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  • 16 de Setembro, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Islamismo

Turquia – A democracia no seu labirinto

Por toda a Europa o pensamento politicamente correcto rejubilou com o SIM dos turcos a um referendo que atenua a laicidade a que o Estado era obrigado e enterra o legado de Atatürk. Juízes e militares, guardiães da Constituição cuja revisão foi sufragada, sofrem há muito a desconfiança da União Europeia que recusa regimes não democráticos, com excepção para os países produtores de petróleo e as teocracias.

Não há democracia quando existe tutela de juízes e Forças Armadas, como acontecia antes do referendo, mas o voto democrático que levou Hitler ao poder é o mesmo que legitima as teocracias e substitui o direito civil pelo canónico. A democracia não é o resultado de um referendo, é o apego ao exercício eleitoral e ao respeito pelas minorias. Na Argélia, em Dezembro de 1991, a FIS (Frente Islâmica de Salvação) ganhou a 1.ª volta das eleições legislativas e venceria a 2.ª volta se um golpe de Estado, que aliviou a Europa, não a impedisse. A FIS fez a campanha contra a laicidade e a emancipação da mulher, na defesa de uma sociedade islâmica de acordo com a Sunna. Longe de afastar eleitores tinha a vitória assegurada. Democraticamente.

Quando os juízes turcos do Supremo Tribunal consideraram inconstitucional o uso do véu islâmico nas universidades foram alvo de ataques e um deles assassinado. A atitude do primeiro-ministro perante o crime foi esquecida. Tayyp Erdogan mostrou entender o crime dada a ofensa aos sentimentos islâmicos.

Até agora era legal a prática ou a recusa de qualquer religião. Veremos no futuro como se comporta um primeiro-ministro com antecedentes suspeitos e a quem a perspicácia de Bruxelas atribui o epíteto de muçulmano moderado.

A vitória do governo islâmico da Turquia vai permitir o uso do véu mas o perigo é que se torne obrigatório e que os órgãos de soberania sejam submetidos aos cinco pilares do Islão.

A nova constituição afastou militares e juízes mas atrairá clérigos que nas madraças e mesquitas darão graças a Alá pelas alterações com que os «muçulmanos moderados» se encarregaram de agradar a Maomé.

6 thoughts on “Turquia – A democracia no seu labirinto”
  • antoniofernando

    Convém não esquecer a Inglaterra, que também não é um país laico. Aí, na selecta Albion, a chefia do estado e da igreja estão representadas na mesma individualidade nobiliárquica e eclesiástica.Mas ” gente fina” é outra loiça, não é ?…

    • Carlos Esperança

      A. F.:

      De facto, o Reino Unido é um Estado confessional mas o líder religioso, neste momento uma mulher, não faz homilias nem tem de ser crente. Já no Vaticano, a última teocracia europeia, o Papa tem de parecer crente, casto e temente a Deus.

      • antoniofernando

        C.E:

        O Reino Unido é de facto um estado confessional, onde a monarca supervisiona a religião oficial : o protestantismo anglicano. Repito: religião oficial. Bem diferente do território luso,onde já não existe religião oficial e o presidente da república portuguesa não tem nenhum poder de interferência directa sobre nenhum religião.Quer isto dizer que a Grã Bretanha não é um estado laico e que a rainha reinante está no topo da hierarquia eclesiástica.Há dias em que toma chá com o primeiro-ministro: é rainha. Noutros toma chá com os seus bispos:é a chefe da igreja anglicana. Tudo muito ” british”. Não sei se a rainha da velha Albion é crente ou ateia, nunca lhe perguntei. Terá havido papas, ao longo da história da igreja católica, que seriam ateus ? Talvez.Pelo menos, muitos houve que de crentes em Deus não pareciam ter nada…

  • Max

    Hitler não foi eleito!! Ele foi nomeado chanceler por Hindenburg!

  • Max

    “ganhou a 1.ª volta das eleições legislativas e venceria a 2.ª volta se um golpe de Estado, que aliviou a Europa”

    Se a FIS fosse danosa a algum país mal visto pela Europa, a Europa daria bênção ao FIS. As relações da Europa e EUA com “tiranias e fundamentalismos” é ambígua. Se os 2 atingirem algum país malvisto pela “Civilização”… aí tudo bem… pois o “inimigo de meu inimigo”.

    este texto fede a hipocrisia;.

  • Max

    Pq os “democratas” sauditas não são molestados pela “Civilização”? Ah… ja sei… eles só fodem o proprio povo deles. Então tudo bem… !!!

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