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  • 6 de Janeiro, 2011
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

O regresso da intolerância religiosa

Oriana Fallaci, escritora e célebre jornalista italiana, foi das poucas pessoas de esquerda que percebeu o perigo que a demência religiosa representa para os direitos e liberdades individuais. Pode dizer-se que quase roçou o racismo na denúncia vigorosa do fascismo islâmico nos dois últimos livros, «Raiva e Orgulho» e «A Força da Razão», tal a raiva e a força da denúncia, mas dificilmente se encontrará alguma falsidade.

A comunicação social dos países democráticos ignora o duelo, às vezes sangrento, que se trava em África entre o Islão e o cristianismo evangelista , apoiados respectivamente pela Arábia Saudita e pelas Igrejas evangelistas e os EUA. O genocídio ruandês de 1994 parece ter sido esquecido bem como as implicações religiosas, nomeadamente católicas, na carnificina.

Os recentes atentados contra os cristãos de Alexandria em breve serão esquecidos como uma das muitas reincidências (52) dos que desejam islamizar o Egipto. A Europa só se assusta quando a ameaça chega às suas cidades e, ainda, com tendência para invocar o multiculturalismo como atenuante das atrocidades de que é vítima. E só se forem cristãs as vítimas, como se a vida de um cristão não valesse o mesmo que a de um muçulmano, ateu, budista ou judeu.

No Iraque, onde a horda de cristãos levou o caos, morrem hoje milhares de xiitas que o ódio sectário dos sunitas se esforça por liquidar na esperança de construírem o Estado islâmico sobre os escombros de um país desfeito. Os cristãos e judeus, cuja existência era garantida pelo estado laico de Saddam, estão a desaparecer, mortos, emigradas ou convertidos à força.

A Europa, dilacerada por guerras religiosas, impôs a laicidade com a repressão política sobre o clero e, através da Paz de Westfália (1648), garantiu a liberdade religiosa. Hoje é incapaz de condenar a ingerência política do Vaticano na luta partidária de numerosos países, as pressões políticas da Igreja ortodoxa, as punições a quem renuncia ao Islão e a proibição muçulmana de outros cultos. Como se o dever de reciprocidade face à Europa laica não devesse ser uma exigência ética em terras de Maomé obrigatório!

O islão radical só aceita uma lei – a sharia. E um método para a impor – a jihad. Só a laicidade pode conter o sectarismo e garantir a diversidade religiosa. O Europa tem de ser firme na sua defesa, dentro das fronteiras, e exigente fora delas.

Pio IX considerava a ICAR incompatível com a liberdade, a democracia e o livre-pensamento. A herança do Iluminismo foi mais forte.

15 thoughts on “O regresso da intolerância religiosa”
  • Rafa

    Nada mais óbvio visto que muitos crentes relativizam seu fracasso financeiro e debilidade material com a prosperidade de um “inimigo”, este sendo qualquer um que não acredite neles. Assim como aconteceu na Segunda Guerra Mundial, a pobreza e miséria levam o ser humano a atos de indescritível crueldade…

    E depois vem dizer que o homosexualismo é anti-natural, a meu ver mais hipócrita ímpossivel.

  • carpinteiro

    Na Alemanha,

    Primeiro vieram buscar os comunistas, e eu não disse nada porque não era comunista.

    Depois vieram pelos judeus, e eu não disse nada porque não era judeu.

    Depois vieram pelos sindicalistas, e eu não disse nada porque não era sindicalista.

    Depois vieram pelos católicos, e eu não disse nada porque era protestante.

    Depois vieram por mim e, nessa altura, já não havia ninguém para erguer a voz.

    PASTOR MARTIN NIEMOLLER
    (Sobrevivente do Holocausto)

    • Hans

      “Depois vieram pelos católicos, e eu não disse nada porque era protestante. ”
      Os nazistas caçavam católicos??? Wow… faltou avisar isso ao padre Jozef Tiso, ao cardeal Innitzer, ao cardeal Gröber, a Leon Degrelle, a Ante Pavelic, ao primaz Stepinac, ao franciscano Filipovic (Jasenovac)…

    • jmc

      tenho de concordar com Hans apenas no sentido que no original Niemoller não menciona católicos, apenas os outros

      porém, isso não retira o objectivo do texto que pode ser repetido e adaptado para qualquer contexto, sem perder o seu sentido original: united we stand, divided we fall

  • Anónimo

    TODOS NÓS SABEMOS DAS DESGRAÇAS QUE AO LONGO DOS TEMPOS AS RELIGIÕES TÊM DADO ORIGEM. NEM LALE A PENA ENUMERAR OS CRIMES TERRÍVEIS QUE AS RELIGIÕES TÊM PROVOCADO E PROVOCAM. O QUE PARA MIM TORNA AINDA MAIS INCOMPREENSIVEL O ENTENDIMENTO E A CREDIBILIDADE DAS RELIGIÕES E DAS SUAS ORGANIZAÇÕES.
    RELATIVAMENTO À ICAR E DA FORMA QUE TÊM FEITO MEA CULPA E PEDIDOS DE DESCULPA ÀS PINGUINHAS E TARDE E A MÁS HORAS, NEM DAQUI ATÉ AO FIM DOS DIAS DA VIDA NA TERRA , TERÃO TEMPO PARA EXPIAR OS SEUS PECADOS.

  • Hans

    Engraçado… a mídia ke fala tanto do xiitas se eskece do papel católico em Ruanda

  • Hans

    Engraçado… a mídia ke fala tanto do xiitas se eskece do papel católico em Ruanda

  • Molochbaal

    “No Iraque, onde a horda de cristãos levou o caos”

    Quer dizer, depois de jurarem a pés juntos que os programas explicítos de erradicação da religião pela vioência levada a cabo pelos ditadores ateus não teve nada a ver com o facto de, precisamente, esses ditadores serem ateus, agora vêm dar a entender que a invasão do iraque, que todos sabemos ter sido ditada por motivos exclusivamente políticos o terá sido por motivos religiosos, isto apesar de ter sido apoiada por alguns dos países islâmicos mais rdicais do mundo.

    Vocês têm umas piadas muito giras.

  • Eduardo Patriota

    Este é o tipo de avanço sobre o mundo secularizado que me atormenta. Sei que a Holanda tem um movimento FORTE contra a islamização da região. Espero que os europeus contenham este avanço. Até o momento, acho que eles estão no caminho certo (vide proibição de vestes islâmicas, construção de minaretes na Suiça, etc).

    • Molochbaal

      Não estou a ver em que é que limitar a liberdade religiosa ajude a preservar a liberdade laica.

      Para proibir minaretes também têm de proibir igrejas e associações ateístas.

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  • antoniofernando

    “Oriana Fallaci, escritora e célebre jornalista italiana, foi das poucas pessoas de esquerda que percebeu o perigo que a demência religiosa representa para os direitos e liberdades individuais.”

    Carlos Esperança

    Ai foi ? Você aí andou a fazer inquéritos à generalidade das pessoas de esquerda, com bloco de apontamentos numa das mãos e lápis na outra ?

    E quantas foram as pessoas de esquerda que perceberam a mensagem intrínsecamente progressista da Doutrina de Cristo, ou da ética superior dos crentes Gandhi, Martin Luther King ou Nelson Mandela ?

    Você aí também andou a fazer inquéritos ?…

    • Molochbaal

      Evidentemente que, se se quer atribuir a responsabilidade dos crimes religiosos à crença, também se tem de lhe atribuir a inspiração das boas ações praticadas pelos crentes e igrejas.

      E a história da religião está cheia tanto de crimes como de boas ações. O que demonstra que a religião tanto pode ser inspiração para o bem como para o mal, consoante a sua interpretação pelos crentes.

      Passa-se exactamente a mesma coisa em relação à maior parte das doutrinas políticas ou filosóficas, como o ateísmo.

  • Antonio Porto

    Podemos adotar os regimes ateus de paises como china e cuba e vamos ver no que vai dar.
    Mas contras estes pasises ninguém levanta a voz, principalmente contra a china.
    (nãos esquecendo a urss de lênin)

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