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O bug de Steve Jobs…

…chamava-se Budismo temperado com pitadas de balelas new-age. Na opinião de Ramzi Amri, cirurgião oncológico da Harvard Medical School, que tem estudado formas do cancro que afectou o ex-patrão da Apple, a recusa em receber tratamentos pela medicina cientificamente comprovada poderá ter sido a causa da sua morte prematura, como explica o cientista no Quora.

Devo alertar primeiro que este não é um artigo contra Jobs, mas uma breve reflexão sobre o que parecem ter sido as suas opções de tratamento. Aqui não é o lugar para discutir a importância de Jobs neste início de século, nem se os Mac são melhores do que os PC, ou se o Android é superior ao iOS; até porque, embora adore computadores, considero que ainda estamos na infância da informática e continuo a achar que são todos um grande monte de esterco adorável, sem excepção: nem uma mísera cópia-de-segurança do nosso cérebro podemos fazer ainda, por exemplo! Como bosta magnífica que são, não tomo partido por nenhum, o debate é infrutífero. E longe de mim cometer o erro de atacar imediatamente quem adora os produtos Apple ao ponto de ficar dias numa fila, pois estas questões são exactamente como a religião: cada um segue o culto que quer (ou não segue nenhum) e ninguém tem nada a ver com isso… Sim, pronto, foi uma tentativa de piada. Nunca desistir do sentido de humor. Adiante.

A questão aqui é tentar perceber como é que um homem com a formação de Jobs preferiu confiar nas «medicinas» alternativas em detrimento da Medicina. E é muito difícil encontrar uma resposta quando falamos de um homem que profere um discurso como este [vídeo com legendas em Português] e não nos concentrarmos na sua espiritualidade e na época em que a adquiriu — viagem à Índia incluída. É que, ainda por cima, e de acordo com Ramzi Amri, o cancro que afectou Jobs nem era particularmente mortal, nem tampouco era o demolidor cancro pancreático que os meios-de-comunicação social (sempre rigorosos nestas coisas) divulgaram exaustivamente, mas uma forma de carcinoma que, apesar de ter tido origem no pâncreas, faz parte de um grupo restrito de tumores neuro-endocrinais que têm um prognóstico de tratamento bastante favorável, bastando para isso removê-los. Sim, simplesmente, sem beber urina diluída milhentas vezes em água, ou engolir uma pastilha de Gingko-biloba concentrado com ameixa de Elvas. Leva-nos até a questionar se teria sido o mesmo Jobs que disse, naquele discurso: «Don’t be trapped by dogma — which is living with the results of other people’s thinking». Recordámo-nos de súbito que sim, pois uns minutos antes tinha dito que caminhava 11 quilómetros para ir comer ao templo de Krishna, aos domingos… Ele afirma também, nessa mesma comunicação, que tinha sido submetido a cirurgia e havia retirado o tumor. Pois, mas passados anos a tentar mezinhas e apenas em último recurso, quando já era tarde demais, levando-o, até, a ter que remover o fígado e ao célebre transplante que se seguiu.

Claro que, para ele, que passou pela doce juventude nos anos 70 e, por essa razão, tal como tantos outros homens e mulheres na sua faixa etária no mundo ocidental, não lhe foi fácil pôr de lado as idiotices orientais que os ácidos ajudavam a cimentar nas sinapses. Mas, claramente (e ressalvando o facto de que Ramzi Amri fala sempre do ponto de vista hipotético), isto é o que pode acontecer quando se deixa passar a Ciência para segundo plano e o «veneno» da irracionalidade, como lhe chamou Hitchens, continua a corroer por dentro, mesmo em mentes brilhantes.

Steve Jobs nos anos 70

Steve Jobs nos anos 70

 

Steve Jobs, infelizmente, não era nenhum cientista. Ele geria, na sua forma peculiar, a criação de objectos tecnológicos e, como grande gestor que era e com a sua visão ousada e conhecimento único do seu cliente-alvo, tornou a Apple numa das empresas mais poderosas do mundo, o que já não foi pouco e é louvável a todos os níveis. Da Ciência, lamentavelmente, ele só mantinha a confiança nos componentes que lhe serviam para fabricar os seus produtos, pois para o que realmente importava, preferiu ignorá-la.

Para quem enaltece o Budismo e as paranóias new-age quando em comparação com outros cultos, este caso devia dar que pensar. Conheço até ateus que nutrem simpatia pela religião do obeso e pachorrento filósofo oriental. Amigos, tenho uma novidade para vocês: a religião é religião, é religião, é religião, é religião, e sempre esteve podre tanto a ocidente como a oriente, por toda a face do orbe terrestre.

Há uma frase que Jobs proferiu em Stanford que, apesar de completamente retirada do contexto, resume tudo: «It was awful tasting medicine, but I guess the patient needed it.»

18 thoughts on “O bug de Steve Jobs…”
  • José Maria

    “Amigos, tenho uma novidade para vocês: a religião é religião, é
    religião, é religião, é religião, e sempre esteve podre tanto a ocidente
    como a oriente, por toda a face do orbe terrestre.”

    Raul Pereira

    O Budismo não é uma religião no sentido, pelo menos teísta, que habitualmente se atribui ao conceito ” religião”. Os budistas não acreditam na alma humana e, mesmo em relação aos estados mentais,falam deles como resultado de meros agregados físicos. Não há no Budismo, ontologicamente falando, nenhuma alma ou mente autónomas. E é preponderantemente ateísta, pois não fazem a menor referência à existência do Criador.

    O Budismo enfatiza os valores da Compaixão e da Bondade humanas e o respeito por todas as formas de vida.

    Não são proselitistas e não são conhecidas guerras cometidas em nome do Budismo.

    O Raul Pereira engloba o Budismo como culto religioso quando não o é e confunde a atitude do Steve Jobs com os princípios eticamente elevados do Budismo.

    É muita ignorância para um texto só.

    • Anónimo

      Diga isso aos seguidores de Ngo DInh Diem….

      • José Maria

        Então porquê ?

        • Anónimo

          você não sabe quem foi Ngo Dinh Diem???

          • jmc

            eu não

            podes explicar?

          • Anónimo

            Diem foi presidente do antigo Vietnam do Sul (1954 a 1963)… alcançou o poder com ajuda dos EUA (e vaticano… e cardeal Spellman)…. Diem tinha 1 irmão(Ngo Dinh Nhu) chefe da policia secreta e outro irmão… o arcebispo primaz do país (Ngo Dinh Thuc)… o governo Diem foi marcado pela corrupção, autoritarismo, nepotismo e intolerancia religiosa. Diem favorecia bastante a familia dele…. especialmente o irmao Nhu e a cunhada Madame Nhu. além de autoritário governo Diem privilegiava a igreja católica e perseguia o budismo(religião praticada por + de 80% do pais!!!). O piedoso cardeal Thuc(irmão de Diem) apoiava a repressão antibudista. Essa intolerância gerou a crise budista…. vários monges budistas foram presos e executados pelo governo…. alguns monges chegaram a se imolar em protesto contra a ditadura católica a exemplo do monge Thich Quang Duc. A cena da autoimolação dele em Saigon ganhou repercussão mundial… e os EUA tiveram que tirar Diem e Nhu do poder. Ironicamente o presidente dos EUA responsavel pelo fim do católico Diem era o também católico Kennedy! (Santa ironia!!!).. Embora católico, JFK não era um fundamentalista a exemplo dos irmãos Ngo Dinh. Ele sabia que se mantivesse o confrade católico (Diem) no poder… os interesses dos EUA se prejudicariam muito. Nota: a politica de Diem só fez dividir o país… que estava em guerra com o Vietnam do Norte de Ho Chi Minh…. Diem prejudicou mais do que ajudou o país dele.
            http://www.youtube.com/watch?v=fBj6ac_uVD4
            http://pt.wikipedia.org/wiki/Thich_Quang_Duc

        • Jolgado

          Não te fies no que diz o stefano666. Ou é aldrabice ou é uma adaptação da verdade.
          O gajo é um banana, entre o palhaço e o alucinado. 

          Repara na resposta que ele te dá, quando tu dizes:
          «Não são proselitistas e não são conhecidas guerras cometidas em nome do Budismo.»

          Por aqui percebes que o gajo é completamente analfabeto e banana. 

          • Jolgado

            O caso de «Diem» não tem nada a ver com a história que ele conta. 

            Meteram-lhe na cabeça um conjunto de palermices e ele faz filmes e representações abismais com tais ideias. 

    • Luís Miguel Sequeira

      Lá porque uma pessoa se intitule “budista” não quer dizer que saiba o que está a dizer 🙂 Aqui estamos na presença de um típico strawman argument:

      – Steve Jobs diz que é budista (nota: esta afirmação até carece de algumas citações nesse sentido: embora seja verdade que Jobs tenha, nalguma fase da sua vida, encontrado alguns textos e/ou professores budistas, isso não quer dizer que tenha seguido as suas recomendações — os actos falam bem mais do que as palavras, e o seu comportamento conhecido sempre esteve a 180º do que é suposto um praticante budista fazer…)
      – Steve Jobs seguia uma série de disparates sem nexo, que ainda por cima culminaram na sua própria morte
      – Logo, os budistas são uns idiotas chapados como os restantes ateus, err, queria dizer “religiosos”

      A falácia está em afirmar peremptoriamente que o comportamento de Steve Jobs era o de um praticante budista e atacar assim esse comportamento. O comportamento de Jobs realmente podia não ter nem pés nem cabeça e é legítimo atacá-lo e criticá-lo, mas a falácia está em tomar o comportamento de Jobs pelo comportamento de um praticante budista 🙂

      Cuidado com os strawman arguments. São muito divertidos entre amigos, mas em público tendem a revelar a ignorância de quem os afirma.

  • José Maria

    Alguém anda aqui a surripiar comentários ou existe alguma explicação plausível para os outros que aqui estavam anteriormente e que desapareceram ?

  • José Maria

    Afinal devem ter ido só passear…

  • Anónimo
  • Rjgalves2001

    Excelente artigo, Raul.

  • Lúcio Corrêa

    “Conheço até ateus que nutrem simpatia pela religião do obeso e pachorrento filósofo oriental. ”  

    Só uma observação: Aquela imagem de um cara gordo não é Buda, e sim Budai.

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