Loading
  • 10 de Março, 2011
  • Por Ricardo Alves
  • Ateísmo

Censo de 2011: quantos infiéis somos?

Está na rua o Censo de 2011. Como ateu consciente e cidadão atento à evolução do fenómeno religioso, interessa-me a última pergunta do questionário individual: a delicada «qual é a sua religião». A situação é conhecida: o grupo em que me incluo, os «sem religião», é a maior minoria, e também a que mais cresceu entre 1991 e 2001.

O censo é a única operação oficial de contagem dos residentes em Portugal por critério de religião. Felizmente a única, porque o Estado não deve meter o nariz no que é matéria de convicção pessoal. E assim a Constituição nos garante, como deve, o direito de nem responder à questão.

As respostas registam sempre um número elevadíssimo de católicos, quase quatro vezes superior aos que se encontram na missa em qualquer domingo. O que acontece, em primeiro lugar, porque muitas pessoas entendem a pergunta «qual é a sua religião» como uma questão sobre se foram baptizados ou não. Mas não é disso que se trata.

Não ajuda que a pergunta do censo mencione, logo em primeiro lugar, a resposta «católica». Em mais nenhuma pergunta se seguiu, como a da religião aparenta, o critério da maioria (esperada) das respostas para as ordenar. Por exemplo: as respostas para o país de nascimento (quando no estrangeiro, questão oito) seguem a ordem alfabética. E as respostas à pergunta «como se desloca para o trabalho» (questão 21) começam com «a pé», e não «de carro» ou «de autocarro». No mínimo, o ordenamento é capcioso.

Também não ajuda que as categorias não católicas que se oferecem como resposta tenham designações tão estranhas que dificultam a identificação. «Ortodoxa» é um modo de viver a religião, não é uma religião. Seria melhor usar «católica romana» e «católica ortodoxa». «Protestante» será adequado para luteranos ou anglicanos, mas não para a maior minoria religiosa não católica, os que se designam a si próprios como «cristãos evangélicos». «Judaica» levanta outra questão: porquê incluir uma comunidade religiosa tão diminuta (quatro locais de culto no país inteiro) quando o Censo ignora as Testemunhas de Jeová (650 c0ngregações em Portugal, dizem eles) ou a IURD (que chegam a usar estádios de futebol)? Parece, sejamos claros, discriminatório. Porque, das duas, uma: ou o critério aqui deveria ser o número, e as opções seriam outras, ou a lista deveria ser exaustiva, e seria muito mais longa (ou com uma opção em aberto para se acrescentar «ateu», «agnóstico», «pagão», «satânico» ou «cavaleiro de Jedi»).

Seja qual for a opção, nada melhor do que escolhê-la esclarecidamente.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

31 thoughts on “Censo de 2011: quantos infiéis somos?”
  • antoniofernando

    “A situação é conhecida: o grupo em que me incluo, os «sem religião», é a maior minoria, e também a que mais cresceu entre 1991 e 2001”

    Dados concretos desse crescimento, Ricardo, onde estão ?…

    • jmc

      encontrei estes. variação percentual de 1991 para 2001:

      População total: 4%
      Católicos: 13%
      Outras religiões: 77%
      Sem religião: 52%
      Não sabe/responde: -47%

      fonte: http://www4.fe.uc.pt/fontes/trabalhos/2010017.pdf

      infelizmente o INE tem acesso bastante limitado a dados

    • Rjgalves2001

      Em 1991, éramos 225.334.
      Em 2001, fomos 342.987.
      Em 2011, seremos …?

      • ajpb

        …MUITOS MAIS…

        COM A AJUDA DE DEUS

      • antoniofernando

        De 1991 para 2001 a subida foi ” estrondosa”, se é que os resultados estão certos. Provavelmente tão ” fabulosa” subida ter-se-á ficado a dever a 10 anos de iluminismo científico em Portugal….

        • Rjgalves2001

          Um quarto de século de democracia tem os seus efeitos. Veremos o que mais 10 anos fizeram.

    • Anónimo

      Tudo o que não é maioria é minoria.
      Mas existem minorias muito acima dos ateus. Além disso, a tribo de “ateus” a que pertence o Ricardo não tem mais de duas centenas de seguidores em Portugal. Aquela a que eu pertenço tem mais, de certeza.

  • jmc

    mais do que portugal apenas, estou bastante interessado em saber como vai ficar a europa regra geral, já que a maior parte dos censos parece ser agora.

    no reino unido também estão a fazer esforços para as pessoas deixarem de votar como jedi, porque isso conta como religião e justifica desvio de fundos para fins religiosos

    http://www.yourenotajedi.com/

  • jmc

    mais do que portugal apenas, estou bastante interessado em saber como vai ficar a europa regra geral, já que a maior parte dos censos parece ser agora.

    no reino unido também estão a fazer esforços para as pessoas deixarem de votar como jedi, porque isso conta como religião e justifica desvio de fundos para fins religiosos

    http://www.yourenotajedi.com/

  • 1atento

    De 1960 para 2001:
    Populacão: -2,14%
    Católicos: -15,49%
    Outras religiões: +567,34%
    Sem religião: +132,10%

    • Anónimo

      Explique-me como é matematicamente possível isto:

      Populacão: -2,14%
      Católicos: -15,49%
      Outras religiões: +567,34%
      Sem religião: +132,10%

      Se apenas decresceu 15% o nº de católicos , como podem ter aumentado 567% + 132% o universo restante dos não católicos?

      E és tu que não acreditas em milagres! Vê lá se acreditasses!

      • jmc

        diferenças populacionais bastante elevadas?

        não me recordo dos números certos, mas nos censos de 1991 e 2001 a quantidade de católicos ultrapassava os 8 milhões, pelo que é difícil haver uma variação muito grande, mesmo em 40 anos.

        se considerarmos que o número de pessoas de outras religiões em portugal em 1960 era extremamente baixo, a diferença para as centenas de milhares até se justifica…

        • Rjgalves2001

          Número de católicos nos censos de 1991 e 2001:

          6.524.908

          7.353.548

          • jmc

            my bad, obrigado pela correcção

      • 1atento

        E se contratasses um explicador para te dar umas aulas de matemática?
        Parece-me que bem precisas.

      • 1atento

        E se contratasses um explicador para te dar umas aulas de matemática?
        Parece-me que bem precisas.

  • Bruno Miguel

    Porque raio é que o estado quer saber a minha religião e como me desloco?! Não têm nada a ver com isso!

    • Bruno Miguel

      No máximo, esse tipo de perguntas deve ser facultativo.

    • Bruno Miguel

      No máximo, esse tipo de perguntas deve ser facultativo.

      • Anónimo

        E é facultativo, Bruno.

        O Estado não pode obrigar as pessoas a responder a esta pergunta – é inconstitucional.
        Eu nunca tinha respondido, mas em 2001 foi o “recenseador” a preencher o questionário e perguntou-me: “é católico?”. Eu respondi que não, então ele inventou-me outra religião. Tudo bem. Por norma os crentes é que não respondem.

      • Rjgalves2001

        É facultativo. E a Constituição define os censos e inquéritos estatísticos como as únicas ocasiões em que nos podem perguntar a nossa religião.

    • 1atento

      Não se sabe o que cada um responde; Todas as respostas são confidenciais e ninguém quer saber da tua vida, em particular.
      Interessa-te ou não conhecer a realidade do país?

      • Anónimo

        Isso é treta!
        Este ano, digo-te já, vou falsear muitas questões, sobretudo relativas à habitação.
        Cruzar dados custa apenas um click no botão esquerdo do rato.

        • jmc

          é bom saber que está interessado na boa alocação de recursos e planeamento estratégico do país

          • Anónimo

            Os recenseamentos sempre serviram para tramar o povo e nunca para o servir. Desde o Egipto, pelo menos, que assim é. Assim continuará a ser.

            Não me sinto na obrigação moral de colaborar com quem está na disposição de usar a minha seriedade contra mim.
            Conheço duas pessoas que nunca responderam a nenhum recenseamento. Já houve tempo em que os criticava, mas hoje não o faço.
            Em tudo o que faço coagido, propositadamente, faço de forma a não beneficiar quem me obriga a fazer isso.
            Diz à vontade que está mal, porque o tu dizes a mim não me importa. Faz o que entendes e faço o mesmo. Eu faço o que acho melhor para mim.

  • Jvgama

    «Populacão: -2,14%
    Católicos: -15,49%
    Outras religiões: +567,34%
    Sem religião: +132,10%

    Se apenas decresceu 15% o nº de católicos , como podem ter aumentado 567% + 132% o universo restante dos não católicos? »

    É fácil de explicar.
    Imagine 1000 pedras, das quais 10 são escuras e as restantes são claras.
    Isso quer dizer que existem 1% de pedras escuras, e 99% de pedras claras.

    Agora imaginemos que 40 pedras escurecem. Qual foi a variação?
    As pedras escuras aumentaram 200% e passaram agora a ser 5%.
    As pedras claras diminuiram cerca de 4% e passaram agora a ser 95%.

    O aumento das pedras escuras foi 200% porque elas passaram de 10 para 50, o que significa que aumentaram 4 vezes o número que tinham.

    Quando se diz que uma população aumenta 10%, é em relação ao seu número, não em relação à proporção da população mundial..

  • Anónimo

    O que tenho é certeza e sem precisar de censos e de matemática é que há 100% de ateus em Portugal com os Deuses dos outros… 🙂 Os autênticos ateus só não acreditam em menos 1….

  • ajpb

    É BOM QUE NINGUÉM ME PERGUNTE AQUILO QUE EU NÃO QUERO RESPONDER…

  • Jvgama

    Eu quero responder a essa. “Sem religião”

You must be logged in to post a comment.