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Compatíveis… pois…

John Haught, teólogo católico, é um dos defensores da tese de que a fé (católica) é compatível com a ciência. Jerry Coyne, biólogo ateu, é um dos defensores da tese contrária, de que ciência e religião não são compatíveis. No dia 12 de Outubro falaram ambos num simpósio sobre este tema, a compatibilidade entre ciência e religião.

John Haught fez o que os teólogos costumam fazer. Alegou haver várias interpretações metafóricas de crenças religiosas que não são incompatíveis com aquilo que a ciência propõe serem os factos. Que existe algo divino e transcendente, que há um sentido último, sempre misterioso, que o podemos sentir pela fé mas nunca compreender pela ciência e coisas assim. Mas evitou sempre a questão essencial. É irrelevante que seja possível fazer afirmações gratuitas que, não dizendo nada em concreto, também não contradizem a ciência. Ou o que quer que seja. O problema é que a ciência não é compatível com a decisão de ter fé em tais coisas.

O Jerry Coyne perdeu algum tempo a falar dos malefícios do cristianismo, o que não é muito relevante para a questão de ser ou não compatível com a ciência, mas focou o principal. A ciência é um processo que usa a dúvida para evitar encravar nos erros. Principalmente no auto-engano. Se questionarmos qualquer alegação, procurarmos hipóteses alternativas e só cedermos a nossa confiança, com relutância e provisoriamente, àquelas hipóteses que a isso nos obrigarem pelo peso das evidências, sempre vamos corrigindo os erros. Não podemos evitar errar, mas pelo menos temos a possibilidade de notar quando erramos e a disposição para o admitir e escolher alternativas. E isto é incompatível com a fé. A fé é a confiança dedicada e persistente na crença de que as coisas são como se julga. A ciência é a dúvida rigorosa e sistemática que vai moldando as crenças àquilo que as coisas são.

O vídeo das duas intervenções está disponível no site do simpósio (1). Mas foi por pouco. Numa atitude pouco compatível com o debate aberto que é essencial em ciência, e mais próxima da prepotência que as religiões manifestam sempre que podem, John Haught inicialmente impediu a divulgação do vídeo (2), alegando que «a discussão em Kentucky raramente se elevou ao nível de um encontro académico»(3). Apesar de ser apenas um incidente pontual, esta atitude de Haught é mais um exemplo da incompatibilidade entre querer saber e ter fé que já se sabe. É verdade que há cientistas religiosos. É verdade que se pode apresentar algumas crenças religiosa de forma tão vaga e abstracta que nada as possa contradizer. Mas a disposição para ajustar as ideias às evidências é incompatível com a dedicação incondicional a uma crença.

Em simultâneo no Que Treta!

1- 2011 Bale-Boone Symposium Videos, Science and Religion: Are They Compatible?
2- Why Evolution is True, Theologian John Haught refuses to release video of our debate
3- Why Evolution is True, Under pressure from blogosphere, Haught explains and relents

15 thoughts on “Compatíveis… pois…”
  • Anónimo

    Naturalismo fisicalista reducionista é um posição filosófica entre tantas. Mas também esta possui as suas inferências metafísicas. Voltando ao Dennet, reafirmo o que já, em anterior comentário, sustentei:

    “Para Dennett, os estados interiores de consciência não existem.O ” teatro cartesiano”, para ele, é também total ficção. A consciência não ocorre em nenhum lugar do cérebro, mas numa mera sequência de inputs e outputs, onde toda a informação se move.

    Quer dizer, aqui também ironizando, somos ” sómente” uns  especiais computadores. Dennett chega ao desplante de ver a Evolução como uma mero processo algorítmico e de
    pensar o ser humano como uma espécie de ” máquina de Turing”. No essencial, para Dennett, nós somos umas sofisticadas ” máquinas de escolhas”, programadas evolutivamente para optarmos entre aquilo que já está determinado. Podemos escolher entre dois caminhos, mas já não temos alternativa para optarmos pela terceira via. Como se estivéssemos numa
    prisão, com duas portas que dão para um pátio com muros muito altos. A isso ele chama compatibilismo entre o determinismo e a ” liberdade”. Mas, seja qual for a porta que abramos, acabamos sempre por ir parar ao mesmo pátio. ”

    Você fala muito em ” ciência”, Ludwig, mas ciência incontroversa só conheço uma:a matemática. Aí você pode falar na matemática, enquanto disciplina científica uniforme. Mas nas demais ciências não. Há tantas correntes científicas, em que cada área do saber, que nelas não é viável encontrar um padrão uniforme e consensual.

    Exceptuando, portanto, o caso excepcional da matemática, o que há mais são correntes científicas controversas.

    Daí que não faça sentido você estar sempre a bater na mesma repetitiva tecla: tentar validar pela ” ciência” o que é apenas filosoficamente equacionável.

    Aliás, não deixa de ser curioso, retomando Dennet, que sendo o Naturalismo fisicalista reducionista não uma ciência, mas uma corrente filosófica, queira esta aferir a validade da metafísica teológica.

    Grande parte das proposições do Dennett são palpites metafísicos, na medida em que ele não os consegue demonstrar, por via do método científico, no entanto atreve-se a asseverar a sua conformidade com a realidade. Desde quando é que está aceite na globalidade da comunidade científica, por exemplo, que o pensamento é mero produto das redes neuronais ? Não está, é mero palpite metafísico do Dennett.

    Mas então se ele, usando da sua específica mundividência filosófica, metafísica, pode não acreditar em Deus, porque razão não há-de um cientista acreditar na existência de Deus ?

    Por vezes, os planos confundem-se, é verdade. Mas isso é tão válido para o deísta e cientista Einstein como para o zoólogo e ateu Dawkins. Para o Einstein a origem do Universo pressuponha a existência de Deus. Para Dawkins não.

    Einstein postula como mais lógico admitir essa Causa Primeira do que as derivas do Cego Acaso.

    Dawkins aposta nas leis cegas da Física.

    São apostas meramente lógico-dedutivas e intuitivas que não estão sujeitas ao domínio da prova científica.

    Cada qual tem as suas crenças. Até o Dennett quando nos equipara às máquinas de Turing.

  • Anónimo

    “Mas a disposição para ajustar as ideias às evidências é incompatível com a dedicação incondicional a uma crença.”

    LK

    Isso de ” evidência” tem muito que se lhe diga Ludwig. “Evidência” objectiva não existe, a não ser no  âmbito de ciências absolutamente exactas.

    E mesmo aí, só em casos bem delimitados, fora do domínio das constantes controvérsias.

    Se 2+2= 4, creio que ninguém discute. É evidente. Mas, se eu sou crente, em que é que essa fórmula matemática apodíctica entra em crise por causa da minha crença em Deus ?

    Tantos reputados cientistas foram e são crentes. Em que é que o Francis Collins foi menos competente na direcção do programa do genoma humano por acreditar em Deus ?

    Aquilo que você chama ” evidências” é também muito controverso.

    Voltando à máquina de Turing do Dennet ou à teoria dos memes do Dawkins, todas essas construções mentais são meramente especulativas.

    Onde está a ” evidência” de que nós somos uma programadas ” máquinas de escolhas” ? Ou que são os nossos ” genes egoístas” a determinarem os nossos comportamentos ?

    Você produz muitas frases assertivas, mas aqui ficou-se pelo mero enunciado.

    • Ateu sim, e daí ?

      2 + 2 = 1 módulo 3
      2 + 2 = 10 base 3.
      é o que dá o sujeito ignorante falar sobre o que não conhece.
      Limite-se à religião; lá você pode falar asneiras como bem entender; seus colegas aceitam qualquer bobagem.

      • Ateu sim, e daí ?

        2 + 2 = 11 base 3  Correção.

        • Alb B

          Uuuhhh…. os ateus afinal enganam-se.

          estava a ficar preocupado em ter de assumir infaibilidade ateia.

      • Alb B

           Os ateus não são preconceituosos, mandar alguém embora de um debate, só mostra a liberdade de pensar e a força do argumento…

        • Ateu sim, e daí ?

          vinha dizer algo, mas esqueci….
          copiei o seu coleguinha pois essa observação foi tão inútil quanto.

  • José Gonçalves Cravinho

    Eu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote(87anos),sinto-me um intruso no meio dêstes filósofos que sabem «jogar»com as palavras.Eu admito em meu pensamento que haja quem creia na existência de Deus,mas o que não posso conceber é que haja quem se atreva a definir Deus,e pior um pouco,que se atreva a dizer que falou com êle como o Moisés,e que dêle recebeu as Tábuas da Lei ou seja os Dez Mandamentos dos biblico-judaico-cristãos.E é nesta  Vigarice que se baseia a biblico-judaico-cristã Religião que os Vigários de Cristo pretendem impingir à Humanidade desde há milénios.E esta Vigarice está consagrada nos Direitos Humanos.Mas afinal
    a Vigarice é uma Fraude,um Crime.Até um frade franciscano disse pùblicamente que o lendário
    judeu Jesus,era doido.Mas se Jesus é o filho de Deus como ensina a Igreja,então como pode ter sido doido?!Gostaria de poder perguntar a êste frade por onde é que teria andado o judeu Jesus
    desde os 12 anos quando êle no Templo deixou espantados os escribas e sacerdotes,até ao seu reaparecimento em público e já com 30 ou 33 anos,como ensina a Igreja?!Consta que êle teria ido numa caravana de mercadores até à India e lá aprendeu artes de magia,hipnotismo e outros truques de prestidigitação a que o Povo chamava milagres.Regressado à Palestina prègava uma Religião que foi considerada herética pelos judeus ortodoxos e foi denunciado como um revolucionário inimigo do Império romano.Se o tal frade franciscano,acredita,como deve,que o
    lendário judeu Jesus era filho de Deus e que veio ao Mundo para sofrer e morrer para remir o pecado original de Adão e Eva como ensina a Igreja,então eu pergunto:
    Que Deus é êsse assim tão mau/tão cruel,tirano e sanguinário/que se porta pior que um marau/ e mata o «filho»no Calvário??!!

    • Ateu sim, e daí ?

      resposta> nenhum. tal coisa não existe. 
      Existe melhor comércio que a religião ? vende-se uma mercadoria por preços absurdos e que não há nenhuma promessa de entrega.Em relação aos comentários que o senhor fez sobre o filósofo piradão (o doido acima)- ele define deus e conversa com ele, trata-se do seguinte:é uma arapuca, se alguém perde tempo tentando trilhar esse caminho acaba com a impressão de que algo importante foi dito, mas na verdade não tem nada de útil; são palavras ao vento.O sujeito aí de cima gosta de escrever muito, mesmo que seja temas etéreos.Ele gosta de prosear sobre o nada.
      O senhor não é intruso nessa conversa; o piradão, sim.

      • Alb B

          Como livre pensador tenho algumas questões:

        a) porque é que o oponente é sempre um ‘piradão’ ou outra qualquer designação humilhante;

        b) onde está a contra argumentação ao  que foi afirmado pelo piradão;

        c) onde está a fundamentação de apoio ao artigo em post.
         

          É que os b) e c) eram explorações inteligentes, mas o resto… é mais desabafo.

             Tenho a sensação que a malta se esquece muito do pensamento, e tem uma ideia muito inconsistente de liberdade.

        • Ateu sim, e daí ?

          não venha com essa conversa. você não quer argumentação ! só está a fim de encher o saco !
          se você fosse sério não usaria a cada instante uma camisola diferente.
          Está tomando conta do seu maninho anTOLO ? é o pai dele ? ou será outro milagre de multiplicação ? talvez o três-em-um da geringonça ?

    • Alb B

        … às vezes o ateímo parece-se com a religião: uma amálgama de historietas, uns sentimentos de revolta mal contida e muito desconhecimento.

           também não sei se a liberdade de religião deveria estar consagrada nos direitos humanos, mas gostava de ouvir falar no assunto…

      • Kavkaz

        Alb B, andas a ver e a raciocinar mal…

        Dás ideia de beberes muito “sangue de Cristo” e isso fez-te mal ao cérebro.

        Estás muito mal informado. É da religião assombrada por deuses!

      • Ateu sim, e daí ?

        gostei da definição de religião : ”  uma amálgama de historietas, uns sentimentos de revolta mal contida e muito desconhecimento.  ”
        Muito bem. boa definição.
        Que bom que até os crentes se apercebem disso.

  • Strange

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