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Naquele tempo…_1

Naquele tempo, Deus não era ainda o mito. Era apenas um mitómano a gabar-se de ter feito o Mundo em seis dias, há quatro mil anos, nem mais, nem menos, e ter descansado ao sétimo.

Era um celibatário inveterado que inadvertidamente criara Adão e Eva no Paraíso, onde vivia e tinha a oficina. Fez o homem à sua imagem e semelhança e a mulher a partir de uma costela do primeiro.

Preveniu-os de que não se aproximassem da árvore do conhecimento, advertência que a Eva logo desprezou, tentada por um demónio que por ali andava. O senhor Deus logo os expulsou do Paraíso, recriminando a malvada e com pena do imbecil que se deixou tentar.

 

Entretanto, na Terra, local de exílio, o primeiro e único casal logo descobriu um novo e divertido método de reprodução que amofinou o Senhor e multiplicou a espécie.

Deus era bastante sedentário mas as queixas que lhe chegaram pelos anjos, um exército de vassalos hierarquizados, levaram-no a deslocar-se ao Monte Sinai onde ditou a Moisés as suas vontades. Ensandecido pelo isolamento e pela castidade veio exigir obediência e submissão aos homens e fazer ameaças.

Após algum tempo, vieram profetas – vagabundos que prediziam o futuro -, lançando o boato de que o velho, tolhido pelo reumático, enviaria o filho para salvar o Mundo. Foi tal a ansiedade entre as tribos que alguns viram no filho da mulher de um carpinteiro de Nazaré o Messias anunciado.

Com a falta de emprego, algum pó e líquidos capitosos à mistura, inventaram a história do nascimento do pregador com jeito para milagres e parábolas.

Puseram a correr que Maria fora avisada pelo anjo Gabriel, um alcoviteiro de Deus, de que, sem ter fornicado, estava prenhe de uma pomba chamada Espírito Santo.

Nascido o puto, que nunca mijou, usou fraldas, fez birras ou fornicou, cedo se dedicou aos milagres e à pregação falando no pai e na obrigação de todos irem e ensinarem as sandices que debitava. Acabou mal e deitaram as culpas aos judeus, desde então os suspeitos do costume. Claro que JC também era judeu mas isso não quer dizer nada.

Sabe-se que foi circuncidado, que era um monoglota exímio em aramaico, língua em que discutiu com Pôncio Pilatos, que só sabia latim, sem necessidade de intermediário.

Quando se lixou, crucificado, esteve três dias provisoriamente morto e, depois, subiu ao Céu levando o prepúcio que tantas discussões teológicas havia de gerar. Os judeus ainda hoje são odiados porque o mataram mas há quem diga que isso foi uma calúnia dos que se estabeleceram com a nova religião e queriam substituir a antiga.

18 thoughts on “Naquele tempo…_1”
  • Coringablack

    Escrito assim fica mais realista que a versão original. Convincente.

  • Tradicionalista

    Para secundar a fraseologia prosaica usada pelo articulista( ” o puto nunca mijou”), pode-se apropriadamente dizer que tanto cagou que este texto ficou uma valente cagada.

    • snope

      Quererá dizer: nunca abriu o fecho das calças nem puxou autoclismo?
      Deitar as culpas nao deixa de ter algum sentido: nao sei se o castigo correspondeu a lei, mas a investigacao foi um pilim aldrabada …

    • HAMONBAAL

      Agora a sério.

      Deus, quando andou entre nós, mijou e cagou ?

      E uns peidinhos por debaixo da túnica ?

      Terá isso a ver com o episódio do bálsamo perfumado que tanto irritou judas ‘

      • Tradicionalista

        A sério mesmo?

        Se eu fosse um agnóstico, ou um ateu envergonhado, diria que ninguém pode provar que Deus não existe.

        • GriloFalante

          E tu consegues provar que ele existe?
          Mas sempre te adianto que EU provo-te que deus não existe. Basta que TU me proves que não existe um papagaio invisível no meu ombro direito.
          Ou será o esquerdo?

        • HAMONBAAL

          Não sei o que tem isso a ver com o que eu estava a dizer.

          Mas como já estou habituado a falar e a que me respondam com coisas que nada têm a ver, só para fugir à questão, também já não levo a mal.

          Portanto descobriste agora que os agnósticos não negam a possibilidade da existência de deus.

          Parabéns.

          Estou impressionado.

  • Ateu sim, e daí ?

    Brilhante resumo ‘ istórico’ do sr. Esperança. Resumiu toda a treta do véio e do new testament em poucos parágrafos. Parabéns.

  • Citadino

    “Preveniu-os de que não se aproximassem da árvore do conhecimento”

    O fascínio pela estupidez já vem de longe…!

  • veradictum

    Brilhante. Gostei muito. Obrigado Carlos Esperança. Continua em grande forma.

  • GriloFalante

    Imparável, Carlos. Irónico e assertivo.
    Eu sempre defendi que o humor é uma forma superior de inteligência. Não é por acaso que os crentes são tão mal-humorados.

    • snope

      Gostei da 1ªparte. 
      Conheco crentes bastante bem humorados. E sem fixacao na tematica religiosa. 

  • Roberto Quintas

    Fonte: http://betoquintas.blogspot.com.br/2012/05/religiao-elemento-propulsor.html
    Religião – elemento propulsor

    Longe de se prender à ignorância e à covardia, a
    Religião tem sido sempre poderoso estímulo da cultura: verifica-se que as grandes
    conquistas da civilização no decorrer dos séculos foram empreendidas
    primeiramente por interesses religiosos. Para ilustrar isto, os geógrafos
    apontam longa série de instituições culturais que a Religião inspirou ou, ao
    menos, fomentou pujantemente:

    a) A casa. O domicílio
    do homem difere do ninho ou do antro do animal irracional não só por sua
    complexidade, mas principalmente por ser em seus primórdios um santuário
    religioso. Com efeito, o tipo característico da casa entre os romanos, por
    exemplo, se deve ao culto do fogo sagrado, fogo junto ao qual residiam os deuses
    Lares e Penates; para defender dos profanos o fogo santo, os homens construíram
    em torno dele um enquadramento, no qual aos poucos conceberam
    a ideia de estabelecer sua própria residência. Algo de
    semelhante se deu entre os gregos, os quais diziam que o fogo havia ensinado os
    homens a construir seu domicílio. O fogo parece ter entrado nas casas em geral
    primeiramente a título religioso; só posteriormente foi dentro de casa utilizado
    para fins domésticos (aquecer, cozinhar…); ainda há tribos antigas que deixam
    a cozinha com o seu fogo fora de casa, só introduzindo no domicílio o fogo
    de caráter religioso. – Numerosos são
    os vestígios de crenças religiosas na arquitetura e na
    localização das casas, na disposição de portas, janelas e poços, entre os
    diversos povos.

    b) As cidades. Também a formação e a configuração das cidades
    foram fortemente inspiradas por motivos religiosos. Era em torno de um templo ou
    de um recinto de culto que se ia aglomerando a população de uma região, dando
    assim origem a uma aldeia ou cidade; Enéias, por exemplo, fundou a cidade de
    Lavinium, levando para o santuário do mesmo nome os deuses de Tróia; na Idade
    Média era em torno de uma igreja situada no alto de uma colina, ou em torno de
    um mosteiro, que frequentemente se
    fundavam as cidades (tenham-se em
    vista os nomes compostos com moutier, mosteiro: Romainmoutier, Moyenmoutier,
    Noirmoutier…; em alemão Münster…).

    Observe-se também
    que desde cedo se foram construindo cidades entre os egípcios, os mesopotâmios,
    os cretenses, porque a religião lhes favorecia; julgavam que os deuses queriam
    cidades; as grandes cidades gregas nasceram em período de efervescência
    religiosa. Ao contrário, os germanos, os celtas, os albaneses só tardiamente
    conheceram cidades, porque a sua sabedoria religiosa não as fomentava; foram não
    raro estrangeiros que entre eles fundaram as cidades.

    c) A agricultura. Foi
    também muito estimulada por concepções religiosas, que atribuíam a certas
    plantas um valor sagrado ou uma função qualquer no culto. Tal foi o caso da
    figueira, que na índia traz o nome de fícus
    religiosa; os gregos diziam
    que o figo era símbolo de iniciação a melhor vida. A oliveira gozou de
    semelhante estima. – O ópio, ao contrário, sendo proibido pelo
    budismo e o islamismo, é cultivado com estranha irregularidade no
    Oriente.

    d) Os animais. Também
    não poucos animais têm recebido veneração religiosa. Em vários casos a passagem
    do animal selvagem para o estado de animal doméstico se fez mediante o estado de
    animal sagrado. O elefante, por exemplo, antes de ser animal doméstico, era
    animal sagrado na índia. No antigo Egito, os gatos
    sagrados eram numerosíssimos (descobriram-se milhares de múmias desse felino); julga-se com
    probabilidade que foram domesticados por constituírem objeto de culto
    religioso. Outros animais entraram no convívio do homem, a fim de honrarem a
    Divindade pela sua beleza; assim a íbis, no Egito; o pavão, na índia; o gamo, no
    Japão.

    e) A indústria. Não
    menos profunda é a influência benéfica da Religião no desenvolvimento da
    indústria. A fabricação de laticínios, por exemplo, está em grande parte a
    serviço do culto no Oriente; nos templos do Tibete centenas de lamparinas ardem
    dia e noite, alimentadas por manteiga; os “lamas” têm o rosto, as pernas e as
    mãos untados com manteiga. A fabricação do papel e do livro têm dependido muito
    das necessidades do culto e da piedade; o mesmo se dá com os têxteis e a
    metalurgia.

    f) O comércio. Está claro que as aglomerações vultosas de fiéis
    motivadas pela religião acarretam intensificação benéfica do comércio; as
    primeiras moedas eram objetos estimados por seu caráter ritual ou
    seu valor religioso. A contabilidade dos bancos e escritórios tem suas origens
    nos templos da Mesopotâmia, onde os sacerdotes, movidos por respeito sagrado,
    faziam o inventário de tudo que dizia respeito ao culto e ao sustento do
    templo.

    g) Os
    transportes, as vias e as pontes devem grande
    parte do seu incremento ao fervor religioso de peregrinos e missionários. Não
    raro a afluência a determinado santuário provocou a abertura de estradas, assim
    como a multiplicação e o aperfeiçoamento de veículos. – Em particular, as pontes
    têm sido obras de sacerdotes ou de pessoas dedicadas a Deus. Com efeito, os
    romanos pagãos, por exemplo, julgando que os rios tinham algo de agrado,
    reservavam a construção de pontes a um grupo especial de sacerdotes. Entre os
    cristãos da Idade Média, era a caridade que levava os fiéis a formar confrarias
    construtoras de pontes: havia os “Irmãos Pontífices”, aos quais se devem as
    pontes de Avinhão e do Espírito Santo, sobre o Ródano (França).

    h) Por
    fim, note-se outrossim que no surto
    das artes está em geral a inspiração religiosa; as primeiras peças
    literárias das antigas e modernas civilizações são documentos religiosos;
    costumam estar redigidos em poesia, que é a forma literária mais correspondente
    ao entusiasmo sagrado (tenham-se em vista, por exemplo, as obras de Homero e dos
    “teólogos” gregos). A pintura e a escultura não são menos tributárias à
    Religião.

    Em suma,
    registra-se o seguinte: sempre que nos é dado observar as origens ou as fases
    iniciais de determinada cultura, verificamos que as suas diversas manifestações
    estão todas indistintamente fundidas com a Religião; é no seio materno da
    Religião que elas nascem e por muito tempo são nutridas.

    Donde se
    vê que considerar a Religião como algo de pré-lógico ou como produto da covardia
    do homem significa, de certo modo, lançar uma nota de desprezo sobre a própria
    cultura humana, que nasceu no seio da Religião.

    Vêm a
    propósito aqui as observações de famoso geógrafo
    contemporâneo:

    “A maioria dos homens atesta sobre a Terra a existência do
    sobrenatural; a espécie humana, em graus diversos, mas de maneira geral, é
    religiosa; esta, aliás, vem a ser uma de suas características; o “homo faber et sapiens” é também primordialmente
    um homo religiosus. Por obra dele, a terra está impregnada de religiosidade.
    A pujante tarefa cultural dos homens não foi efetuada somente em vista
    da instalação da espécie humana sobre o globo, mas parte muitas vezes grandiosa
    desses esforços foi empreendida mais ou menos diretamente a fim de proclamar ou
    exaltar a existência de seres sobrenaturais ou sagrados…

    A religião nos aparece como um dos grandes fatores que
    transformam a face da Terra e, em qualquer caso, como o motivo de
    atividades caracteristicamente humanas… À semelhança do homem, o animal (irracional) lutou
    contra os elementos da natureza; mas o que somente o homem fez, foi dar vulto à
    ideia da Divindade sobre a face do globo. A Geografia religiosa vem a ser a
    Geografia mais especificamente humana…” (P. Deffontaines,Géographie et
    Religions. Paris 1948,
    8.12).

    4. Conclusão

    A
    religiosidade é um elemento integrante da pessoa humana. O homem bem pode ser
    considerado um peregrino do Absoluto, um viandante rumo ao Eterno e
    Infinito. Até os materialistas marxistas procuram um novo estado de coisas e a
    plena satisfação de seus anseios através da mística do martelo e da foice. Os
    atritos que a religião causou entre os homens se devem, em grande parte, à
    valorização dos bens espirituais, que os antigos e medievais julgavam ser
    superiores aos bens materiais. A religião inspirou a entrega de tudo, até da
    própria vida, para não renegar o Valor Supremo que é Deus. Quando se avalia o
    passado, não se pode deixar de levar em conta esse traço próprio da mentalidade
    de nossos ancestrais.

    Acontece, porém, que esse elemento integrante da pessoa humana
    – o senso religioso – não pode ser cego ou desligado da razão. É esta que
    distingue entre si fé e crendice. É com a inteligência que o homem crê, e não
    com os olhos da mente fechados pela cegueira do sentimentalismo ou das emoções.

    Autor:
    Estevão Bettencourt

    • Ateu sim, e daí ?

      MUITO OBRIGADO !
      Importantes informações seus ateus inguinorantis.
      Os alemãos são uma subespecie humana dos mais burros !
      Nós descubrimos u fogo premeiro para adorar ele; dispois de adorar tamem usamu       para afastar as fera e podemu cunzinhá.

      Será realmente que estes crentes débeis acham que são geniais e os pobres ateus são iletrados ?
      O ctr-c ctr-v do indivíduo acima chega a ser vergonhoso. O caboclo deveria pelo menos ler o texto copiado; evitaria passar vergonha.
      Religião serve apenas para uma meia dúzia de come-quieto poderem se alimentar se ter que trabalhar.
      Patético, pateta.

  • carpinteiro

    A saudade que eu já tinha deste e outros textos do Carlos!
    Só falta acrescentar: «… e desde que lhe furaram os pés nunca mais caminhou sobre a água…» –  esta não é minha mas de um dos muitos textos com que os Carlos nos mima; e da qual não me olvido.

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