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As perplexidades do Direito Penal

A história que o «Diário de Notícias» nos conta já não é nova, mas mantém ainda toda a actualidade: o Tribunal de Santo Tirso condenou a dois anos e meio de prisão, embora com a execução da pena suspensa, o “falso padre” que durante quatro anos celebrou missas, casamentos, baptizados e funerais em todo o país, inclusive na Sé de Braga.

Pelo que lemos na notícia, o falso padre foi punido porque burlou três pessoas a quem tem agora de indemnizar e pedir desculpas.

Muito bem!

Mas, ao que parece, o sujeito foi também punido por “usurpação de funções” e porque “lesou a fé das pessoas”.

E é aqui que a porca torce o rabo:

Em primeiro lugar porque a sentença judicial não nos explica o que raio é isso de “lesar a fé das pessoas”. Até agora sempre pensei que a «fé» era algo que existe ou não existe. E que, quando efectivamente existe, não há força humana – nem sequer divina – que consiga “lesar”.

Em segundo lugar, porque a sentença judicial parece estabelecer que para “lesar a fé das pessoas” é preciso uma autorização, assim uma espécie de alvará, que se obtém depois da frequência de um curso num seminário qualquer, depois do qual se adquire o título de padre, diácono ou sacerdote, ou lá o que é isso, ou ainda mais sugestivamente de “vigário”.

Com efeito, nunca vi nenhum “vigário” ser punido por “lesar a fé das pessoas”, quando lhes leva dinheiro para lhes tirar os pecados ou, com o único fito de lhes extorquir o dinheiro que têm, e até frequentemente o que não têm, as tenta convencer a peregrinar a um sítio onde a mãe virgem de um carpinteiro judeu que viveu há dois mil anos apareceu no cimo de uma azinheira para transmitir mensagens idiotas a três pastores atrasados mentais.

Deve ser porque tem alvará…

Em terceiro lugar, porque o “falso vigário”, passe a expressão, foi também condenado por “usurpação de funções”.

E é aqui que reside a maior perplexidade:

Será que é possível punir criminalmente por “usurpação de funções” alguém que se faça passar por psíquico, médium, parapsicólogo, astrólogo, tarólogo, vidente, vedor, padre, bispo, cardeal ou Papa, etc., etc., ou até mesmo por “médico” homeopata?

Como pode alguém “usurpar” coisas deste… género???

Ao mesmo tempo que deveria ser condenado por burla e a indemnizar as pessoas a quem extorquiu dinheiro, não deveria antes ter sido o homem condecorado – e agraciado com um subsídio estatal – por mostrar aquilo que é tão óbvio que deveria entrar pelos olhos dentro das pessoas?

De facto, não deveria alguém ser legalmente punido por “usurpação de funções” somente quando essas funções tivessem um mínimo de dignidade para merecer a atenção da lei penal quando eventualmente fossem “usurpadas”?…

 

 

40 thoughts on “As perplexidades do Direito Penal”
  • Carlos Esperança

    Argumentação impecável.

    • MO

      Argumentação impecável?
      1) Se entender o papel do padre na comunidade religiosa e a sua função de alimentar e desenvolver a fé dos crentes, percebe logo o que é lesar a fé de alguém.

      2) Claro. É preciso formação para ser padre. E é também preciso o Sacramento da Ordenação. Não sabia?

      3) O homem não era padre, fez-se passar por um. Logo, usurpou essas funções.

      • TonyBOBO

        Argumentação impecável !1) Se entender o papel do padre na comunidade religiosa e a sua função de  SE alimentar  DA   fé dos crentes( e da carteira,  e da mesa)  percebe logo o que é lesar a fé de alguém.2) Claro. É preciso formação para ser padre, palhaço, mágico e ilusionista  E é também preciso o Sacramento da Ordenação oferecido pela university of pilantragem romana, também conhecida como santa ladra igreja. Não sabia?3) O homem não era padre, fez-se passar por um. Logo, usurpou essas funções. O que muito irritou  a icar, pois ladrões e pilantras odeiam concorrência.

        • Jolgado

          «O que muito irritou  a icar, pois ladrões e pilantras odeiam concorrência.»Então foi por isso que tu (e os membros deste blogue) te irritaste   pois a Igreja não fez nenhum o escândalo que tu fizeste. 

          Afinal, parece que o gajo era ateu disfarçado. O que não é coisa rara. 

      • Anónimo

        1 mentiroso usurpou a função de um mentiroso….

    • JoaoC

      Perseguição implacável.

      Porcos.

  • Perguntar Não Ofende

    Padre é profissão ?

  • Anónimo

    a condenação desse “padre” nao passa de uma farsa judicial grosseira!!!

  • Melis

    Parabéns! Argumentação impecável, perfeita, elogiável.e oportuna.

  • Anónimo
    • Jolgado

      Esse é um “culto” do mundo do futebol, com uma formação igual à tua. Onde está um comentador ou agente desportivo que seja decente, com educação, minimamente culto ou que seja útil à sociedade?
      ONDE?

  • Ret 001

    Acho que, como jurista, fizeste o comentário mais desonesto e imbecil que alguém poderia fazer.

    Eu não acredito que, de boa-fé e honestamente, fosses capaz de defender isto em tribunal.

  • Joaquim Silva

    O texto do Luís Grave Rodrigues enferma de um óbvio erro de interpretação jurídica. O crime de usurpação de funções depende, ou de abusiva apropriação de funções de taxativos cargos públicos ou de profissões. É elementar que um sacerdote não exerce a ” profissão” de padre. Logo, se alguém se faz passar por um padre não pode incorrer em crime de usurpação de funções. Isso é elementar, qualquer mediano estudante de direito o sabe. Se o indivíduo em questão usou desse estratagema para vigarizar outras pessoas, entende-se que tenha sido condenado por crime de burla, mas não pelo de usurpação de funções.

    • Anónimo

      Tanto quanto li, quem cometeu o erro de interpretação jurídica não foi o LGR, mas sim o juiz que condenou o falso padre. Pelo menos, é o que eu deduzo do texto. O LGR limita-se a fazer crítica, aliás contundente, ao facto. Leia-se:
      “Será que é possível punir criminalmente por “usurpação de funções” alguém que se faça passar por psíquico, médium, parapsicólogo, astrólogo, tarólogo, vidente, vedor, padre, bispo, cardeal ou Papa, etc., etc., ou até mesmo por “médico” homeopata?”

      • Jolgado

        Continua a lista, professor, investigador, analista, jornalista, jurista, jogador, contabilista, engenheiro (isso até o Sócrates fez e não foi considerado crime!), motorista, piloto, etc, etc, etc, etc.

  • Anónimo

    Ao que sei, os “sacramentos” concedidos pelo falso padre, vão ter de ser validados. Ou seja, os casais vão ter de voltar a contrair matrimónio, os baptizados vão ter de o ser de novo… Infelizmente, ninguém falou dos falecidos. Mas julgo que vão ser exumados, para a respectiva extrema unção ser, também ela, convalidada. Os que foram cremados é que é mais complicado… 
    Confesso, no entanto, a minha ignorância quanto às missas do 7º dia e às do mês. Mas presumo que os respectivos padres vão devolver o dinheiro recebido, já que nada disso tem valor, perante o facto de os falecidos terem ido para debaixo da terra sem o sacramento validado.

    • Jolgado

      Estupidez e ignorância tua, pois laicos também podem administrar sacramentos, de acordo com os cânones.  

      • Anónimo

        “Estupidez e ignorância tua”
        Obviamente, és ateu. Os ateus é que costumam insultar, ao que dizem.
        Se o homem é laico e pode ministrar sacramentos, por que carga de água foi julgado e condenado? Se não podia ministrar sacramentos, a que propósito foi a tua intervenção?
        Será que, à moda do Toninho, aka xpto, aka perguntar não ofende, aka etc, também tens de marcar território, mijando pelos cantos?

        • Jolgado

          “Estupidez e ignorância tua” –ao quadrado.
          A questão põe-se de duas formas que tu ainda não atingiste.

          São válidos os sacramentos ministrados por um leigo (ou laico)?
          Sim, podem ser, desde que obedeçam ao que está previsto nos Cânones.
          É uma questão de Direito Canónico, tal como qualquer outra condenação religiosa a que venha a ser sujeito.

          Por que foi julgado e condenado?
          Não conheço o processo, portanto não tenho certezas sobre matéria de facto e prova produzida.
          Seguramente, estava a exercer funções para as quais não tinha formação, nem reunia condições para o exercício legal das funções que desempenhava. Lesou aqueles a quem enganou, fazendo-se passar por quem não era. Mas, também pôs em causa a autoridade  eclesiástica e ao mesmo tempo defraudou o Estado, pois, não sendo padre, as suas “cerimónias” não estavam legalmente enquadradas na Concordata, nem isentas. 

          Não é caso raro no nosso país, ondejá tivemos médicos, dentistas, juristas, solicitadores, professores, etc. que não o sendo, exerceram a actividade, inclusive em organismos públicos de referência, de forma abusiva e durante muitos anos.

          O que é absurdo e estúpido é o Luís Rodrigues aceitar estes casos como normais e não ver neles gravidade. Quem defende opiniões deste tipo, tem caracterizada toda a sua personalidade e carácter. Não é necessário mais nada. 

          • Anónimo

            Mas ouve uma coisa, ó cretinoide compulsivo: quem foi que disse que os leigos não podiam sacramentar? A que propósito veio essa conversa? Foste tu que vieste com essa anedota, meu estúpido militante e impenitente!

          • Jolgado

            Grande palerma estúpido, quem escreveu isto.
             «Ao que sei, os “sacramentos” concedidos pelo falso padre, vão ter de ser validados. Ou seja, os casais vão ter de voltar a contrair matrimónio, os baptizados vão ter de o ser de novo…»

            O que não é verdade, disse eu.

          • Anónimo

            O que é verdade, digo eu – e disse-o um responsável pela seita icariana, na TV, para quem o quis ouvir. O homem não estava mandatado para ministrar sacramentos – se o estivesse não tinha sido condenado. Por isso, os sacramentos ministrados passam a escrever-se com aspas, porque não têm qualquer valor. Desculpa se isto é muito complicado para a tua parca capacidade de raciocínio, pois compreendo que tudo o que vá para allém do que diz a bíblia ou o padre é excessivo para a tua mente. No entanto, e por mera crueldade, prossigo com a explicação: As situações – casamentos e baptizados – terão de ser validados “a posteriori”, o que se compreende. Só não se sabe o que vai acontecer nos mortos, mas isso é outra conversa.
            Desculpa por este texto tão longo, que te vai obrigar a um esforço suplementar do cérebro, coisa a que não estás habituado. Se começares a sentir cãimbras nos miolos, toma magnesona.

  • Jolgado

    «depois da frequência de um curso num seminário qualquer, depois do qual se adquire o título de padre,»
    A formação de um padre é superior, mais completa e demorada do que a de um advogado. Deve advir daí a tua rivalidade.

    «somente quando essas funções tivessem um mínimo de dignidade para merecer a atenção da lei penal»
    Continuas a falar de ti e não dos padres. Que dignidade tem um advogadozeco que vive a chular os desgraçados que recorrem à justiça ou a defender bandidos, violadores, assassinos, ladrões, burlões, pedófilos (se não forem padres…), etc?
    Já olhaste bem para a tu profissão?
    Os padres que conheço, têm profissões dignas: professores, médicos, engenheiros, arqueólogos, historiadores, etc,    

  • Kavkaz

    O falso padre conseguiu enganar muitos crentes e até as organizações religiosas. Repare-se que não se queixaram dele a tempo e horas…

    Quanto mais farão o mesmo nesta altura?

    • Jolgado

      Recordas-te, por exemplo, do caso ainda recente de um médico que até foi chefe de serviço hospitalar e nunca estudou medicina…

      « Repare-se que não se queixaram dele a tempo e horas…
      Quanto mais farão o mesmo nesta altura?»
      Estás um pacóvio!

      • Kavkaz

        Jolgado, tu é que acreditas na vigarice da religião e eu é que sou pacóvio?

        Espera sentado pela vinda de Jesus Cristo. Os pacóvios, como tu, morreram ao longo dos séculos e não lhes serviu de nada esperarem pelo teu falso herói. Espera pacóvio!

        A tua Igreja Católica anda a dormir ao permitir que falsos padres façam missas, casamentos e baptizados e funerais. E tu tens a lata de me acusar a mim. Então a laxista da tua Igreja será o quê? A pernas abertas?

        P.S. Se queres criticar o Estado critica, mas a laxista da tua Igreja não é exemplo para ninguém! Percebes Jolgado pacóvio ao quadrado? 

        • Jolgado

          A tu estupidez não te deixa abrir os olhos. És um alienado. Um gajo com mania da perseguição a ver mal em todos os lados, quando o grande mal está na tua cabeça. 

          Fazes afirmações tão estúpidas como esta: «A tua Igreja Católica anda a dormir ao permitir que falsos padres façam missas, casamentos e baptizados e funerais. » e ainda queres que alguém te trate como um ser normal. 

          O que é que tu sabes da minha vida privada para dizer «A tua Igreja Católica» ?
          Não será, pelo contrário, a tua igreja, contra a qual te revoltaste porque não te deram autorização de fazer as palermices que tu querias?

          Se o Estado do teu país permite que um burlão exerça a profissão de médico durante muitos anos, sem detectar que ele nem tinha cursado medicina, se o Estado do teu país permite que um burlão seja professor durante muitos anos, passando por concursos, Se um burlão consegue ser jurista de profissão sem qualquer formação… como tens a cara de pau de achar que a Igreja é culpada de ter um burlão que a enganou?
          Não és tu, também, um burlão religioso?
           

          • Kavkaz

            Jolgado, explica-nos lá como é possivel um padre entrar na Igreja Católica e dar missas, fazer baptizados, casamentos e funerais e não haver nnguém que tivesse notado que ele era falso padre? Isso é possível? Parece que sim. É o bispo da região que não dava conta do embuste. Para o Jolgado tudo é possível na Igreja Católica e chama-me de alienado e não sei mais quê… Comparado com a tua Igreja Católica sou bem melhor e não escrevo a tua estupidez, isso mesmo, a tua ESTUPIDEZ!!!

            A pergunta que deixei é a de saber se não haverá outros mais nas mesmas condições, sem controlo de quem havia de evitar tal situação.

            No caso do médico a situação é idêntica. falta de controlo público. Não se percebe porque criticas o Estado e te esqueces de criticar a Igreja pelo mesmo erro.

            P.S. Não esperes pela vinda do Jesus Cristo que ele não vem. É mesmo ESTUPIDEZ acreditar na Bíblia e esperar pelo Dia de S. Nunca à noite!

  • Clgoncales

    é natural ter dificuldade de ver ( enxergar ) o mundo invisível, aposto que o pobre do padre julgado até agora não entendeu a diferença de nada com coisa nenhuma, aposto que até você que é muito católico ainda não entendeu, pois se tratando de fé e se seu Reino não é desse mundo, que tal ir até Marte, seria bem interessante!  

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