidentemtente!!!!

    • UmGajo

      Sim sanhor. Que belo apontamento de humor.

      E eu diria mesmo mais: evidentemente que ninguém sabe o que representam os feriados civis como o 5 de Outubro ou, vá lá, o 25 de Abril. Mas toda a gente sabe o que significa o Corpo de Deus ou a Ascenção de Maria… heheheh

      • GriloFalante

        Isto é para tu veres que, afinal, há crentes com sentido de humor. E este até é humor inteligente, coisa rara.

    • GriloFalante

      Essas “pequenas empresas” a que tu te referes, são igrejas, ou capelas? E as “grandes empresas”, serão as catedrais e os santuários, tipo Fátima?

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  • Miguel Marujo

    por acaso o segundo feriado dito religioso “cortado” foi o de 1 de novembro, chamado de Todos os Santos.

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